ℭ𝔦𝔫𝔠𝔬 - 𝔓𝔯𝔬𝔪𝔢𝔰𝔰𝔞 𝔡𝔢 𝔲𝔪 𝔣𝔲𝔱𝔲𝔯𝔬 𝔦𝔫𝔠𝔢𝔯𝔱𝔬.
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Os três pararam em frente ao estabelecimento, Brendan precisou se apoiar na parede sólida para não cair com a tontura forte que o atingiu. Nathanael já sentia o corpo se acostumar com a sensação de estar se teletransportando dos lugares.
— Você vai me contar o que está acontecendo? — Brendan perguntou preocupado e fitou o amigo, esperando respostas sobre o que tinha sua irmã.
— Eu não sei como falar sobre isso. — Confidenciou, o estômago de Natan revirava sentindo a ânsia subir por sua garganta e o nervosismo impregnar enquanto a respiração tornava-se cada vez mais pesada, precisou se apoiar na parede para tentar normalizá-la tendo a visão embaçada ao se lembrar do ocorrido.
— Eu conto! — Eru falou animado. — Você morreu e nós... — Exclamou apontando para Nathanael em entusiasmo — te trouxemos de volta!
— O que? — A voz de Brendan saiu em um sussurro — como assim eu morri?
Antes que Eru abrisse a boca para continuar, Natan levou as mãos aos lábios dele o silenciando.
— Você já falou demais, deixe comigo. — A expressão fechada do demônio o fez retirar a palma..
Sentaram-se na calçada, Brendan mantinha o olhar fixo na rua, tentava assimilar o que havia escutado. Morte, aquela palavra ricocheteou em seu interior. Como poderia ter acontecido isso se estava bem ali? Por um momento a reação exagerada do melhor amigo ao vê-lo fez sentido, ele havia de fato morrido.
— Foi depois daquela festa. — A voz de Nathanael o acordou de seus pensamentos. — Eu busquei vocês, mas acabamos sofrendo um acidente no meio do caminho, você não resistiu. — O olhar perdido dele fez Brendan se culpar, ele não sabia qual era a sensação para as pessoas que haviam passado por aquilo. Natan ainda possuía a imagem vívida do acidente em sua memória — e-eu deveria ter prestado mais atenção na rua naquela noite, não teríamos que estar passando por isso e Celine não teria feito o que fez.
— O que ela fez? — Brendan perguntou cauteloso ao notar o olhar de Natan se escurecer.
— Talvez... A culpa tenha sido minha por não ter estado atento e presente, quando você morreu ela ficou devastada, não comia, não dormia, não falava com ninguém. Ela nem sequer conseguia olhar para mim. — Confessou abaixando o olhar para as mãos — eu não a culpo, as coisas aconteceram rápido demais.
— Nate, o que Celine fez? — Questionou sentindo o nó crescer em sua garganta, seu coração estava agitado.
— Ela se matou... — A voz disse em um sussurro.
— O que? — Brendan olhou para Nathanael buscando algum resquício que negasse aquela loucura, mas ao ver os olhos dele teve a certeza.
— Eu não consegui trazer ela de volta, mas com você aqui talvez possamos ter uma chance. — Seus olhares se encontraram e Brendan sentiu que aquilo poderia ser sua única chance.
— Então vamos fazer isso! — Falou determinado e se levantou estendendo a mão para o melhor amigo.
Os dedos de Natha seguraram a mão de Brendan sentindo que poderia existir uma luz em meio à toda aquela escuridão.
Eru observava ao longe os dois, não existia aquele tipo de afeição em seu mundo. Os humanos eram complexos demais para ele, o máximo de carinho que havia sentido por alguém foi por Amis que o acolheu.
— Vai ficar parado aí? Não era você que estava quase arrancando os cabelos atrás do seu mestre. — A voz zombeteira de Nathanael o fez revirar os olhos.
— Calado atroz! — Resmungou, escutando a risada de Brendan.
