I
Eu, um Petrov? Do que Alexander está falando?
— Não pode ser...
— Nunca se perguntou qual era o sobrenome de seu pai? — Alexander indagou, curioso.
— Sergey Dubrov. Este era o nome completo do meu pai.
— Dubrov era o sobrenome da sua avó, provavelmente Sergey adotou esse sobrenome quando fugiu para o Reino Unido. Seu pai sempre se chamou Sergey Petrov, o herdeiro da família.
— Como isso é possível? — Charlie encarou as próprias mãos, como se ali, cravadas em sua pele, estivessem as respostas.
— É a verdade, e às vezes ela pode ser difícil de se digerir.
— Me conte tudo, por favor — o psicólogo o encarou, suplicante por uma resposta.
— Contarei, é claro. Mas primeiro, vamos para a residência Petrov.
Charlie concordou, mesmo hesitante. Naquele momento, Leonid escapou de sua mente e toda a rivalidade entre as famílias não fazia mais sentido; um sentimento temporário, visto que Charlie percebeu que ele estava mais envolvido do que ele imaginava.
A partida até a residência Petrov foi silenciosa. Charlie manteve-se com a cabeça encostada na janela do carro, perdido em pensamentos, enquanto tentava digerir toda aquela situação. Uma parte crucial de sua vida havia sido mantida em segredo por anos. Agora o desaparecimento repentino de seu pai fazia sentido, apesar de ainda restar dúvidas. Charlie chegou à conclusão que tanto ele quanto sua mãe foram enganados.
A gigantesca mansão Petrov se localizava em um dos condomínios mais luxuosos de Moscou, conhecido por abrigar as maiores casas da capital em um parque natural repleto de árvores e animais. Ultrapassaram os portões de segurança do condomínio e seguiram pela estrada até o carro contornar em uma rua estreita de pedregulhos. Mais à frente, um portão metálico com o símbolo de um tigre banhado em ouro dando boas-vindas a quem chegasse.
Era exatamente como a residência Makarov: a abundância de riquezas podia ser notada mesmo antes de entrar. O carro contornou em torno de um chafariz e estacionou próximo a varanda. Um mordomo se apressou em abrir a porta de Charlie, mesmo contra sua vontade.
— Obrigado — Charlie desceu do carro, um pouco envergonhado por sentir que estava dando trabalho.
Olhou para cima, se deparando com uma montanha de tijolos de três andares. Aquela mansão se assemelhava a um castelo vitoriano construído por um rei que não temia gastos.
— Me acompanhe, Charlie — Alexander se aproximou da porta dupla com duas maçanetas e a empurrou. Aguardou próximo ao vão para que Charlie pudesse entrar.
— Então era aqui que meu pai estava todos esses anos? — Charlie ultrapassou a porta e se deparou com um hall de entrada digno de um filme. A cerâmica era branca e reluzente, sendo possível enxergar seu próprio reflexo; um tapete vermelho se estendia pelos degraus da escada logo adiante de Charlie e seguia até os andares superiores.
— Vou te explicar melhor na sala de visitas. Aceita um chá? — Charlie seguiu Alexander até uma porta que dava acesso à sala de estar. Uma lareira acesa iluminava o ambiente repleto de quadros pregados na parede e estantes.
Duas janelas verticais exibiam a vista verde da floresta que se estendia infinitamente pelo horizonte. Charlie achava incrível como Moscou poderia ter dois pólos de diferença: de um lado uma cidade turbulenta e repleta de construções, do outro áreas florestais maravilhosas.
Alexander sentou-se na poltrona próxima a lareira chamuscante. Charlie se acomodou próximo dele, no sofá de couro preto. Uma mesinha de vidro separava os dois.
— Tem certeza que não deseja nada? — Alexander o observava. — Aqui também é a sua casa, afinal você é um de nós.
— Não faço parte dessa família. Enquanto meu pai vivia nesse castelo, eu e minha mãe morávamos em um apartamento de dois cômodos. Existe uma grande diferença entre minha família e a sua. A minha partiu há muito tempo.
— Eu sei que sim. O que me intriga é apenas uma questão: porque veio para a Rússia?
— Parte de mim queria saber o que havia acontecido com o meu pai. Além disso, eu precisava de um novo lugar para recomeçar, então porque não aqui onde tenho raízes? Só não imaginava que as raízes da minha família chegavam ao crime.
— O que se lembra de seu pai, Charlie?
— Tudo o que me lembro de meu pai são apenas fragmentos de uma mente infantil. Ele me deixou quando eu era criança.
Alexander se endireitou no banco de forma que ficasse mais próximo de Charlie.
— Qual é a sua relação com ele? — Charlie perguntou.
— Sergey foi o homem que me tirou das ruas e me deu um lar. Me teve como filho, muito antes de seu nascimento. Eu costumava viver junto com o meu irmão de consideração, Maxwell Petrov. Ele morreu jovem.
Charlie engoliu em seco ao escutar o nome Maxwell Petrov. O garoto no qual Victoria Makarov era apaixonada quando criança. Irmão de Alexander e meio-irmão de Charlie.
— Seguinte, Charlie — Alexander propôs. — Entendo que entre você e a mim não existe confiança ou afeto, porém gostaria de te convidar para passar a noite conosco. Prometo que te contarei tudo o que você deseja saber. Acredite, é muita coisa. Preciso de você aqui conosco, não com eles.
Eles. Os Makarov.
— Não sei se seria uma boa ideia. Não quero me envolver em uma guerra da máfia.
— Não há o que temer, aqui você está em segurança. Tudo o que te peço é uma chance de tentar mudar sua visão sobre seu pai. Toda história tem dois lados, Charlie. Eu preciso te contar o lado certo.
Charlie suspirou.
— Tudo bem, eu aceito. Apenas uma noite.
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