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7: Red Grooms

O

trinado eufórico agita meus tímpanos, e os feixes elétricos do susto pelo ruído repentino me impelem a saltar por entre os lençóis da cama, tateando o breu em que meu quarto está imerso à procura da origem do som irritante que fora responsável por me acordar.

Alcanço meu celular sobre a cômoda, e o retângulo eletrônico tremula contra minhas articulações, vibrando em uma chamada estridente. Meus cílios se abrem devagar e o mundo se revela como um borrão escuro diante das minhas pálpebras pesadas, riscado somente pela tela acesa do aparelho que pipoca letras indistinguíveis.

Solto um palavrão assim que consigo decifrar o autor da ligação e afundo o rosto no travesseiro, desejando secretamente estourar feito uma bolha de sabão. Se não atender, sei que vai ligar de novo, e continuar insistindo até que eu o faça.

Deslizo a ilustração de telefone antigo para cima e arrasto o celular até o ouvido, à contragosto.

- São duas da manhã, Apollo. - resmungo, meu timbre abafado pela bochecha pressionada contra o travesseiro.

- Senti saudade da sua voz. - Soa cínico.

Contenho-me para não bufar.

- Fala sério. O que aconteceu?

Um sopro do outro lado da linha me leva a constatar que ele suspirou.

- Uma garota tá querendo transar comigo.

Rolo minhas orbes.

- Que bom, você tem o essencial, que é consentimento dela. Agora, vai e me deixa dormir.

- A questão é que eu não quero ficar com ela. E preciso da sua ajuda. - Suas palavras se atropelam pela velocidade em que são ditas.

- Não é mais fácil dizer a verdade para a moça?

- Ela não acredita, e não está saindo de perto de mim!

Posso ver sua expressão de pânico como se ele estivesse diante dos meus olhos; as ondinhas entre as sobrancelhas, os lábios da cor de Marte fisgados para cima e a cabeça pendendo levemente para trás.

Expulso o ar dos pulmões e me forço inclinar o tronco para frente, sentando-me no colchão. Esfrego os olhos com o punho livre, tentando me manter desperto o bastante para elaborar uma fala coerente.

- Passa o telefone para ela. - peço.

Alguns segundos precedem a manifestação do tom feminino contra meu lóbulo.

- Alô? Quem é? - Sua confusão preenche o espaço.

- Ninguém especial. Só o que precisa saber é que não deve transar com o cara de cabelo branco, tipo, nem se ele for o último ser humano do universo. Ele é um idiota irresponsável, e anda tendo uma coceira muito estranha lá embaixo. Os médicos suspeitam que seja gonorreia. É altamente transmissível e bem perigosa. Faz cair os órgãos genitais. - minto descaradamente na última parte.

Um murmúrio de choque inunda a linha, seguido de exclamações distantes que soam inaudíveis demais para mim. Dura uma pequena eternidade, a ponto de me fazer pensar em desligar para voltar ao recanto da minha cama.

- Disse a ela que tenho gonorreia?! - O berro incrédulo de Apollo chacoalha meus neurônios de repente.

- Pensei que fosse verdade. Desculpe. - Não contenho o sarcasmo. Estou com um mau humor dos infernos, como é de se esperar ao ser desperto em plena madrugada por um pentelho sem muita noção de incômodo. Então, também possuo o direito de fazer comentários ásperos.

- Tudo bem. O importante é que deu certo. - Puxa o fôlego, deixando que um silêncio miúdo se decante entre nós. Quando faz isso, sei que nada bom vai vir assim que voltar a falar. - Posso passar a noite aí?

Emito um ruído desgostoso. É involuntário.

Não seria a primeira vez que Apollo dormiria no meu quarto. Já acontecera umas outras quatro vezes, as quais foram irremediavelmente facilitadas pela Miss Acácia, uma árvore de flores tecnicamente amarelas que papai plantara no nosso jardim há cerca de quinze anos, e estendera seus galhos tortos à caminho do céu desbotado o suficiente para darem acesso à minha janela.

Da primeira vez que fez isso, minha reação involuntária ao acordar com o baque dos seus pés contra o piso foi capturar o livro de capa dura que eu deixara sobre a cômoda e o arremessar em cheio na cabeça dele, totalmente-por-cento convicto de que era um ladrão psicopata. O resultado foi eu em plenas três da manhã tateando o congelador à procura de algo que servisse para diminuir a planície crescente na sua testa, enquanto ele sussurrava um milhão de palavrões recostado na bancada na cozinha e se perguntava se ia morrer de traumatismo craniano.

Sua justificativa para a aparição inesperada foi a mesma todas as vezes; chegara tarde de onde quer que estivesse e não queria correr o risco de acordar seus pais, tampouco levar um sermão da mãe capaz de alcançar os anéis de Saturno. Ao que parece, dizer que dormiu na casa de um amigo porque hipoteticamente estudaram até tarde e as ruas andam muito perigosas à noite soa mais aceitável. Eu só não sei por que a minha residência tinha que ser a escolhida.

- Vai adiantar se eu disser que a última coisa que quero é você aqui? - Testo, exausto.

- Chego em quinze minutos.

Isto certamente é um não estratosférico.

Demora mais do que um quarto de hora para a Miss Acácia demonstrar seus primeiros sinais de perturbação, no entanto. As folhas tremulam com mais inquietude, traçando arabescos embriagados além da minha janela sob a poeira pálida da lua por mais segundos do que o habitual. Um tanto desconfiado, caminho até o retângulo de vidro e enfio a cabeça para o lado de fora através da metade generosa que já deixara aberta há minutos.

Fragmentos errantes das estrelas levados pelos torvelinhos de vento banham meus poros, e por um momento quase posso me sentir como parte do céu; inquebrantável e cintilante. Mas dura pouco, porque um palavrão muito sujo corta o ar, e, antes que possa pensar em decifrar de onde especificamente vem, sinto um impacto sólido e rascante contra meu tronco que me faz cambalear para trás feito um planeta que levou um peteleco gigante para fora do seu eixo.

Agarro os ombros de Apollo o mais firme que consigo, torcendo o jeans da sua jaqueta por entre as digitais para barrar seu peso e impedir que caia por cima de mim. Ele se estabiliza de pé, parecendo um pouco tonto, e suas íris caem na atmosfera dos meus olhos feito asteroides sem órbita, perigosamente escuros e permeados de crateras insondáveis.

Seu hálito inflama o ar em uma mescla enjoativa de vodca e nicotina, que conseguem se sobrepor aos vislumbres frescos de alguma bala de menta que decerto tentou usar para camuflar o cheiro dos tóxicos que enfiara no organismo. Foi tão eficaz quanto comer de cabeça para baixo, é claro.

- Está bêbado. - constato, rolando as orbes.

- Nããão... - Dá um trôpego passo derradeiro na minha direção, tombando o rosto para o meu pescoço. Seu nariz resvala na pele exposta à caminho da minha mandíbula em uma nuvem de calor que fervilha meus poros, como se tivesse acabado de engolir o sol inteiro e mais alguns astros luminescentes de sobremesa. - Só um pouco. - Sopra, os lábios disseminando odisseias de fogo com lenta delicadeza na minha epiderme.

Engulo com dificuldade, tentando não sufocar em meio ao turbilhão de iridescência que se espalha por cada zona minha tocada por ele. Apollo não deveria ficar tão perto nem em um milhão de anos.

- Por que se embriagou, seu inconsequente? - murmuro, tentando não brigar com ele.

- Eu só queria parar de pensar um pouco... - ronrona, e seus dedos alcançam minha clavícula por cima da camisa. - Às vezes me sinto tão pequeno, Cosmos. Miúdo, molecular, capaz de caber um milhão de eus em uma caixa de fósforos. Mas o que eu sinto parece prestes a me rasgar para explodir além da estratosfera, de tão imenso. É como se minha pele e tudo o que se expande dentro de mim não fossem compatíveis, então se rejeitam feito um órgão mal transplantado e brigam constantemente. - Sua respiração pesada arde com mais fervor na minha epiderme. - Acho que o que quero dizer é que é um mundo triste e bonito... Mas, principalmente, melancólico.

A compreensão do que está tentando dizer arrebata meus átomos em uma nuvem cáustica tangível, mas busco não deixar transparecer minha bagunça de forma alguma.

Tento afastá-lo, aproveitando-me das mãos em seus ombros, mas seu corpo parece denso demais, pesado feito uma bigorna de desenho animado.

Ele precisa de um banho gelado para seus neurônios voltarem a funcionar. Só não sei como vou conseguir arrastar um indivíduo semi-morto pela minha casa sem acordar ninguém.

