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26 de outubro de 1769

Morte. O destino inevitável. A verdade dolorosa.

Sua família sempre temeu a morte. Jean se lembrava do pai, Gilles Augustin Payen de Noyan, um cavaleiro da Ordem Real e Militar de Saint Louis, um homem de posses e título que temeu a morte quando esta se aproximou. Jean Baptiste se lembrava dos sussurros amedrontados de um homem que queria continuar vivendo. Sua mãe, Jeanne Guillemette Faucon du Manoir, costumava contar-lhe histórias sobre os homens que seriam levados pela morte e fugiram, permanecendo como assombrações no mundo dos vivos.

Jean Baptiste Payen de Noyan, porém, não tinha medo da morte. Ele sabia que ela viria. Claro, nunca teve certeza de quando, mas sempre esperou por ela. Talvez, a culpa por essa espera fosse o fato de ele ter dedicado sua vida a amontoar as riquezas que deixaria para seus filhos — que, agora sabia, nunca chegaria a ter —, talvez, a culpa fosse da constante luta por manter as tradições e linhagens, casando-se com uma dama a qual não amava.

Ele não precisou vasculhar a multidão para encontrá-la. Todos sabiam onde os familiares dos acusados poderiam permanecer durante uma execução.

Marguerite Catherine Chauvin de La Frénière, a jovem que desposou para manter a aliança com o procurador geral de Louisiana, a jovem que seria viúva aos dezesseis anos, a jovem em quem ele nunca tocou. Jean podia vê-la atrás da multidão, parada sob a marquise da casa que ficava em frente à praça de execução. Ela também o observava.

Quando se conheceram, Jean imediatamente notou que ela era muito madura para a idade. Foi um pecado ter aceitado o que Nicholas disse sobre ela ser capaz de superar o casamento arranjado em tão tenra idade. Mesmo assim, foi o que ela fez. Catherine, como ela pediu a ele que a chamasse após o casamento, foi uma senhora exemplar, cuidando da casa como ninguém mais poderia.

Em seus quase dois anos de casamento, Jean aprendeu a respeitá-la. Seus sogros, amigos e parentes nem poderiam imaginar que ele nunca consumara o casamento. Jean não a desejava, ela era jovem demais. Era costume, sim, casar-se tão jovem para ter mais tempo de terem filhos e herdeiros, mas ele não considerava certo. Já havia retirado a pouca liberdade que a jovem possuía, não tiraria também sua inocência.

Mesmo assim, olhando-a atrás da multidão, o semblante calmo e inexpressivo, Jean teve a impressão de que ela não era mais tão inocente quanto ele acreditava. Era como se ela conhecesse a morte, como se estivesse preparada para ela, assim como ele estava.

Quando Catherine desviou os olhos de Jean para observar o pai, o jovem comerciante não se sentiu abandonado ou traído. Desde o início, ele soubera que ela não estava ali pelo marido que mal conhecera. Por mais cruel que tivesse sido ao desposá-la, Jean não tinha arrependimentos quanto ao seu casamento, pois sempre fora um bom e respeitoso marido.

Desviando ele mesmo os olhos de sua senhora, Jean encontrou o rosto umedecido e contorcido de angústia de Louise Marguerite. Ali, sim, ele descobriu que restava remorso. Por que ela fora até lá? Não havia mais o que chorar.

Joseph morrera três dias depois de Jean ter-lhe prometido que cuidaria de sua família, três dias antes de suas sentenças serem proferidas. Se não tivesse falecido na prisão, Joseph Villeré estaria andando para a parede de pedra da praça de execução como os cinco homens que compartilharam seu cárcere no mesmo aposento. Joseph Villeré também seria alvejado de balas pelo pelotão de fuzilamento se não tivesse partido antes do tempo.

Quando o amigo morreu, Jean pensou que ele havia sido sortudo ao falecer sem saber o que o destino lhes reservava. Quando ouviu que ele próprio também morreria, Jean sentiu inveja do capitão de milícia. Agora, observando os olhos inchados e lacrimosos da esposa do amigo, Jean entendeu que aquele tinha sido o melhor destino para o homem que ele respeitava. A morte teria sido muito pior para Joseph se visse a esposa naquele estado. Por um instante, cogitou como se sentiria caso sua própria esposa estivesse no estado de Louise.

No entanto, o que realmente pesou em sua consciência foi a promessa que ele fizera e que não teria como cumprir. O que seria da família de Villeré a partir daquele momento? O que seria da família de todos eles? A sentença exigia que eles entregassem suas propriedades. Felizmente, poderiam permanecer com seus dotes, mas seria isso o suficiente para manter cinco famílias que não tinham mais um homem para ampará-las? Seria suficiente para manter cinco famílias que estavam acostumadas a ter tudo?

