Ao ouvir tais palavras, senti meu coração disparar e tomei uma atitude desesperada e impulsiva que foi a de abraçar a Ashley com toda a força que tinha como se fosse a última vez que eu pudesse tê-la em meus braços porque havia grandes chances de ser.

Como se ela pudesse ler os meus pensamentos, Ashley me disse: "Tudo vai dar certo e logo a gente vai se reencontrar." E em seguida, me deu um beijo demorado no rosto.

"Só se for em vida porque certamente se eu morrer, não irei para o céu." Forcei um sorriso.

"E quem disse que eu irei?" Ashley arqueou a sobrancelha, enquanto passava a mão lentamente pelo meu rosto e me olhava fixamente.

Me perdi nos olhos dela a ponto de não conseguir pensar em mais nada e aquele intenso e, ao mesmo tempo perturbador silêncio, perdurou até ouvir a voz do Nikolai.

"A troca de turno já está acontecendo. Vocês precisam se apressar."A voz dele me assustou, fazendo com que o meu olhar fosse automaticamente para ele.

Respirei fundo, retirei o meu anel e disse: "Eu quero que você fique com ele para nunca se esquecer de mim e para te proteger hoje."

"Mas esse anel era do seu irmão..." Ashley disse. Ela me parecia surpresa com a minha atitude, na verdade, até eu estava.

"E agora é seu." Disse com uma voz firme. Ela colocou no dedo, o admirou por um instante e sorriu.

"Obrigada, Richard." Ashley disse e eu apenas sorri como resposta.

"Todos vocês sabem o que irão fazer, certo?" Perguntei, enquanto alternava o meu olhar para todos.

"Sim!" Eles responderam em coro.

"Ashley, se algo acontecer, eu vou voltar por você." Disse. Tentei não colocar emoção em minhas palavras, porém falhei miseravelmente.

"Eu sei que vai." Ashley sorriu e colocou as mãos frias na minha. Sorri para ela porque, estranhamente, as mãos dela junto a minha fez com que o meu nervosismo todo terminasse e me deixou calmo para o que iria ocorrer.

"Dean, tem certeza que quer ficar para trás?" Perguntei pela última vez.

"Tenho. A Ashley é a minha responsabilidade." Dean respondeu com firmeza na voz e eu simplesmente assenti com a cabeça.

"Liguem as escutas. Estão me ouvindo?" Perguntei enquanto alternava o meu olhar para todos.

"Sim!" Eles responderam em coro.

"Ashley, está na hora." Nikolai disse.

Ashley respirou fundo e disse: "Estou pronta. Boa sorte a todos! "

"Para você também, Ashley." Respondemos em coro.

Quando a Ashley ia sair do carro, eu disse: "Ashley, espera! Pega a garrafa." A entreguei a garrafa de champanhe e senti os dedos gelados dela tocarem nos meus. Seria a última vez que eu sentiria este toque?

Por que ela está tão fria? Seria o frio que eu não estou sentindo devido a adrenalina ou ela está suando frio devido ao  forte nervosismo que ela deve estar sentindo?

Ashley começou a se aproximar da frente da casa, trocando os pés e cantando alto como se estivesse completamente bêbada.

Ashley estava cantando - I got trouble - da cantora Christina Aguilera. Uma ótima escolha para este momento, por sinal.

- Eu tenho um gosto perverso por problemas/ E eu nunca, nunca estou satisfeita / Sim, eu tenho muitos problemas, querida / E meus maus caminhos não podem esconder, oh meu Deus/ Bem, eu estou com vontade de algum problema, querido/  Todo dia que eu estou viva (...) - 

Esta canção cantada em inglês na voz arrastada da Ashley preenchiam os meus ouvidos de tal maneira que eu não conseguia mais ouvir nada além disso.

À medida que ela se aproximava dos seguranças, o meu coração se acelerava e eu já não sabia se faria o que combinei ou se ficaria para trás para protegê-la.

"A senhora fala russo?" Boris, o segurança chefe, perguntou em um inglês sofrível.

"Falo." Ashley respondeu e soltou uma gargalhada estridente.

Boris falou algo com ela em russo. "O que ele disse, Nikolai?" Perguntei. A nossa escuta estava em um modo em que podíamos ouví-la, mas a Ashley não podia nos ouvir.

"Ele está dizendo que a casa é propriedade privada e está a mandando sair, como de esperado." Nikolai respondeu.

"O que a Ashley respondeu?" Perguntei.

"Ela disse que estava numa festa chata perto daqui e que quando passou por aqui viu um desfile de homens lindos e resolveu entrar. Ela disse que percebeu que os demais homens estavam na parte de trás e que não sairá de lá enquanto não os ver." Nikolai respondeu e eu assenti com a cabeça.

