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5: Chuva de Estrelas

As rodinhas dos skates ondulam o concreto que forma as duas rampas dispostas frente a frente na praça, polvilhando o ar com o ruído áspero do atrito que se mescla às conversas paralelas ao meu redor.

Bebea está sentada no degrau abaixo do meu na arquibancada, tragando um cigarro enquanto conversa com Amélie, à sua direita, e Rubel, do outro lado, com Valentim em seu encalço.

Estou com as pernas cruzadas, meus tênis salpicados de tinta descansando no concreto abaixo do jeans da minha bermuda. Tento alternar a atenção entre o assunto que meus amigos conversam e o caderno de esboços encaixado sobre as minhas canelas.

No papel amarelado, o lápis que pende por entre meus dedos esboça os contornos de um garoto adormecido em sua cama, frente a uma janela que em breve derramaria luz do sol feita de tinta cor de morango em aquarela nos seus traços.

— Fala sério, eles nem são tão bonitos assim. Parecem um bando de tamanduás suados, mas se acham uns fodões. — comenta Bia, com um ar de tédio quase palpável, enquanto observava os skatistas.

Anna Beatriz, como consta na sua certidão, possui uma aversão notável a palavras que remetem a anfíbios e répteis, bem como às cores de espectro mais vibrante nas paletas de maquiagens e roupas. Seus fios sempre foram rentes à nuca, ficando mais cumpridos em um topete cheio de cachos acobreados no topo da cabeça, em que alguns tinham a mania insistente de escorrer rumo aos seus olhos e deixá-la chiando de irritação feito um bule de chá.

— Eu acho que se parecem mais com uns gorilas esquisitos. Só faltam bater no peito e urrar algo do tipo “Uh, fêmeas, conseguem ver como eu como eu sou incrível?” — Amélie debochou, particularmente puta por ter sido alvo de uma cantada muito barata de um dos garotos do skate há menos de cinco minutos.

Bia ri e ajusta sua meia calça arrastão na coxa pela milésima vez, os dedos esbarrando na saia xadrez pintada de cinza e preto em um tique nervoso que se repete com uma constância absurda, especialmente quando Mel dirige a palavra à ela.

As íris cor de chumbo de Beatriz costumeiramente se derramam muito mais sobre a outra garota do que em qualquer outra coisa, como se estivesse diante de uma Vênus mais bonita do que Michelângelo seria capaz de pintar.

Ninguém pode julgá-la. Amélie possui uma personalidade que condiz com o seu apelido de Mel, e um sorriso que facilmente pode convencer qualquer cético na humanidade a voltar a acreditar na beleza de espírito nas pessoas.

— O Aart parece ser o único que se salva desse meio de idiotas. — Bia continua, as íris se direcionando para o garoto cheio de caracóis esverdeados na cabeça que terminava de fazer uma manobra na rampa maior, dando um salto que girou o skate no ar para voltar a encaixá-lo sob seus tênis logo depois.

— Seu namorado manda bem para caralho, Tim. — Rubel cutucou o moreno ao seu lado, com um ar risonho.

Rubel é o que eu posso chamar de melhor amigo. Nos conhecemos há uns três anos, quando ele me pediu cola em uma prova de matemática e fomos para a diretoria juntos por causa disso, porque talvez eu tenha sido tão sutil quanto um elefante no meio de um campo de futebol na hora de lhe passar as informações.

Começamos a sair juntos pouco antes da sua transição, de modo que, quando assumiu sua identidade de gênero para o mundo, fiz questão de estar ao seu lado em todos os momentos mais difíceis que eu sabia que iria ter, como quando se declarou homem trans para os seus pais e o resto da família no Natal retrasado.

A reação da maior parte dos integrantes sentados à mesa foi melhor do que esperávamos, embora nem todos tenham respeitado seus pronomes na época, e ainda possuíssem dificuldade em fazê-lo nos dias atuais. Felizmente, seus pais o apoiam e se esforçam ao máximo para compreendê-lo, sem colocá-lo como uma peça defeituosa no mundo ou um experimento genético que deu errado, como já acontecera com ele ao comunicar sua transexualidade para algumas outras pessoas.

Assim que completou dezesseis anos, Rubel conseguiu permissão e auxílio financeiro da mãe para iniciar o seu tratamento hormonal por meio particular. E, quase dois anos depois, é lindo vê-lo existir com toda a felicidade em estar vivo que permeia suas orbes castanhas de modo quase perpétuo.

