V
Ele continuou estático enquanto a chuva torrencial caía sobre sua cabeça como se o mundo estivesse desabando. Mesmo que o apocalipse fosse naquele momento, Leonid não se importaria. A camisa úmida estava totalmente colada ao seu corpo, deixando à mostra as tatuagens em sua barriga sob o tecido molhado.
Charlie atravessou a tempestade e agarrou a mão gelada do mafioso, puxando-o para dentro da pousada, onde era quente e aconchegante. Por onde passavam, rastros de pegadas molhadas eram deixadas.
— Droga, amanhã vou ter que explicar essa bagunça pra tia Mosketa — Charlie resmungou, guiando Leonid até o seu apartamento.
Quando chegaram, Charlie se apressou em apanhar uma toalha para que Leonid pudesse se secar.
— No que você estava pensando ao ficar lá fora nessa chuva forte? — Perguntou, incrédulo. Pegou uma toalha no guarda-roupa do quarto e voltou para Leonid, entregando-a nas mãos dele. O homem continuou esboçando nenhuma reação. — O que aconteceu? É estranho ver você calado sem fazer piadas sexuais.
— Você está molhado — falou, finalmente.
— Claro que estou, tive que correr no meio da chuva pra te buscar — secou o cabelo com as mãos.
Leonid ofereceu a toalha para Charlie.
— É pra você se secar, ok? — Charlie caminhou até a cozinha. — Vou fazer um chá quente, provavelmente você pode pegar um resfriado forte.
Enquanto colocava água na chaleira, Charlie percebeu que estava tratando Leonid muito bem, o que não era para estar acontecendo devido aos acontecimentos da semana passada.
De novo estou sendo bom, mas antes de despachar esse homem da minha casa, preciso entender o porquê ele está aqui, então não me julgue subconsciente.
Botou a chaleira para esquentar no fogão.
— Ele te trouxe para casa.
— O quê? — Charlie virou-se em direção a Leonid.
— Alexander Petrov.
— Decidi ir para uma balada e me esbarrei com ele. No começo, não sabia que ele fazia parte de uma máfia.
— Uma máfia rival — Leonid largou a toalha no chão.
— É, tô sabendo. Vocês dois disseram a mesma coisa.
Charlie se manteve encostado no balcão da cozinha, deixando as mãos posicionadas próximas da gaveta, onde as facas estavam guardadas.
— Porque? — Perguntou, fitando Charlie fixamente.
— Não sou membro da sua máfia, muito menos sou um Petrov. Não estou interessado nessa história. Não me importo com o drive. Não somos namorados e nem amigos, então não venha me cobrar lealdade — desabafou.
Leonid avançou. Charlie se apressou em abrir a gaveta e alcançar uma faca, apontando-a diretamente para o coração do mafioso, que se manteve estático diante do psicólogo.
— Não ouse chegar perto de mim — Charlie ameaçou, olhando-o bem no fundo dos olhos.
Leonid sorriu de canto. Levou a mão tatuada até a faca e a puxou para cima de forma que ficasse mais próxima de seu rosto, enquanto Charlie ainda a segurava como se sua vida dependesse disso.
A língua de Leonid emergiu de seus lábios e lambeu a faca da base até a ponta afiada, consequentemente causando um pequeno ferimento que sangrou rapidamente. Linhas de sangue se espalharam pela língua até escorrerem de sua boca e gotejar na faca.
— O quê... — Charlie abaixou a faca e a largou no balcão. — Precisamos passar um remédio nisso.
— Você é meu remédio.
— Não fale besteira — Charlie tentou passar por Leonid, mas ele agarrou seus braços.
— Não se junte a ele — a respiração de Leonid aquecia o rosto gelado do psicólogo.
— O que você faria caso eu escolhesse esse caminho? — Desafiou-o.
— Seria um caminho sem volta.
Esse homem tem problemas de abandono, necessidade de controle e mais outros 300 tipos de problemas. Eu deveria expulsá-lo agora mesmo da minha casa...
— E porque eu não deveria me juntar a Alexander Petrov? — Charlie sentou-se no balcão. — Ele poderia me oferecer proteção, uma vida boa e muito dinheiro. Além disso, ele não me empurarria contra nenhuma parede. Não me manteria preso.
— Lá fora, matei um homem. Um dos seguranças de Alexander designado para te vigiar a noite inteira.
— Você é louco.
— Talvez.
— Então vamos, me mate também, assim como você faz com qualquer um. Tire minha vida antes que eu pegue aquele drive e acabe com toda a sua família. E acredite, tenho motivos. O que está esperando, Leonid Makarov?
Poucos centímetros separavam os rostos de ambos.
Eu odeio esse homem com todas as minhas forças.
Naquele momento, Leonid era como uma represa onde todo o seu desejo estava contido. Ver Charlie o desafiando com o olhar e citando um dos seus maiores rivais não lhe causava ódio, mas tesão. Nenhuma daquelas palavras eram verdadeiras. Leonid conseguia perceber através dos lábios vacilantes de Charlie. Também notou a perna do psicólogo roçar lentamente em sua virilha.
A represa estourou.
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