É um dos motivos pelos quais tenho dificuldade em suportá-lo; Apollo comete erros que sempre dão um jeito de atingir alguém além dele de formas possivelmente catastróficas. Fora que não gosto nem um átomo da ideia de ser babá de um idiota com a mesma idade física que eu quando algo do seu mundo desmorona. E isso sempre acontece, considerando que garotos de vidro como ele estão mais fadados a tragédias do que o normal.

Entre 1975 e 1976, Red Grooms fez uma enorme instalação - já desmontada - para oferecer um bagunçado tour por Manhattan, contendo até mesmo uma estação de metrô completa, com um trem. O ambiente brilhante, colorido e alucinante, foi chamado de Ruckus Manhattan. Gosto de pensar que a sua essência trouxe um retrato não apenas da cidade de Nova York, mas de como é a vida. Somos figuras condenadas a pairarmos num mundo bonito, mas insano e fragmentário, tal como a construção de Grooms. E aprender a lidar com todas essas nuances de formas não destrutivas é dolorosamente necessário.

Uma das percepções trazidas pela maturidade é a de que ninguém além de nós é responsável pelo nosso próprio caos, de modo que não há motivo para arrastar intencionalmente outro ser para dentro do horizonte de eventos dos nossos buracos negros internos.

No entanto, Apollo sequer tem condições de pensar nisso agora. E sei que preciso ajudá-lo. O sermão vem depois, quando ele já for capaz de soletrar "banana".

Gosto de pensar que o ajudo porque sou uma boa pessoa. Mas, no fundo, sei que uma parcela disso se deve a alguma espécie de senso de compensação para com ele, desde a primeira e última vez em que fiquei bêbado no ano passado, numa festa chata para burro que Beatriz me enfiara.

Naquela noite, eu quase transei com uma garota. Já tínhamos nos beijado algumas vezes, e até que era legal, mas havia alguma coisa nela que me fazia sentir meio torto. Sua língua parecia uma lixa contra a minha, e todas as pequenas sensações que acometiam meu sistema eram feitas de estática quando estávamos juntos.

Porém, a minha curiosidade para saber como a dinâmica do sexo entre humanos funcionava era de um fervor insano. Então, comecei a beber feito um infeliz que sabe que vai morrer no dia seguinte, para tentar puxar coragem de algum lugar e concretizar essa coisa. Mas, no final das contas, bebi demais. E nada funcionou.

As lembranças mais claras que tenho do resto da noite são de Apollo segurando meu cabelo para que eu despejasse o estômago inteiro no vaso sanitário, e, em seguida, da minha cabeça encostada no seu ombro, com os olhos pendendo para fechar e as costas contra a parede fria do banheiro da minha casa, enquanto sentia, meio dormente, seus dedos desafivelarem meu cinto.

Fui obrigado por ele a me enfiar debaixo de uma ducha que quase transformou meu esqueleto em gelo, mas me fez sentir um pouco melhor.

O garoto ficou deitado ao meu lado na cama por um pequeno infinito, escorregando os dedos pelos meus fios em uma carícia narcótica que só cessou quando, no meu falatório bêbado, mencionei o que quase acontecera na festa.

Adormeci pouco depois. E, quando despertei em algum ponto da madrugada, ele já havia ido embora.

Não tive coragem de olhá-lo nos olhos por semanas inteiras.

De qualquer forma, isso não vem mais ao caso. Provavelmente, não havia sido nada para ele além de tomar conta de um cara que o odiava por metade de uma noite. Se duvidar, sequer lembra mais do acontecido. Não tem motivo para eu me recordar disso agora e querer me transformar em uma minhoca para cavar um túnel no solo e me escafeder dos seus olhos.

Com passos meio trôpegos, consigo guiá-lo até o banheiro do segundo andar, que felizmente está com a porta entreaberta. Empurro o retângulo de madeira com a lateral da coxa recoberta pela minha calça de tecido xadrez, e o ambiente organizado se revela, baforando um cheiro enjoativamente doce de lavanda em nossos rostos. O aroma é um estopim esquisito para Apollo, que se curva para o piso bege e, com um soluço engasgado, despeja o conteúdo transparente do próprio estômago sobre os meus pés descalços.

Curvo os lábios em uma careta, sendo atingido por um raio invisível que arrebenta o teto e me traz uma vontade pulsante de escalpelá-lo.

