De Jennie Kim:

"Não estar no controle daquele jogo era o que o tornava interessante."

Jennie encarou as mãos suadas, a ansiedade tão grande em seu peito que poderia ser palpável. "Nervosa" era um termo muito chulo para explicar a palpitação incessante em seu coração, o frio no estômago e a cabeça girando. Ela estava de pé, no canto do seu quarto como se fosse uma convidada na sua própria casa. Limpou a palma na mão no vestido, tentando porcamente esconder toda aquela confusão de sentimentos trazidos por Lisa, enquanto a mais nova rondava por todo o cômodo, - da cama de casal lotada de pelúcias brancas até as estantes suspensas onde guardava livros e cd's. A tailandesa suspirava maravilhada com os seus gostos pessoais, deixando-a ainda mais inquieta, fazendo nós com os dedos no vestido claro, deixando-o todo amassado nas pontas.

- Ah! Eu amo Friends! - A loira tinha um sorriso animado quando pegou sua caneca personalizada da série de tv. Não quis estragar a animação da garota lhe contando que não estava nem aí para esse programa, só achou a caneca legal e quis comprar. Com Jennie as coisas eram fáceis assim. - Jennifer Aniston é a minha crush master.

Concordou com um menear tímido, com medo de Lisa se aprofundar mais no assunto. Sorriu amarelo mesmo com a outra de costas e se achou idiota por isso. Aquele frio na barriga que durou por todo o jantar cresceu absurdamente com a progressão da noite, deixando-a desesperada. Nunca na vida teve que lidar com aqueles sentimentos conflitantes. Lisa tinha algo de genuíno e espontâneo, era impossível não rir na sua presença. Durante o encontro num pequeno restaurante tailandês, ela não deixava o assunto morrer mesmo que acabassem conversando sobre o tempo ou as aulas chatas de geografia.

Esse foi o fator decisivo que fez com que convidasse a garota até sua casa, assim que saíram do restaurante.

- Não acho meu quarto tão interessante assim - disse baixinho, em um sussurro que era para ser só dela, mas a tailandesa acabou ouvindo.

- Mas é claro que é! Você está nele.

Jennie encarou as costas desnudas de Lisa, graças a blusa cavada, mas ela estava entretida demais na estante de livros.

Não conseguia entender se aquilo era um flerte ou não. O jantar foi ótimo, porém Lisa não mostrou interesse além da comida, como se estivesse testando seus limites e conseguindo deixá-la totalmente a mercê dos seus atos. Observava as pernas finas, cobertas pela calça cargo alta, bem marcada na cintura delgada de uma forma sensual demais para não ser proposital.

- Eu não sei por que te convidei, talvez esteja realmente louca - retrucou.

Jennie não poderia abaixar tanto a guarda assim, aquela máscara arrogante era seu escudo do mundo, o que aconteceria se a loira visse por detrás dela?

Ouviu a risada alta de Lisa reverberar por todo o cômodo, escandalosa como sempre. As mãos ágeis guardaram o livro novamente na prateleira, e quando ela enfim encarou Jennie, soltou um suspiro pesado. A tailandesa carregava todo o conceito bad girl nas costas, era impossível não se sentir tentada com aquele sorriso de lado.

- Seus pais não estão em casa, nós acabamos de sair de um encontro... você sabe muito bem o porquê de ter me convidado para o seu quarto - ditou ela, como uma criança que adorava fazer arte.

Ficaram se encarando por um tempo, a tensão sexual tão grande no quarto que era palpável, fazendo o baixo ventre de Jennie dar um solavanco. Lisa parecia reconhecer todos os seus escapes, ela não caía mais nas respostas frias e petulantes, pelos seus olhos era evidente que ela achava aquilo engraçado e fodidamente excitante.

A boca de Jennie repentinamente estava seca e seu corpo tremia em um explosão de antecipação, vendo Lisa andar até si com o mesmo sorriso sacana nos lábios. Havia caído no jogo dela, provado do seu próprio veneno. Faltava poucos passos para a tailandesa chegar perto o suficiente, mas assim que estava quase, os pés dela recuaram.

A respiração de ambas soava em total sintonia.

- Chegue mais perto - sussurrou ela. - Eu quero ver você tomando a iniciativa, morena.

Jennie segurou um palavrão na garganta, apertando os punhos. Aquilo era excitante quanto irritante. Sempre esteve acostumada a receber tudo em mãos, a ter tudo que queria na hora que queria, mas com Lisa não era assim. E apesar do seu cérebro trabalhar a todo vapor para que um mínimo de orgulho aparecesse e a fizesse recuar, seu corpo já estava entregue.

