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Capítulo 1


—  Lisana, está tudo bem? —  pergunta a minha mãe pela milésima vez.

Olho brevemente por cima do meu ombro, para onde ela estava sentada, quase do outro lado da carroça antes de voltar a olhar pela janela, sem saber a utilidade de ela estar constantemente a fazer a mesma pergunta. Especialmente quando a resposta é sempre a mesma.

—  Sim, mãe.

Noutros tempos, eu teria ido sozinha dentro da carroça e a minha mãe iria sentada ao lado do meu pai, do lado de fora, a guiar os cavalos, porque ainda não tinha idade suficiente para ser eu a acompanhá-lo. No entanto, desde aquele dia, eu raramente estou sozinha. Tenho sempre alguém a tomar conta de mim, atento aos meus movimentos, como se eu fosse frágil. Eu acho desnecessário, mas já não tenho voto na matéria.

Se estreitar os olhos e aguçar a visão, já sou capaz de ver o próximo destino, a cidade onde o circo passaria o próximo mês e meio a fazer espetáculos duas a três noites por semana para ganhar o seu sustento.

Hazeltown.

O circo não voltara ali desde do incidente. Passados dois anos, as memórias daquela noite em que eu desejara, mais do que tudo, morrer, ainda me assolam. A distância tinha-nos feito esquecer muita coisa e ajudado a sarar muitas feridas, mas não todas. No entanto, o circo não se podia continuar a dar ao luxo de evitar a cidade que mais receitas nos valia. Eu não o permitiria. Por isso tinha dito ao meu tio, o chefe do circo, que podia retornar a Hazeltown sem qualquer problema, quando ele me tinha pedido opinião.

Coloco a mão direita sobre o peito e faço algumas respirações profundas, sobre o olhar atento da outra mulher no canto da divisão única da carroça. A proximidade crescente provoca-me ansiedade.

Outrora, a cidadezinha de que agora nos aproximávamos tinha sido a minha preferida. Adorava o público, que esperava um ano inteiro para gastar as suas poupanças num bilhete para nos ver atuar. Adorava as pessoas que passavam nas ruas quando saía para passear com o Marcelo ou com as outras mulheres para comprar comida, que nos sorriam sempre de forma simpática. Adorava a praça principal, tão anormalmente ampla e verde. Adorava os edifícios relativamente baixos que ladeavam as ruas, em tons escuros mas bonitos. Adorava o facto de Hazeltown ser uma cidade moderna mas com ar de ter ficado parada no tempo, antes do aparecimento das fábricas e das máquinas.

Agora, já não sinto o mesmo.

Hoje em dia ainda tenho pesadelos, apesar de não serem tão frequentes como há um ano atrás. Mas são sempre muito idênticos, com a cidade de Hazeltown em pano de fundo e com a minha recriação mental algo difusa da minha falecida companheira e dos seus latidos, que ainda me ecoam na cabeça, se me concentrar o suficiente.

Dói reviver estas recordações. Fico ansiosa, só de saber que vou regressar. Mas para o bem de todos, tenho de me esforçar para esquecer. Não posso prejudicar toda a gente por causa dos meus dramas.

A carroça para de repente, ainda fora da cidade, mas não muito longe da mesma.

—  Está na hora, querida. —  A minha mãe levanta-se e dirige-se à porta. —  Ficas bem?

Assinto e vejo nos seus olhos a vontade de me segurar entre os seus braços e nunca mais me largar, vontade essa que ela ignora. Agradeço mentalmente por isso e espero que ela abra a porta e saia para o exterior para eu a seguir. Já do lado de fora, percorro com os olhos a caravana de carroças de madeira que enche a estrada de dois sentidos, à procura da carroça que contém os fatos que vestíamos nas atuações e os adereços. Quando a deteto por detrás de uma carroça puxada por um elefante pequeno, dirigo-me a ela.

O circo faz sempre o seu habitual desfile antes de entrar numa cidade, como forma de assinalar a sua chegada. E imensas pessoas saem às ruas ou abrem as janelas das suas casas nessa altura, só para nos ver passar.