Ashley saiu correndo para a parte de trás da casa e o Boris disse algo que o Nikolai traduziu sem que eu tivesse me dado ao trabalho de perguntar desta vez: "Ele disse que se a Ashley não sair vai ter que chamar o chefe dele para que o mesmo tome a providência que achar necessário."

Senti o meu coração disparar porque fiquei medo de tudo dar errado e eu perdê-la. Falei com a Ashley através da escuta: "Diz que estava com calor e tira o sobretudo agora. Faça-os segui-la até frente da casa, por favor."

Ashley fez o que eu pedi. Ela estava com um short e um top minúsculo, capaz de levar qualquer homem a loucura.

"Todos os seguranças já estão na parte da frente da casa. Essa é a nossa chance de entramos pelos fundos. Kalel e Dean, entrem em ação assim que a barra ficar feia. Boa a sorte a todos." Disse.

"Pode deixar, Richard. Boa sorte para você também." Kalel respondeu.

"Boa sorte, Richard." Os demais disseram em coro e eu sorri em resposta.

Entramos pelo fundo. Cada um ficou responsável de colocar o funcionário que vamos substituir no quartinho de empregado que fica mais próximo a cozinha para ganharmos tempo. Estudamos a casa minuciosamente para nada dar errado.

Eu serei um dos cozinheiros chefes, já que sou o único que sei cozinhar. Leonard será o mordomo, enquanto o Mark e o Dean serão os faxineiros.

Nós usamos clorofórmio para os fazerem demaiar, os amarramos com corda, os amordaçamos, os colocamos no quartinho e trancamos a porta do mesmo com a chave.

Quando ia colocar a chave no bolso da calça, escutei a Ashley gritando porque os seguranças iriam a estuprar, deixei a chave cair no chão e a peguei rapidamente.

Senti vontade de voltar para matar todos os seguranças que estavam tentando tocar nela, mas isso seria uma atitude impulsiva da minha parte e atitudes impulsivas geralmente levam a erros graves e eu não posso arriscar perder a minha Sharon. Sei que o Kalel e o Dean darão conta da parte deles sem que eu precise ajudar.

"Dean e Kalel, vocês já sabem o que fazer." Disse.

"Não se preocupe, Richard. Já tem tempo que eu quero socar a cara de alguém mesmo." Kalel disse e eu ri.

Fomos para a cozinha, onde o Leonard já havia reunido todos os empregados da casa. Mostrei um bilhete para eles escrito em russo pela Ashley para que eu me fizesse ser entendido. Ele estava escrito: - Iremos fazer um roubo, mas nada irá ocorrer com vocês. Os seus amigos estão presos no quartinho e serão soltos quando o roubo acabar. Se alguém avisar a máfia, todos morrerão. -

Assim que eles leram, todos começaram a falar juntos e o barulho ficou ensurdecedor, o que poderia vir a chamar a atenção da máfia . Fiz um gesto para que eles parassem de falar e eles me obedeceram.

"Obrigado." Agradeci em russo e eles sorriram.

"Para a sua sorte, os funcionários parecem odiar a máfia." Nikolai disse através da escuta e eu apenas sorri aliviado.

"Estou indo." Leonard me deu um abraço forte e demorado.

"Tudo vai dar certo, irmão." Disse. Leonard forçou um sorriso, pegou a mochila, apertou a mão do Dean, ignorou o Mark e foi para a sala do cofre para fazer o serviço.

"Cadê o Dean?" Perguntei para o Nikolai.

"Aqui." Dean respondeu como num passe de mágica.

"Toma a chave do quarto e vê se não perde. Não precisa de clorofórmio porque eles irão voluntariamente." Disse enquanto dava a chave para o Dean.

"A Ashley está bem?" Perguntei com um tom de preocupação na voz.

"Deu tudo certo e ela está dentro do carro junto com o Kalel e o Nikolai." Dean respondeu e eu respirei aliviado.

"Que bom. Agora vamos ao trabalho." Forcei um sorriso, o Dean assentiu com a cabeça, saiu da cozinha acompanhado de um dos faxineiros e o colocou sem problemas no quartinho de empregado.

Dean pegou uma vassoura para fingir que estava varrendo os cômodos, mas o que ele queria mesmo era chegar até a sala do cofre para cobrir o Leonard que iria fazer o serviço.

"Leonard está em frente a porta da sala do cofre, Dean, mas está tendo dificuldades para entrar. " Kalel respondeu.

"Que porra de problema, Kalel?" Falei um pouco mais alto do que deveria porque estava muito nervoso.

Kalel ficou no carro juntamente com o Nikolai e a Ashley para  observar as câmaras e nos ajudar aqui dentro.

"Ela está trancada e o Leonard não está conseguindo abrir. E agora eu entendi o porquê: ele precisa da digital do Dimitri, o chefe da máfia russa para conseguir entrar." Kalel respondeu com um tom de voz tranquilo.

"Como você acha que eu vou conseguir essa merda? Eu vou ter que dar um jeito de abrir essa porta. Na verdade, tem uma forma, mas acionaria o alarme e eu iria precisar de todos vocês." Leonard disse.

"Leonard, esquece que é a máfia e se concentra apenas no trabalho. Basta você  servir um drink para o Dimitri para pegar a digital dele. " Disse.

"É verdade, Richard. Acho que estou um pouco nervoso com essa situação. Estou indo pegar o drink, Richard para servir para o Dimitri." Leonard disse.

"Não saia de sua posição, Dean." Disse.

"Pode deixar." Dean respondeu.

Leonard pegou um uísque, se dirigiu para o escritório e bateu na porta. Dimitri respondeu ao Leonard algo que não entendi, mas não era algo bom porque ele estava aos berros. Pelo visto, a reunião não estava o agradando e a chegada do Leonard só o fez explodir de vez.

"O que ele disse para mim?" Leonard perguntou baixinho e o Dimitri pareceu não ter ouvido nada.

"Leonard, repete o que eu te disser com atenção: eu sou o mordomo e vim te trazer um drink, senhor." Ashley disse a frase em russo. Espero que ele consiga repetir.

Leonard repetiu o que ela disse, mas gaguejou devido ao nervosismo. Dimitri disse algo e a Ashley disse: "Pode entrar na sala, Leonard."

Leonard entrou na sala e entregou a bebida para o Dimitri. Graças ao Kalel, descobrimos os nomes de todos, bem como a aparência deles.

Ouvi um barulho muito forte de tapa. "O que houve?" Perguntei. Estava muito nervoso.

"Yure, o irmão do Dimitre, bateu no Leonard porque o Leonard só trouxe bebida para o irmão e esqueceu dele. Leonard, pede desculpas. Vai na cozinha, pega um drink para todos que estão aí, depois pega o  copo do Dimitri e volta para a sala do cofre. " Ashley disse. Ela disse a palavra - desculpas -, em russo para que o Leonard repetisse.

Imagino como o Leonard devia estar se sentindo e como deve ter sido difícil para ele seguir o que a Ashley disse, mas ele foi forte e fez o que foi preciso.

"Obrigado, amigo. Sei o quanto foi difícil para você não sacar a arma, abaixar a cabeça e fazer o que era preciso." Disse para o Leonard assim que ele entrou na cozinha.

"Fiz por você e faria de novo, cara." Leonard disse, sorri e nos abraçamos com força.

"Vou voltar para a sala do cofre agora." Leonard disse.

"Boa sorte, meu amigo." Leonard sorriu e assim que ele se distanciou, o chamei.

"Leonard, vai  para lá acompanhado com o outro mordomo para que ele retorne com o copo para a cozinha assim que você consiguir extrair a digital e entrar na sala." Disse.

"É uma boa ideia, Richard. Nikolai, Ashley, como eu falo isso em russo?"  Nikolai falou devagarinho para que o Leonard repetisse é assim ele fez. O mordomo assentiu com a cabeça e sorriu para o Leonard.

"Eu levo jeito com russo. Se eu sair vivo dessa porra, vou pedir umas aulas particulares para a Ashley." Leonard sorriu maledicente.

"Ela tem namorado." Revirei os olhos em protesto. Por algum motivo que não entendo, aquilo havia me irritado profundamente.

"Eu estou ouvindo, Leonard. Se você quiser a aula, eu te dou. Porém, mais do que isso, só se um dia eu terminar com o Jimmy." Ashley disse e eu tive que respirar fundo para ficar quieto.

"Viu, Richard? Eu tenho uma chance!" Leonard disse com um tom de voz animado.

"Vai fazer o seu serviço e tenha cuidado para que nenhum mafioso veja essa mochila." Disse para o Leonard, ignorando o comentário do mesmo. Ele assentiu com a cabeça, o abracei novamente e o vi sair da cozinha com o mordomo.

Após uns minutos, Leonard disse: "Entrei." E eu comemorei como se o meu time  de futebol tivesse sido campeão.

"Leonard, coloca a lente para que eu veja o que você está vendo." Kalel disse. A lente era como uma lente de contato normal, porém com uma câmera embutida.

"Como você pode ver, Kalel, é uma sala aparentemente inofensiva. Vou colocar o óculos infravermelho agora." Leonard disse.

"Puta que pariu!" Leonard e Kalel disseram juntos e isso foi o suficiente para me deixar mais nervoso do que já estava.

"Vou tentar arrumar uma forma de fazer você chegar até ao cofre. Tenta ficar tranquilo para não transpirar." Kalel disse com um falso tom de voz tranquilo.

Se o Leonard suar e o suor cair no chão, ele pode acionar as armadilhas e, possivelmente, morrer lá dentro.

Na verdade,  ele também pode nos matar porque se sensor detectar calor, vai acionar o alarme que fará com que a máfia perceba o roubo e, então, teremos que trocar tiro para tentar salvar o Leonard, isso se  ele conseguir se desvincilhar das armadilhas contidas na sala.

"Você diz isso porque não está aqui. Vou tentar ficar tranquilo, mas tenta não demorar porque aqui está cheio de armadia e eu não posso me mexer muito." Leonard disse.

"Tudo bem. Deixa eu pensar em uma saída. Só cala a boca para eu poder raciocinar." Kalel disse. Finalmente, ele demonstrou todo o estresse que estava sentindo.

Leonard ficou em silêncio e alguns minutos depois, minutos estes que mais pareciam horas, Kalel finalmente disse as palavras mágicas:
"Leonard, eu já sei como você vai pegar a Alexandrita." Respirei aliviado e sorri ao ouvir tais palavras.

Mesmo de longe, pude ouvir a respiração pesada do Leonard, após ouvir o que o Kalel disse e eu sei muito bem como ele deveria estar se sentindo. Provavelmente, ele se encontrava em um misto de medo e de excitação provocado pela adrenalina que estava percorrendo as veias dele.

"Como?" Leonard perguntou para o Kalel.

"Olha para o teto. Você está vendo aquela caixa preta? É um detector de calor que se acionado, você nos mata e se mata. Eu quero que você respire fundo e dê um tiro perfeito com a sua arma, mas não se esqueça de usar o silenciador." Kalel disse.

Leonard demorou um pouco para responder. Provavelmente, estava tentando localizar a tal caixa preta.
"Eu achei. Eu tenho que acertar o botão vermelho da caixa preta? Pensei que essa sala fosse a prova de som. Por que devo usar o silenciador?"

"Isso, no botão vermelho. É a prova de som, mas é só uma precaução. Leonard, cuidado para não encostar a arma no infravermelho." Kalel disse.

"Mas como que eu não vou encostar no infravermelho, se eu estou com a porra de uma Ak-47? Como você espera que eu acerte desta distância com uma 38? Isso não vai dar certo!" Leonard estava desesperado e eu também comecei a ficar, porém optei por permanecer em silêncio para não deixá-lo mais nervoso.

Kalel respirou fundo e disse: "Você tem uma boa mira. Eu acredito em você."

"Deixa essa porra de apoio motivacional para outro momento. A minha mira é boa, mas eu não sou mágico. Pensa em uma outra forma." Leonard gritou.

Minutos se passaram e o Kalel continuou em silêncio, até que eu tive uma ideia: "Leonard, você tem uma faca?" Perguntei.

"Você só pode estar de sacanagem comigo!" Leonard riu de modo irônico.

"Escolhe entre a arma ou a faca. Você sabe que não tem outra opção." Respondi com um tom de voz sério.

"Léo, escolhe isso rápido porque a reunião deles está acabando e se algum deles resolverem ir justamente para aí, vocês estão fodidos." Ashley disse.

"Tudo bem. Eu vou tentar com a faca." Leonard respondeu.

Eu e Mark nos entreolhamos, mas ficamos em silêncio, apenas rezando para que tudo dê certo.

"Consegui!" Leonard gritou e riu como um louco.

"Sabia!" Acabei me empolgando e falando um pouco alto demais e recebi um olhar de reprovação do Mark.

"Desculpa." Disse e sorri sem graça. Sabia que não podia gritar para não chamar a atenção da máfia, mas acabei me empolgando demais.

"Esse cofre é incrível!" Leonard disse. Ele me parecia fascinado.

"Consegui abrir?" Perguntei.

"Não e é justamente por isso que ele é incrível! Vai ser muito difícil de abrir." Leonard disse.

"Então é melhor você se apressar porque a reunião acabou." Nikolai disse.

Após uns dez minutos em um completo e insuportável silêncio, Leonard disse: "Consegui! A pedra é linda e é nossa! Vocês têm que ver o que tem nesse cofre. Estamos ricos!" Leonard riu.

Abracei o Mark de tanta felicidade que estava sentindo e o larguei assim que percebi o que fiz. Esta missão foi mais fácil do que pensei.

Mas como tudo que é bom dura pouco, ouvimos o  alarme tocar. "Que porra que aconteceu, Leonard?" Gritei.

Agora tudo está perdido e só o que resta é lutar pelas nossas vidas.

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Boa noite, meus amores! ❤️

Não percam na semana que vem o próximo capítulo porque está bombástico.

Beijos 💋💋