Jean voltou a olhar para Catherine. Quando esta lhe sorriu gentilmente e fez um aceno com a cabeça, como se quisesse dizer-lhe para ser forte, ele soube que ela conseguiria, sim, viver sem seu amparo e de seu nome. Catherine saberia como se virar, assim como sua mãe, que também não esboçava reação alguma ao ver o marido e o genro serem encaminhados para a parede de pedra.

Ao encostar na parede, seu destino final, Jean desejou que pudesse pedir a Catherine para ajudá-lo a cumprir sua promessa a Joseph. Ele queria pedir-lhe para auxiliar a mulher com três filhos a usar o dinheiro da forma correta, a manter-se firme para criar as crianças de forma que pudessem ser melhores que o pai, fosse em questões financeiras ou em questões amorosas e políticas.

O saco preto que colocaram sobre sua cabeça foi o corte de esperança que levou Jean a perceber que não seria suficiente. Mesmo que ele conseguisse transmitir seu desejo a Catherine, ele não poderia garantir que ela cumpriria seu dever. Não era incumbência dela, mas dele. Jean sabia que não deveria dar-lhe outro fardo que carregar após todos que já lhe dera. Além de que ela poderia simplesmente ignorar seu pedido, visto que não teria nenhum vínculo que a levasse a fazê-lo.

O breu repentino também o fez perceber que não se despediu de verdade. Nem de Catherine que estava ali, nem de sua mãe e de seus irmãos que não compareceram. Do mesmo modo que viveu, ele estava morrendo. Cercado por muitas pessoas, mas sem ligação afetiva com nenhuma delas.

Fechou os olhos — mesmo que não precisasse, porque seu rosto estava coberto — quando ouviu o primeiro disparo. De início, Jean notou o som. Não era simplesmente barulhento. Estalava no ar e ecoava nas paredes ao redor da praça de execução. Em nenhum momento em toda sua vida, Jean se sentiu tão vulnerável. Tinha vivido em prol do futuro, sem pensar no presente, sem prezar pelos sentimentos e emoções. Além de solitário, sentiu-se vazio. Não amou, nem foi amado. Não tinha um legado para deixar, nem para quem deixar.

Os projéteis de estanho, grossos como o granizo do inverno, cortaram o ar, alheios ao seu propósito. Cada um se dilacerou em algo, fosse inanimado — pedra, madeira, corda — ou vivo, derramando sangue com insensibilidade. Atingiram o homem no peito, jogando-o para trás, de encontro ao paredão, onde foi parado para ser alvejado por tiros em outras partes do corpo. Sua consciência durou um segundo, tempo suficiente para entender que tudo terminara.

Catherine não fechou os olhos nem se abaixou com as mãos nas orelhas. Diferente de todos os presentes, ela simplesmente piscou, em um rápido sobressalto, e respirou fundo enquanto seu pai e seu marido eram executados. Cada tiro tomava-lhes a existência, cada rajada no ar suave deixava-os mais frios. Os disparos eram como gritos brutais que serviam apenas para calar a vida.

Era uma injustiça a morte daqueles homens. Mas ela sabia que viria.

Olhou de relance para sua mãe. Ela estava observando a execução; em seus lábios, um sorriso foi se formando lentamente. Quando soube o que sua mãe havia feito, Catherine sentiu nojo, depois desprezo; por fim, ela sentiu-se impotente. Foi por isso que parou de visitar o tribunal e as salas de reunião com os advogados. Não poderia olhar para seu pai ou Jean sabendo o que lhes sucederia.

Assim que soube, tentou impedir, mas sua mãe tinha feito o trabalho muito bem e escondera tudo com perfeição. Catherine nem mesmo conseguiu localizar o feitiço para desfazê-lo. Por mais que tivesse treinado a vida inteira, Catherine jamais seria uma bruxa como sua mãe. Diferente da mulher mais velha, ela não conseguia trabalhar enquanto se escondia de todos ao seu redor.

Por isso — ela odiava admitir —, Catherine decidiu não lutar com todas as suas forças. Era o maior de seus pecados, aquele que ela levaria para além da vida, mas era sua única e real chance de ser livre.

Jean havia lhe dado certa liberdade quando se casaram, pois ele não exigia muito dela, apenas que cuidasse da casa, mas mesmo assim ela tinha ajuda da família dele sempre que pensava que não daria conta. No entanto, ainda era reclusa de sua própria família, de um homem que não a queria e talvez nunca quisesse. Ela sabia que Jean não a amava e não se sentia infeliz com isso, pois ele a respeitava.