Não poderia mentir, não estar no controle daquele jogo era o que o tornava interessante.

Com um fervor que a fez criar coragem o suficiente para tentar, deu um passo decidido a fim de juntar os lábios nos dela como queria há tempos. Mas assim que o fez Lisa agarrou seus cabelos, obrigando-a a soltar um gemido surpreso, se xingando internamente por isso. Os olhos divertidos dela lhe encaravam por cima, com as mãos bem agarradas nos fios castanhos. Quando Lisa decidiu que era a hora juntou os lábios nos seus, sugando a parte inferior.

Aquilo foi como uma catarse, a buceta de Jennie latejava junto a todo o seu corpo, imerso naquele selar. A risada baixa de Lisa soou debochada em seus ouvidos, como se estivesse lendo seus pensamentos, como se soubesse exatamente todas as sensações que causava à Kim.

Um beijo violento as consumiu, desejoso e desorganizado. Estava ansiosa demais para pensar em algo mais calmo que aquilo; apertava a cintura fina com toda a força que tinha, tentando descontar toda a confusão de sentimentos. As unhas grandes arranhavam a pele clara querendo que Lisa nunca terminasse.

Mas os lábios da mais nova desceram até seu pescoço, fazendo-a respirar fundo, tentando por um mínimo de raciocínio em sua cabeça e falhando miseravelmente, pela excitação, pela vontade que tinha de se despir e acabar de vez com aquilo. Era tudo muito novo, nunca teve tanta vontade de consumar um ato assim, nunca esteve confortável o suficiente para se imaginar transando com alguém.

Foi guiada a passos desastrados até chegarem a cama, sendo empurrada de uma só vez, e mal pode se ajeitar antes das mãos finas de Lisa apertarem sua coxa por debaixo do vestido. Soava até engraçado que estivesse tão bagunçada, amassada e desejosa, gemendo baixinho por não conseguir prender toda a tensão na garganta, no tempo em que Lisa parecia ter o total controle da situação. Ela sempre pareceu ter.

Mas era apenas o começo, Jennie passou as mãos pelas madeixas claras, vendo sua calcinha ser puxada para a tailandesa se encaixar no meio de suas pernas, como se conhecesse o seu corpo há muito tempo. O gosto dela era mentolado, forte, e por isso aprofundou lentamente o beijo, passeando a língua mais calmamente e Lisa desacelerou as coisas também, as mãos passeando mais devagar pelo vestido.

E com uma audácia que descobriu ter naquele momento, ainda receosa, subiu com os dedos por dentro da blusa pequena da loira, sentindo os seios dela encaixarem-se em suas mãos. Não sabia o que fazer corretamente, mas queria senti-los na sua boca; como se o pensamento das duas fosse um só Lisa tirou o cropped, ficando com o tronco completamente despido e fazendo Jennie conter um sorriso certeiro nos lábios.

Todo o quarto ardia, não havia outra definição. As peles pareciam em chamas, e Jennie seguiu sua intuição, lambendo e chupando todo o pescoço dela. O gosto salgado e o cheiro gostoso que vinha da pele macia tornava tudo ainda mais excitante. Lisa se levantou apenas para passar as pernas ao redor da Kim, com ela em seu colo apertou forte os cabelos claros num pedido mudo que continuasse o que estava fazendo antes.

E os quadris entraram em choque, tentando de alguma forma obter mais contato, formando uma bagunça de mãos, bocas, peles. A tailandesa agora estava uma bagunça em cima de si, os cabelos loiros numa desorganização sexy, o batom borrado pelo queixo e bochecha - Jennie pode supor que também os tinha marcando seu pescoço -, e assim que desceu com os lábios até os seios pequenos sentiu as mãos finas dela puxando-a para cima.

O corpo de Lisa parou de se mexer, paralisado, e Jennie também parou. Poderia ter feito algo de errado sem ao menos perceber, pois ela passava as mãos pelos cabelos como se estivesse acabado de acordar de um sonho.

- Ei... O que houve, Manoban?

- Eu só... - suspirou ela. - Não consigo parar de pensar numa coisa.

Jennie engoliu o seco, rezando para o que quer que fosse, não a fizesse desistir.

- Jisoo - continuou Lisa, baixinho, com vergonha demais para lhe encarar. - Ela não sabe sobre nós e eu me sinto culpada por... você entende? Jisoo nunca dá sorte com melhores amigas, tem uma drogada problemática e a outra que neste momento está transando com sua maior inimiga.

Jennie deixou as mãos caírem em desistência. Jisoo sempre estava no meio das duas, fisicamente ou não, e aquilo era um motivo a mais para não gostar dela - dos diversos outros. Tantos que poderia fazer uma lista grande.

