𝔘𝔪 - 𝔈𝔲 𝔮𝔲𝔢𝔯𝔬 𝔣𝔲𝔤𝔦𝔯 𝔡𝔬 𝔪𝔲𝔫𝔡𝔬.
𝔘𝔪 - 𝔈𝔲 𝔮𝔲𝔢𝔯𝔬 𝔣𝔲𝔤𝔦𝔯 𝔡𝔬 𝔪𝔲𝔫𝔡𝔬.
✠•❀•✠
(2311 palavras)
O ᴘʀᴏᴘʀɪᴏ ᴠɪᴠᴇʀ ᴇ́ ᴍᴏʀʀᴇʀ, ᴘᴏʀǫᴜᴇ ɴᴀ̃ᴏ ᴛᴇᴍᴏs ᴜᴍ ᴅɪᴀ ᴀ ᴍᴀɪs ɴᴀ ɴᴏssᴀ ᴠɪᴅᴀ ǫᴜᴇ ɴᴀ̃ᴏ ᴛᴇɴʜᴀᴍᴏs, ɴɪssᴏ, ᴜᴍ ᴅɪᴀ ᴀ ᴍᴇɴᴏs ɴᴇʟᴀ.
— Fᴇʀɴᴀɴᴅᴏ Pᴇssᴏᴀ.
O barulho ensurdecedor apitava despertando um novo dia, Natanael suspirou e esfregou os olhos, sentia-se cansado e exausto. Espreguiçou-se de forma demorada e criou coragem para levantar da cama, sentiu o chão frio tocar seus pés. Apagou na noite passada após a insistência dos amigos em tomar o remédio para dormir.
Tinha conhecimento do seu estado deplorável, mas diante de todos os acontecimentos não possuía nenhuma solução que o fizesse querer dormir, não quando a imagem do acidente rodeava a sua mente e perfurava o seu interior ao se lembrar dos olhos gélidos dela sobre os seus naquele dia durante o velório de Brendan. A morte do melhor amigo mudou a sua vida e a de todos ao redor, a data daquela fatalidade ficaria para sempre gravada em cada coração.
Natan nem sequer deveria ter ido parar naquela festa, estava deitado no quarto quando recebeu a ligação de Brendan pedindo para o amigo ir buscá-lo só não imaginaria que Lorenzo e Gael iriam retornar com eles. Era o único dos quatro a estar sóbrio e que poderia dirigir durante todo o percurso.
As gargalhadas dos amigos embriagados arrancavam risadas dele, conversando sobre a viagem que fariam no final do ano para comemorar a virada.
— Celine vai? — Lorenzo perguntou olhando para Natanael que sorriu em confirmação, sentindo certa ansiedade crescer em seu peito.
Brendan que estava ao seu lado, analisou o melhor amigo com a sobrancelha erguida, balançando a cabeça em negação.
— Questiono todos os dias o que minha irmã vê em você. — Falou indignado, arrancando risos de todos.
— É o meu charme. — a voz divertida de Natanael fez o outro sorrir. Manteve um sorriso leve nos lábios ao pensar na namorada e o quão sortudo se sentia por tê-la ao seu lado.
— Cuidado! — O grito de Gael fez Natan frear o carro bruscamente ao ver o caminhão em alta velocidade passar pela avenida desgovernado.
Os quatro sentiram seus corpos travarem quando o impacto colidiu contra o veículo, Natan em um ato involuntário esticou o braço de encontro ao corpo de Brendan que acabou ricocheteando para frente.
Os ossos foram esmagados e o ar escapou por seus pulmões com a dor pulsante, o grito ecoou pelos lábios em angústia.
O flash branco de luz cegou os quatro rapazes que escutaram o barulho estrondoso de cilindros caírem pelo chão e a escuridão tomou as visões deles, as dores perfuraram as peles e aumentou o medo que rondava as suas mentes, levando-os para o infinito breu.
Natanael esfregou o rosto com força tentando tirar aquilo de seus pensamentos, mas os olhos de Celine continuavam retornando para sua mente.
Ela o culpava.
Culpava por estar dirigindo naquela noite. Natan tentou diversas vezes se aproximar dela e explicar o que de fato tinha acontecido, mas ao perceber o olhar repulsivo que recebeu se sentiu sujo, um monstro e passou a se considerar uma aberração toda as vezes que via o seu reflexo no espelho e não enxergava mais a pessoa que um dia pensou ser.
Aquele diante do espelho se tornou a sua nova versão. A que estava quebrada em diversos pedaços.
Caminhou em direção ao banheiro despindo-se e entrando debaixo do chuveiro permitindo a água fria cair em suas costas e descer pelo tronco, focou a atenção na cicatriz que tomava toda a extensão do braço e ia do pulso para o cotovelo. Um lembrete do que havia acontecido.
Passou as mãos pelos cabelos negros, levando-os para trás e fechou os olhos ao sentir a água atingir o rosto soltou um longo suspiro pesado. O rosto do melhor amigo passou pelos pensamentos e sentiu o peito comprimir com a falta de ar que teve. Tentou controlar a respiração para que não acabasse em mais uma crise naquele cubículo. Queria evitar ter que sentar no chão e conter o choro que se tornava tão insuportável ao ponto de levá-lo ao seu limite.
