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VIII

Leonid colocou Charlie no chão e vestiu suas calças.

— Não desligue o chuveiro — sussurrou.

O psicólogo permaneceu apoiado na parede, sem reação. Naquele momento, ele não sabia o que sentir e como prosseguir. Tudo o que pôde fazer foi observar Leonid sair do banheiro sorrateiramente.

Que merda está acontecendo agora?

Mesmo amedrontado, ainda conseguia sentir os dedos de Leonid. Um pensamento sujo e inapropriado para aquela situação. Sentiu não apenas arrependimento, mas vergonha de si mesmo por ter gostado de ser tocado e dedilhado por um homem da máfia. Aquela era um tipo de emoção que Charlie não estava preparado para sentir — pelo menos, era o que ele pensava.

Pegou a toalha do chão e a enrolou em sua cintura, cobrindo seu membro ainda duro.

— Leonid? — Chamou-o aos sussurros enquanto percorria o corredor escuro.

Um disparo repentino veio da sala. Mesmo assustado, Charlie correu em direção ao perigo, se deparando com Leonid travando uma batalha na escuridão com um sujeito encapuzado. O mafioso derrubou-o no chão com um soco no tórax, deixando o homem sem ar. Posicionou o joelho acima do pescoço do estranho e arrancou a pistola de suas mãos trêmulas.

— Se explique — o homem suava frio e arfava, sendo cada vez mais pressionado pelo joelho de Leonid.

— E-u... Me contrataram para matá-lo — falava com dificuldade.

— Óbvio — respondeu, sereno. — O dinheiro te fez pensar que teria chances contra um Makarov?

— Os Tigres... Foram eles... — o homem tossiu, sem ar.

Tigres? Quem são eles?

— Imaginei que fosse fruto deles — Leonid parecia se divertir com a cena.

— Pare com isso — Charlie se aproximou. — Não precisamos passar dos limites.

— Este desgraçado não te pouparia caso me matasse — o mafioso o olhou, tentando provar seu ponto.

— Você disse que quer mudar, que algo dentro de você te faz cometer atos horríveis. Então, começamos por aqui, através das suas escolhas — mesmo desesperado, Charlie conseguiu se portar como um psicólogo em meio aquela estranha terapia.

As palavras de Charlie pareceram surtir efeito, pois Leonid tirou o joelho do pescoço do homem, deixando-o livre para respirar novamente. Seu rosto estava vermelho. Charlie o ajudou a se recompor do chão.

— É um bom começo...

Antes que pudesse continuar, o homem desferiu um soco no rosto de Charlie, fazendo-o cair para trás, desnorteado. O sujeito encapuzado correu em desespero até a porta, mas antes que pudesse puxar a maçaneta, uma bala de prata atravessou sua cabeça, respingando sangue na parede amadeirada da cabana. Ficou de joelhos em um último suspiro e caiu, morto.

Leonid colocou a pistola no cós de sua calça e foi ao socorro de Charlie.

O nariz do psicólogo sangrava. Leonid o pegou no colo e o levou até a cozinha, onde o deixou sentado acima do balcão de mármore enquanto pegava um pano dentro da gaveta. Colocou-se entre as pernas bem espaçadas de Charlie e começou a limpar o sangue espalhado pelo rosto do psicólogo.

Mesmo no frio, Charlie conseguia sentir o calor inebriante de Leonid aquecer suas coxas. Uma situação horrível acabara de acontecer. Uma pessoa morreu. Assassinada. Então, porque ele estava tão excitado?

— Desculpa.

— Não foi sua culpa — respondeu, mantendo sua atenção no rosto angelical de Charlie, que o encarava profundamente. — É sua missão como psicólogo acreditar nos piores sujeitos.

— É isso que estou fazendo com você? — Não ousou desviar o olhar do rosto focado e impassível daquele homem.

— Acredita em mim?

— Vamos ver.

Quando terminou a limpeza, o pano estava vermelho. O dedo indicador de Leonid acabou sendo manchado com o sangue de Charlie. Levou o dedo manchado até seus lábios e o chupou, deixando-o limpo e sentindo de forma mais profunda o gosto de Charlie. O peito de Charlie arfou.

Será que meus amigos passariam pano para mim se descobrissem que estou querendo foder com um louco sociopata?

— Vá descansar — beijou a testa molhada de Charlie. — Tenho um corpo para enterrar.

— Pensei que não veria mais corpos.

— Esta é a única promessa que não mantenho. Se mais desgraçados como esse te ameaçar, estarão cavando a própria cova.

ᏪᏪᏪᏪ

Charlie não conseguiu pegar no sono naquela noite de nevasca intensa. Sob o som uivante da ventania acompanhada da neve que atingia o vidro do quarto, era possível escutar o ruído da pá atingindo a terra. Ele estava lá fora enterrando o corpo de um homem morto.

A morte era um tópico que Charlie evitava. Enterros e cemitérios eram lugares que lhe causavam extrema ansiedade. Seu coração conflitante palpitava, amedrontado. Um assassino fora enviado para matá-los. Quais as surpresas que o destino guardava? Estar perto de Leonid era seguro? Qual opção ele tinha?

Enrolou-se na coberta. A cabana estava aquecida, porém seu corpo sentia frio.

Fechou os olhos e esperou o sono chegar para o levar bem longe de toda aquela situação, porém os pensamentos intrusivos atingiam sua mente em conjunto, deixando-o quase sem fôlego.

Quando pensou que finalmente iria surtar, braços fortes envolveram sua cintura, trazendo junto uma incrível sensação de amparo. Leonid se posicionou atrás de Charlie como um guarda-costas. O odor de Leonid era um misto com o cheiro da natureza e de seu perfume caro. Charlie sentia-se agarrado por um lobo.

— Sobre o drive... — Charlie começou, ainda com os olhos fechados. — Porque sou mais importante que o drive?

— Você é minha cura.

Os pés de Leonid se entrelaçaram aos de Charlie, mantendo-os cada vez mais colados um ao outro. A bunda de Charlie se encaixava perfeitamente entre a virilha curvada de Leonid.

— Quanto aqueles Tigres, o que são eles?

— Rivais.

Charlie suspirou, ainda sentindo medo.

— Não deixarei que nada aconteça contigo. Eles são pessoas que você não deve se preocupar.

Leonid pegou a mão direita de Charlie e começou a beijar carinhosamente os dedos gelados do psicólogo, deixando-o arrepiado.

— Promete?

— Prometo. 

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