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16: O Monóculo, os Astros e as Lesmas

Pouco antes do meu pai biológico falecer, recebi dele em uma caixa abarrotada uma coletânea de fitas cassete e VHS que gravara durante toda a vida, muitos deles experimentais; pairando de testes de efeitos especiais até pequenos filmes caseiros. Acrescido a isso, havia também uma câmera Kodak clássica que funcionava com rolo de filme 35 milímetros.

Pelo menos cinco deles estavam na caixa, três usados e os outros dois, não. Eu me recordo de ter pego um certa vez e rabiscado dezenas de estrelas com caneta na superfície sensível da sua película amarelada, o que só foi estranhamente interessante quando descobri para que servia outro item da caixa: um monóculo prateado do tamanho do meu dedo médio, feito para ampliar qualquer foto extraída do negativo de filmes, que precisa ser inserida na parte branca frontal para ser vista através do visor do outro lado quando se olha para a luz.

Recordo-me que passei horas inteiras observando inúmeros registros pelo monóculo; fotos cheias de pessoas que eu não conheci em lugares que nunca cheguei a ver, pessoas com roupas de banho em uma praia de iluminação saturada, ruínas de antigas construções dominadas por plantas que escorriam das janelas e rostos sorridentes, alguns mais familiares do que outros; e muitos com contornos das minhas estrelas. Só era triste pelo fato de precisar recortar os rolos de filme para vê-los pelo monóculo, de modo que, se um dia eu quisesse assisti-los, precisaria remendar cada ligação - e ter em mente que não ficaria nadica igual ao original. Mas a fascinação por todo o processo manual compensava.

Foi meu pai quem me apresentou o universo fantástico das coisas clássicas: a fragilidade das invenções humanas exposta em meio a ferrugem e rangeres, o modo como tudo é facilmente ultrapassável e como muitas coisas antigas assemelham-se a máquinas de Rube Goldberg; executando tarefas simples de maneiras demasiadamente complexas através, na maior parte dos casos, de uma reação em cadeia.

Desbravar antiguidades era uma das pouquíssimas coisas que fazíamos juntos, antes de começar a recuar cada vez mais do convívio humano e viver seus dias predominantemente trancafiado no galpão.

A dissociação da realidade, o hiperfoco e por vezes os olhares assombrados que direcionava a pontos específicos da casa e a si mesmo, como se algo estivesse terrivelmente errado com o tecido diáfano da realidade, foram alguns dos sinais vermelhos que ele externalizou por quase um ano, até pouco depois do meu décimo segundo aniversário, quando a morte o engoliu ao saltar do topo do oitavo andar de um prédio em construção. Mas eu tinha certeza de que ela o espreitava muito antes do seu corpo atingir o chão.

Talvez, se houvesse tido a chance de ser diagnosticado e posteriormente aceitado a ideia de um tratamento, a sucessão de eventos trágicos que desencadearam na sua morte pudessem ter sido evitadas.

Mamãe não conseguia entendê-lo, por mais que tentasse. Pressionava-o dia após dia para arrumar um emprego decente em algum escritório, mas o que tingia suas íris não era austeridade, e sim medo. Ela temia durante todas as horas que o relógio conseguia lhe dar. Temia perdê-lo para si mesmo, da mesma forma que passou a temer por mim quando passei a manifestar sintomas quase análogos. E eu vi nos seus olhos, na noite em que precisei sair de casa em uma ambulância com dezenas de comprimidos no estômago, o mesmo vazio ocupado pela matéria escura que turge o seu universo desde o dia em que perdeu meu pai.

Foi naquele exato momento, à beira de ser engolido pela infinitude do meu subconsciente cheio de água turva, que tive certeza da besteira a que havia cedido.

Mais tarde, quando despertei num hospital de luzes pálidas após uma intensa lavagem estomacal, prometi silenciosamente a mim mesmo que ia tentar fazer mais esforço para melhorar. Precisava tentar, apesar de ser tão difícil que dói. Todos os dias.

