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As Raízes do Silêncio

O vento sussurra entre as folhas, e eu escuto. Não com ouvidos, mas com o que sobrou da minha essência. Sou uma árvore antiga, enraizada no coração desta floresta, onde já vi gerações nascerem e desaparecerem como poeira ao vento. Minhas raízes se estendem profundamente pela terra, bebendo a sabedoria dos séculos, e meu tronco, marcado por cicatrizes de relâmpagos e tempestades, carrega histórias que nenhum humano jamais ouvirá.

Eu lembro de quando os humanos eram diferentes. Antigamente, eles caminhavam com reverência entre nós. Colhiam frutos, descansavam à nossa sombra, e em troca, nós lhes oferecíamos abrigo. Havia uma troca silenciosa, um acordo tácito entre nós e eles. Mas esses tempos se foram. Agora, o som que predomina é o das serras, o estalido de árvores caindo e a morte que avança, rasgando nossas florestas como um câncer.

Hoje, é o meu dia.

Eu sinto o tremor da terra quando as máquinas se aproximam. A cada passo, meu corpo estremece. Eles vêm para me derrubar. Há tempos, venho pressentindo este momento. O cheiro de óleo e fumaça invade meu ar, e com ele, o medo se infiltra em meu cerne. Não é a primeira vez que vejo isso acontecer, mas agora, sou eu a próxima. Quantos de nós já caíram? Quantos amigos, companheiros de raízes e folhas, já foram arrastados para longe, seus corpos mutilados transformados em tábuas e móveis?

A dor não está apenas nas raízes que cortam a terra, mas na alma. Um pedaço de mim morre cada vez que um de nós cai.

A pequena coruja, que vive em um dos meus galhos há anos, canta um lamento silencioso. Ela sabe o que está por vir. Já viu muitos de nós serem arrancados, e a cada perda, sua melodia se torna mais triste. Suas asas me envolvem com gentileza, como se pudesse me consolar. Eu a sinto, mas não tenho palavras para confortá-la. Apenas o silêncio profundo da natureza, que carrega consigo o peso de tantas destruições.

Por que os humanos fazem isso? Pergunto-me, mesmo sabendo que não há resposta. Sei que alguns deles lutam para nos proteger, mas são poucos, fracos diante da máquina insaciável que consome a Terra. Meus anéis de crescimento são testemunhas de suas lutas, mas também da indiferença dos poderosos.

As máquinas estão próximas. Ouço o ronco do motor e o rugido do metal afiado. Meus galhos tremem. O corte inicial virá em breve. Fecho meus "olhos" e, por um instante, permito-me sonhar.

Sonho com o tempo em que eu era uma semente, quando meus ancestrais me lançaram ao solo fértil, e a chuva me nutriu. Eu brotei, pequena e frágil, mas com um desejo insaciável de crescer, de alcançar o céu. As aves me visitavam, e suas canções enchiam meu espírito de alegria. Os animais passavam por mim, e éramos parte de um mesmo ciclo. Eu era parte de algo grandioso, uma rede viva que se estendia além da minha compreensão.

Mas hoje, tudo isso parece distante. A cada corte, sinto um pedaço de mim sendo arrancado. O metal atinge meu tronco, e uma dor surda se espalha por minhas raízes. A coruja bate asas desesperada, fugindo, e eu entendo seu pavor. A cada golpe, a vida me escapa. Meu corpo, outrora firme e forte, cede, e eu ouço o estalo final.

Caio.

Enquanto meus galhos tocam o chão, a terra treme sob meu peso, como se a própria floresta chorasse comigo. Deitada no solo frio, sinto a vida esvaindo-se lentamente. Mas, ainda assim, algo dentro de mim resiste. Minhas raízes, embora cortadas, ainda estão lá, enterradas profundamente. Elas se entrelaçam com as de outras árvores, e através delas, posso sentir um pulsar distante - um ritmo lento, mas constante.

A natureza é resiliente, penso, em meu último suspiro. Mesmo em face da destruição, ela encontra maneiras de sobreviver. Minhas sementes, espalhadas pelo vento, encontrarão novos lares. Minhas raízes, mesmo fragmentadas, darão sustento a novos brotos.

Afinal, a árvore pode cair, mas a floresta... a floresta nunca morre completamente.

E assim, enquanto meus galhos são arrastados e transformados em algo que não reconhecerei mais, consolo-me com o fato de que, um dia, voltarei. Talvez não como eu, mas como algo maior, algo que humanos não podem destruir tão facilmente.

Eu sou a natureza. Eu sou a vida. E, apesar de tudo, eu sempre renasço.

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