IV
Quando abriu os olhos, se deparou com a presença de Alexander. Endireitou o corpo para frente e percebeu que estava em um carro, no banco de trás. Alexander se manteve encostado próximo da janela, parecendo ignorar Charlie. Quando se deu conta da própria existência, percebeu que estava sem camisa. Alexander estava a usando.
— Onde estou? — Apoiou a mão na cabeça, sentindo uma leve dor de cabeça. — E porque você está com a minha roupa?
— Estou te levando para casa, Charlie — falou, ainda olhando para frente. — Pensei que sua camisa seria um pequeno preço a me pagar depois do incidente de hoje.
No banco do motorista, um homem engravatado usando um chapéu pilotava o carro. Para Charlie, ele parecia um chofer. Se endireitou no banco, mantendo distância de Alexander, que não demonstrou nenhuma reação.
— Eu moro na pousada da tia Mosketa.
— Eu sei.
— Como sabe tanto de mim? — Arqueou as sobrancelhas.
— Gostaria de ter tido uma conversa com você de forma mais apropriada, porém não esperava que você fosse aparecer no clube dos Tigres — Alexander apoiou a cabeça acima do punho.
— Seguinte, o que diabos está acontecendo? Quem são os Tigres? — Indagou, irritado.
— Tigres é um nome popular. Estou me referindo a família Petrov.
— Não me diga que esses Tigres são mafiosos idiotas?
— Exatamente, apenas alguns mafiosos idiotas. Prazer, Alexander Petrov.
Charlie corou, envergonhado.
— É... Desculpa.
— Não me surpreendo, afinal você passou a última semana com Leonid Makarov — olhou-o, curioso quanto a reação de Charlie.
— E por acaso vocês são rivais. Recebemos seu presente especial — respondeu, ironicamente.
— O alvo não era você.
— De qualquer forma, não tenho nenhuma ligação com Leonid. Ele é um idiota.
— Mas você tem o drive.
— Olha... Toda essa situação foi uma grande coincidência. Eu não tenho o drive, não sei onde está. Só não me mate, por favor — não implorou, apenas estava cansado de toda aquela situação e desse maldito drive.
— Não é minha intenção matá-lo.
— Então, o que você quer?
— Tome — tirou do bolso da calça um cartão e entregou-o a Charlie. — Aqui está meu contato pessoal. Quando estiver sóbrio, me ligue para conversarmos melhor.
— Obrigado, mas não entendi muito bem o que aconteceu. Molhei sua camisa e, de repente, eu estou no seu carro — Charlie pegou o cartão.
— Quando chegar a hora, te explicarei a situação.
O carro parou. Finalmente haviam chegado em frente a pensão. Charlie abriu a porta, mas antes que pudesse sair, Alexander agarrou seu pulso.
— Apenas um aviso: não confie em Leonid. Não confie em nenhum Makarov.
Soltou o punho de Charlie.
Charlie observou o carro partir até sentir a brisa fria atingir seu corpo. Trovões ecoaram pelo céu. Uma frente fria estava se aproximando acompanhada de nuvens de chuva. Pegou o celular e olhou o horário: eram exatamente três horas da manhã.
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O que um mafioso como Alexander Petrov teria para conversar com Charlie?
As perguntas invadiam sua mente incessantemente, deixando-o irritado. Pensou ter se livrado de um problema, agora outro parecia estar se enraizando, tudo por causa de um drive. Um objeto pequeno e insignificante que Charlie nunca viu.
Já sentindo a exaustão invadir seu corpo por conta da bebida, Charlie se jogou na cama de braços abertos.
Talvez se eu ficar aqui paradinho encarando o teto, a resposta dos meus problemas vão aparecer.
Dois meses morando na Rússia foram o suficiente para criar problemas para a vida inteira. Charlie se perguntava qual era o problema desse país tão doido recheado de pessoas insanas.
Gotas de chuva começaram a despencar do céu com força, causando ruídos ao atingirem a janela do quarto. O clima perfeito para cair no sono.
— Talvez eu acabe ficando igual a tia Mosketa: ter um currículo enorme de homens loucos me perseguindo. Será que a vida tá me forçando a ter um dark romance ou algo do tipo? — Começou a conversar com as paredes enquanto esperava o sono chegar.
Aquela cena o levou para quando Leonid estava sentado na beira da cama o observando no meio da noite.
''Não me tocaria sem meu consentimento, não é?''
''Sob nenhuma circunstância.''
Deitou de lado, como se fosse livrar-se daquelas memórias. Era quase como se Charlie pudesse vislumbrar Leonid sentado em sua cama, assim como naquela noite, enquanto o cheiro característico do perfume daquele idiota invadia suas narinas.
— Pelo menos ele era cheiroso — suspirou.
Levantou da cama ao escutar o ecoar de um disparo vindo da rua.
Mas que merda está acontecendo?
Aproximou-se da janela e procurou pela origem do disparo. Ainda chovia, deixando o campo de visão embaçado. Tudo o que Charlie conseguia enxergar eram os prédios vizinhos, alguns carros estacionados e um homem parado em frente a pousada.
O homem era Leonid Makarov.
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