Não sei ao certo o quanto avancei, mas acredito que ter um outro ser humano além do meu irmão e da minha mãe entrando no meu quarto é um sinal positivo. E Cosmos estranhamente adentra mais aqui do que um vizinho qualquer deveria fazê-lo. Admito que tenho medo do que isso pode significar, mas ao mesmo tempo me sinto elétrico como um raio diante da percepção de que, ao invés de preferir ir embora para a própria casa logo ao lado, optou por continuar comigo.

Seu olhar voa por todos os cantos como um pássaro perdido no azul, tentando decifrar o que se esconde por trás dos vinis pendurados na minha parede, dos poemas soltos em folhas tortas penduradas por fita adornando minha cama de solteiro com o lençol desgrenhado, bem como na planta semi morta sobre a minha escrivaninha abarrotada. E eu permaneço estacionado na gravidade, perdido na vastidão oscilante que turge seus olhos feito os tons incandescentes que irradiariam do maior planeta existente em todas as realidades possíveis.

Talvez eu goste dele mais do que sou capaz de mensurar. E isso é diferente em níveis igualmente intangíveis.

Não me recordo de ter desenvolvido sentimentos tão estranhos por qualquer pessoa que já conheci. É como se houvesse uma lula colossal listrada com púrpura e anil espremendo seus tentáculos contra meu músculo cardíaco, querendo incessantemente perfurá-lo até vazar.

O ímpeto de me camuflar por trás do meu véu tradicional de sedutor indiferente para ocultar o quanto me importo é lancinante, mas sei que não vou conseguir. Não essa noite. Eu quero que ele sinta. Que finalmente me veja.

Pesco uma caixa de papelão embaixo da cama, que revela meia dúzia de potes médios de tinta ligeiramente empoeirados. Havia os comprado sob recomendação do meu psicólogo, para que começasse a aumentar cada vez mais o meu horizonte de hobbies saudáveis, mas a pintura não me cativara muito. Sempre me senti muito mais fisgado pelo universo das palavras não ditas materializadas em constelações de metáforas estreladas escritas em um papel. Porém, cada pigmento seria incontestavelmente útil hoje.

Afrouxo minha gravata o suficiente para removê-la, e a atiro na cadeira em frente à escrivaninha. Mas, apesar da ausência da ligeira pressão ao redor do meu pescoço, ainda me sinto irremediavelmente perto de sufocar.

- Colocou mais poesias na parede. - observa, oferecendo-me um pequeno sorriso fechado de contentamento.

- É interessante saber que presta tanta atenção no meu quarto. Especialmente da sua janela. - Não resisto ao ímpeto de retribuir seu sorriso com outro, tortuoso à minha maneira.

Suas orbes se arregalam por um microssegundo.

- Pare com essas aferições tão capciosas.

- Pare de usar termos difíceis para disfarçar seu nervosismo.

Minha devolutiva o faz soltar o fôlego em uma expiração demorada. Às vezes, parece esquecer do fato de que morar ao seu lado há dois anos somatizado com a aproximação estranha que criamos me faz conhecer muito mais ao seu respeito do que o número da casa em que reside. Na verdade, coleciono centenas de pequenas coisas a respeito de Cosmos Silva em uma espécie de pote de vaga-lumes imaginário desde o primeiro dia em que o vi.

O sol foi o verdadeiro culpado; pois não existiu qualquer outro dia em que seus raios estivessem dourados de forma tão etérea como no crepúsculo em que eu o vi pela primeira vez. Dava para sentir o gosto de terra molhada graças à fina garoa recente na ponta da língua, e o vento pesado de umidade empurrava meu cabelo rumo ao interior do caminhão de mudança, em cuja borda eu havia me sentado desde que a maior parte das caixas fora movida para dentro da casa em que eu e minha mãe passaríamos a morar.

Novos ares, novas oportunidades e novas alegrias, era o que ela vivia repetindo, junto com a explicação de que a mudança fora, essencialmente, para que ficássemos mais perto do seu trabalho no centro da cidade. Mas eu sabia que era além. Meu pai falecera há cerca de três anos, e as memórias pintadas nas paredes da antiga casa não deixaram de parecer dolorosamente recentes para ela. Precisava sair daquele lugar o mais rápido possível, para voltar a respirar além das nuvens densas de culpa e sofrimento que ainda insistiam em se infiltrar nos seus átomos diariamente.

Enquanto eu estava no caminhão, ela conversava com o motorista responsável pelo transporte das nossas coisas um pouco adiante; seu olhar insondável tingido de um castanho escuro vasto despejando uma cintilação curiosa no rosto do homem semi desconhecido, enquanto o cabelo cor de amêndoa deslizava pelas contornos da face pesada de cansaço no balançar sutil da brisa marítima não tão longínqua.

Apesar de ser um bairro próximo do mar, o custo de vida para se manter nele era surpreendentemente mais barato do que deveria; e isso se devia ao fato de que a maioria considerável das suas casas, incluindo a que estávamos nos mudando, possuíam uma estrutura de encanamentos, pontos elétricos e materiais construtivos de mais de seis décadas de idade por trás das camadas finas de tintas novas. A lista de problemas que poderiam se desenvolver a médio prazo graças à antiguidade das estruturas eram grandes demais para serem simplesmente ignorados pela maioria dos corretores.

Espiei minha mãe e o homem da mudança por mais um minuto ou dois, alheio ao fato de que, em meses, ele se tornaria meu padrasto.

O que me fez mover a atenção para outro ponto foi uma estranha movimentação na frente da residência ao lado da minha. Notei, de imediato, que um garoto estava agachado no pequeno gramado em frente à fachada, com a atenção fixa na lente circular de uma lupa que erguia em frente ao mar de verde. Suas madeixas alongadas exibiam cachos desgrenhados em uma miscelânea inusitada de marrom e mechas empalidecidas cor de nuvem. Logo me dei conta de que o porquê ia muito além de uma mera questão de preferência estética; o garoto tinha vitiligo. E a cena a qual estava protagonizando era tão incomum que não contive o impulso de saltar para longe do caminhão e me dirigir a ele.

- O que está fazendo? - Minha pergunta escapou no automático.

As íris felinas do rapaz se direcionaram a mim com um misto quase paradoxal de susto e serenidade.

- Ah, oi. Eu reparei no caminhão de mudança quando chegou. Você com certeza veio nele. - Levantou-se, enfiando rapidamente a lupa no bolso de trás da bermuda jeans. - Eu sou Cosmos. O vizinho. Seja bem vindo.

- Apollo. O outro vizinho, a partir de hoje. - Estiquei os lábios em um pequeno sorriso. - O que está observando?

- Nada demais. Só procurando lesmas. Estou tentando montar uma espécie de parque com materiais recicláveis para elas. É um projeto particular.

Não consegui conter o repuxar maior do meu sorriso, embora temesse que ele interpretasse o ato como zombaria; o que estava longe de ser. Ate hoje, não sei o que pensou com isso, mas me recordo que a sua atenção se manteve presa no meu rosto por um recorte indecifrável de tempo.

Ele parecia me analisar sob a lente de um microscópio sociológico muito potente, visando decifrar alguma coisa que nem eu mesmo haveria de saber.

- Você tem muitas olheiras. Problemas para dormir? - a pergunta soou um tanto interrogatória.

- Acho que sou uma espécie de morcego super produtivo depois que o sol se põe. - Tentei brincar, mas suas feições permaneceram impassíveis.

- Ah.

Meus dedos pescaram a caixa retangular de cigarros do bolso lateral da minha calça. Estendi na sua direção em um oferecimento mudo, apesar de ter quase certeza de que dificilmente aquele garoto com uma camisa da série Cosmos, do Carl Sagan (uma analogia impecável ao próprio nome), e crocs com os buraquinhos frontais repletos de bottons de desenhos animados diversos possuía algum vício potencialmente mortal.

- Fumar é um péssimo habito. - argumenta. - Não acha que é muito novo pra isso? Destrói neurônios e vai te deixar broxa. Se não te der um câncer antes.

- Obrigado pelas previsões otimistas sobre o meu futuro. Mas, se tudo der certo, não pretendo ficar muito tempo por aqui.

- Aqui, no bairro? Ou aqui na Terra? Porque se estiver falando de morrer, eu não recomendo. Os filósofos, religiosos, cientistas e ateus divergem muito sobre o que existe depois da vida, mas nenhuma das previsões parece muito boa. Principalmente para alguém como você.

Sua franqueza me pegou de surpresa. De um jeito bastante decepcionante.

- Já te disseram que você é muito petulante?

- Não sou. Só não esperava encontrar alguém como você entre os novos moradores da rua. Seu comportamento potencialmente autodestrutivo é prejudicial para todos os que estão em volta, sabia?

- Digo o mesmo sobre a sua chatice. É de nascença ou veio com o tempo? - retruquei.

Seus lábios se partiram em um misto de choque e reprovação.

- Corrijo aqui a minha primeira fala: Não seja bem vindo. - Enfatizou infantilmente a negativa. - Adeus.

Ele se dirigiu à própria casa pisando tão duro que eu não teria me surpreendido se seus crocs estranhos perfurassem o asfalto.

Naquele dia, apesar do meu fascínio inicial, Cosmos inevitavelmente me fez ficar muito receoso de tentar uma aproximação. Mas, conhecendo um pouco de mim mesmo e tendo em mente toda a imensidão repleta de matéria escura e astros opacos que compunham meu universo, eu sabia que quase todas as pessoas mereciam chances para extravasarem as infinitas nuances das suas personalidades.

Felizmente, eu estava certo a respeito da vastidão que cercava o meu vizinho. Foi uma percepção infestada de variáveis que se desenrolaram com o passar dos meses, entre observações ocasionais e o convívio inesperado que acabou por se desenrolar entre nós após eu insistir por ajuda com Química (e perceber, nesse processo, sua dificuldade de dizer não diante de pedidos de auxílio com coisas que estão ao seu alcance).

Havia muito mais, no entanto. Seu estilo controverso, o espírito nerd que emanava até mesmo das mais ínfimas frases que entoava, a paixão pulsante por astronomia, sua sincera devoção aos amigos, a hipocondria acrescida ao seu quadro notável de ansiedade que já o fez, inúmeras vezes, se encolher em si mesmo por medo do mundo, bem como a arrogância como sistema de defesa para se privar de ser vulnerável com quem ainda não possui completa certeza de que pode se permitir sentir (coisa que adquiriu convicção instantaneamente com a Brunna, mas comigo, por motivos que ainda não me são entendidos por completo, pode nunca acontecer).

Apesar de ter em mente tantos aspectos que o estruturam, ainda sinto que estou longe de entendê-lo.

Distraído na minha maré apoteótica de devaneios, empurro a cama da parede até a cabeceira se desgrudar dela e levo a caixa de tintas para perto. Tenho outra caixa repleta de jornais do início dos anos 2000 que pertenceram ao meu pai. Para não sujar o chão, opto por espalhar alguns logo abaixo de onde ficarão nossos pés. Cosmos permanece observando o lugar que irá pintar, com os braços cruzados e o lábios torcidos em uma análise silenciosa.

- Há o caos. E a possibilidade de transformá-lo em arte através de uma técnica chamada de gotejamento, elaborada por Pollock. - começa a falar, deixando as íris surreais penderem para meu rosto em um cosmograu alucinante de inspiração reluzente. - Ele fazia pinturas expressionistas abstratas, jogando tinta sobre as telas e deixando que cada cor escorresse livremente. Ou pode ser uma coisa mais tradicional, como a técnica do estêncil... - E permanece desenvolvendo as suas ideias, distraído do fato de que minha atenção começou a se perder no momento em que me olhou, e continua caindo cada vez mais na espiral hipnótica que circula suas pupilas, mantendo-me preso no emaranhado de linhas pulsantes que vibram no castanho incandescente ao redor.

Preciso acordar. E entender de uma vez por todas que o que eu sinto por Cosmos, independentemente do nome que a ciência ou a poesia consiga conceber, nunca vai ultrapassar o nível do platônico.

Não o julgo por isso. Eu estou dentro de mim e não sei se me daria uma chance.

- Pollock. - Entoo, sem pensar muito e sem ter completa certeza de que terminou de explicar todas as técnicas possíveis.

Um sorriso torto acende em seus lábios.

- Espero que não se importe em sujar suas roupas. E que me empreste uma camisa que possa ser suja, porque se essa que eu estou ficar manchada, vou ser assassinado até amanhã.

Dou risada.

- Sem problemas. Quero bagunça, sujeira e cor.

Ele sorri, e percebo na esperteza que cintila em seus olhos que claramente tem em mente a mesma coisa.

Dentro de uma das minhas camisas brancas mais antigas recém colocada, Cosmos pesca dois potes de tinta: azul e amarelo. O primeiro, estende na minha direção em um convite silencioso, o qual aceito sem pestanejar, e o outro fica para si.

Ele se empolga rapidamente. Seus dedos mergulham no pigmento e começam e espirrá-lo na superfície fosca da parede, rasgando a superfície insólita com uma explosão desvairada de cor. Então, vêm mais dois outros tons pescados da caixa. A tinta respinga na sua pele, maculando a tonalidade retinta com uma centena de tons ilógicos; e eu me afundo em cada nuance abstrata das matizes, mergulhando os dedos nos potes médios e carimbando os meus traços surrealistas na superfície alvo daquele esboço bagunçado.

O riso divertido do garoto ondula meus tímpanos, e não consigo conter o impulso de rir também. Sua mão avança rumo ao meu peito, imprimindo um fraco empurrão ligeiro que carimba suas digitais em uma mescla de amarelo e laranja no tecido cinza da minha camisa - também recém colocada.

Meus lábios se partem em um choque fervoroso. Meio ultrajado e fascinado, estico os dedos e agarro seu rosto, esfregando a miscelânea de matizes que sujam minha pele nas suas bochechas sob o reverberar estridente da gargalhada que despeja nas partículas de oxigênio do espaço. Rindo, perpasso a linha da sua mandíbula, esboçando formas impossíveis à caminho do seu pescoço enquanto minhas pernas me impulsionam para mais perto, presas na elipse de gravidade que orbita seus calcanhares, feito mariposas bêbadas pela incandescência de uma lâmpada que pairam em espiral ascendente numa uma orgia explosiva de asas descompensadas.

Sua risada reduz gradativamente as oitavas, até se transformar em um sorriso maculado por enigmas indissolúveis. E de repente o ar estaciona nos meus pulmões, incapaz de ir a qualquer lugar.

O polegar de Cosmos alcança a maçã do meu rosto em um toque grudento, porém cuidadoso; como se sorvesse a textura do vidro mais fino do universo inteiro que, a qualquer momento, seria capaz de se fragmentar na ponta dos seus dedos. E eu sinto que posso verdadeiramente quebrar a qualquer momento; implodir de dentro para fora diante da velocidade alucinada que meu coração chicoteia contra minhas escápulas.

Devagar, porém resoluto, Cosmos quebra os últimos centímetros de distância entre nós, e sua cabeça pende à caminho do meu ombro, até a bochecha descansar na curva que ascende ao meu pescoço. Seus braços envolvem meu tronco com cautela, dissolvendo pontos de luz através das pontas dos dedos que recaem ao longo dos meandros das minhas costas.

Sinto que vou cair, porque não parece existir nada capaz de manter minha existência estática. Tudo são ondas de luz explodindo e borbulhando por toda parte.

Sem saber ao certo o que fazer, apenas envolvo sua cintura em um toque análogo, abraçando-o de volta sob um dilúvio de cores inimagináveis.

Ele nada diz por segundos infinitos, mas eu percebo uma coisa em meio à mudez do ar que há minutos soaria fruto do meu mais profundo devaneio, do tipo que me ergue além da estratosfera rumo a alguma estrela-azul antes de dormir.

Cosmos está me vendo.

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