5
A depressão de Caleb não durou muito, e logo ele estava impossível de novo.
Não sei por que eu ainda penso que seria diferente.
De manhã, enquanto eu preparava o seu café, pensei seriamente em batizá-lo com veneno pra rato, mas depois repensei. Eu só estava com raiva e aborrecida e não poderia tomar essa decisão baseada em paranóias da minha cabeça, e também com certeza eu iria me arrepender.
Mas tantas vezes me veio esse pensamento na cabeça, de fazê-lo simplesmente desaparecer, sofrer por tudo de ruim que ele me fez passar, cada humilhação, cada lágrima derramada. Só assim a minha vida teria um pouco de paz, e eu me livraria dessa vida medíocre da qual eu estou vivendo.
Eu poderia estar vivendo feliz na minha casa, ajudando o meu pai na oficina, ou a minha mãe a fazer bolos deliciosos e logo após iniciar uma guerra de farinha.
Por um momento as lembranças se espalharam pela casa, e eu pude ouvir as risadas da minha mãe, como se ela realmente estivesse ali.
Senti um largo sorriso se curvar em meus lábios, mas logo se desfez ao perceber que não era real, e a tristeza fez com que uma lágrima rolasse pelo meu rosto.
Balancei a cabeça afim de me desprender dessa ilusão, peguei a bandeja do café e segui para a mesa onde estava sentado a frieza em pessoa.
Me sentei junto a ele e evitei seu olhar, porque eu não o suportava, e contentei em canalizar todo esse ódio na minha torrada, passando a faca nela, imaginando o pescoço dele sendo degolado.
Um pensamento nada saudável para a hora do café.
Senti que as lágrimas embasavam o tempo todo os meus olhos e a angústia beirava meu peito.
Não conseguia respirar.
Me sentia sufocada.
Eu queria fugir, queria derrubar aquela mesa e sair correndo pela rua gritando por socorro, mas sei que seria em vão. Caleb criou uma boa reputação entre os vizinhos, ninguém acreditaria em nenhuma palavra que eu dissesse, iriam pensar que era só mais uma crise, como daquela vez que eu surtei e sair correndo pelo bairro, descalça e machucada, pois Caleb havia me batido pela primeira vez. Jamais vou esquecer de como as pessoas me olharam.
Como se eu fosse uma dissimulada.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo ardor do meu dedo, logo percebi que eu havia me cortado, e além disso a torrada estava toda esfarelada em cima da mesa. E meu coração disparou com a possibilidade de Caleb me punir pela sujeira.
—– Sua Inútil! - Rosnou
Levantei os olhos e o encarei enfurecida, e sua expressão endureceu.
—– Quer mais café? — Perguntei cerrando os dentes e apertando a toalha da mesa pra conter a raiva.
—– Não, e já que tocou no assunto, esse café está horrível.
Ele se levantou, e eu o segui com os olhos
E assim que ele passou por mim, as lágrimas de raiva e desespero invadiram os meus olhos, mas eu as contive rapidamente.
—– Porco - Cuspi as palavras.
O serviço da casa, por mais exaustivo e tedioso que fosse, era o que me mantinha no controle, às vezes ter o que fazer ajuda a manter a mente ocupada e longe de pensamentos paranóicos e suicidas.
Então eu colocava uma música e dançava pela sala, balançando a vassoura de um lado para o outro alegremente, como ela fosse a minha parceira de dança, relembrando os bons tempos que eu dançava na escola, e todos aplaudiam o meu talento, e aquilo me deixava tão feliz, diferente de hoje que ninguém me elogia, nem mesmo o meu marido.
Espiei pela janela da cozinha, e vi o vizinho radiante em sua varanda, deitado em uma cadeira desfrutando de uma boa leitura.
Apurei os olhos para tentar ver o que ele estava lendo, mas foi em vão, as letras estavam miúdas demais ou a minha visão, comprometida.
Continuei observando ele, e comecei ficar ofegante ao lembrar dele me olhando com aqueles olhos que agora estavam distraídos pelo livro. E meu corpo parecia implorar desesperadamente por sua atenção. Se ao menos Caleb me olhasse daquele jeito, se ao menos ele usasse a língua de outra forma, e não para dizer coisas pra me magoar, nosso relacionamento seria perfeito.
Pois Caleb com toda a sua arrogância e prepotência, ainda sim era perfeito.
.....
Agora eu tinha uma nova distração, o misterioso e sexy vizinho da casa ao lado, eu o observava todos os dias, e durante esse tempo descobri várias coisas sobre ele, além de gostar de livros e filmes adultos, ele também gosta de se exercitar e fazer caminhada pela manhã, tem um gosto peculiar por músicas clássicas, e se arrisca de vez em quando na cozinha. Mas o que mais me intriga são suas visitas noturnas, visitas íntimas. De diversos tipos de mulheres.
Quando eu estava colocando a roupa na máquina pra lavar, escutei uma gritaria vindo de sua casa, e como a curiosidade falou mais alto, corri até a janela pra fazer o que eu sabia fazer de melhor.
Xeretar.
E notei que havia uma mulher loira, corpo curvilíneo marcado por lindo vestido vermelho, e belas pernas compridas.
Ela estava discutindo feio com ele. Eu não conseguia ouvir muito bem a discussão, mas parecia ser algo bem sério.
O vizinho parecia fora do controle, bufando de raiva e agarrando os cabelos, impaciente, enquanto a mulher apontava o dedo em seu rosto furiosa e aborrecida como se estivesse o acusando de algo.
Por fim, ela falou uma coisa que o deixou sem palavras, e depois disso pegou a bolsa e saiu batendo a porta.
Foi uma discussão bastante acalorada, que deixou o vizinho extremamente irritado a ponto de descontar sua raiva no que ele via pela frente, depois um pouco mais calmo, ele caminhou até a janela, ofegante.
Acompanhei minuciosamente os seus passos.
Vi que ele retirou do maço, um palito de cigarro e o colocou entre os dentes e ao acender a chama incendiou seus olhos.
Mordi o lábio inferior e cruzei as pernas, inquieta. Sua virilidade e rebeldia tinha um efeito quase que radioativo sobre mim.
Mas ainda me intrigava aquela mulher estar ali.
Será que era a mulher dele?
Ele era casado, e mesmo assim se encontrava com outras mulheres.
Não sei por quê isso ainda me assusta, os relacionamentos de hoje em dia já não são mais como eram antes.
Talvez isso se dê pelo fato de eu ter sido criada em uma família tradicional, onde os valores e princípios falavam mais alto.
Mas isso não importa, estou casada com um homem que mal me olha.
E agora parece que o meu objeto de desejo não é tão santo quanto eu pensava.
Mas por outro lado também entendo aquela mulher.
Eu também ficaria chateada se descobrisse que o meu marido estava tendo caso com outras mulheres.
Com várias por sinal.
Ele parecia ser insaciável.
Tinham dias que ele levava mais de uma pra cama.
E quando insatisfeito, ele ainda se tocava mesmo depois de ter dormido com elas.
Seria ele, um ninfomaníaco?
Mas o que eu estou dizendo? Com certeza Caleb também deve ter outras mulheres por aí. Besta que ele não é.
Só com o olhar ele consegue a mulher que quer. O seu corpo exala uma energia sexual fora do comum e isso deve ter chamado a atenção de alguma mulher.
E a trouxa aqui trabalhando igual uma condenada, e a troco de que?
Nada.
Sem perceber as lágrimas já estavam enchendo os meus olhos de novo.
Eu sei que ele não me ama, mas não sei se suportaria vê-lo com outra, isso machucaria muito.
Então prefiro ficar me enganando, achando que em algum momento ele vai se apaixonar por mim outra vez.
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