- E está arrependida? - perguntou, mais como um ultimato. Precisava de uma resposta definitiva.

Lisa finalmente a encarou, os lábios abrindo e fechando algumas vezes, e antes que Jennie pudesse perguntá-la novamente foi empurrada para cama, teve suas mãos presas, como uma refém. Um sorriso incrédulo acabou moldando seu rosto.

- Vou deixar para me arrepender quando acabarmos... - sussurrou Lisa, descendo pelo corpo da Kim até parar na virilha, e com as mãos firmes no vestido o levantou de uma só vez.

Jennie arqueou as costas, suspirando pesado assim que a língua molhada chegou na sua buceta, massageando e chupando com tanta vontade que um gemido alto preencheu o cômodo.

Não conseguiu formar pensamentos completos, eles foram puxados da sua mente, mas antes de se entregar totalmente constatou o quanto elas eram parecidas e o quanto Lisa tinha razão: Kim Jisoo tinha uma péssima amiga.

﹝•••﹞

Jennie sorria, o carinho ritmado nos seus fios era tão relaxante que estava quase dormindo. Era confortável ter os seios de Lisa como travesseiro, seu corpo era tão quentinho e gostoso que quase pensou em pedir para a tailandesa não ir embora, que ficasse ali mais um pouco, deitada na cama desforrada, na desorganização que as duas protagonizaram com cheiro de sexo.

- Tem certeza que nunca fez isso antes? - cochichou ela e Jennie abriu os olhos, escondendo a cabeça nos ombros ossudos da loira.

- Vai mesmo me deixar envergonhada?

- Aceite meu elogio, sim? Aquilo que você fez com a lin-

- Tudo bem! - interveio. A gargalhada de Lisa ressou, fazendo o corpo das duas tremer. - Aceito o elogio, só se me prometer que vamos nos encontrar mais vezes.

- Combinado.

- Combinado, então.

Jennie voltou a fechar os olhos, sentindo os dedos dela passarem pelos nós dos seus fios embolados, porém, eles pararam alguns segundos depois de forma abrupta. Abriu os olhos novamente, a luz do celular de Lisa clareando o escuro.

Uma lamentação baixinha saiu dos lábios da tailandesa, quando devolveu o aparelho para a cabeceira.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não, eu estava esperando uma mensagem - murmurou ela. - Se importa se eu tomar um banho? - Era uma pergunta retórica, pois Lisa já se levantava, tirando cuidadosamente a cabeça de Jennie dos seus seios, e por um segundo pareceu que a hora do arrependimento tinha chegado. Ela sairia por aquela porta e nunca mais conversariam.

- Claro que não, pode ir, eu levo uma toalha quando acabar - respondeu.

Aconchegou-se no espaço quentinho que Lisa deixou, as curvas delgadas preenchendo sua visão ao vê-la caminhar para o banheiro nos fundos do quarto.

Um sorriso bobo cresceu no rosto de Jennie, e o tapou com as mãos quando a porta foi fechada. Segurava um grito de felicidade com o travesseiro e era até infantil e idiota que se sentisse assim, mas não conseguia resistir nem se quisesse. O que fizeram não parava de ser reprisado em sua cabeça: Lisa com a língua no meio das suas pernas, tirando o pouco de sanidade que ainda restava. Se sentiu bem e completa como poucas vezes se lembrou de estar, em toda a sua vida.

O minutos se passaram com os pensamentos longe, até a vibração do aparelho na cabeceira a assustar. Levantou a cabeça, curiosa, observando a luz do celular de Lisa quase a cegar, e com isso apertou o botãozinho vermelho, desbloqueando-o tão facilmente que pensou em xingar a tailandesa por deixar o aparelho tão desprotegido.

Caiu na caixa de mensagens, a foto pequena no perfil trazendo uma angústia crescente em seu peito.

[03/07 01:32] Jisoo: Não, eu não estou bem e não posso explicar por mensagem.

Pode me buscar na Street? Aquela boate no centro...

Aconteceu uma coisa e eu só consigo pensar em você.

Prometo te contar tudo quando chegar.

Jennie encarou aquelas mensagens por longos minutos, os dedos tremendo tanto que quase deixou o telefone cair. Pensou em respondê-la de forma rude e sua parte irresponsável se animou com a ideia, mas logo suspirou frustrada, Lisa saberia e isso traria problemas, então numa forma mais prudente, - mas não menos irresponsável - selecionou todas as mensagens.

- Jennie! A toalha! - Lisa gritou no banheiro.

- Já estou indo! - respondeu, apagando todas as mensagens e guardando o celular novamente na mesa de cabeceira.