06. Eu te juro, Querida
Uma mão macia o balançou, podia ouvir uma voz calma o chamando.
— Remi… Remi?!
Seus olhos se abriram piscantes e ele a viu. Seu olhar colorido parecia sorrir em comunhão com seus lábios, e sua franja caía seguindo sua posição horizontal.
— Bom dia, maninho.
Ele se apoiou em seus cotovelos e a encarou. Ela usava um vestido rosa não muito diferente do do dia anterior, com ombros de fora, cotovelos cobertos e um recorte em arco no decote.
— Oi — falou — Eu dormi muito?
— Até demais: são quase onze horas — riu, sentando-se na beirada da cama. Se esta fosse mais alta, talvez seus pés não tocassem o chão — O papai já foi. Ele queria te acordar pra se despedir, mas não sabia se você ia gostar. Você dormiu tão cedo que nem jantou! De onde arruma tanto sono?
— Não sei — pensou — Acho que já virou um hábito.
— Que hábito preguiçoso — comentou. — Acho que vou te emprestar alguns dos meus livros de suspense. Alguns são tão bons que tiram seu sono por completo de tanta vontade de ler! Se bem que você pode ter pesadelos… — repensou — Papai pediu para eu te mostrar o resto do castelo hoje. Ele volta amanhã de manhã.
A garota se levantou e pegou uma muda de roupa que estava sobre a penteadeira, colocando-a no colo do maior.
— Essa roupa é pra você. Você sabe onde fica a sala de jantar, não é? Vou te esperar lá. A gente come e depois faz o tour.
O garoto ficou confuso com tanta informação, mas logo acenou que sim. Ela sorriu, e retirou-se. Estava um pouco empolgada em ter algo diferente para fazer, talvez seu novo irmão mais velho fosse alguém divertido para conversar.
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O almoço era uma carne de gosto meio amargo. Lily disse que era vinho. Depois o guiou pelo segundo andar, onde havia uma sala de música — um lugar cheio de objetos estranhos, mas com sons muito bonitos —, uma sala de artes — havia vários materiais coloridos ali! Cada um deixava uma textura diferente quando posta sobre um papel —, a sala de jantar de onde saíram, a biblioteca — que Lily disse ser seu segundo lugar preferido no Castelo — uma galeria de obras de arte, a Sala do Trono, uma sala de estar, e um cofre fechado à chave que Lily não podia abrir.
— É aqui que nós guardamos as jóias, pedras e presentes que não usamos ou de nossos antepassados, além de ouro, prata, e essas coisas que dão dinheiro — explicou ela encostada na porta do cômodo com as mãos pra trás — Quando o papai chegar você pode pedir pra dar uma olhada. Quem sabe você não acha uma coisa que goste.
O terceiro andar tinha vários quartos de hóspede e uma saída para a única torre dali que sua irmã lhe mostraria mais tarde. No último andar ficavam as suítes reais, e a do Rei era a maior. Também tinha um terraço com vista para a vila e várias plantinhas, além de uma árvore pequena que Lily disse que ficava florida na Primavera.
E o primeiro andar abrigava a cozinha, a despensa, lavanderia, o salão, e mais alguns cômodos que Lily disse não serem importantes.
— Você quer ver mais alguma coisa? — ele acenou que não com a cabeça — Tudo bem. Já são quase cinco horas… — falou. Ambos estavam na porta do palácio, no último degrau de uma escadinha que havia ali.
Também tinha uma pequena praça de terra e um chafariz, e vasos com plantas de cada lado da porta.
— Você está com fome? Queria comer cedo pra poder ler até mais tarde depois — explicou a loira.
— Tudo bem. Vamos comer então.
A menina sorriu e entrou novamente. O garoto a seguiu.
— Vamos voltar para a sala de jantar? — perguntou ele.
— Ainda não. Vamos nos lavar primeiro. Trocar de roupa e de sapato. Você pode escolher o jantar se quiser.
— Escolher? Tipo, decidir o que vamos comer hoje?
— Isso mesmo — riu ela — Você não tinha essa opção no orfanato, né?
— Orfanato? Ah, não, não tinha…
— Tem alguma coisa que você gosta muito de comer?
— Hm… acho que não.
— Sério? Não tinha nada gostoso onde você morava? Que triste.
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Remi trocou de roupa e de sapato para o jantar, como a irmã lhe havia dito. Estava com uma camisa amarela simples e os mesmos chinelos da noite anterior. Eles eram realmente confortáveis.
Uma senhora colocou uma quantidade considerável de carne e molho no seu prato, e uma vasilha com batata do lado. Era noite, as janelas atrás de si estavam todas fechadas em vidro, e as cortinas vermelhas se tornavam estáticas pela falta de vento.
— Você já está aqui?
O loiro encarou a porta. Sua irmã entrará com um vestido rosa-violeta de mangas compridas e justas e uma saia com um babado do joelho ao tornozelo. Seus pés estavam descalços e ela trançava a metade esquerda do cabelo.
— Não precisava me esperar pra comer — disse se sentando em frente ao garoto, deixando a cabeceira vazia.
— Não? Ah. Desculpa.
— Não precisa pedir desculpas. Você só foi desnecessário.
— Ah. Tudo bem.
Aquilo era confuso. Havia muitas coisas "desnecessárias" ali.
A menina começou a comer em silêncio, e ele esperou um pouco, até ter certeza de que já podia comer e colocar a primeira garfada na boca. Era complicado não ter colheres ali.
— Você tá segurando do jeito errado — o garoto a encarou por um segundo, sem entender — Segura os talheres por cima, segura a comida com o garfo e corta só o que você vai comer…
Durante os próximos quinze minutos, aproximadamente, Lily ensinou o básico da etiqueta na mesa para o mais velho. Era muito mais complicado comer ali, segundo o rapaz.
— Você aprende com o tempo.
Quando o jantar acabou, uma enorme fatia de bolo foi servida para cada um. Remi sorriu. O doce tinha uma calda de cacau e leite no meio e a cobertura derretia, lambuzando todo o prato. Lily mostrou como comer usando apenas uma colherinha de sobremesa, o rapaz se esforçava para não lamber os dedos. Depois de uma fatia, a garota se ergueu.
— Eu já vou. Quero terminar um livro específico ainda essa noite. Pode comer quantas fatias de bolo quiser, ok? — a garota limpou as mãos no guardanapo de seu colo e se dirigiu a porta.
— Espera! Você vai dormir no seu quarto, né? — Lily parou na metade do caminho e se girou para encará-lo, o jovem disfarçou — Só… caso eu precise de alguma coisa.
— É. Já vou indo — respondeu.
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Lily ouvia um cantar ritmado e agudo ao acordar. Um barulho de água cessava, como se uma torneira tivesse sido fechada.
Ela não abriu os olhos, estava em um sonho tão bom que não valia a pena acordar, então mantinha sua vista fechada, na esperança de adormecer.
Tateando rapidamente, a garota sentiu a grama sobre a qual estava. “Grama?”. Isso lhe assustou.
Seus olhos esbugalharam e ela se ergueu quase que num pulo. Olhou em volta.
— O que? Como eu vim parar aqui?
A menina analisou o ambiente. Estava do lado de fora de seu reino, pisando sobre o musgo que cobri o rodapé da Muralha. Andando um pouco para a esquerda, sem se afastar da parede, ela encontrou a estrada e, consequentemente, o portão. Ela esforçou-se para bater à porta com toda sua força, gritando o mais alto que podia.
— Socorro! Alguém? Guardas! Tem alguém aí?
Antes de qualquer resposta, uma força monstra foi exposta em um objeto pontiagudo, assustando a princesa que se segurou para não gritar ao ver uma flecha ser atirada em sua direção, parando há alguns centímetros de sua orelha.
A garota deu alguns passos para trás com a respiração pesada, suas mãos começaram a tremer e seu peito estava acelerado. Antes que conseguisse se virar por completo e encarar a estrada, ela teve sua boca coberta por alguém de mãos quentes e enluvadas, e seu rosto foi empurrado contra a parede.
— Shiu! Calma — aquela voz era familiar, mas estava abafada pelo que parecia ser um capacete metálico — Ela não vai te machucar, tá bom? Eu prometo.
A menina estava confusa e podia detectar uma dezena de perguntas em sua cabeça. Ela olhou para o lado e viu um líquido avermelhado e escuro escorrendo da ponta da flecha.
A floresta estava fria e os grilos ainda cantavam, uma brisa percorreu o lugar, balançando uma mecha de cabelo esverdeado junto às suas próprias mechas soltas da menina. Então ela tomou coragem para falar, mesmo que sua boca tampada tornasse a frase “quem é você” quase inexutável. Mas a mulher falou, mesmo que não respondendo sua pergunta, em um breve sussurro ao seu ouvido:
— Você vai ficar bem querida, eu te juro que vai.
Lily sentiu um leve toque em sua bochecha, como que um beijo por tato, e adormeceu em seguida.
As coisas estão começando a ficar interessantes... Estou postando isso no meu aniversário (20/3), cadê meus parabéns?😊
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