V
Victoria estava de braços cruzados esperando pela chegada de Leonid e Charlie. Como esperado, ela estava completamente encharcada de tinta azul. Dos cabelos aos pés.
— Nem me pergunte o que aconteceu — Victoria se adiantou antes que Charlie abrisse a boca.
— Eu te avisei — Leonid se manteve confiante.
— Um dia vou te derrotar, maninho. Espere só pra ver — a mulher retornou para o interior da mansão, deixando pegadas azuis por onde passava. Fiódor surgiu logo atrás, passando o rodo com um paninho úmido por cada parte suja de tinta.
— Venha, vou te mostrar meu quarto — Leonid pegou na mão de Charlie e o levou até o segundo andar da mansão, onde passaram por um longo corredor até chegarem na porta do quarto de Leonid. Quando a abriu, um quarto modesto acabou sendo revelado.
— Sinceramente, pensei que seria tão grande como toda essa casa — comentou, surpreso.
A cama de Leonid era forrada com um lençol escuro, assim como a cabeceira. O mafioso abriu o closet e tirou a camisa manchada de seu corpo, jogando-a dentro do cesto. Charlie sentou-se na cama. Observou o homem se trocar atentamente.
Era interessante pensar que Charlie conhecia cada parte daquele corpo escultural. Sua mão havia viajado entre as diversas histórias que cada tatuagem na pele de Leonid contava. Ele era um homem russo atraente e grande. Sob a luz da tarde que atravessava as janelas do quarto, os olhos claros de Leonid se tornavam cristalinos. Quantas vezes Charlie vagou com os dedos pelo relevo do peitoral de Leonid? Ele mal conseguia contar, mas sempre quando o olhava, sentia vontade de repetir o momento até se lembrar. Poderia trilhar por todo aquele corpo o mês inteiro sem reclamar.
Aquela paixão ardente que florescia em seu peito o levava novamente para uma única preocupação: o drive.
Entregar o drive para as autoridades significava que tudo aquilo poderia acabar em um piscar de olhos. Leonid era um bom homem preso em um contexto que o obrigou a ser um criminoso, porém ninguém o enxergaria como Charlie o vê. Através daquele olhar fatal, existia uma alma à procura de liberdade.
De repente, Charlie sentiu a necessidade de oferecer a Leonid a busca pela redenção. Queria contar a ele sobre o drive e planejar o que eles poderiam fazer em relação a isso. Queria fugir da Rússia com Leonid e viver uma vida simples no campo, longe de tudo e todos. Desejos sensíveis facilmente quebráveis quando se pensava na possibilidade de Leonid se negar tomar outro rumo de vida.
Leonid vestiu uma camisa preta e sentou-se ao lado de Charlie na cama.
— No que está pensando?
— Adoro as tatuagens em seu pescoço — passou o dedo pelos desenhos cravados na pele de Leonid.
— Senhor Leonid — Fiódor entrou no quarto repentinamente.
Ambos olharam para o mordomo, surpresos de vê-lo aparentemente ofegante.
— Seu pai o aguarda na sala de estar — revelou.
Charlie notou que Leonid e Fiódor tiveram uma longa troca de olhar. Estavam se comunicando não verbalmente, como se já tivessem feito isso antes muitas vezes seguidas. O coração de Charlie parou. O homem que encomendou sua morte estava lá embaixo. ]
— Fique aqui — Leonid se levantou.
— Não, eu vou com você — Charlie segurou o braço dele.
— É para o seu bem, Charlie.
— Não tenho medo do seu pai, Leo. Iremos juntos, ok?
Leonid assentiu.
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Quando passaram pelas portas abertas da sala de estar, a silhueta robusta trajada em um casaco de pêlo de lobo estava disposta em frente a lareira acesa. O sujeito alimentava as chamas ardentes da lareira com pedaços de papel.
— Pai.
O homem se virou em direção a Leonid. Lá estava o pai de Leonid, o poderoso senhor Makarov. Fios brancos se destacavam no topo de sua cabeça, assim como a barba em seu rosto. Tudo o que Charlie podia notar era a cicatriz próxima do olho direito do homem. Olhos muito semelhantes aos de Leonid.
— Não vai dar um abraço no seu velho?
Leonid se aproximou e o abraçou. Seu corpo estava rígido, como se não quisesse estar ali naquele momento. Ao afastarem o abraço, o pai de Leonid focou sua atenção em Charlie.
— E veja só quem está aqui, o filho legítimo de Sergey Petrov. Interessante — estendeu a mão. Charlie o cumprimentou, hesitante. — Prazer, Alexandre Makarov.
— Charlie Evans, senhor.
— Como devo imaginar, você já deve estar por dentro da velha e boa rivalidade entre as famílias Petrov e Makarov. Adianto a você que o que aconteceu no passado, fica no passado. Não era nada pessoal — explicou.
— Está se referindo sobre ter enviado seu filho para me matar?
— Exatamente. O mundo dos negócios na Rússia é como uma selva povoada por feras selvagens. O mais forte sempre sobrevive. Atualmente, essa rivalidade está ultrapassada, admito. Não há motivos para me temer, Charlie Petrov.
— Não temo. E prefiro que me chame de Evans.
— Como desejar.
— Papai — Victoria surgiu, agora limpa e vestida em um roupão branco.
— Como minha querida filha está grande — Alexandre lhe deu um grande sorriso amarelo. — Acredita que tive uma filha perdida pelo mundo e não sabia de sua existência? Felizmente, nossos caminhos se encontraram.
— O que veio fazer aqui? — Leonid indagou, direto.
— Oras, não estava contando com a minha presença? Imaginei que fazer uma visita seria uma ótima ideia, estamos perto do natal, é um bom momento para reunir a família. Seu irmão iria gostar disso — gesticulou para o quadro na parede exibindo a pintura de Pavel Makarov. Victoria abaixou a cabeça. — Agora vamos começar as festividades.
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