— Não é meu... namorado. Quer dizer, não exatamente. Não... oficialmente. — Valentim explicou, um leve tom róseo subindo ao seu rosto recoberto pelas mechas escuras do cabelo que lhe caiam pela testa.

Como se tivesse percebido que foi mencionado, Aart estaciona no vão entre as rampas e toma o skate em mãos, voltando os olhos escuros para os de Valentim. Um leve sorriso se repuxa nos lábios do de cabelo verde.

O garoto alvo do gesto sorri de volta, ficando um pouco mais vermelho.

Esse não é o mesmo Tim alma-sombria-quase-emo que nós víamos desde o início do Ensino Médio, com certeza. Quer dizer, ele era um cara tão quieto e esquisito até alguns meses atrás que muitos tinham medo de iniciar uma conversa com o dito cujo.

Algo que era muito perceptível desde sempre foi o seu ódio pelo Aart, que parecia ser absoluto e irredutível desde o nono ano, após uma suspensão que Valentim tomou por supostamente ter arremessado uma bomba no parque infantil da escola.

Deu-se que a relação de ambos há dois meses mudou radicalmente. E, com o passar das semanas, o próprio Valentim parece mais radiante, por motivos que ninguém sabe dizer ao certo, mas muitos asseguram que o adolescente de cabelo verde que passou a andar de mãos dadas com ele pelos corredores teve grande contribuição nisso.

Foi o Aart que empurrou Tim para o nosso grupo. No início, ele pareceu tremendamente desajustado e chegou a ser grosseiro com alguns de nós, mas está se acostumando mais à nossa presença a cada dia.

— Não sei por que caralhos você não pediu o verdinho em namoro ainda. — Bebea diz, e leva seu cigarro aos lábios mais uma vez, tragando-o com uma lentidão premeditada enquanto estuda as feições de Valentim.

Os olhos dele se arregalam, voltando ao normal em uma fração de segundo conforme tenta disfarçar o quanto a pergunta o inquieta.

— Ah, é só que... não acho que está na hora. Quer dizer, talvez ele ache rápido demais e... — Suas palavras vão morrendo assim que o Aart começa a se aproximar de nós, escorregando a palma livre do skate por entre as mechas coloridas do próprio cabelo.

Ele estaciona na frente de Valentim, ofegando, e deposita seu skate no chão. Então, abaixa-se rapidamente para fisgar sua garrafa de água ao lado do tênis desbotado do rapaz.

Com o acréscimo da sua presença, A Trupe dos Seis Lunáticos, como Bia renomeou com a entrada de Valentim, está completa. Ou, para os mais preguiçosos como eu, apenas TDSL — sigla que Anna acha particularmente incrível por, de acordo com ela, parecer com nome de droga ilegal ou abreviação para alguma doença mental.

— Perdi alguma coisa? — indaga, e leva o recipiente de plástico à boca, bebericando o líquido do seu interior.

— Nada. — Valentim assegura de imediato. — Como você está?

Aart curva os lábios em uma careta cômica, apertando os cílios em análise na direção do quase-namorado.

— Estou suado. — As palavras carregam uma insinuação velada, que Tim pareceu entender de imediato, porque arregala os olhos em polvorosa.

— Nem vem com essa. — Ergue a mão em frente ao corpo, como se fosse um escudo de fluidos altamente eficaz.

Porém, obviamente não é, porque no instante seguinte Aart se joga ao seu lado e enlaça os braços brilhantes de suor ao redor do seu pescoço, dando risada da careta enojada que se formou no semblante de Valentim com o contato molhado.

— Aart, você está radioativo, será que pode manter uma distância segura? — Descontração enfeita o timbre do cara alvo do seu abraço, e o riso dos dois ondula o ar.

— Ai, eles são tão fofinhos... — Amélie divaga, enfiando o queixo no punho do braço apoiado na sua coxa parcialmente coberta pelo short jeans. — Por que eu não tenho a sorte de viver um amor assim? — Brincadeira se refugia na indagação.

Secretamente, tenho vontade de rir.

Como ela não percebe o jeito que Beatriz sempre a olhou?

Quer dizer, Amélie nunca declarou uma sexualidade definida, mas já ficou com algumas garotas, pelo que me contou uma vez. E Bia se assumiu como pansexual há alguns meses. Lembro que, na época, elas já se conheciam e Mel pareceu ficar um tanto inquieta com a autodeclaração da amiga, a ponto de terem se distanciado por semanas, até voltarem a se falar novamente sob os incentivos meu e de Rubel.

Por causa desse clima de estranheza, entendo em partes o porquê de Beatriz nunca ter falado como se sentia — coisa que ela se esforça negar ao máximo, mas sempre foi notável para muita gente. Menos, aparentemente, para Amélie.

Talvez, ache que o clima entre as duas pode ficar muito ruim com uma revelação desse tipo. Honestamente, faço ideia.

O grupo inicia uma conversa paralela sobre alguma coisa a qual não presto atenção, porque volto a me concentrar no esboço que o grafite por entre meus dedos traça, submergindo nos paralelos e meridianos que compõem as feições adormecidas do garoto registrado na página.

— Cosmos... — Sinto uma cutucada frenética no joelho, que atrai minha atenção para a autora do toque de imediato.

Hm? — murmuro para Amélie, que ostenta um sorriso carregado de malícia.

— Pode me explicar o porquê do seu vizinho não tirar os olhos de você?

Suas palavras me fazem deslizar as vistas por todos os cantos daquele lugar sob meus cílios apertados em confusão, até que vislumbro um par de orbes escuras fixas em mim, com uma atenção que estende linhas iridescentes no espaço entre nós.

Apollo está sentado há alguns metros, no último degrau da arquibancada, entre os gêmeos idênticos Daniel e Donato, que despejam risos ao vento como se estivessem sob efeito de gás hilariante.

De imediato, recebo os cinco pares de olhos dos meus amigos no meu rosto, que me fitam debaixo de sobrancelhas cerradas com dúvida.

Sinto um calor de brasa se dissolver nas minhas bochechas, fervendo meus átomos.

— Tenho certeza de que ele está olhando para você, Mel. — falo para tentar desconversar, enquanto desvio o foco para a garota mencionada.

— Sério? — ela indaga, parecendo genuinamente confusa. — Quer dizer, ele é bem bonito e tudo o mais, mas não ficaria com ele nem se não fosse do seu interesse.

— Não é do meu interesse. — asseguro. — Ele só é meu vizinho. E, ontem, firmamos um acordo de que ele vai me ajudar com a Brunna.

— Não nos contou sobre isso. — Bia comenta, ficando subitamente séria.

Seus lábios em linha reta e o olhar fragmentário começam a me deixar um pouco inquieto.

— Não foi nada demais. Acabei me encontrando com ele por acaso à tarde, batemos um papo sobre isso e só.

— É bom que realmente seja só isso. — Beatriz afirma. — Apollo não é o tipo de pessoa com quem alguém deve se envolver, de qualquer forma que seja. Pelo menos, não a versão dele que eu conheci. — Comprime os lábios, baixando as vistas para o chão. Parece haver muito escondido por entre cada sílaba que disse, como se o que vimos de Apollo não passasse da porção de uma lua em que os raios solares permitem vislumbrar, mas oculta a parte significativa do lado escuro além de tudo o que cintila. — Ele é... completamente caído. Arrisco dizer que irrecuperável.

— Quem garante que ele ainda é essa mesma pessoa que conheceu? — Valentim se intromete, parecendo ultrajado.

Bia rola os olhos com impaciência.

— Olha, eu não faço ideia. Não falo com o Apollo há um tempo. Só tô dizendo que qualquer um que quiser se aproximar, tem que ter cuidado. Existem coisas que sempre vão estar enraizadas em nós. Dá para podar, controlar, mas... sempre vão estar lá, esperando um pequeno deslize para aflorarem de novo.

Suas palavras me fazem imergir em um mar de devaneios, como se minha cabeça fosse uma âncora que se desprendeu do seu navio rumo às zonas abissais dos meus próprios pensamentos.

Minha nuca arde com a sensação de ser observado, e ao virar o rosto, percebo que Aart me fita por trás dos cílios apertados em análise. Parece estar querendo sorver cada detalhe das minhas feições, como se algo nelas lhe parecesse extremamente interessante.

— Vou comprar cachorro quente. — Bia comunica, e sua atenção se direciona para Amélie. — Você quer?

— Quero!

— Com o máximo de ervilha possível? — Certifica-se, os lábios se repuxando levemente.

— Sim! E muito molho. Molho ao ponto do pão ficar encharcado. Foda-se.

Sopro um riso que se mescla ao de Beatriz, meio segundo antes dela girar na própria órbita e sair andando pela praça.

Quando o crepúsculo se anuncia em uma explosão de tons róseos que se diluem nas nuvens, nos colocamos a pairar pela rua que dá acesso à praia para chegar à casa do Aart, o asfalto cintilante sob nossos pés e uma dezena de risos se dissolvendo no horizonte.