- Seu idiota! - despejo, dando um pulo para longe dele como se estivesse com uma doença altamente contagiosa.

Seu corpo se desestabiliza e ele pende para o lado, caindo por cima da pia feito um boneco de pano. Seu braço atinge o pequeno caqueiro que abarca minha samambaia na cuba, e ela tremula levemente.

- Ai, meu Deus! Não mata a Clotilde! - exclamo, saltando de volta para segurá-lo antes que esbarre em mais alguma coisa.

Ele ri enquanto o levanto, e seus braços enlaçam meu pescoço como se estivesse diante de uma boia salva-vidas. Engasgo com a saliva, inquieto com a percepção de todos os pontos de contatos que faíscam entre nós.

- Acho que vou fazer uma ode à Miss Acácia. Aquela árvore é bem incrível. - Seu riso ondula meus tímpanos. - Você também é.

Sua fala dispara ramos ácidos no meu peito, carregados de um misto explosivo de negação e vergonha. Preciso fazer com que cale a boca antes que diga mais algo que não posso ouvir.

De lado, caminho os passos remanescentes até adentrarmos no box. Então, tateio o azulejo gélido em busca do registro, e, assim que o acho, rastejo as digitais pelos seus contornos perolados.

O fluxo de água se derrama sobre nossos corpos, inundando-nos com sua chuva cintilante como se estivéssemos no meio de uma tempestade de estrelas congeladas.

Apollo arfa, tremulando de leve, e seu tórax me empurra até pressionar minhas costas contra a parede. Os pingos translúcidos reluzem nos paralelos e meridianos do seu rosto feito constelações abstratas, brilhando em cores fulgurantes além do espectro visível sob a fraca luz pálida proveniente do lado de fora do cômodo.

Seu olhar é uma galáxia em expansão se dissolvendo no meu; Andrômeda e Via Láctea em uma colisão tão explosiva quanto fragmentária.

Preciso respirar, mas não consigo. Meu coração dói como se um milhão de agulhas tivessem se afundado no miocárdio. Nunca senti isso, mas não acho que possa ser algo bom. Talvez seja sintoma de algum problema cardiovascular latente que está fazendo todos os meus órgãos entrarem em colapso, porque tenho a impressão de que estou pairando no espaço sem capacete de proteção, com o vácuo pesado espremendo minha caixa torácica cada vez mais.

O jeans rasgado da calça de Apollo escorrega pela minha coxa assim que seu quadril esbarra no meu, extinguindo todos os átomos de distância entre nós. Aperto meus lábios com força, piscando vezes demais por segundo. Digo a mim mesmo que quero correr o mais rápido que meus músculos permitirem, embora as minúsculas estrelas em supernova que turgem cada um dos meus poros e me prendem no lugar ameacem me contradizer.

A boca do garoto se entreabre, e seus lábios molhados roçam de leve meu queixo, fechando-se na pele em um mordiscar lento. O cheiro tatuado na sua epiderme afunda minhas narinas em uma nebulosa sufocante feita de colônia e cigarro.

Preciso fugir agora.

Solto um sibilo mais alto do que gostaria, e me impulsiono para fora da cabine envidraçada, quase tropeçando nos meus próprios pés. Água pinga de cada fibra que me recobre, resvalando pelos meus dedos até atingir a cerâmica.

- Eu vou... pegar uma roupa para você. E uma tolha. - Apresso-me a falar.

As palavras ainda estão se diluindo nas partículas de oxigênio quando saio, tentando não me sentir tão desconfortável sob minhas peças ensopadas e a consciência de que estou molhando o corredor inteiro.

Que porcaria.

Chego no quarto e troco minhas vestes na velocidade da luz, arremessando todas as que estão empapadas no meu cesto de roupas sujas. Em seguida, procuro um conjunto de peças para o Apollo, fazendo de tudo para desvencilhar minha mente da espiral azul que pulsa, fluorescente, por entre meus neurônios.

Penduro as roupas que escolho para ele na maçaneta da porta do banheiro com os dedos vacilantes, e corro de volta para o quarto. Enfio-me debaixo dos meus lençóis, virado para a parede. Desse jeito, não verá que estou acordado quando entrar e não vai puxar assunto, apenas deitar no colchonete estendido no centro do cômodo e apagar até o dia seguinte.

Preciso parar de ajudar Apollo, antes que eu precise de ajuda. Psiquiátrica.

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