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Ao mesmo tempo que eu tentava me controlar na minha dieta, eu também fugia dela, entupindo a cara de salgadinhos e guloseimas que eu escondia de Caleb no armário. Porque era a única forma que eu encontrava para lidar com a minha ansiedade e frustração. E também porque toda essa história de fechar a boca para emagrecer, estava me deixando faminta e desnorteada.
Inclusive, essas eram coisas que ele adorava comprar pra mim, como os chocolates que ele me trazia quando eu estava nos meus piores dias, acompanhado por flores e bilhetes cheios de palavras melosas.
Que hoje dá vontade de vomitar só de lembrar.
Antes ele cuidava tão bem de mim, e hoje em dia eu mal consigo comer na presença dele sem sentir a comida entalar na minha garganta.
Sua presença me deixava totalmente confortável.
Às vezes eu fecho os olhos e me perco em memórias de quando ele ainda me amava e me tratava como uma princesa, não sei se ele estava fazendo isso pra me conquistar ou se realmente gostava de mim. Tudo o que eu sei é que agora ele não gosta mais, agora ele me trata com desprezo e mal me toca, a não ser pra me espancar. Quando o amor acaba não resta nada além de duas pessoas vazias, e Caleb é tão vazio quanto eu, tão frio. Eu, por outro lado, ainda tento ascender esse amor com as poucas brasas que ainda me restam, pois ainda tenho esperanças de que tudo vai voltar a ser como era antes, ao mesmo tempo que também penso que ele nunca vai mudar.
Eu estava dobrando algumas roupas cuidadosamente na gaveta do guarda roupa, quando ouvi um barulho vindo da casa do Sr Robert. Caminhei até a janela e me escondi atrás das cortinas para bisbilhotar seja lá quem fosse, sem imaginar que isso acabaria se tornando um hábito frequente.
Havia um homem suspeito arrastando os móveis do quarto de um canto para o outro, como se estivesse o redecorando.
Eu achei estranho, pois o Sr Robert havia mencionado que ele era viúvo e que ele e a esposa não tiveram filhos. Será que ele mentiu? Sua casa ainda não foi posta à venda e nem tão pouco havia um cartaz de "Aluga-se".
Então, se aquele não era um suposto comprador, então quem era?
Um intruso talvez?
Mas duvido que alguém que está invadindo uma casa pararia para fazer algumas mudanças.
Seja lá quem for, eu não deveria me meter porque isso está além dos meus limites, ou seja, não é da minha conta.
"O que acontece além dos seus limites não é da sua conta".
As palavras de Caleb se fizeram presentes na minha cabeça, me obrigando a fechar a janela imediatamente como se ele estivesse mesmo atrás de mim dando ordens.
Mas como a curiosidade costuma ser inimiga da obediência, eu voltei a olhar.
Apesar da distância, dava pra notar que se tratava de um cara jovem e bonito, seus olhos eram verdes, pois brilhavam como duas esmeraldas. Seus cabelos estavam meio bagunçados, com tom castanho claro. E ele era bem forte, pra não falar outra coisa.
Além disso, ele parecia indeciso em relação a qual posição queria deixar a cama, e a forma como ele mexia no cabelo e mordia os lábios impaciente, era bastante sexy. Isso na visão de uma mulher carente sofrendo uma terrível frustração sexual.
Continuei a observa-lo e vi que ele colocava quadros nas paredes, com imagens que eu não consegui distinguir muito bem, era uma grande confusão de cores. Alguns artistas costumam derramar tintas em suas telas acidentalmente, e elas acabam se tornando por si só, uma grande obra de arte.
Ele colocou a mala sobre a cama, tirou algumas roupas de dentro e, após isso, entrou no banheiro e saiu minutos depois, secando os cabelos com uma toalha, e vestindo apenas com uma calça preta.