Com o olhar, distingo Bana à cabeça dos quatro cavalos que puxavam a carroça verde clara como uma alface com detalhes em laranja. Com cuidado, retiro-o do meio dos restantes antes da Chloe, uma acrobata como eu, fazer o mesmo com o seu cavalo de eleição, que tinha estado ao lado de Bana.

Ela sorri na minha direção e tem intenções de se aproximar para me falar, mas detém-se quando me vê a colocar o meu cavalo entre nós. Em vez disso, ela sobe para a sua égua e deseja-me boa sorte antes de ir para o final do cortejo.

Desejo-lhe boa sorte também com um grito e subo para as costas de Bana. O nosso lugar era na parte da frente do cortejo, depois dos palhaços com andas e à frente do primeiro dos quatro elefantes que o circo possuí e que, por agora, estão encarregues de puxar as carroças mais pesadas, nomeadamente a da jaula dos leões e as do material que compõem a tenda principal e as tendas secundárias.

O meu tio passa pelo cortejo de uma ponta à outra sobre o seu cavalo malhado, para ter a certeza de que está tudo pronto e, quando vê tudo do seu agrado, coloca-se à frente e dá ordem para andar. Ainda antes de passarmos os primeiros edifícios, abandono a posição confortável de cavaleiro e ponho-me de pé nas costas do cavalo com determinação. Consigo manter a postura firme e delicada de uma bailarina de ballet por causa da baixa velocidade que levamos ao entrar na cidade, onde as laterais das ruas já se começam a encher. Os exercícios que tenho andado a praticar são bastante mais difíceis, quer pelas poses desafiantes, quer pela maior velocidade que Bana atinge.

Ouvem-se os bombos e os trompetes dos tocadores sentados nos telhados das carroças ou nas costas dos elefantes, que marcam o nosso ritmo e que chamam a atenção dos locais. A multidão que se começa a acumular nas ruas rompe em vivas e em aplausos, felizes pelo retorno do único circo nómada desta zona do país. É possível sentir a sua excitação e a sua expectativa no ar.

Um grupo de crianças corre ao nosso lado e por baixo das andas dos palhaços que caminham mais à frente. Eu ignoro a sua proximidade e coloco as mãos no dorso do meu cavalo, levantando as pernas com lentidão e mestria treinadas ao longo dos anos até ambos os meus pés estarem esticados em direcção às nuvens claras no céu. Quando os aplausos aumentam e as feições da multidão tanto de nobres ricos como de camponeses se iluminam de espanto, tenho a confirmação de que não sou a única a exibir-me.

—  Mamã, mamã —  grita uma menina de uma janela de primeiro andar de um prédio da beira da estrada. —  Venha ver! O circo chegou!

Sorrio, recebendo a sua admiração com carinho. Já sentia saudades de atuar e de mostrar a todos o que consigo fazer. Durante muito tempo não fui capaz de sair da cama com vontade de ver a luz do dia. E quando finalmente o fiz, não estava em condições de atuar. Tinha memórias. Pesadelos. Calafrios.

Naquela altura, eu podia ter jurado abandonar o circo e nunca mais olhar para trás. Ainda não tenho bem a certeza do porquê de nunca o ter feito.

Desço as pernas, mas não me sento na pequena cela. Em vez disso, mantenho os braços esticados, a suster o meu corpo alguns centímetros acima das costas de Bana, como se estivesse sentada no ar. Estico as pernas o mais que posso e aguento na posição, sabendo que não havia muito mais que eu pudesse fazer na parada uma vez que estou sozinha.

Sei que algures, mais no fim da parada, o meu antigo grupo cavalga lado a lado, para ser capaz de fazer uma pequena demonstração de equipa, uma vez que os truques mais desafiantes estão reservados para os espetáculos. Eu adorava fazer esse tipo de demonstrações. Mas agora não sou capaz.