Natanael fixou os olhos marejados no azulejo azul deixando os acontecimentos invadirem a mente, agarrando toda a dor para dentro de seu interior, questionava-se dia e noite: "e se tivesse passado cinco minutos depois? Se não tivesse ido para aquele lugar? " Provavelmente todos iriam se reunir na sala de estar entre risadas e ela estaria ao seu lado, sorrindo em sua direção como costumava fazer e Brendan vivo.
Fechou as mãos em punhos reverberando o barulho do azulejo que estalou pelo espaço e os dedos arderam com o soco desferido, mas não se importava com a dor, agora ela fazia parte dele desde aquele dia. Crescia em seu âmago e alastrou-se por suas veias, circundando-o com prazer. Aceitava aquele fardo por se sentir culpado com toda a situação.
Reparou nos filetes de sangue que escorreram pela parede e contornaram a mão, manchando-a. O som estridente do celular despertou sua atenção e se viu obrigado a terminar o banho e sair para pegar o aparelho que tinha deixado jogado em cima da cama.
Sentiu a ansiedade tomar o corpo ao ler o nome de Margo, a mulher estava determinada em aproximá-lo de Celine após descobrir a verdade sobre o acidente, não era ele quem estava bêbado, mas o motorista do caminhão.
Margo ligou para Natanael uma semana depois do acidente, ele ainda estava inabilitado. Sentia fortes dores contra todo o seu corpo em especial no braço engessado e mesmo assim decidiu que iria ao enterro, não poderia deixar de ir. Lorenzo e Gael não ficaram diferentes, por mais que tenham sofrido menos com o impacto por estarem na parte de trás do carro a dor era igual para todos, a dor da perda.
Depois desse dia passaram a ter mais contato, Margo estava preocupada com Celine. A garota radiante que iluminava os outros com seus sorrisos agora passava grande parte dos dias trancafiada dentro do próprio quarto, sem comer, definhando e sofrendo.
O rapaz tentou visitá-la e acabou recebendo palavras que destruíram ainda mais o seu coração, porém continuou calado enquanto apenas permitia que Celine deixasse aquele sofrimento sair de seu âmago. Ela extravasou todo o rancor em cima de Natanael e o jovem ainda podia visualizar e sentir quando as mãos dela o atingiram forte e de modo repetitivo com movimentos bruscos e vorazes, todavia no fundo da íris avelãs da mulher notava a angústia que assolava a alma dela. Celine não quis escutá-lo, contudo Natan se contentou com tão pouco, pelo menos poderia estar próximo a ela mesmo que em silêncio.
Ter notícias de Celine comprimia seu coração, saber como a namorada estava destruía o interior dele ficando em pedaços, ver aquela pessoa apaixonada murchar diante de seus olhos e vislumbrar todo o amor que nutriam escapar por entre os dedos sem que pudesse fazer nada para impedi-lo de cair em ruína dilacerava Natanael.
No fim ele se considerou o grande responsável, sendo o real motivo de tudo estar desmoronando ao redor de todos e no fundo só queria o perdão dela.
O barulho alto da ligação ecoou pelo quarto, atendeu o celular ao se dar conta que possuía mais de dez ligações, sentiu o estômago embrulhar e o gosto amargo tomar sua garganta. Algo estava errado, aquela sensação crescia como um monstro em suas veias, rugindo nos pensamentos e martelando dentro do peito.
— Natan... — a voz pesada de Margo fez o coração do homem parar alguns segundos — é a Celine.
Antes que a mulher pudesse completar o grunhido de dor saiu dos lábios dela e as fungadas pesadas tomaram a ligação, aumentando o peso nos ombros dele com a aflição estampada em seu semblante que mantinha o olhar fixo para a parede descascada.
— O que aconteceu, Margo? — a voz vacilou ao perguntar e o medo tomá-lo.
— Ela, ela... — mais lágrimas foram escutadas — Celine se foi Natan...ela morreu.
— Não — a voz masculina reverberou para o quarto —, você está brincando comigo, não... Isso é impossível! — a risada aguda saiu pelos lábios dele, Natanael levou a mão aos cabelos em agonia, apertando os fios em excesso — Você está zombando de mim! — Gritou, as lágrimas presas agora caíam livres pelas bochechas.
— Natanael — Margo disse firme, sentiu a risada se esvair e a dor crescer — ela está morta.
A palavra morta repetiu pelos ouvidos dele como murmúrios estrondosos. Virou o rosto na direção da porta com o ar gelado que adentrou o recinto e sentindo o corpo estremecer ao vislumbrar a imagem da garota parada a apenas alguns passos de distância. Podia jurar ver seus cabelos chocolate e cacheados caindo pela coluna como cascatas, as bochechas levemente rosadas destacando-se na pele como o deserto do Saara e os olhos amendoados brilhavam de maneira intensa e ela mantinha o sorriso largo para ele, aquele que aquecia cada parte do rapaz, porém o cenário mudou ao vê-la desvanecer e ser circulada por sombras enegrecidas.
