11
–— Você está bem? — Perguntou com uma voz calma, olhando diretamente nos meus olhos enquanto eu fazia um esforço absurdo pra não chorar — Eu ouvi um barulho e...
—– Não aconteceu nada, eu estou bem — Interrompi com a respiração acelerada — Agora se me der licença —Fiz um movimento para fechar a porta, mas ele interviu entrando sem hesitar na minha casa.
—– Eu não estou ficando louco, eu sei o que ouvi — Resmungou ao passar por mim.
Revirei os olhos, em seguida fechei a porta.
–— Sabe que isso é invasão de privacidade, não sabe? — Cruzei os braços.
—– Você também invadiu a minha casa,então estamos kits –– Ele disse despreocupado enquanto procurava por alguma coisa suspeita — Seus olhos direcionaram para a vassoura escorada em um canto e depois para a pá que ainda estava no chão, depois juntou os fatos.
Em seguida ele se virou pra mim com olhar de quem já sabia, e se aproximou com passos lentos, mas eu me afastei pra trás lembrando da louca experiência que tivemos quando eu estive em sua casa.
—– Calma Ella, eu não vou te morder, ao menos que você queira — Disse me lançando um olhar malicioso.
Fiquei calada por um segundo, analisando o contorno perfeito do seu rosto.
— Odeio quando ele faz isso com você — Soltou alisando delicadamente o meu rosto.
Abaixei a cabeça sentindo uma angústia beirar meu peito seguida por uma sensação de desamparo.
—– Ele não fez nada, fui eu quem derrubei o prato no chão — Murmurei
—– Eu ouvi a voz dele, Ella, parecia bem irritado — Disse indignado.
—– Ele se irritou, porque eu o assustei com o barulho — Encolhi os ombros.
—– Por que está defendendo ele? —Soltou incrédulo.
—– Não estou — Passei por ele e peguei a pá com os cacos misturados ao resto de comida e joguei dentro da lixeira, depois me direcionei para a pia.
Senti seus passos se aproximando enquanto eu amarrava o avental na cintura pra começar a lavar a louça.
Eu estava nervosa demais pra ficar parada.
—– E ainda por cima, ele te obriga a trabalhar.
–— Ele não me obriga a trabalhar, faço isso porque gosto, porque às vezes é tedioso ficar aqui sem fazer nada, então...
Vicent sorriu sarcástico e me incomodou um pouco.
—– Olha só, se você não percebeu, eu tenho mais o que fazer.
—– Ella, o que aconteceu aqui? — Ele perguntou insistente atrás de mim.
–— Eu já te disse — Respondi ensaboando rapidamente os pratos.
Meu coração estava acelerado e minha respiração tensa. Eu não gosto de mentir, mas também não quero expôr o meu marido dessa maneira. Nem conheço esse cara direito, e não sei como ele poderá interpretar isso.
—– Ah sim, você disse que ele se irritou porque você quebrou o prato? — Ele disse não convencido.
—– Exatamente.
—– E esse ferimento no seu rosto, foi porque ele se irritou também?
Fechei os olhos sentindo uma pontada no peito, e a raiva logo me consumiu por inteiro, fazendo eu apertar com força a esponja.
Cada dia ficava mais difícil de controlar.
Me voltei pra ele e o encarei furiosa.
—– E o que você tem haver com isso - Soltei aborrecida — Você só é a porra do vizinho, nem deveria estar aqui — Gritei sentindo meu corpo inteiro tremer — Portanto, não se mete onde não foi chamado.
—– Ella, calma — Retrucou calmo apesar de tudo — Eu só quero te ajudar
—– Só que eu não preciso da sua ajuda, vai embora — Suspirei sentindo as lágrimas prestes a encher meus olhos e uma dor de cabeça terrível.
Ele tentou agarrar a minha mão, mas eu me afastei dele.
—– Por favor, sai daqui — Falei sem encara-lo.
—– Ella, não faz isso.
Impaciente avancei em sua direção, mas ele me agarrou e me puxou para o seu peito e por um momento eu me senti acolhida e incapaz de fugir, então sem muito o que fazer deixei as lágrimas caírem como um profundo desabafo, fazendo dos seus braços um refúgio para o meu coração aflito e amargurado.
—– Você merece ser tratada como uma princesa — Ele disse passando a mão em meus cabelos, quase que me hipnotizando com o seu toque suave.
Me afastei rapidamente e prendi o cabelo atrás da orelha, depois o encarei envergonhada com os olhos marejados e os ombros caídos.
Não queria que ele tivesse me visto tão vulnerável, mas foi impossível segurar as lágrimas, e confesso que ter soltado elas, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Pois me sinto mais leve e tranquila.
É difícil conter tantas emoções ruins dentro de si.
–— Te vi dançando outro dia e gostei muito — Ele revelou empolgado.
—– Ah, aquilo? foi besteira —Funguei, em seguida deixei escapar um sorriso que parece tê-lo impressionado.
–— Quero que dance pra mim — Pediu
Me afastei e senti um sorriso incrédulo crescer em meus lábios.
—– O que? Não.
Ele passou por mim e foi até a estante onde estava o aparelho de som.
—– Vicent, não — Repreendi rindo de nervoso, ao vê-lo com a mão estendida prestes a apertar o botão principal do som, com um olhar atrevido.
—– E-eu não sei dançar —Resmunguei e logo depois uma música lenta começou a tocar.
Ele caminhou lentamente até o balcão enquanto eu o seguia com os olhos, pegou uma garrafa de vinho na adega e uma taça, depois trouxe para a mesa de centro.
