19
Era uma noite de chuva forte e intensos relâmpagos. A energia havia acabado e eu não sabia se temia a escuridão ou Caleb se remexendo na cama assustadoramente. Ele estava convulsionando e suas mãos agarravam com força os lençóis da cama, enquanto o seu corpo se debatia. Eu estava apavorada e ofegante em um canto do quarto, escondida a meia luz, sem saber o que fazer. Paralisada e agarrada ao travesseiro. Pois era para os braços do meu pai que eu costumava correr quando tinha pesadelos ou era acometida por um medo extremo e como ele não estava aqui, eu não tinha outra opção se não me agarrar ao que fosse, e fechar os olhos, rezando para que tudo acabasse.
—– Caleb? — Choraminguei de medo, e logo o barulho de um trovão me assustou, fazendo minhas pernas tremerem — Caleb, eu estou com medo
Tudo que eu escutei foi grunhidos e gemidos estranhos saindo do seu corpo rígido, e seus dedos estavam atrofiados como se estivesse se transformando em alguma coisa bizarra e aterrorizante.
Eu estava com medo, mas eu também estava com pena dele, porque só eu sabia o quanto esses pesadelos o machucavam. Tanto por fora quanto por dentro.
E é algo que ele não podia evitar.
Eu poderia simplesmente asfixiar ele com o travesseiro, assim além de cessar seu sofrimento, também cessaria o meu.
Ou enfiar uma faca em seu coração.
Não, isso faria muita sujeira.
Odeio quando ele me faz ter medo, odeio quando ele me bate sem me dar possibilidade de me defender, odeio ter esses tipos de pensamentos só quando estou com raiva.
Mas o que eu mais odeio, é ama-lo.
Embora seja arriscado me aproximar, sinto que se eu não fizer isso por ele, ninguém mais irá fazer.
Me aproximo dele, e a luz de um relâmpago se acende em seu rosto, revelando sua pele pálida e seus cabelos molhados de suor.
Deixei o travesseiro de lado e cobri seu corpo com o meu, afim de espantar aquele sonho ruim, e também espantar o medo que eu estava sentindo.
E nada mais acolhedor que o calor humano.
Eu só tenho a ele, quem recorrer, e mais ninguém, eu dispensei Vicent covardemente e desde então eu tenho o evitado, embora ele ainda insista em me procurar, e mesmo sendo difícil de resistir, eu me esforço ao extremo para mantê-lo longe dessa loucura.
Por um momento, deitada ali, tentando aquecer Caleb. Senti sua expressão suavizar e seu corpo amolecer, junto com sua respiração voltando ao normal. Os batimentos acelerados do seu coração também foram se acalmando.
Aproveitei a oportunidade para tocá-lo, fazer carinho em sua pele lisa, sem ele precisar afastar a minha mão ou me empurrar pra longe.
Talvez tudo que ele precisa é de um abraço aconchegante e de carinho.
Talvez ele seja um diamante bruto, e eu, a pessoa certa que irá lapida-lo.
Ou talvez eu esteja enganada.
A barreira que ele construiu é forte demais pra alguém quebrar, totalmente impenetrável.
Como eu vou saber de suas dores se ele mal me deixa toca-lo.
Deitei a cabeça em seu peito e respirei aliviada por ver que seu coração não estava mais acelerado e nem sua respiração agitada.
E surpreendentemente suas mãos corresponderam às minhas carícias, deslizando sutilmente pelo meu corpo descoberto.
E o mais incrível disso tudo é que seus olhos estavam abertos, e grudados nos meus.
E com tudo isso, as luzes se ascenderam, a chuva cessou, e eu continuei grudada nele como se eu não fosse mais soltar.
Mas a decepção veio logo pela manhã, quando procurei por ele na cama e não encontrei, confesso que eu esperava que um milagre acontecesse, que ele se desse conta de tudo que fez e voltasse atrás.
Era bom demais pra ser verdade.
Soltei o ar, desapontada, e me arrastei pra fora da cama.
Mas deixei escapar um sorriso ao ver que ele tinha feito um café e ainda deixado um bilhete.
" Viajarei a negócios e voltarei daqui duas semanas".
Pela primeira vez, eu fiquei triste por sua partida.
—– Bom, já vai tarde.
Rasguei o bilhete e joguei sobre a mesa, depois passei a mão pelo cabelo, atordoada.
Até que o meu ataque de raiva foi Interrompido pelo som da campainha.
Deixei tocar por várias vezes até não aguentar mais e ir atender.
—– Quando começou ficar tão irritante? — Perguntei abrindo a porta
—– Desde quando você começou a me ignorar — Respondeu passando por mim
—– Vicent —Suspirei — Se estou fazendo isso e para o seu próprio bem, não quero que nada de ruim te aconteça
—– Ella, acho que eu sou grandinho o suficiente pra saber onde estou me metendo — Ele falou se jogando no sofá.
—– Se Caleb...
—– Caleb saiu bem cedo, carregando uma mala, para o que presumo ser uma viagem a negócios, e sinceramente — Ele se levantou e se aproximou bem perto de mim — Tomara que o avião dele caia.
Não conseguia conter a risada.
—– Vicent não brinque com isso — Falei recuando — Você aceita um café?
—– Não me diga que foi ele quem fez.
—– Não foi — Prendi os lábios
—– Ella?
—– Está muito bom, prove — Ofereci, e ele fez uma careta.
—– Não, obrigado.
—– Nossa, tomar café feito por outro homem, ameaça sua masculinidade? — Provoquei tomando um gole do café.
Isso fez os olhos de Vicent ficarem em chamas.
—– Não, mas prefiro tomar a mulher dele mesmo.
Sua voz soou tão sedutora que me fez engasgar com o café.
—– Ok, acho que vou lavar esses pratos, que estão aqui na pia.
Assim que me virei, senti as mãos de Vicent envolta da minha cintura
—– Vicent — Estremeci ao sentir seus lábios na minha nuca.
—– Shhh.
Ele me virou e devorou os meus lábios, pressionando meu corpo contra a pia.
—– Não posso fazer isso — Apoiei a mão em seu peito, estabelecendo uma distância entre a gente.
—– Ok.
Ele se afastou e me encarou profundamente.
—– Me desculpa.
Desci os olhos e percebi que ele estava bastante excitado.
—– Ah, meu deus! — Virei o rosto para o lado, enrusbecida.
—– O que? quer que eu coloque a mão na frente da calça e saia correndo, gritando: " Oh que vergonha!".
Começamos a rir igual dois malucos.
E quando paramos ele agarrou o meu rosto com as duas mãos e encarou meus olhos.
—– Quero deixar claro o que eu sinto por você, como o meu corpo reage a você, e quero que você confie em mim, mas não vou te forçar a nada.
Segurei em suas mãos e as tirei sutilmente do meu rosto para depois colocá-las de volta na minha cintura.
—– Eu confio em você.
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