Me questionei se era certo ficar escondida atrás das cortinas, espionando um cara seminu em sua privacidade, mas a essa altura do campeonato, eu já tinha visto mais do que eu deveria e por mais que eu quisesse parar, os meus olhos permaneciam grudados nele.
Acompanhei minuciosamente seus passos até a cama, onde ele se deitou e pegou o controle da tv. Eu me afastei um pouco para ver o que ele estava assistindo, mas não consegui ver nada, pois a televisão estava além dos limites de sua janela e fora da visão da minha, então eu voltei os olhos para ele, que a princípio parecia quieto e inexpressivo, mas logo se remexeu um pouco parecendo se incomodar com algo, então deslizei os olhos para algo que me chamou bastante atenção. Sua indiscreta excitação.
Fiquei chocada. Ele estava assistindo pornô. O vizinho que havia acabado de chegar a poucos minutos, agora estava relaxado em sua cama se entregando a prazeres superficiais. E por que diabos eu estava vendo isso? Eu nem deveria estar o espreitando, isso não se faz, sem contar que é errado, mas por outro lado, era bom ter algo diferente para olhar em meio a toda essa monotonia.
E por que não, ele?
Quando ele estava prestes a enfiar a mão por dentro de sua calça preta enquanto eu o olhava boquiaberta sem acreditar que fosse mesmo fazer aquilo, a porta se abriu de repente e Caleb entrou me fazendo saltar com o susto.
— Amor ... você chegou cedo — Disfarcei, sentindo um tremor nas pernas e o coração quase na boca.
Caleb era capaz de me matar se me visse olhando para outro homem, ainda mais naquela situação bastante comprometedora.
Mas para a minha surpresa, ele me ignorou e passou indiferente direto para o banheiro. E isso me deixou aliviada.
Procurei uma roupa para Caleb, totalmente perdida no que eu estava fazendo. Sentindo um misto de vergonha e medo, sem contar a excitação que me ameaçava entre as pernas, adiantando a imagem do vizinho se tocando na minha mente. Era como se estivesse sentada em uma cadeira à sua frente, vendo tudo. Por fim, encontrei a roupa e deixei cuidadosamente dobrada sobre a cama.
Dei uma breve olhada pela janela, mas percebi que o vizinho já não estava mais lá, o que me fez suspirar indignada.
—– O que vai querer para o jantar? — Perguntei Caleb enquanto ele se arrumava.
Ele me olhou com um olhar despreocupado, porém sedutor.
—– Não sei, Ella, seja criativa.
Não sei por que, mas o seu tom de voz me arrepiou por inteiro.
Na verdade, ver ele ali na minha frente, cheiroso e bem arrumado, aumentou ainda mais o meu apetite sexual, a ponto de me fazer cruzar as pernas para aliviar de alguma forma.
E fazia um tempo que não me sentia assim.
Não sei dizer se isso é um bom sinal.
Talvez o novo vizinho tenha ressuscitado essa vontade em mim, com sua perversidade.
Será que ele fez de propósito? Vai ver ele sabia que eu estava o espionando.
Mas procurei não pensar muito nesse assunto, e sim no que eu faria para o meu marido comer.
Passei a mão pela testa meio perdida, vendo quais opções eu tinha em mente, mas não aparecia nada que fosse novo e criativo. Então, eu comecei a ficar atordoada porque eu me sentia na responsabilidade de fazer aquilo ou pra mim, Caleb iria duvidar de minhas capacidades culinárias, ou até mesmo rir de mim, por não consegui fazer nada.
Eu não queria sentir de novo aquele sentimento de inutilidade, como outra vez que ele me pediu para fazer um bolo de cenoura e eu falhei miseravelmente.
Consigo ouvir claramente sua risada na minha cabeça, era tão intimidadora quanto ele.
Sem contar, que ele me obrigou comer o bolo sozinha.
Só de lembrar sinto náuseas.
E eu preciso provar que desta vez ele está errado, que posso fazer qualquer coisa, e que me garanto na cozinha.
Só não sei como.
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