Andaram até o estabelecimento observando o Led colorido cintilar em tons verdes, Unreal, a entrada com portas de vidro que transparecia o local por dentro, além das luzes que piscavam na entrada. Mulheres estavam trajadas com roupas coloridas, que remetiam para personagens animados, com orelhas de diversos tipos sobre as cabeças. Algumas com coelhos, outras de gato, camundongos, uma variedade crescente.
Os sofás laranjas, cercados por mesas transparentes, uma banda tocava ao fundo em cima do palco. Na parede possuía um enorme telão no qual passava diversos vídeos de cantores famosos, discos de vinis foram espalhados pelas paredes e estantes repletas de cds. Alguns originais e até autografados.
Ao longe era possível avistar o bar, onde os bartenders criavam diversos drinques. Frutas estavam à mostra em recipientes de vidro intercalando entre bebidas mais leves à fortes, o cheiro adocicado impregnava nas roupas e narinas daqueles que adentravam o estabelecimento.
— Como vamos encontrá-lo aqui? — Nathanael gritou mais alto, abafando a voz com o volume da guitarra que ecoava pelo local.
— Ele nos encontrará! — Eru berrou em resposta.
Brendan os encarava confuso, perdido naquela situação, buscava alguma pessoa que seria estranha para estar naquele lugar, contudo, todos pareciam diferentes demais. Seus olhos focaram em um homem sentado na banqueta com um copo rente aos lábios, seus cabelos eram curtos e castanhos, o porte físico forte destacando-se na camiseta laranja que usava, mas tinha algo único nele, pois de seus dedos pareciam emanar um pó dourado. Piscou algumas vezes para ter certeza que não estava alucinando.
— É aquele? — Perguntou apontando para o homem, sentindo o olhar de Eru e Natan o seguirem, notando o sorriso largo no primeiro.
— Ele mesmo! Você é um gênio humano! Aprenda com ele! — Eru exclamou dando tapas nas costas de Nathanael, antes de começar a passar pelas pessoas em direção ao protetor.
Os dois se embrenharam no meio da multidão tentando chegar no bar, seguindo Eru que parecia passar com leveza em meio às pessoas.
— Mestre! — Ele exclamou contente, o homem se virou na direção deles, sorrindo.
— Finalmente me encontrou, já estava cogitando a hipótese de ter que ir te buscar. — Falou, sua voz grossa pareceu entoar sobre a música, Nathanael pode sentir a diferença física no homem, contudo, seus olhos continuavam os mesmos. Marcados pelo relógio desenhado em seu contorno. — Você deve ser ele. — Murmurou, fixando o olhar em Natan. — Nos encontramos novamente.
Nathanael manteve o olhar na mão estendida em sua direção, apertando, no mesmo instante um calor percorreu seu corpo sentindo as faíscas emanarem de seus dedos.
— Ele é diferente dos outros. — Eru murmurou recebendo a atenção de Amis.
— Ele é o certo dessa vez. — O homem sentenciou, virou o líquido por seus lábios e se levantou, tornando notável o tamanho monstruoso dele. — Mas acredito que não veio atrás de mim por isso. — Firmou o olhar em Natan.
— Não, estou aqui por causa de outra pessoa. — Amis o observou em compreensão.
— Vamos para um lugar mais reservado. — Seus dedos estalaram parando todas as pessoas ao seu redor.
Brendan observava aquilo abismado, não acreditava no que seus próprios olhos enxergavam.
Eru os encara divertido esperando os próximos passos do mestre, a mão de Amis foi para o pulso tocando o relógio. Um portal se abriu frente ao seu corpo, a luz ofuscante brilhava imensamente, os cegando momentaneamente.
— Então vamos? — Perguntou, caminhando tranquilamente. Amis entrou no círculo no qual desapareceu.
— Larguem de ser medrosos! — Eru exclamou, empurrando os dois rapazes à sua frente.
Nathanael sentiu o corpo ser jogado, fixando os pés contra a terra fofa. Ergueu os olhos encontrando a imensidão da mata verde, coberto por árvores e flores de todos os tipos, pássaros dançavam em meio às nuvens e criaturas os fitavam curiosos. Os corpos pequenos: como anões, as orelhas pontiagudas e a cor alternada, como um arco-íris, os olhos eram dois globos gigantes cinzas.
— Esses são os Nomus. — Eru sussurrou para que apenas os dois escutassem, seguindo Amis que estava mais à frente. — São eles quem cuidam da natureza, são criadores da vida.
Brendan fixou o olhar em um, notando o corpo jogado ao chão e as mãos espalmadas contra a terra, observou a planta brotar por entre sua palma, firmando contra o chão.
— Depois que eles plantam, os Rivus aparecem para regá-las, tornando-as em enormes árvores. — Completou, reparando no olhar admirado de ambos.
— Que lugar é esse? — Natan perguntou curioso.
— O templo de Amis, onde ele tira os seus dias para repousar, estamos no Reino Vitam, "Ad vitam aeternam.'' — Sussurrou.
— Para a vida eterna. — Eru virou para Nathanael surpreso.
— Você conhece?
— Meu pai costumava me ensinar Latim. — O demônio sorriu satisfeito, tinha conhecimento que os mortais desde novos precisavam ter ensinamentos acerca de outras línguas o que facilitaria caso um dia fizessem a transição entre os reinos.
Entraram na cabana alaranjada, coberta por plantas, tudo naquele lugar representava vida. Por dentro o cômodo que parecia pequeno tinha uma proporção majestosa, repleta de portas, a sala possuía o dobro de tamanho do apartamento de Brendan.
O sofá era estofado, macio ao se sentarem, sentiram seus corpos afundarem como se o tecido os abraçassem. As paredes eram douradas repletas de desenhos, esses que nenhum dos dois possuíam conhecimento. Não havia nada eletrônico, apenas manual, o fogão era à lenha, entretanto, duvidavam a crer que Amis precisasse utilizá-lo.
— Está aqui pela sua namorada, certo? — A voz grossa reverberou pelo cômodo como um trovão, em suas mãos havia uma bandeja que foi depositada sobre a mesa de madeira, possuindo um bule e algumas xícaras. — Isso é chá, acalmará as sensações de turbulência que tiveram que enfrentar. — Explicou.
— Ela foi levada, eu não sei o motivo, mas precisamos trazê-la de volta! — Natan sentenciou, pegando um pouco do líquido para si.
— Nós iremos. — Amis sentou-se na poltrona e cruzou os braços em frente ao corpo, marcas fortes em tons escuros eram formadas por todo seu braço, destacando-se na pele dourada.
— Me desculpe mestre, eu juro que tentei só trazer ele, mas esse mundano é impossível! — Bradou, recebendo um sorriso do possuidor.
— Ele apenas seguiu o que estava predestinado a fazer. — Sua voz serena pareceu acalmar os ânimos do demônio. — Você deve ser Brendan, o rapaz que trouxeram de volta, como está se sentindo?
Brendan sentiu a surpresa lhe preencher com aquela simples pergunta.
— Não sei... — Declarou perdido.
— Sente alguma dor? Algo de diferente em seu corpo? — Brendan balançou a cabeça em negação. — Então conseguiram realizar a transição perfeitamente, é perigoso mexer com o Tempo.
— Eu disse isso a ele! — Eru apontou para Nathanael incrédulo. — Ele não pareceu se importar! — Amis riu levemente.
— Eu não poderia deixar isso passar sabendo que poderia mudar o que aconteceu! — Exclamou Natan indignado.
Eru abriu a boca prestes a dizer algo, contudo a mão erguida de Amis o fez se calar.
— Eu já estive no seu lugar, tentei mudar o meu passado para ter um futuro, mas isso não quer dizer que seja o certo, não podemos mudar algo que já aconteceu. — Decretou, sentindo o olhar firme do rapaz. — Isso me fez abrir mão de muitas coisas. O que você fez pode interferir na vida de todos ao seu redor, o que aconteceu exatamente com Mabel.
— O que isso quer dizer? O que aquela mulher quer com Celine?
— O mesmo que eu quero de você Nathanael, um sucessor. — Amis levou a xícara aos lábios sentindo o sabor agridoce em sua garganta.
— Um sucessor? — Natan perguntou, transparecendo a confusão que se formava em sua mente que refletiu em seu olhar.
— Todos nós possuímos o nosso Tempo, uma hora nós devemos partir, a única diferença é o Tempo que temos nesse mundo e o que estamos predestinados a realizar, a minha hora está chegando ao fim e por isso procuro um sucessor, alguém como você.
— Irônico alguém que controla o tempo estar ficando sem ele. — Brendan murmurou baixo, não percebendo o sorriso largo nos lábios do outro.
— Até eu, o Senhor do Tempo possuo minhas fraquezas.
— Mas o que isso envolve Celine? — Natan questionou.
— Celine foi a escolhida por Morrígan, mas os pensamentos dela divergem sobre os meus, Morrígan busca alguém incapaz de sentir, uma pessoa que possa fazer o trabalho de tirar a vida diante dos olhos de outrem e ela encontrou isso em Celine. Ao ver a forma como a garota ficou com a morte do irmão, porém ela não percebe que a morte é o que dá sentido à vida, ela acredita veemente que apenas os insensíveis podem realizar tal feitio.
— Ela não poderia fazer isso, vai contra as regras! — Eru disse abismado. — Ela invadiu outro Reino para isso.
— Morrígan nunca seguiu nossas regras, ela sempre criou as próprias regras.
— Como iremos atrás dela? — Brendan o fitou perdido, sem conseguir encontrar uma solução.
— Nós iremos para Damnato, você irá conosco, isso pode nos ajudar a trazer
Celine. — Brendan concordou notando Amis se levantar. — Irei preparar os aposentos de vocês, precisarão estar descansados, há muito a ser enfrentado pelo caminho, me ajude Eru. — Falou, observando o mesmo se levantar e sumir pelos corredores seguido pelo aprendiz.
Brendan depositou a xícara sobre a mesa sentindo o corpo pesar e a visão escurecer, o cansaço tomou cada um de seus membros, sendo engolindo por seus sonhos. Nathanael o encarou assustado, sacudindo o corpo do amigo que parecia em um sono profundo.
— Ele ficará bem, é apenas para poder repor as energias. — A voz de Amis surgiu em meio a sala, Natan ergueu os olhos. — Venha comigo, Eru irá cuidar dele, precisamos conversar.
Nathanael se levantou olhando novamente para Brendan antes de seguir o Senhor do Tempo, temeroso, não confiava no Protetor.
Passaram por uma porta cobreada revelando um imenso azul, seu olhar focou na água translúcida, mostrando seu próprio reflexo. Sobre suas cabeças o céu repleto de constelações brilhava, as estrelas pareciam brincar entre si, dançando pela vasta abundância.
— Para realizar o que deseja, preciso ter a sua palavra. — Amis virou o olhar em sua direção.
— Sobre o que?
— No momento certo você saberá, preciso que tome o seu lugar Nathanael, mesmo sabendo que para isso terá que pensar em abrir mão do que possui. Precisará abandonar aqueles que ama e seguir o seu destino.
As palavras martelaram contra sua cabeça.
— Abandonar? — Questionou temeroso.
— Todo dom exige algo em troca e é preciso ter certeza que você não irá vacilar quando eu mais precisar, não possuo mais a mesma força. — A voz inabalável do homem reverberou por sua mente.
— Se eu prometer que farei isso, Celine e todas as pessoas que eu amo ficarão seguras?
— Eu farei o possível para que isso aconteça.
— Não, você terá que me dar a certeza sobre isso! — Proferiu firme — nada acontecerá com eles.
— Eu prometo, manterei seus amigos seguros.
— Então você tem minha palavra, eu tomarei o meu lugar quando o momento certo chegar.
As mãos de Amis se ergueram, o brilho intenso ricocheteou de seus dedos subindo ao céu e explodiu em fragmentos. Luzes douradas flamejantes dançaram em torno dos cabelos negros de Natan, firmando um acordo. As vozes deles ecoaram pela vastidão sombria, repercutindo, um pacto havia acabado de ser selado.
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