- Sana, Nayeon disse que viu Dahyun sair de dentro do trailer científico com você esta manhã. - Tzuyu disse irritada. - O que eu digo é sério! Não quero ela lá.

- Huh, ela só me seguiu e eu sai de lá. - Sana deu uma desculpa e Tzuyu assentiu, franzindo o cenho no momento seguinte ao olhar através da janela do trailer.

- Você está transando com ela, não está?
- Tzuyu perguntou e Sana arregalou os olhos.

- O quê? Não! - Disse prontamente.

- Então por que Dahyun está dançando de sutiã em seu trailer? - Tzuyu indagou e Sana olhou para trás, fechando a janela rapidamente.

- Ela é doida. - Sana disse e Tzuyu negou com a cabeça antes de sair pisando duro. Heey... - Sana chamou entrando no trailer, contudo, se calou ao ver Dahyun só de cueca e sutiã.

- Sannie, olha só... - Dahyun disse - Eu poderia dançar ballet de tão solta e leve que me sinto. - Dahyun disse rindo.
- Independência ou morte. - Dahyun disse.- Ops, a espada não levantou.

- Acho que tirei muito sangue de você, por isso está mais doida do que o normal.
- Deveria descansar. - Sana disse e Dahyun riu.

- Posso andar pelada?

- Não! - Sana gritou prontamente e Dahyun assentiu.

- Eu só estava brincando. - Dahyun disse.

- Tzuyu quase te viu pela janela, deveria tomar mais cuidado.

- Desculpe. - Dahyun disse, pegando a camisa que estava sobre o sofá e a vestindo.- Só fiquei feliz pelas cuecas. Muito obrigada.

- Não me agradeça. - Sana disse, cruzando os braços e tentando não olhar para o pênis de Dahyun naquela cueca branca maravilhosa.

- Como está tudo? - Dahyun perguntou, vestindo um short de algodão.

- Ainda não consegui converter para um novo DNA, não vai ser tão fácil. - Sana disse suspirando. - A menos que você queira Dahyunzinhas correndo por todo o mundo.

- Não! - Dahyun disse rapidamente.

- Não quer filhos? - Sana perguntou curiosa.

- Sonho com filhos, mas de uma mulher que esteja comigo e não três mil espalhados ao redor do mundo.

- Entendi. - Sana disse assentindo com a cabeça.

- A gente poderia fazer uns. - Dahyun disse e Sana a olhou boquiaberta. - Digo, aqui diz que não vai fermento. - Sua respiração voltou ao normal ao ver que Dahyun se referia aos doces que via no livro de receitas aberto sobre a bancada.

- Seria interessante te ver cozinhando.
- Sana disse sorrindo.

- Não subestime meus dotes culinários.

- Não subestimo seus dotes no geral. - Sana murmurou.

- O quê? - Dahyun perguntou e Sana negou.

- Nada. Vamos cozinhar! - Sana disse animada. - Quem fizer a melhor sobremesa fica sem lavar a louça por uma semana.

- Tão competitiva. - Dahyun disse rindo e Sana assentiu, pegando os ingredientes.

+++

- Você vivia aqui por perto? - Sana
perguntou assim que Dahyun chegou no trailer científico com mais uma amostra de seus espermatozóides.

- Sim. - Dahyun respondeu entregando a amostra para Sana.

- Obrigada. - Sana replicou.

- Isso é bem constrangedor. Sabe disso, não sabe? - Dahyun perguntou e Sana riu, assentindo. - Tipo, eu gozo em um pote e depois você coloca ali no microscópio e fica analisando ele. Ele fica bem perto da sua boca. Bizarro!

- Bem, tudo pelo bem da ciência. - Sana Camila disse e Dahyun assentiu.

- Acha que hulk me mataria se me visse aqui? - Dahyun perguntou, se lamentando em seu interior por ter sentido vontade de beijar Sana.

Agora que Sana sabia que ela era intersexual não iria querer nada com ela, pensava.

- No mínimo apanharíamos nós duas. - Sana  disse rindo, mas logo suspirou.
- Ela é uma boa pessoa, só está zangada por ter perdido tudo.

- Eu consigo imaginar como ela se sente.
- Dahyun disse em um sorriso fraco. - Sua família está, hm, viva?

- Minha mãe e avó sim. - Sana
respondeu e Dahyun assentiu. - E a sua?

- Sou só eu agora. - Os olhos castanhos
se ergueram do que Sana analisava e a fitaram.

- Sinto muito. - Sana disse, vendo Dahyun assentir. - É tão difícil fazer tudo sozinha por aqui... - Sana disse. -- O pior é que, quando estou tendo algum avanço, uma delas chega e tenho que esconder tudo.

- Acha que, bem, que alguma delas esconderia o segredo? - Dahyun perguntou e Sana assentiu.

- Jihyo. - Sana disse e Dahyun quase revirou os olhos, mas deveria se comportar. - Momo sempre fala pelos cotovelos, acabaria contando sempre que vai à cidade. Nayeon não consegue esconder nada de Momo. Tzuyu é leal à ciência, sentiria a necessidade de te levar para os grandes laboratórios da grande cidade.

- Que bom que foi justo você que me encontrou então. - Dahyun disse e Sana parou o que fazia.

- Você viveu todos esses anos por aí sem jamais ser pega. - Sana disse a fitando minuciosamente. - Por que se arriscou em começar a roubar nossa comida a essa altura do campeonato? E não diga que foi por fome, porque sei que esse não é toda a verdade.

Dahyun suspirou e sorriu-lhe fraco.

- Um dos corpos que vocês queimaram... - Dahyun disse limpando a garganta. - Era do meu pai. - Sana abriu a boca sem reação alguma.

- E veio atrás de vingança? - Sana perguntou e Dahyun negou.

- Vim agradecer. - Dahyun disse em um suspiro. - Todos os dias ver vermes comendo o corpo do seu pai não é algo confortável.

Sana ainda a fitava paralisada, sem saber como se expressar.

- Eu só perdi a coragem e comecei a roubar a comida para ver se iam embora. - Dahyun disse. - Eu me sentia uma covarde, foragida, incapaz de agradecer e vocês estando aqui me fazia lembrar disso.

- Jamais volte a pensar coisas ruins de você, me entendeu? - Sana disse com veemência e Dahyun assentiu.

- Entendi. Vou ficar no trailer e te deixar trabalhar. Com licença. - Disse e saiu, fazendo Sana suspirar apenada. Ela sabia que Dahyun havia ficado triste.

+++

- Hey... - Sana disse enquanto entrava no trailer. Havia demorado um pouco, pois teve que guardar e esconder tudo.

- Veio lavar a louça? - Dahyun tentou
descontrair, rindo para disfarçar a tensão que lhe atingira.

- Preciso reforçar que só perdi porque Nayeon me chamou e deixei a cobertura no fogo para ir ver o que era.

- Bons chefs não deveriam queimar a cobertura. - Dahyun disse rindo e Sana se jogou no sofá.

- Não zombe de mim. Eu faço os melhores doces. - Sana disse e Dahyun assentiu. Um silêncio se instaurou por alguns minutos até Sana voltar a se pronunciar - Ficou triste ao mencionar seu pai, não é?

- É que... - Dahyun olhou para as próprias mãos antes de suspirar. - Nem me lembro como é ter alguém. Levo tanto tempo sozinha que já não sei a sensação de ter alguém que se importe.

- Eu me importo. - Sana disse rapidamente, fazendo Dahyun lhe fitar.
- E você não está mais sozinha. Ou pareço um fantasma agora? - Sana brincou, rindo.

- Está longe de ser um.

- Então. Tire essa ideia de que está sozinha de sua cabeça. Te adotei, já era. - Sana disse e Dahyun sorriu.

- Me adotou? - Dahyun perguntou arqueando uma sobrancelha.

- Sim. Não dá para voltar atrás. - Ela disse.

- Quem iria apostar as coisas comigo?

- Me adotou tipo como mãe? - Dahyun perguntou rindo. - Porque se for você pode lavar minhas roupas sempre, fazer minha comida e me pôr para dormir. - Dahyun disse, fitando Sana antes de levar um tapa fraco em seu braço. - Era brincadeira. Ouch.

- Não seja preguiçosa. - Sana disse rindo e Dahyun assentiu.

- Sim, senhora. - Dahyun disse, vendo Sana se levantar e dobrar o corpo para trás, estralando a coluna.

- Já ficou sentada naqueles bancos duros por horas? É horrível. - Sana disse, indo até suas coisas e pegando algumas roupas.

- Vou tomar um banho para relaxar.

- Eu posso fazer uma massagem se quiser.

- Sou muito boa nisso. - Dahyun disse.

- Minha mãe, antes de morrer, costumava ter muitas dores nas costas e eu a ajudava nisso.

- Não se incomodaria com isso? - Sana
perguntou e Dahyun negou. - Bem, vou tomar um banho antes, pode ser?

- Pode. - Dahyun disse, vendo Sana sumir de vista. Ela sorriu sabendo que ajudaria Sana e olhou em volta. Aquele pequeno trailer estava começando a aparecer um lar para ela e, pela primeira vez em anos, alguém a aceitava como ela era e gostava de sua presença.