Por entre as andas dos palhaços à minha frente vejo o fim daquela parte da cidade, que dá lugar a um enorme descampado que o circo reclama como seu por uns tempos. Sou atingida por um pequeno flashback e as minhas mãos suadas escorregam na cela. Desço as pernas de imediato e sento-me com brusquidão, para evitar cair. Bana assusta-se, mas seguro na rédea enquanto lhe afago o pescoço discretamente, para o manter calmo. Não é preciso muito para ele voltar a ter a sua passada acertada com o tambor.

Nos poucos metros que restam de avenida até ao descampado eu sorrio para a multidão e aceno para as crianças, controlando-me para esconder os tremores que sinto. Desde pequena que me ensinaram que o espetáculo tem de continuar, dê por onde der. E é um lema que sigo desde então.

Perto do descampado as casas começam a ser mais rasteiras e a ser mais espaçadas por serem em menor número, o que faz com que a nossa audiência acabe muito antes do meu tio chegar àquele espaço baldio coberto de ervas altas. O seu cavalo malhado abre caminho pela vegetação, marcando o trilho que todos os outros têm de seguir.

Por fim, todo o circo se aglomera no local de ervas agora amarfanhadas pela passagem de carroças, cavalos e pessoas. Os homens das andas sentam-se nas carroças para desamarrar das pernas as varas de madeira que os sustinham antes de saltarem para o chão. Os cavaleiros desmontam dos cavalos enquanto as últimas carroças são organizadas para otimizar o terreno que a câmara da cidade nos cede.

Eu saio das costas de Bana, mas desabo no chão, sem forças para me manter de pé. Afundada nas ervas altas, luto por controlar a respiração. As memórias más, deste mesmo recinto, provocam reações estranhas no meu corpo, que por vezes não sou capaz de controlar.

—  Lisana? Sentes-te bem?

Os passos familiares de Marcelo fazem com que olhe para ele por uns instantes, antes de me voltar a concentrar na terra onde estava sentada. Procuro na minha memória pensamentos felizes enquanto repito para mim mesma, vezes sem conta, que tudo o que a minha mente me mostra está no passado. Que não está aqui ninguém capaz de me magoar. Que são tudo acontecimentos distantes no tempo, como imagens de uma outra vida.

Marcelo flecte ligeiramente as pernas e estende uma mão na minha direção para me ajudar a levantar, mas recolhe-a de seguida, quando me afasto do seu toque. Encolhida, respiro fundo diversas vezes até a respiração normalizar e o coração não ameaçar mais saltar do meu peito. Depois disso, ergo-me com um suspiro profundo.

Pisco os olhos ao me virar para o jovem a meu lado, que tem as mãos recolhidas junto ao corpo e uma expressão magoada.

—  Sim. Está tudo bem —  forço as palavras, tentando fazê-lo acreditar.

Ele assente, mas consigo perceber pela maneira como me olha quando pego as rédeas de Bana que não se encontra minimamente convencido.

Caminhamos os dois com Bana entre nós, até onde o meu tio reuniu todos os circenses. É necessário dividir tarefas para ter o recinto pronto antes de anoitecer. Marcelo junta-se ao grupo de homens que se voluntaria para cortar as ervas do terreno, que quase chegam à cintura da maioria das pessoas. Eu sou mandada ajudar a montar as tendas secundárias, depois de deixar Bana junto dos outros cavalos.

Durante o resto da tarde, e até bem para dentro da noite, ninguém para. Eu ajudo como posso, carregando os materiais das tendas e amarrando as lonas da chuva às lonas de verão, que por sua vez são amarradas no poste. Mesmo estando na estação seca, temos de ter os adereços, a comida e o recinto principal protegidos de uma eventual noite de chuva. Não nos podemos dar ao luxo de ficar tudo ensopado.

E enquanto estou realizo estas tarefas, deixo a minha mente ocupada com coisas triviais. Não quero voltar atrás no tempo até àquele local escuro onde me enfiei, mas o facto de ter voltado ao sítio onde tudo aconteceu deixa tudo muito mais difícil.

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