Encheu a taça e se recostou na poltrona de Caleb. Senti uma mistura de medo e excitação ao vê-lo sentado ali, e o impacto do seu olhar sedutor no meu corpo foi eletrizante.
—– Vamos, vi que você sabe dominar muito bem essa arte — Incentivou tomando o gole do vinho.
Eu estava sorrindo à toa, parecia que toda a tensão do meu corpo havia se dissipado fazendo com que eu me sentisse confiante pra fazer qualquer coisa.
Olhei para o seus lábios umedecidos pelo vinho e senti um prazer delirante consumir o meu corpo.
—– Vamos, eu estou esperando - Insistiu ele.
Sorri e em seguida comecei a mexer os quadris um pouco tímida ao notar o seu olhar indiscreto o tempo todo sobre mim, mas depois acabei me acostumando com sua presença e me soltei mais, e o meu corpo começou a balançar livre e alegremente.
Ele colocou a taça vazia na mesa de centro e se aproximou de mim com um olhar sedutor, intercalando meus movimentos com os seus, conduzindo meus braços para um novo ritmo. Girando o meu corpo e depois me deitando em seus braços, e assim ficamos ao som de valsa e de risadas pela casa até a música terminar e ambos cairmos no sofá exaustos.
—– Foi bom, foi muito bom - Confessei exausta virando o rosto para ele que ofegava.
Ele virou o rosto pra mim e sorriu entre um suspiro e outro.
—– Sim, onde aprendeu dançar assim? — Perguntou intrigado.
—– Meus pais me matricularam em uma aula de dança, segundo eles, seria uma forma de eu me soltar melhor, perder a timidez, sabe,mas esse sonho começou muito antes..
–— E funcionou?
—– No começo foi difícil dançar na frente de toda aquela gente, mas depois eu acabei me acostumando.
—– Como agora. Ella, você é incrível — Confessou olhando dentro dos meus olhos — Linda e muito talentosa.
—– Obrigado —– Agradeci um pouco enrusbecida.
Ele virou o rosto e encarou o teto pensativo.
—– Queria mais momentos como esse —– Revelou.
O sorriso logo desapareceu do meu rosto, então eu me levantei do sofá rapidamente.
—– Você tem que ir embora — Falei sem olhar para ele.
Ele se levantou inconformado.
—– Que?
—– Caleb pode chegar a qualquer momento.
Passei a mão pelos cabelos, nervosa, já antecipando a imagem de Caleb entrando pela porta e metendo um tiro na testa do Vicent. Olho para o tapete e o imagino sangrando.
—– Ok, eu entendo — Ele suspirou desapontado, depois seguiu relutante até a porta, e eu fui logo atrás dele sentindo minhas pernas trêmulas de tanto dançar. Uma sensação que eu tinha me esquecido.
—– Até mais Ella — Ele se despediu com um olhar sereno e misterioso do outro lado da porta.
—– Até mais, Vicent - Suspirei, e logo em seguida fechei a porta e me escorei nela sentindo uma grande alegria transbordar de dentro de mim. Aquele momento foi tão simples, mas ao mesmo tempo tão especial, desejei tanto que Caleb me chamasse para uma dança, e de todas ás vezes que o convidei, ele se recusou.
Mas essa alegria não durou muito,visto que faltavam dez minutos para Caleb chegar, e nada estava pronto.
Nem tinha me dado conta de que eu e Vicent, tínhamos ficado nessa algazarra a tarde toda.
As louças ainda estavam na pia, e o sabão havia secado em algumas que eu tinha começado ensaboar.
Droga!
Agarrei os cabelos, atordoada.
Perdi a noção do tempo.
Corri para a cozinha para ver se conseguia preparar alguma coisa, mas foi inútil, pois não tinha nada na geladeira. As carnes estavam todas congeladas.
Levei a mão no peito, ofegante e totalmente desesperada.
Com uma voz gritando o tempo todo na minha cabeça.
Ele vai te matar.
Ele vai te matar.
Fiquei paralisada ao ouvir o som da porta se abrindo que foi quando meu coração parou de vez.
Corri na direção de Caleb e o abracei.
—– Desculpa, desculpa, desculpa, des...
—– Para com isso — Ele rosnou me empurrando. Automaticamente ergui as mãos colocando -as na frente do rosto — Por favor, não machuque, eu imploro, eu perdi a noção do tempo, me perdoe.
—– O que houve aqui? — Ele disse com os olhos voltados para a sala.
Segui seus olhos, tremendo e vi que a garrafa e a taça ainda estavam sobre a mesa, e sua poltrona estava com marcas profundas.
Fechei os olhos xingando Vicent mentalmente por isso.
—– Ah, eu resolvi tomar uma taça de vinho pra relaxar, mas por favor não fique bravo, foi só um pouquinho — Implorei o abraçando novamente.
—– Tire suas mãos de mim, estúpida — Rosnou me jogando no sofá. Em seguida começou observar atentamente cada detalhe, como se estivesse diante de verdadeira cena de crime.
Comecei chorar baixinho pensando na surra que ia tomar.
—– Vai se arrumar, hoje vamos jantar fora —– Ele disse ainda de costas em seguida subiu as escadas.
Joguei a cabeça pra trás e soltei o ar, sentindo um alívio tão grande por ouvir aquilo, que não tive força nem pra me levantar do sofá de tão anestesiada que eu estava.
Agradeci tanto a deus, mas tanto. Nunca me senti tão aliviada em toda a minha vida.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro