62
Eu não precisei ter muitos namorados para aprender que amar dói, apenas precisei de um. Eu o amei mesmo quando eu não sabia o que era isso, eu só sentia uma vontade incontrolável de estar perto dele, de ouvir sua voz, de sentir o toque dos seus lábios em minhas bochechas rosadas. E quando eu não tinha isso, parecia que era o fim do mundo. Ele me ganhou tão fácil com suas palavras, e a sua beleza me fez acreditar que me amaria pra sempre. Porém nada disso era verdade, Caleb nunca me amou, embora ele tenha dito diversas vezes e eu tenha acreditado em todas elas. Eu sim o amei, e muito, eu fiz tudo o que eu pude pra salvá-lo, mas não consegui, porque no final das contas ele não tinha salvação. Um psicopata nato, que só nasceu pra causar o caos na sociedade.
Descobri mais tarde que ele nunca foi uma criança abusada, ele com oito anos enloqueceu a mãe, e fez todo mundo acreditar que ele era a vítima, quando na verdade não era. Quando descobriu os maus tratos, ele foi mandado para uma instituição para menores, onde meses depois foi adotado por uma família rica.
Caleb me proporcionou os melhores momentos, mas tambem os piores. Eu não acredito que consegui sobreviver a ele, eu nem acredito que estou em casa, com a minha família. Às vezes eu acordo de manhã e automaticamente vou até a cozinha na esperança de encontrá-lo, ou fico olhando pra porta, e tenho impressão que a qualquer momento ele vai entrar e dizer.
"Pensou que iria se livrar de mim, está enganada, sua estúpida."
Perde-lo foi algo doloroso mas ao mesmo tempo, eu me senti aliviada por não ter ele aqui. E isso é assustador.
Hoje faz um ano que eu não sinto mais a necessidade de morrer pra estar perto dele, faz um ano que eu não me sinto perdida. Faz um ano que eu me encontrei, e nem percebi que eu tinha desistido de mim há muito tempo, para viver em função dos outros.
Eu sei que eu nunca vou poder ser mãe, mas o meu irmãozinho me deu a oportunidade de exercer bem esse papel. Eu amo muito ele. E sinto uma extrema necessidade de protegê-lo como se fosse o meu filho, embora a minha mãe acha que estou sendo obsessiva demais.
Richard continua sendo muito gentil e acolhedor comigo, e eu tento não misturar as coisas. Porque eu sei que as consequências dessa confusão de sentimentos seria terrível.
Porém, fantasio com ele todas as noites.
Eu não quero mais estragar a vida de ninguém, quero ser feliz com o pouco que tenho.
Ele, minha mãe, meu irmãozinho e a Joy, que são a minha verdadeira família. Se eu perdê-los, perco tudo.
Carrego cicatrizes no corpo e na alma, mas acredito que com o tempo elas vão se curar.
Eu me sinto estranha, como se eu tivesse perdido a indentidade, eu não sei muito bem quem eu sou. As vezes me pego lavando pratos na madrugada, ou dobrando alguma roupa pela milésima vez. E tem vezes que eu tenho ataques de pânico ao apagar das luzes. E acordo chorando toda vez que sonho com o meu pai. Mas acredito que seja apenas um processo, que vai passar. E estou fazendo terapia para lidar melhor com isso.
Eu estava passando e dobrando a roupa de Zyan. Quando resolvi abrir a janela para tomar o ar, pois estava muito calor, considerando que estávamos no verão. E de repente me deparei com a fisionomia perfeita do vizinho da casa ao lado.
A casa estava à venda até esses dias, e agora parece que não está mais.
Ele tinha exatamente cabelos negros e olhos azuis. Que de imediato me despertou um puro fascínio.
Mas balancei a cabeça tentando me desprender dessa ilusão.
Não, Ella, de novo não, você ainda não está preparada.
Fechei a janela e voltei para o quarto.
Foi com um homem assim que um dia você se ferrou, não vai cometer essa idiotice outra vez.
Mais tarde, eu estava indo para academia de dança. Quando um carro parou do meu lado e o vidro se abriu. revelando a simetria perfeita de um rosto masculino, esculpido pelos deuses.
Puta merda!
—– Pra onde está indo, aceita uma carona? — Ele perguntou e sua voz me causou arrepios por todo o meu corpo.
Que gatilho infernal.
—– Não, obrigado, a academia de dança fica logo ali — Falei seca, acelerando os passos.
—– Que ótimo, também estamos indo pra lá — Ele comentou, me acompanhando com o carro
Direcionei os meus olhos para o banco do carona, e vi uma linda garotinha sentada nele, que facilmente reconheci.
—– Ah, você que é o pai da Anabelle? — Perguntei um tanto sem graça.
—– Sim, a propósito eu sou o Diego — Ele estendeu a mão da janela do carro, e você deve ser...
Coloquei a pasta que eu estava, debaixo do braço, e apertei a sua mão formalmente. Por algum motivo eu senti uma certa eletricidade percorrer o meu corpo.
—– Ella, Ella Watson
—– Prazer.
O olhar que ele me lançou foi desconcertante, por pouco não me desequilibrei e caí de boca na calçada.
—– Então, Ella Watson, vai aceitar a carona?
Fiquei um tempo olhando para aqueles olhos azuis fascinantes, e a palavra não, parece ter evaporado do meu vocabulário.
—– Está bem — Suspirei.
Ele sorriu radiante depois direcionou os olhos para sua filha.
—– Ana, pode ir lá pra trás, por favor — Ordenou, depois voltou os olhos pra mim.
A garotinha parecia relutante, mas depois que ela me viu, sorriu imediatamente.
—– Olha, papai, é a minha professora — Apontou empolgada.
Sorri para ela.
—– É, eu sei — Diego disse me fitando da cabeça aos pés.
Eu sabia que estava bonita, pois por todos os lugares que eu passava recebia elogios e assovios de homens de diferentes idades.
Minha auto estima também é uma das coisas que estou recuperando aos poucos.
Pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu senti meu rosto corar. Em seguida entrei e me sentei no banco do carona.
Ele seguiu com um carro pelas ruas da cidade, e de minuto em minuto ele olhava pra mim e isso me causava um frio na barriga.
—– Se importa se eu assistir a aula — Sua voz saiu tão suave e sedutora que seria até um pecado recusar.
—– Não, fica à vontade — Estranhei a minha própria voz.
Confesso que me senti um pouco constrangida de ter que ensinar as meninas com os olhos dele o tempo todo sobre mim, mas depois acabei me acostumando.
—– Papai, papai, eu fui bem? —Anabelle correu em sua direção, e ele imediatamente a pegou no colo.
—– Você foi perfeita, meu amor, mas admito que você tem uma boa professora — Ele disse olhando pra mim e eu senti novamente meu rosto corar.
Fiquei surpresa com o seu elogio, eu realmente não esperava.
—– Que isso, sua filha, que é ótima — Falei coçando a nuca um pouco envergonhada — Tenho certeza que será uma ótima dançarina.
Ele sorriu de lado, e ficou me encarando por um tempo.
—– Papai, vamos — Anabelle puxou a barra de sua camisa, mas isso não foi o suficiente para desprender os seus olhos dos meus.
Meu deus, isso não pode está acontecendo de novo.
Eu fiz terapia, era pra mim ter ficado mais esperta. E estou praticamente babando por esse cara que conheci a meia hora.
Não sei se estou preparada psicologicamente pra me envolver com outra pessoa.
Desviei o olhar para Anabelle.
—– Você foi incrível, Ana, como sempre — Elogiei.
Ela sorriu timidamente revelando suas covinhas, e isso me fez lembrar de alguém.
—– Bom, tá na hora de ir, filha — Diego falou abraçando os ombros da menina
Annabelle assentiu, e foi correndo pegar as coisas dela.
Diego olhou pra mim e sorriu, e eu fiz o mesmo, mas depois disfarcei, pois me senti um pouco intimidada pelo olhar dele.
Quando Annabelle voltou, eu me despedi deles, e segui pela rua, sozinha.
Eu até poderia voltar com ele, já que ele mora do lado da minha casa, mas depois de tudo que aconteceu comigo, acho melhor evitar.
—– Espere, professora.
Olhei pra trás e vi que ele queria me perguntar alguma coisa, mas parecia hesitante.
—– Está livre hoje a noite?
É isso mesmo que eu ouvi? ele está me chamando pra sair? Será que eu deveria aceitar.
E se ele não for quem eu estou pensando?
Ele pode ter uma filha, mas isso não impede de nada.
Fiquei inerte sem saber o que responder pra ele.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro