XVI - Raiva que consome
De Roseanne Park:
"E no final saldou as novas lágrimas, aceitando-as de bom grado, pedindo que tudo desse seu jeito."
Rosé andava rápido pelos corredores, sua visão turva e as mãos em punhos, prontos para acertar Jennie assim que a encontrasse. Deveria ter batido mais forte da última vez, teria evitado todos esses problemas, apesar que, falou isso da última vez que brigaram, rumou raivosa pela escola da mesma forma que fazia agora. Mas esconder a roupa de Jisoo e deixá-la nua não chegava perto do que Jennie havia feito dessa vez.
Finalmente parou assim que chegou ao refeitório, ainda cheio por estudantes tomando café da manhã, e se permitiu respirar fundo, tentando colocar os pensamentos em ordem.
Pensou em procurá-la na biblioteca, inusitadamente Jennie passou a frequentá-la mais vezes no fim do ano ou quem sabe em alguma das salas vazias, mas seria perda de tempo, pensou no fim das contas. O esconderijo de Jennie Kim era no vestiário.
Não fez paradas até estar nas quadras esportivas e antes mesmo de ver o vestiário já ouvia vozes. Sem nenhuma cerimônia entrou no cômodo a tempo de ver Jennie e correr até ela, também viu Lisa do outro lado dos bancos. Elas poderiam estar no meio de uma discussão, mas não seria calma como a tailandesa, não deixaria brechas para Jennie se explicar ou tentar falar algo. O tapa estalado que deu na garota foi tão rápido que pegou até ela de surpresa.
Jennie caiu no chão com o impacto e Rosé gritou, furiosa, se preparando para montar em cima dela, puxar os cabelos, empurrá-la pelas paredes. Porém, braços longos contornaram a sua cintura, arrastando para longe.
- Lalisa! Me larga, AGORA! - tentava em vão se soltar do aperto da tailandesa. Não tirava os olhos um segundo sequer de Jennie.
- Dá pra se acalmar, porra?! - Lisa tinha dificuldade de mantê-la presa. Rosé se debatia, dando cotoveladas e pontapés.
- Por que você está defendendo essa idiota? Depois do que aconteceu com Jisoo!
Lisa a apertou mais, tentando gritar para que assim sua voz saísse mais firme:
- Não foi ela! Me escute, você precisa ir atrás de Jisoo!
Assim que escutou o nome de Jisoo sair da boca da tailandesa, Rosé diminuiu os impulsos, parando de se debater para ouvir o que a outra tinha a dizer sobre o paradeiro da Kim. Os cabelos ruivos caiam, impedindo que conseguisse ver algo com clareza.
Estava com tanta raiva de Jennie e decidida a fazer vingança que se esqueceu momentaneamente de Jisoo e logo se sentiu culpada por isso. Assim que Lalisa percebeu a desistência de Rosé, a soltou, a garota era uma confusão de arfares e cabelos. Jennie ainda estava encolhida, abraçada ao seu próprio corpo, esperando apanhar novamente, e Rosé cumpriria as expectativas, se não tivesse alguém mais importante para procurar.
- Vá atrás de Jisoo, eu cuido dela. - prosseguiu Lisa.
Rosé recebeu em troca um olhar determinado da tailandesa, e controlou seus impulsos ao sair do vestiário para não partir para cima de Jennie novamente, ela parecia já estar recebendo um tipo de punição, de qualquer forma.
﹝•••﹞
A rua da casa de Jisoo era como uma redoma no tempo. Podia fechar os olhos e sentir o sol quente atingindo sua pele mesmo que o clima naquele dia em específico tivesse tomado as dores da Kim: nublado e triste, como o humor de Rosé também.
Correr entre os canteiros de flores e subir nas árvores era uma das lembranças constantes de felicidade que carregava em seu coração, a perda daquela inocência ainda não tinha estragado esses momentos. Queria que as coisas se resolvessem facilmente como antes, queria sentir a dor apenas do joelho ralado e quando Hanna Montana revelou ser Miley Stewart, queria que seus beijinhos curassem todos aqueles problemas.
Era doloroso crescer, ela havia entendido. Mas quando abriu os olhos só sentiu nostalgia, nenhum medo ou angústia, apenas a ansiedade sobre as consequências do que viria a seguir, das problemáticas que levaria e teria que aprender a resolver.
Parou em frente a casa de Jisoo, apreensiva ao se abaixar e catar pedrinhas perto do canteiro de flores. Ao jogar a primeira na janela fechada se perguntou pela primeira vez no dia se Jisoo sabia sobre as fotos, se só havia dormido demais e acordado alheia a tudo que acontecia, se era Rosé a responsável por levá-la a notícia ruim, porém, quando encarou o rosto dela pela janela era visível que a notícia já tinha chegado.
Jisoo a encarou, os olhos chorosos e os cabelos numa bagunça castanha. Rosé respirou fundo, com medo de começar a chorar também.
- Me deixe entrar! - sorriu, parada no mesmo lugar que estava mêses atrás, alheia a tudo que aconteceria depois de ser enxotada por Jisoo daquela vez.
O quarto dela ainda estava escuro, as persianas fechadas impedindo que os raios do sol entrasse pelo cômodo, deixando-o apenas... triste.
Jisoo ainda vestia pijamas, andava a alguns passos de Rosé e assim que entrou no quarto deitou-se novamente na cama, puxando os cobertores até o rosto, encarando-a, ainda parada na soleira da porta.
Aquele deveria ser um momento feliz, o momento que se encontrariam e relembrariam do fim de semana, da pequena dose de felicidade que tiveram antes de tudo ir por água abaixo.
- Quem te contou?
- Lisa. - murmurou a Kim. - Ela estava aqui antes de você chegar.
- Sempre a Lalisa. - rebateu, caminhando devagar até a cama.
- Como anda o colégio? O que estão falando lá? - Jisoo tinha os olhos chorosos e um bico nos lábios. Rosé sabia que ela tremia por debaixo das cobertas porque aquilo era o pior dos seus pesadelos: não ter controle sobre a situação, não poder impedir o que se alastrava por toda a escola, vergonha por ter as fotos, suas fotos, usadas de uma maneira que não queria.
- Isso não importa. - se sentou, indo com as mãos até os cabelos despenteados dela. - Estamos tão perto... quando nos formarmos tudo voltará...
- Rosé, você não entende? - Jisoo estava séria. - As coisas nunca voltarão a ser como antes, não somos mais crianças. Minha mãe saberá daqui a pouco e eu não sei... eu não sei como vou explicar tudo.
Rosé também não sabia, mas preferiu não dizer, preferiu apenas agarrar as mãos trêmulas de Jisoo e fazer o que sabia fazer de melhor: ficar.
Arrastou-se até estar deitada na cama, abraçando-a até sentir o corpo dela devolver o aperto e deixou que ela chorasse todos os seus medos.
Não queria pensar em como tudo aquilo acabaria, não queria se encher de dolorosos "se". Rosé queria parecer forte para Jisoo, mas aquele abraço foi como uma troca, ela também precisava, um pouco, de toda a força de Jisoo.
E no final saldou as novas lágrimas, aceitando-as de bom grado, pedindo que tudo desse seu jeito.
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