36
Desconectei rapidamente o chip do notebook e coloquei de volta no celular, onde estaria mais seguro.
Eu não entregaria ele de imediato para polícia, seria muito arriscado. Eu estava em um campo minado onde todos os meus passos teriam que ser calculados.
Eu sabia que assim que eu pisasse os pés na delegacia, algo muito ruim poderia me acontecer assim como aconteceu com Vicent.
Eu estava apavorada, e o choro da criança do vídeo não saia da minha cabeça. Era como um grito contido de socorro, e eu tinha que fazer alguma coisa se não fosse por Vicent, seria por elas.
Coloquei o celular na bolsa e voltei pra casa. Mas antes de tocar na maçaneta da porta, notei algo muito estranho, ela estava entreaberta, e eu me lembro muito bem de ter trancado antes de sair.
Gelei completamente.
Empurrei ela devagar, tirei os sapatos, e entrei sorrateiramente, caminhando na ponta dos pés, e assim que eu vi o rastro de sapato no chão, escondi imediatamente a bolsa em um lugar secreto.
Imaginei que poderia ser Caleb, as vezes ele é imprevisível e pode ter voltado mais cedo do trabalho, e como ele tem a chave da porta, já deve ter entrado e indo direto para o banheiro pra tomar um banho.
Mas ele é perfeccionista demais para deixar a porta meio aberta. Muito menos teria sujado a casa.
Ele é cauteloso, sempre tira os sapatos antes.
Continuei caminhando com o pensamento a mil, até que escutei um barulho vindo da cozinha, então rapidamente peguei o taco de beisebol e segui para lá.
Paralisei assim que vi dois homens estranhos, um deles estava fuçando os armários da cozinha. E o outro sentado à mesa, comendo o resto de frango assado que eu havia deixado na geladeira.
Ele levantou os olhos e me encarou friamente, fazendo o meu corpo gelar completamente, em seguida abriu um sorriso assustador com a boca cheia.
—– Boa tarde ou será que é bom dia — Ele disse, chamando atenção do seu comparsa que estava com a cabeça enfiada no armário procurando alguma coisa.
Ele fechou a porta do armário e me fitou.
—– Quem são vocês? — Segurei firme o taco — O que estão fazendo na minha casa?
—– Olá dona, não queríamos atrapalhar — O homem que estava em pé falou — Mas a senhora deixou a porta aberta.
—– Tá muito bom esse frango a propósito — O outro elogiou
Mas eu sabia que aquilo era mentira, eu nunca deixei a porta aberta, era mais fácil eu esquecer o meu nome. Mas não me atreveria a contraria-lo.
Levantei o taco e segurei firme com as duas mãos, mesmo estando apavorada.
—– É melhor você abaixar isso — O mais alto ordenou apontando um revólver na minha direção.
Ele tinha uma aparência ameaçadora.
Ele era forte, tinha olhos e cabelos negros como a noite. E uma tatuagem de uma serpente no braço esquerdo.
Automaticamente soltei o bastão no chão.
—– Boa garota.
Tentei controlar as minhas pernas que batiam uma na outra de tão trêmulas.
Era a primeira vez que eu via uma arma na vida, e apontada pra mim.
Ele abaixou o revólver e me encarou tentando suavizar as suas feições para parecer mais amigável.
—– Desculpa senhora, não queríamos te assustar, é o seguinte, eu e o meu amigo viemos de muito longe...
Virei o rosto para o amigo dele que estava sentado, relutante, pois todo o meu corpo estava enrijecido de medo.
Ele sorriu e acenou pra mim.
Esse outro bandido não era tão ameaçador como o parceiro, era aparentemente normal, era baixo, branco de cabelos loiros e olhos azuis, ele era o tipo de pessoa que você não desconfiaria se te abordasse na rua.
—– Vamos te fazer algumas perguntas, ok? — O cara alto continuou, me olhando fixo.
Ele colocou o revólver sobre a mesa. Em seguida, se aproximou de mim e meteu a mão no bolso, tirando do mesmo o que parecia ser uma foto.
Só a presença dele perto de mim, fazia o meu estômago revirar.
—– Por acaso você conhece essa pessoa? — Ele perguntou ainda me fitando, olhei dentro dos seus olhos e senti uma sensação terrível.
Dizem que os olhos são a janela da alma, mas olhando nos olhos dele eu não conseguia enxergar nada além de maldade.
Ele não tinha alma.