Direciono as íris para Valentim e Aart assim que o tapete de areia surge além do calçadão à minha esquerda. Tim está com o braço ao redor do pescoço do outro garoto, que, por sua vez, abraça sua cintura enquanto riem de alguma coisa, olhando um para o outro como se tudo no mundo pudesse esperar.

Encaro o mar, permitindo-me distrair por um efêmero instante.

— Por que mentiu quando disse que não tinha interesse no Apollo? — O timbre familiar me faz desviar o foco para o rapaz de cachos verdes, que brotara como um fantasma ao meu lado.

Seus olhos estão ligeiramente arregalados, ato que o faz parecer uma coruja gigante. Se corujas fossem cor de grama.

Sua pergunta direta faz explodir inquietude na minha corrente sanguínea, que me impele a despejar a primeira afirmação negacionista que me vem à cabeça:

— Eu não menti.

Ele me encara como se eu tivesse acabado de dizer que era um alienígena infiltrado na Terra com a tarefa de descobrir os pontos fracos das pessoas para, depois, exterminá-las.

— Fala sério, Cosmos. — Sua descrença se faz audível, em tom baixo. — Eu vi como você olhou para ele. E vi também como ele olhou para você. Não precisa... mentir para mim. Quer dizer, você pode continuar mentindo se quiser, mas só vai estar negando uma coisa que está na cara. Tipo, literalmente. Parece que está tatuado na sua testa. Com tinta néon. Umas três camadas de tinta néon. — Suas íris se iluminam, como se fosse atingido por um lampejo fantástico. — Não, melhor: Parece que tem um letreiro na sua testa. Bem grande. E ele brilha, para cacete.

Bufo, em uma miscelânea explosiva de irritação e frustração. Mas não consigo responder o que quer que seja, pois um grito súbito nos força a desviar a atenção para a origem do som. Vejo Anna tentando se equilibrar com Amélie pendurada em suas costas, enlaçando as coxas dela ao seu redor enquanto Mel dissolve uma risada frouxa no vento.

— Somos donos da porra do mundo! — ela grita, erguendo os braços, e desencadeia uma risada na amiga que a mantinha longe do chão.

O ato me deixa momentaneamente aliviado por não ter que responder Aart, mas assim que se finda, me vejo forçado a encará-lo de novo.

Em sua sobrancelha erguida, jaz uma convicção de quem sabe do que está falando, de um jeito que não adianta retrucar. Então, só me resta mudar de assunto.

— Às vezes eu esqueço do quanto você fala. — desconverso, arrancando dele um riso.

— É porque você não viu os áudios de sete minutos que eu mando pro Valentim. — Ri mais um pouco, caindo na minha tentativa tosca de distraí-lo do foco principal da conversa. Intimamente, aprecio o fato dele ser facilmente manipulável, mesmo tendo em mente o quanto isso não é bom. — Semana passada, foi um de dez minutos!

Arqueio as sobrancelhas, meus lábios se repuxando em um sorriso.

— Ele não fica chateado?

Aart dá de ombros.

— Ele diz que minha voz é tipo uma música que ele adora escutar. Então, acho que não.

Embora eu não saiba bem o que é o azul, sei que o mar é dessa cor, e vê-lo me deixa inexplicavelmente feliz. Então, acredito que não haja outra tonalidade para descrever o que me preenche ao ouvir o que Aart acaba de dizer; sinto-me inteiramente azul, tingido de mar até os ossos.

É difícil encontrar uma pessoa que nos veja além de um amontoado de moléculas perdidas no espaço. Talvez, seja mais fácil fazer a órbita de um planeta virar ao contrário, ou chover estrelas na Terra em uma tempestade cintilante e caótica. Mas o Aart havia, inegavelmente, caído em uma dessas precipitações impossíveis de astros fugazes ao encontrar o Valentim.

E isso era incrível para cacete de se presenciar.

Saudações, terráqueos!

Personagens novos apresentados! Gostaram deles? :D

E quanto à participação muitíssimo especial do Aart e do Valentim?

Inclusive, eles vão aparecer mais vezes.

E, possivelmente, o Rubel vai ganhar uma história só dele, fazendo par romântico com outro personagem que já apareceu por cá.

Biscoitos de teorias? Depositem aqui <3.

O que acharam do capítulo?

E da pintura que o Cosmos estava fazendo?

Espero que tenham gostado! Beijos de nuvem pra vocês <3.

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