Quando os disparos terminaram, Catherine voltou a olhar para o marido, que escorregou lentamente até cair retorcidamente no chão. Ele se fora. Assim como seu pai, o homem que a obrigou a casar aos quatorze anos para garantir uma aliança com um comerciante rico. Catherine não sentiria falta de nenhum dos dois, mas sentia remorso apenas pela morte de Jean. Por mais indiferente que ela lhe tenha sido, era um bom homem, diferente de seu pai.

Então, enquanto observava o fim trágico e sangrento dos homens que conhecia desde bebê, Catherine notou uma mudança. Não foi repentina como uma explosão, nem sutil como o nascer do sol. A mudança foi extrema e fria, forte como um raio, mas ao mesmo tempo lenta e excitante, suave como o vento.

A névoa invadiu a praça de execução por todos os lados — surgindo das ruas transversais, de dentro das casas, por cima do paredão. Foi se aproximando, passando pela multidão. Quando a tocou, Catherine sentiu um arrepio, como os que sentia toda vez que visitava o cemitério. Pelo canto do olho, ela notou que sua mãe também sentiu, que a mais velha estava olhando para todos os lados, tentando entender o que estava acontecendo assim como ela.

A característica mais marcante da névoa, porém, era que mais ninguém a notava. Todos por sob quem a neblina passava agiam normalmente, como se nada estivesse acontecendo.

Era magia. Catherine sabia disso no fundo da alma. Mas ela nunca tinha visto uma magia como aquela.

— O que está acontecendo? — sussurrou para sua mãe, torcendo para que ninguém além da matriarca ouvisse.

— É magia antiga — ela respondeu simplesmente, como se aquilo explicasse tudo.

Catherine ouvira as histórias da mãe enquanto esta lhe ensinava sobre suas origens. Elas eram de uma longa linhagem de bruxas que conseguiram fugir da inquisição e se refugiaram, primeiro em uma cidade escondida na Europa, depois no Canadá, uma terra desconhecida nas Américas. Sua mãe lhe contara sobre a magia, como usá-la a seu favor, como usá-la contra os outros. No entanto, Catherine pouco se lembrava sobre a magia antiga, a que lhes fora concedida pela noite, a que se transformara e se adaptara.

Sem entender as palavras da mãe, Catherine continuou observando a névoa enquanto esta caminhava pela praça até o paredão onde os homens responsáveis pela rebelião estavam caídos. Ignorando todos os outros, a névoa se encaminhou diretamente para Jean, para espanto das duas bruxas que observavam com atenção.

— O que tu fizeste? — a mãe de Catherine perguntou em um sussurro.

— Eu não fiz nada — foi sua resposta.

E ela não tinha feito mesmo. Na verdade, ela nem saberia como fazer algo assim.

De repente, Jean se levantou do chão escarlate. Na verdade, ele não se levantou completamente, pois seu corpo ainda estava lá, contorcido, esburacado, vazio. Seu espírito era o que estava livre para vagar pela terra.

Naquele momento, Catherine entendeu. A névoa não era névoa, nem neblina. Era o véu entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. O véu que se abriu para deixar Jean passar. O véu que o acompanharia enquanto estivesse do outro lado da barreira.

Jean Baptiste era um homem que não temia a morte, pois sabia que ela viria, mas, quando ele se levantou e deixou seu corpo no chão, ele sentiu medo. O que estava acontecendo? Como ele ainda estava ali caído e ao mesmo tempo se observando? Ele tinha sido um homem cético por toda sua vida, mas entendeu o que lhe havia acontecido. Ele era, agora, um fantasma.

Sem saber muito bem como agir, Jean voltou sua atenção para as últimas pessoas que a tiveram antes que ele morresse: sua esposa e a esposa de Joseph. Louise Marguerite estava encolhida, chorando nas mãos que tampavam seu rosto angelical. Catherine estava olhando para ele. Não o Jean morto no chão, mas o Jean fantasma de pé e perdido.

Assim que seus olhares se cruzaram, ela desviou o rosto para sua mãe, que olhava fixamente para o paredão atrás de Jean. Aquilo o intrigou, mas sua atenção foi desviada. Como se fosse um metal sendo atraído por um imã, Jean percebeu imediatamente quando alguém chegou para consolar a viúva de Joseph e a levou dali.

Não houve nem mesmo a vontade de pensar duas vezes, ou de tentar descobrir por que Catherine conseguiu vê-lo. Jean seguiu Louise Marguerite para longe da praça de execução, deixando todo o resto para trás.

A morte que ele nunca temera finalmente havia chegado, mas ela não era o fim, era apenas o começo.

*2286 palavras

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