Engoli a seco, em seguida abaixei a cabeça e olhei para a foto.
E meu coração começou a bater forte quando eu vi a foto de Vicent ali, os meus olhos se encheram rapidamente.
—– Não — Neguei, encarando o sujeito nos olhos
Eu estava apavorada, e o meu corpo tremia muito, mas nem se eu morresse, eu diria onde Vicent está. Não vou permitir que eles o machuquem outra vez.
Ele ficou me encarando por alguns minutos em silêncio.
E isso era perturbador.
—– Tem certeza?
—– Tenho.
O outro comparsa finalmente se levantou da cadeira, e se aproximou da gente, lambendo os dedos.
—– Vamos embora, ô idiota, ela já falou que não conhece — Ele sugeriu, mas o companheiro não parecia está tão convencido.
—– Sabemos que ele é o seu vizinho, estivemos por lá, vocês já devem ter trocado salivas, ou acha que me convence com essa carinha de esposa obediente.
Decidi não rebater as suas ofensas, e fiquei calada, às vezes o silêncio é a melhor resposta.
Ele deu de ombros para o meu alívio, que não durou muito, já que ele inesperadamente se virou e me acertou com um soco no rosto.
Segurei o meu rosto sentindo uma dor insuportável se estender, ao mesmo tempo que um líquido começou a escorrer pelo meu nariz.
Era sangue.
O meu rosto estava queimando e sangrando e graças àquele imbecil.
Mas me mantive firme. Não era um soco que iria me fazer falar.
—– Você está mentindo pra mim, vadia — Ela avançou na minha direção novamente, mas foi impedido pelo seu colega.
—– Andreas, não — Rosnou, segurando o cara que se debatia nos seus braços.
Depois o cara agarrou o rosto dele e encarou os seus olhos. E a forma como os dois se olhavam fez com que eu tivesse minhas dúvidas.
Deixei escapar uma risada sem querer. E os dois me encararam ao mesmo tempo.
—– Do que você está rindo, puta, onde ele está, onde você o escondeu? — O tal Andreas gritou com todo o ódio do mundo.
Por fim, ele conseguiu se soltar e no mesmo instante me agarrou e bateu minha cabeça violentamente na parede, pra depois me sufocar, apertando o meu pescoço.
Eu estava quase perdendo o ar, quando o seu amigo o puxou e os dois iniciaram uma briga entre si.
O que me fez recuperar o fôlego a tempo e correr até a mesa e pegar a arma que eles haviam esquecido.
Peguei o revólver, e usei todo o conhecimento que adquiri assistindo filmes de ação e mirei ela na direção dos bandidos.
Eu mal sabia segurá-la, sem contar que eu estava morrendo de medo do meu plano não dar certo, mas eu não podia deixar eles vencerem.
—– Saiam da minha casa, desgraçados — Gritei me sentido um pouco zonza, com o revólver apontado na direção do Andreas, que era meu principal alvo.
Ele sorriu incrédulo, enquanto o outro estendeu as mãos em redenção, e aparentava estar com medo.
—– Olha só, a vadia é esperta, mas duvido que consiga atirar tremendo desse jeito
Sem pensar duas vezes e com uma imensa raiva pelo estresse que eles me fizeram passar, eu atirei, e a bala rapidamente se alojou no ombro de Andreas, o fazendo se contorcer de dor.
Depois mirei para o baixinho, que me encarou assustado.
—– Acredite somos tão vítimas quanto você nessa história — Ele confessou
—– Só que se não saírem daqui, os dois além de vítimas, serão mortos — Ameacei.
Relutante, ele colocou o braço do amigo em volta do seu pescoço e o carregou pra fora da cozinha, por precaução eu os segui até a porta. E depois fechei sentindo um alívio imenso por ter conseguido me safar dessa.
Depois disso, eu tranquei a porta, e fui até o lugar onde a bolsa estava e coloquei a arma dentro dela.
Em seguida, tratei de limpar toda aquela sujeira antes de Caleb chegar, apesar de já ter passado e muito da hora do almoço.
Mas quando eu estava limpando, senti uma pontada forte na cabeça, e logo minha visão começou a embaçar.
Não meu deus, morrer agora não.
Relutante eu caminhei na direção do sofá, mas minhas pernas enfraqueceram, e eu caí antes mesmo de chegar até ele, e a última coisa que vislumbrei foi o vermelhidão do meu próprio sangue a minha frente, pra depois não ver mais nada.
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