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02 - CENA - 03


No lado de fora da casa de Andreia, sentado sobre a calçada, Vita reclamava com Júlio aos sussurros:

— Achei que elas já estariam aqui quando a gente chegasse. – levantando-se observou uma brita logo a sua frente.

— Não sei quem te fez pensar isso. – resmungou Júlio que, de cabeça baixa, observava seus pés em contato com o asfalto.

— Você. – lançou Vita ao chutar a brita.

— Eu? – indagou, descrente, levantando os olhos.

— Sim, você. – repetiu. – Quem mais nos convidou pra vir aqui? Trotti? – Observou Trotti encostado em sua picape laranja com a cara de quem não sabe nem que dia é hoje. – Acho que não.

— Ah bom. – resmungou Júlio deitando sobre a calçada. – Me deixe, viu, Vita.

Trotti que brincava com seus dedos, a fim de deixar a ansiedade de lado, – pois sabia que em breve sua ruiva chegaria. – perdeu a cara de paisagem ao perguntar:

— Por que a gente simplesmente não toca a campainha e entra?

— Andreia é amiga das meninas, não nossa. – disse Júlio.

— Andreia é minha amiga também. – lançou no ar.

Júlio sentou-se sobre a calçada novamente fitando os olhos em Trotti. Vita, que olhava para o nada, viu, em Trotti, tudo. Os dois, quase numa simbiose, permitiram sair de suas bocas uma mesma frase.

— Por que não falou antes, caramba?!

— Vocês não perguntaram, ué. – abriu o braço numa inocente tentativa de parecer desentendido. – Como ia saber que vocês se importariam com esse pequeniníssimo detalhe? – um sorriso amarelo surgiu em sua face, dissimulando a real razão por não ter dito o que deveria ter dito.

— Deixa de ser cínico, Trotti. – lançou Vita. – Todo mundo aqui sabe que você não disse nada porque estava com a cabeça na ruiva.

Os sílios de Francesco se encostaram levemente, enquanto seus lábios, numa curva ascendente, formavam covinhas que ele aleatoriamente se pôs a cutucar.

— Deixa de ser pervertido, mano, tô falando da cabeça de cima. – disse com os olhos caídos de decepção. – Esse papel é meu, cara. – Olhou para Júlio como quem busca aprovação. – Não rouba.

— Roubar o quê? – uma voz surgiu do nada. Os meninos voltaram suas atenções para a direção do asfalto. Algo parecia pegar fogo no meio do ar. "Miriam", deixou escapar Trotti na mesma hora. – Oi, Trottizinho, tudo bem? – disse ela após sair de um ômega preto. Júlia e as outras saíram após ela. – O Uber atrasou.

— Sem problemas, minha linda. – disse Trotti indo ao encontro dela. Ele pôde ouvir Vita resmungar lá atrás "Diga isso por si só", mas não deu atenção. - Precisa de ajuda com as malas?

—Oh, como é um príncipe. – disse apontando para o porta-malas.

Marcela relinchou.

— Égua. – saiu num suspiro.

— Disse o quê? – indagou Miriam.

— Disse "É vá lá". – bufou. – Tá surda agora também, garota?

— Não, é que tinha entendido outra coisa. – disse cerrando os olhos buscando entender o que acabara de acontecer.

Após os meninos ajudarem as garotas a tirarem o guarda-roupa inteiro de um porta-malas de um carro, todos pareciam prontos o suficiente para tocar a campainha. Mas antes disso Vita tinha de fazer um comentário.

— Só falta tirar a casa do porta-malas agora.

— Deixa de ser chato, garoto. – disse Rose subindo uns degraus de mármore para que pudesse tocar a campainha. Mas antes que pudesse apertar, uma mulher, alta e magra feito uma tábua, surgiu como se previsse que havia alguém ali fora.

— Por favor, não toque a campainha. – disse fazendo biquinho. – Roger está dormindo e ele não quer barulho. – Só agora Rose percebeu que a mulher usava luvas em pleno dia de sol. – E tirem os sapatos. Não quero minha casa contaminada por micróbios.

Quando todos pensaram que a mulher havia acabado o discurso, ela continuou:

— Ah, e, por favor, não façam nada, não mexam em nada, não sentem em nada antes que todos vocês tenham tomado banho. Estamos entendidos? – Ela esperou que todos confirmassem e tirassem os sapatos. – Entrem.

Vita observando aquela mulher um tanto exótica entrar na casa, disse:

— Ainda bem que a gente não tocou a campainha.

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