II
Dor era a única sensação que Charlie sentia naquele momento infernal. No entanto, não se tratava da dor do luto. O doutor, que mais tarde Charlie descobriu se chamar doutor Lev, lhe deu uma série de choques por todo o seu corpo, com foco na cabeça. Sentia seu cérebro fritar a cada vez que Lev pressionava o botão de ativação e uma descarga elétrica percorria pelos fios de energia até alcançar Charlie e fritá-lo das maneiras mais dolorosas possíveis.
Lágrimas escorriam dos olhos de Charlie. Mesmo sob uma dor angustiante, ele conseguiu levantar levemente a cabeça para cima e enxergar Lev e Alexander do outro lado do vidro de observação. Mais cedo, dois enfermeiros da clínica trouxeram Charlie até a sala de tratamento e o prenderam na maca com algemas. Aquilo não era uma terapia, era tortura.
Os gritos agonizantes de Charlie ecoavam pela sala. Por sorte, a sala de tratamentos era forrada com barreiras de sons. Mais ninguém da clínica poderia escutar as súplicas de Charlie pedindo para parar.
Alexander espremeu as sobrancelhas, sentindo-se culpado por sujeitar Charlie àquele tipo de tratamento intenso. Seu coração estava quebrado ao ver aquela cena, mas sentia que era pelo bem maior; pelo bem de Charlie. Quando as descargas eram ativadas, luzes azuladas iluminavam momentaneamente o rosto impressionado de Ivan. Ele parecia estar se divertindo com a cena.
Ao saber da notícia sobre a apreensão de Charlie, Alexander sabia que não iria conseguir convencê-lo a aceitar a ajuda dos Petrov, por isso recorreu a tratamentos intensos envolvendo a mente. O doutor Ivan era conhecido por ser adepto à cura gay. Ivan realizava testes secretos em homossexuais que queriam se tornar héteros através do tratamento que o doutor oferecia, porém haviam consequências: perda de memória.
O que Alexander não sabia, era que o tratamento consistia em eletrocutar a pessoa até fazê-la perder os sentidos da mente.
Um sorriso ameaçou se formar no rosto fascinado de Ivan enquanto fitava Charlie agonizar de dor enquanto mais descargas elétricas eram lançadas contra ele. Fios circulavam por todo o corpo de Charlie, grudando em sua pele cheia de hematomas.
— Tem certeza que isso não é extremo demais? — Alexander indagou.
— É o necessário para fazer Charlie se esquecer dos pecados e fazê-lo enxergar novos horizontes.
A tortura seguiu durante horas até o anoitecer, quando finalmente Ivan cessou e ordenou que os dois enfermeiros que sempre o acompanhavam como abutres levassem Charlie de volta para o quarto.
Enfraquecido, Charlie foi jogado em cima da cama, como um boneco. Não conseguia se mover, pois todo o seu corpo doía. Saliva escorria de seus lábios. Cada vez mais sentia sua consciência se perdendo em um emaranhado de memórias desconexas. Nada parecia fazer sentido.
Charlie fechou os olhos, desejando que a morte o buscasse depressa.
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