O grito prendeu na garganta fazendo-a arder, observava a figura feminina sumir diante dos olhos. Como uma despedida silenciosa.
— Isso não pode ser real. — Disse em um sussurro, a brisa fria passou pelo corpo dele e atingiu o dorso nu.
— Eu sinto muito. — escutou o lamento do outro lado da linha.
— Como? — Perguntou antes de a ligação cair — Como ela morreu? — precisava saber.
— Ela pulou no rio Asterus.
A respiração falhou e a visão tornou-se turva, a cabeça pulsou. Celine não sabia nadar, a imagem da garota na água fez o corpo do rapaz enfraquecer, precisou apoiar para não cair com a vulnerabilidade que se encontrava.
— Ela não faria isso! — Berrou com a mulher do outro lado — Por que ela faria isso? Ela não sabia nadar. — Dizia para si conforme as lágrimas escorriam pesadas pelo rosto, inundando-o em sua própria angústia.
— Tente se acalmar! — Margo disse aflita.
— Me acalmar? — a risada ricocheteou pelo quarto causando arrepios nele — É tudo culpa minha!
— Não é Natanael! — ela esbravejou, porém nada faria ele pensar diferente.
Sem dizer qualquer outra palavra desligou o celular vestiu-se de maneira rápida e correu pelos largos corredores do prédio descendo os cinco lances de escadas. Os pulmões clamaram por ar quanto mais corria pelas ruas. As pessoas olharam para ele como se fosse louco e talvez Natan não prezasse mais pela sanidade.
Não quando estava sozinho de novo. Em completa solidão, demorou para encontrar as pessoas que trouxeram a luz de volta para os seus dias nublados e agora as tinha perdido para todo o sempre.
Parou em frente à grade que levaria para o imenso rio, passou o corpo por debaixo do arame farpado. O material pinicou a pele, rasgando-a e ao chegar próximo da ponte que abrangia a imensidão do rio Asterus sentiu o peso dos próprios sentimentos tomá-lo e as pupilas encherem de lágrimas atrapalhando a visão. Acabou colidindo contra outra pessoa.
Ergueu o rosto e encontrou um par de olhos fixos nele, uma sensação estranha passou pelo corpo do menino ao observar a cor que rodeava a pupila do homem à sua frente. Os globos alaranjados como o pôr do sol e mergulhados em uma imensidão que nunca havia visto, as íris possuíam formatos de engrenagens, como um relógio.
Enrijeceu, observando o homem analisá-lo com firmeza e um sorriso tomar o canto dos lábios do desconhecido. A pele dourada e brilhou com os raios ensolarados que tocaram gentis o rosto masculino, os cabelos longos e castanhos batiam na altura dos quadris, trajava uma túnica laranja como vestimenta e no centro do coração o majestoso relógio destacava-se com formosura. Natanael sentiu que estava alucinando ao vislumbrar tal figura e esfregou os olhos, piscando, porém ao abri-los a pessoa não estava mais lá.
Percorreu pela imensidão da ponte tentando encontrá-lo e notou o objeto brilhante a alguns passos de onde estava. Caminhou em direção a ele e abaixou-se para pegá-lo, um colar de tonalidade azul intenso e luminoso que irradiava preso a um círculo. Por dentro reparou no formato que se assemelhava a uma pequena ampulheta no interior, possuía fragmentos espalhados que tomava a esfera colorida e isso fez ele lembrar na galáxia.
"Celine acharia lindo" — pensou e o sentimento conflitante cresceu, recordando-se do real motivo de estar naquele lugar.
Pegou o objeto, prendeu contra o pescoço e voltou a correr em direção ao único lugar aberto daquela ponte, os pés pararam abruptos e fixou contra o chão ao olhar a imensidão daquele majestoso rio. A água cristalina se debatia contra as pedras percorrendo o caminho pelo vasto lugar coberto de árvores que se contorciam com o ricochetear do ar que arrastava as folhas, levando-as para longe pela trilha desconhecida.
— Por que você fez isso? — Sussurrou, apertando a barra de ferro contra os dedos que o impedia de cair em toda contemplação azul.
As lágrimas voltaram a cair pelas bochechas sendo abraçado pelo vento gélido em um aconchego silencioso.
Natanael encontrava-se sozinho e sentia que o tempo ao lado das pessoas que ama estava escapando sem que pudesse fazer nada para mudar essa trajetória. Tocou o pingente e sentiu-se aquecido, esperava poder reencontrá-los em um futuro próximo e consertar todos os erros.
Observou o céu acima da cabeça e contemplou a calmaria que aquele lugar trazia para dentro dele, o silêncio que tanto buscou durante os dias tempestuosos que corrompiam a mente. Questionava se Celine tinha sentido a paz tomá-la nos últimos suspiros de vida e queria poder ter estado ao lado dela quando a garota mais precisou e agora a única coisa que restava para Natanael seria esperar pela luz em seu momento mais sombrio. Ainda podia visualizar em meios as nuvens o sorriso feminino que aquecia o seu coração e que se manteria eternizado nas suas lembranças e coração.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
Oie, conta o que você está achando da história, isso me ajuda a melhorá-la.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro