𝔖𝔢𝔱𝔢 - 𝔑𝔲𝔫𝔠𝔞 𝔠𝔬𝔫𝔣𝔦𝔢 𝔢𝔪 𝔲𝔪𝔞 𝔣𝔞𝔡𝔞.
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A risada ecoava pela imensidão verde, os corpos corriam por entre as árvores e a felicidade exalava por entre eles. O casal sorria apaixonadamente enquanto se deliciava com o nascer do sol que contornava o céu anunciando a chegada do dia.
A cesta de piquenique estava instalada sobre a grama acima da toalha vermelha, sentaram-se enquanto a garota depositava seus fios castanhos no colo do rapaz que depositou um beijo carinhoso na testa dela, acariciando seus cabelos e colocando uma flor em seus cachos.
Contudo, a nuvem negra aproximou-se, e a trovoada anunciou a tempestade que chegava, a água do rio balançou violentamente e inundou a terra, chegando até eles. Os sorrisos transformaram-se em temor.
As mãos dele seguraram a da amada tentando protegê-la, porém a correnteza parecia arrastá-los para dentro das águas frias. Os dedos apertaram os dela, tentando ajudá-la.
O desespero atingiu no momento que constatou o pior, ela não sabia nadar.
Manteve a mulher em suas costas enquanto buscava alcançar o solo, mas o pior aconteceu. Uma onda ergueu-se sobre suas cabeças, afundando-os. Ao submergir o grito desesperado ecoou de sua garganta clamando o nome de seu amor até encontrá-la - boiando e sem vida, as águas não eram mais cristalinas e sim escuras, e ao virá-la o ar fugiu de seu peito ao vislumbrar a morte diante de si.
Ela não possuía mais as lindas esferas esmeraldas, agora seus globos eram apenas dois buracos vazios. Foi quando um sorriso tomou a face da mulher e a risada seca e estrondosa tomou a audição dele.
— Olha o que você fez, Nathanael, você me matou.
Sentiu as mãos femininas apertarem seu pescoço e a escuridão engoli-lo.
Nathanael abriu os olhos assustado ao sentir a respiração forte bater contra seu rosto, e gritou ao ver as enormes presas próximas de seu pescoço. Ele deu um pulo da cama caindo com tudo no chão, despertando Eru que esticou os braços preguiçosamente.
— O que está fazendo jogado aí? — O demônio arqueou a sobrancelha, debruçando-se sobre a cama e analisou a expressão de espanto do outro.
— Não me lembro de ter deitado com você ontem à noite. — Nathan falou incerto, se sentando com as pernas cruzadas e passou as mãos pelo cabelo confuso e atordoado pelo sonho que tivera.
Depois da conversa com Amis ambos retornaram para dentro, Brendan não estava mais na sala, provavelmente tinha ficado em algum dos quartos, ele caminhou entre as diversas portas encontrando o cômodo vazio e se deitou na cama caindo no sono. Lembrava-se claramente de estar sozinho não com Eru em seu encalço.
— Ah! — Eru exclamou divertido ao ver a fisionomia de Nathan que parecia envergonhado. — Você quem invadiu meu quarto, eu só deitei na cama, não queria te acordar parecia estar em um sono profundo e ao dizer pela sua expressão nesses dias acho que estava precisando disso. — Comentou com a mão sobre o queixo.
— É, mas não é legal acordar com um par de presas quase cravadas no meu pescoço. — Murmurou contrariado, arrancando uma risada de Eru.
— Vou me recordar disso da próxima vez! — Falou sorridente se levantando.
Nathanael o olhou inconformado, como se realmente fosse existir uma próxima vez para isso, balançou a cabeça levantando-se preguiçosamente. Ambos saíram seguindo pelo amplo corredor.
Eru não escondia sua verdadeira forma, estava livre de ter que usar as amarras que ocultavam sua verdadeira identidade o que melhorava consideravelmente seu humor. Odiava ter que se adaptar conforme os gostos de outros, Amis não exigia que ele o fizesse, mas algumas circunstâncias longe de seu mundo mostraram a realidade além de sua casa.
Pararam em frente a enorme mesa de madeira redonda, na qual possuía variadas frutas para se alimentarem com uma jarra em seu centro.
Brendan conversava animadamente com Amis, ele mantinha o olhar admirado pelo outro ao escutar sobre todos os reinos que o mais velho tinha estado durante todos aqueles anos quando se tornou o Senhor do Tempo.
Sem cortarem a conversa, os dois se sentaram junto a eles desfrutando da comida em silêncio, Eru trocava breves olhares com o mestre como se conversassem entre si e de fato estavam. Tinham uma conexão incomum diferente de qualquer um, como se soubessem exatamente o que se passava pela cabeça do outro.
— Aconteceu alguma coisa? — Nathanael quebrou o clima estranho que tinha se instaurado, intercalando o olhar entre os dois, diferente de Brendan que o encarou incrédulo pela sua falta de senso.
— Partiremos logo depois de comer. — Amis proferiu decidido.
— E como faremos para chegar lá? Vamos usar algum dos portais mestre? — O homem balançou a cabeça em negação.
— Iremos andando, passaremos pelos vales e vilarejos até chegar em Damnato. — Sentenciou, levando a xícara aos lábios, seus olhos estavam fixos no porcelanato enquanto sua mente vagava pelas imensas possibilidades para chegar ao local desejado.
— Quanto tempo levará para chegarmos lá assim? — Brendan nos olhou curioso, aquilo era tudo muito novo para o rapaz que ainda se sentia perdido em meio a tanta informação.
— Se formos rápidos e não tivermos qualquer contratempo talvez leve dez dias.
— Não podemos demorar tudo isso! — A voz alta despertou a atenção deles, além da força com que as mãos de Nathanael bateram contra a mesa. — Por que simplesmente não atravessamos algum desses portais para lá? — Encarou Amis, esperando que houvesse uma solução mais prática e rápida.
— As coisas não são simples dessa forma Nathanael. — Disse firme. — Há efeitos colaterais para cada uma de nossas viagens, ainda mais para quem não possui o dom. — O olhar dele focou em Brendan. — Você não quer que todo o seu sacrifício para trazer Brendan de volta seja inútil, ou quer? — Perguntou, encarando-o.
Nathan sentiu o peso em seu corpo, caindo sobre a cadeira, inclinou a cabeça para olhar o teto que era coberto por flores. Suspirou pesadamente levando as mãos ao rosto inconformado.
— Não, eu não quero isso. — Declarou.
— Ótimo, agora que já decidimos podemos começar nossa viagem.
O barulho da cadeira sendo arrastada o obrigou a encarar os presentes, sentindo o olhar de Eru e Brendan sobre si, diferente de Amis que apenas se retirou em silêncio.
— Se pudesse, já teria feito isso, mas não é fácil. — Eru falou calmamente. — Nós chegaremos lá e é isso que importa, agora vamos! Não podemos demorar. — Completou se levantando e seguindo o mesmo caminho de seu mestre para fora da casa.
— Vai ficar tudo bem Nate, não se cobre tanto. — O amigo apertou seu ombro.
— Como pode ter certeza disso? — Perguntou, estava cansado, sua mente parecia não ter descanso. Seus pensamentos o levavam para a escuridão, o deixando apreensivo em pensar sobre as situações ruins que poderiam acontecer, principalmente com Celine.
— Eu sinto. — Brendan falou sorridente recebendo um revirar de olhos de Nathanael. — Estou falando sério! — Exclamou divertido — deve ser aquela ligação estranha que gêmeos costumam ter.
Ele encarou Brendan que mantinha a fisionomia serena, estendendo a mão para o amigo. Nathan a segurou sentindo um certo peso sair de seu coração quando os braços de Brendan envolveram seus ombros em um abraço.
— Você não precisa guardar tudo para si, agora eu estou aqui do seu lado, sempre teremos um ao outro agora só falta Celine. — Falou despreocupado, bagunçando os cabelos de Nathanael que fez uma breve careta, mas sorriu verdadeiramente após escutar aquilo.
Saber que sempre teria Brendan ao seu lado era como um combustível para ele.
Ao passar pela porta encontrou Amis e Eru conversando, os dois estavam escorados em uma árvore apenas esperando eles para poderem partirem em direção ao Reino de Flos.
— Como iremos? — Nathan perguntou, analisando-os.
Eru sorriu ladino, suas asas abriram revelando a coloração escura tocando levemente o chão com suas garras, formando um círculo, o brilho avermelhado espalhou-se pela terra dissipando entre eles com o bater firme de suas asas, o soprando para longe.
Um rugido foi escutado ao longe revelando a imensa criatura com três caudas que voava pelas nuvens com maestria, suas asas eram maiores que seu corpo esverdeado coberto por escamas. Seus olhos felinos de tom laranja os fitavam intensamente, aproximando-se deles pousou à frente de Eru.
Seu focinho tocou o demônio e Nathanael jurava que havia visto a criatura sorrir com seus dentes pontiagudos.
— Carin levará vocês! — Comentou animado e indicou para que eles subissem em suas costas.
Nathan esperou Amis fazer o trajeto, mas ele apenas sorriu.
— Você não irá? — Olhou incerto para o possuidor.
— Sim, mas tenho outros métodos, não gosto de voar. — Respondeu calmamente — você e Brendan que irão com ela. — Os dois trocaram olhares apreensivos.
— Mas como você... — Antes de terminar a frase Amis levou a mão ao relógio sumindo de sua visão. — Que mestre você tem! — Falou indignado.
Eru gargalhou, balançando a cabeça tentando conter a risada.
— Ele não gosta de altura, agora vamos! — Disse ajudando Brendan a subir em Carin esperando Nathanael que criava coragem para fazer o mesmo — aconselho que se segurem e de preferência bem forte. — Comentou passando o dedo pelas escamas dando lugar para rédeas o que facilitaria e ajudaria a se manterem seguros. — Não faça gracinhas Carin. — Eru murmurou travesso, recebendo um aceno da criatura.
O demônio ateou suas asas erguendo aos céus junto de Carin que em um impulso firme contra a terra alçou seu voo, arrancando um grito de Brendan e deixando Nathan apreensivo que apertava de modo doloroso as amarras com medo de cair.
Voavam pelos céus sentindo o vento bater contra seus cabelos, os bagunçando, Brendan olhava maravilhado para a imensidão azul à sua frente. As nuvens passavam por eles sumindo quando Carin as atravessava.
— Isso é incrível! — Exclamou Brendan eufórico — queria poder ter asas para sempre apreciar essa sensação. — Seus olhos brilhavam observando os pássaros que os acompanhavam.
— Sinto que vou vomitar. — Nathanael comentou, arrancando uma gargalhada do amigo. — Estou falando sério! Agora sei porque Amis fugiu. — Contorceu os lábios.
— Não seja careta, quando na vida imaginou que faria algo assim? — O amigo perguntou extasiado. — Nem em meus sonhos mais loucos eu estaria vivenciando isso! — Fixou o olhar em Nathanael que ponderou sobre o assunto.
— Você tem razão. — Disse levando o olhar para frente apreciando o céu. Soltou uma das mãos esticando ao lado sentindo o ar tocar sua pele, sorrindo, era um momento único para eles.
— Estamos chegando! — Eru exclamou aparecendo subitamente ao lado de Nathan que se assustou perdendo a corda que segurava sentindo o corpo ser levado ao ar.
— Nate! — Brendan gritou assustado seus olhos arregalados ao ver o melhor amigo ser jogado na imensidão.
Eru piscou estático, surpreso pelo que havia acontecido, ele ergueu as asas virando na direção do rapaz que caia descontroladamente rumo ao chão. Natan perdeu a voz ao tentar gritar com o susto principalmente pelo ar que adentrou sua boca sentindo a garganta queimar, em choque de que estava prestes a morrer.
Fechou os olhos apenas esperando o momento que iria colidir contra a terra, esmagando-o, estraçalhando seu corpo, mas as asas lhe circularam amortecendo a queda e o impacto. Ecoando o barulho ensurdecedor de algo batendo contra o chão duro abrindo uma enorme cratera.
— Aí! — Escutou o resmungo vindo do corpo embaixo ao seu, abrindo os olhos rapidamente.
Encarou Eru assustado ao ver o demônio completamente destroçado, com sangue escorrendo do corpo e a pele rasgada. Levantou em um sobressalto analisando o próprio corpo não encontrando nenhum hematoma ou machucado.
— Você está bem? — Perguntou alarmado, o olhando preocupado.
— Não se preocupe comigo, você se machucou? — Eru levantou lentamente, apoiando-se na terra contendo as caretas de dor. Suas asas estavam amassadas, em carne viva com penas caindo ao seu redor. — Foi um susto e tanto hein! — Falou divertido, sorrindo, mas o mesmo logo murchou ao ver o olhar de pânico de Nathanael.
— Como você ainda está vivo? — O rapaz encarou Eru amedrontado, aproximou-se temeroso. Ele tocou o braço do demônio checando se ele realmente estava vivo. — Ou será que eu morri? — Comentou com o olhar arregalado.
— Não seja dramático Nathan. — Eru falou divertido dando um beliscão no braço de Nathanael que gritou de dor — viu só? Morto você não está! — Disse rindo ao ver a carranca que se formou nele. — Vamos encontrar o pessoal, eles devem estar preocupados. — Tocou o ombro dele em conforto.
Saíram pela mata adentro procurando por Brendan e Carin, durante o caminho os machucados de Eru foram se dissipando saindo dos tons acobreados, para o roxo vívido até estarem completamente secos retornando para sua cor.
Suas asas ainda estavam machucadas, para elas era um processo mais lento e demorado. Não poderia escondê-las daquela forma apenas quando estiverem cicatrizadas.
Nathanael olhava de soslaio para Eru para confirmar que o mesmo estava bem, caminhavam em completo silêncio chegando a ser incômodo para ele. Suas mãos estavam dentro dos bolsos olhando as diversas árvores que cercavam sua vista. Um tilintar soou pela sua orelha, arrepiando sua nuca.
Passou a mão pelo ouvido tentando afastar algum mosquito, porém escutou uma risadinha baixa, próxima o suficiente.
Seu rosto se virou encarando a pequena fadinha que o olhava curiosa com um sorriso largo nos lábios, os cabelos castanhos estavam presos em um coque com as asas transparentes a mantendo no ar. Usava um vestido lilás com dois pompons em cada pulso.
Piscou tentando centralizar o rosto dela que se aproximou circulando o rapaz, analisando-o, o olhar curioso brilhava com as bochechas coradas. Rindo divertida, sua voz melodiosa adentrou os ouvidos de Nathanael escutando sussurros baixos.
Estava encantado na figura a sua frente, lhe acompanhando. A fada sentou-se em seu ombro balançando as pernas sorridente.
— Você escutou o que eu disse? — A voz raivosa de Eru o despertou daquela ilusão.
— O que? — O olhou incerto, notando a expressão nada amigável que recebeu.
— Disse para andar mais rápido! Não podemos demorar aqui.
— Por que? É um lugar tão bonito. — Comentou desviando a atenção para a fada que mantinha a mão apoiada no rosto o encarando.
— Bonito e perigoso. — Eru falou severo, não tinha notado o desatento de Nathan e nem o motivo para tal, apenas o arrastando floresta adentro.
O cheiro das flores impregnava o local, adocicando suas narinas, as cores vivas deixavam Nathan encantado com tamanha beleza. As roseiras estavam espelhadas por eles de todos os estilos com pequenos frutos pendurados em alguns galhos, dando certa sensação de fome mesmo que tenham comido o suficiente antes de partirem.
— Pegue uma. — A voz fina sussurrou em seu ombro com o olhar fixo na fruta redonda de cor roxa, seus dedos coçaram para comê-la.
Estava prestes a levar o alimento à boca quando sentiu o tapa forte em sua mão encontrando o olhar furioso de Eru.
— Eu disse para não comer nada! — Esbravejou, Nathanael encolheu o ombro incerto.
— Mas ela disse que podia. — Falou contrariado, recebendo o olhar atento do demônio que cravou na fada.
— Você! — Eru exclamou raivoso, dando um peteleco na criatura que o encarou com fúria voando para longe dos dois. — Não confie nas fadas elas são perigosas e extremamente manipuladoras, pior que as sereias! — Disse severo.
— Perigosas? Mas são tão pequenas — murmurou, olhando para onde ela tinha ido os deixando sozinhos.
— Aí é onde está o problema, elas podem parecer inofensivas, mas coma uma dessas frutas e você se tornará um dos escravos dela! — Nathanael o fitou surpreso, abismado com aquilo.
Em todas as histórias que conhecia fadas eram extremamente fofas, diferente do que Eru estava lhe contando, porém preferiu não arriscar duvidar do demônio. Não queria se tornar um fantoche.
Continuaram o trajeto até sua atenção focar em Brendan que estava sentado na grama ao lado de uma garota de cabelos verdes. Sua pele parecia brilhar e possuía escamas em torno de seu pescoço que era a única parte exposta tendo o resto coberto por uma capa preta.
Ela se virou sorrindo largamente para Eru correndo em direção a ele e o esmagando em um abraço.
— Quase nos matou de preocupação! — Falou alegre, virando para Nathan que observou seus olhos laranjas como de um felino. — Vejo que saiu ileso da queda, foi um susto e tanto. — Ela sorriu serena.
Ele franziu o cenho confuso tentando se lembrar dela, mas seus olhos eram extremamente familiares.
— Precisamos achar Amis, onde ele está Carin? — O nome piscou na mente de Nathanael que arregalou os olhos encarando a garota pasmo.
— Ela é a Carin? — Perguntou abismado, escutando a risada da menina que acenou a cabeça em afirmação.
— Inacreditável, né? — Brendan comentou se aproximando dos três. — Deveria ter visto quando paramos aqui, quase desmaiei de surpresa. — Disse rindo e arrancando um sorriso dela.
— Amis nos espera, ele está com Fleury. — Eru fechou o semblante.
— Por que simplesmente não continuamos nosso trajeto? — Falou mal-humorado.
— Ela é a protetora das fadas e certamente só pelo fato de Amis estar aqui quer dizer que tem algo acontecendo e você sabe como ela é curiosa.
— Fadas são chatas! — Exclamou caminhando e obrigando-os a segui-lo.
— Não mais que os gnomos, eles não param de cantar. — Murmurou Carin divertida.
— Também há gnomos? — Brendan perguntou eufórico com a possibilidade de vê-los.
— Sim, dê um sorriso para eles e te arrastam para o meio de sua cantoria, não é Eru? — Exclamou Carin em tom zombeteiro ao olhar para o demônio.
— Nem me lembre disso! Fiquei com aquela canção na cabeça durante meses!
Nathanael gargalhou ao imaginar o demônio rabugento tendo que cantar com um amontado de gnomos.
Pararam em frente a um castelo, coberto por flores, exalando vida. A entrada era uma grande muralha rosa cercada por um rio, sendo possível ver os peixes coloridos nadando por entre as algas. Árvores cobriam suas paredes, com raízes que rasgavam o chão.
O barulho da corneta anunciou a chegada deles, revelando um homem trajado de roupas marrons em sua pele que mostrava as veias extremamente verdes destacando-se e percorrendo as partes expostas pelo traje. Seus cabelos castanhos com uma coroa de folhas em seu topo. Ao focar nos olhos, estes eram verdes em seu centro e marrom a sua volta.
— Olá Fons! — Carin falou empolgada, acenando para o guarda que abriu um breve sorriso.
— A protetora os espera. — Declarou, esticando a mão para o centro do rio formando uma ponte de madeira feita de galhos e plantas ao seu redor com um enorme arco os recepcionando com os dizeres:
"𝐁𝐄𝐌-𝐕𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐀 𝐅𝐋𝐎𝐒, 𝐀 𝐓𝐄𝐑𝐑𝐀 𝐎𝐍𝐃𝐄 𝐒𝐄𝐔𝐒 𝐃𝐄𝐒𝐄𝐉𝐎𝐒 𝐒𝐄 𝐓𝐎𝐑𝐍𝐀𝐌 𝐑𝐄𝐀𝐋𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄."
— Grande mentira. — Murmurou Eru andando à frente deles.
— Os desejos se realizam, basta saber pedi-los de coração. — Disse Fons.
— Ou ler as entrelinhas antes de assinar um contrato com as fadas. — Declarou Carin, recebendo um sorriso ladino de Fons.
— O que isso quer dizer? — Brendan arqueou a sobrancelha desconfiado.
— Que nunca se deve firmar um acordo com as fadas, elas sempre se beneficiarão em cima do seu desejo, são piores do que o Rumpelstichen! — Eru tinha o olhar gélido.
— Que desejo você pediu? — Nathanael o olhou curioso.
— Ele quase se casou com Merfy, após pedir um pouco de amor na vida. — Fons disse divertido recebendo um olhar fulminante.
— E quem é essa?
— A fada que estava tentando te induzir a comer o mirtilo e eu só pedi isso porque Carín duvidou dizendo que eu só sei reclamar! — Exclamou contrariado, recebendo um sorrisinho dela.
— Ela gostava dele então convenceu Eru a fazer um pedido e com isso ele quase caiu nas lábias da fada. — Carin riu ao se lembrar da situação e de ver Amis ter que intervir para o demônio não acabar se tornando uma fada e casado.
Adentraram o salão principal onde estava Amis e uma linda mulher com cabelos rosas caídos a altura de seus quadris, os olhos eram de um intenso violeta com um vestido coberto por flores. Em sua pele parecia existir pequenos pós de glitter com as asas roxa abertas e ao seu lado tinha um outro homem, seus cabelos tão verdes quanto os de Carin, em seus braços possuíam raízes que tomavam todo seu corpo trajando uma túnica bege com os olhos laranjas que lembravam folhas secas na época de outono.
— Esse é Avalon, o protetor das florestas. — Sussurrou Eru para os outros dois que estavam completamente perdidos em como agir.
— Aproximem-se, não tenham medo. — A voz escultural dançou por seus ouvidos.
Eles andaram até onde Amis estava, intercalando o olhar entre os outros governantes.
— Você é o jovem escolhido, o destinado. — Fleury analisou Nathanael, vislumbrando-o, percorreu seus olhos por cada centímetro do rapaz que começava a se sentir desconfortável.
— Não amedronte nosso convidado Fleury. — A voz grossa de Avalon preencheu o salão, os causando arrepios. — Agora que todos estão presentes podemos dar início a nossa reunião e o real motivo de estarem em nossas terras. — Olhou firme para Amis que deu um breve sorriso.
— Estamos apenas de passagem, iremos para Damnato. — Fleury arqueou a sobrancelha curiosa, seus olhos brilharam com a menção do reino.
— Acredito que Morrígan não o queira em suas terras.
— Tenho assuntos sérios a tratar com ela. — Amis manteve o semblante sério.
— Assuntos sobre o seu querido escolhido. — Ela afirmou fitando Nathanael com um sorriso cínico — o que de tão importante esse garoto tem? Adoraria tê-lo conosco para conhecê-lo melhor.
— Sinto desapontá-la, mas não ficaremos, apenas estou aqui porque seus soldados me obrigaram a vir até seu castelo. — O Senhor do Tempo murmurou, a voz exalava fúria.
— Não seja rude Amis, sempre temos tempo de sobra. — Falou debochadamente.
Seus dedos estalam revelando a enorme mesa repleta de sobremesas, o olhar da fada recaiu sobre Nathan de forma intensa. As cadeiras se arrastaram os obrigando a se sentar, suas mãos foram presas por raízes mantendo eles encurralados.
— O que está fazendo? — Avalon a questionou surpreso, ela se virou para o homem seu olhar mortífero o fez se calar.
— Estou apenas curiosa. — Comentou, aproximando-se lentamente de onde Nathanael estava, seus dedos tocaram o cabelo dele puxando de forma que ele a encarasse. — O que faria Amis ir para Damnato? O lugar que fez ele perder seu precioso dom. Apenas por causa de um simples humano, é algo a se pensar. — Sorriu presunçosa, suas unhas passaram pela garganta dele.
— Pare com isso, Fleury! — Amis falou severo — não me obrigue a ter que intervir.
— Você? — Ela gargalhou — você está no meu reino quem dita as regras aqui sou eu. — Disse ríspida.
Nathan engoliu em seco ao sentir as unhas afiadas arranharem seu pescoço, sua respiração se tornava cada vez mais pesada com o olhar feroz que a fada lançava, seus olhos se fecharam. Fleury aproximou-se de seu ouvido sussurrando palavras doces, o pó lilás rodeava ambos, adentrando as narinas dele.
— Agora me diga o real motivo de você estar aqui e ter saído de seu reino. — Ela proferiu, Nathanael abriu os olhos que agora eram tomados de um rosa intenso.
Sua boca se abriu, estava prestes a dizer, mas um ar forte soprou contra seu rosto levando o pó para longe de si trazendo a cor natural de seus olhos, impedindo que a fada o manipulasse.
— Não ouse! — Bradou virando irada para Amis que estava em pé.
As mãos dele foram para o relógio, revertendo os ponteiros retornando para minutos antes de estarem presos. Em um movimento ágil, as mãos de Fleury estavam presas pelas garras de Eru que sorria zombeteiro impedindo-a de realizar sua magia.
— Quero apenas o mapa da cidade das Almas Perdidas. — Amis proferiu encarando Avalon que meneou a cabeça em afirmação.
Ele levou a mão ao centro da mesa de madeira e a areia começou a dar forma para toda a cidade onde Morrígan governava, mostrando cada um de seus atalhos e perigos. A areia tornou-se dura misturando-se a terra, os dedos de Avalon comprimiam esticando-se em galhos fixados por cada lacuna dando vida para a maquete do lugar, transformando-o em um pergaminho.
— Por que está ajudando eles? — Fleury perguntou furiosa.
— Não devemos interferir no desejo do oráculo, você sabe disso melhor do que ninguém. — Sentenciou, o olhar dela tornou-se frio. — Aqui está faça bom proveito meu velho amigo. — Avalon decretou sorrindo para Amis que correspondeu, ambos apertaram as mãos se despedindo.
Uma porta se materializou diante deles, seria a forma como conseguiriam ultrapassar para longe de Flos e seguirem seu caminho. Amis sinalizou para Nathanael que arrastou Brendan, ambos sumindo em meio a luz branca sendo acompanhados pelos outros três.
Ainda pode escutar o grito furioso da protetora de Flos, contudo Amis não permitiu que Nathan virasse para trás, obrigando-os a seguir em frente.
Estavam apenas no início de sua trajetória.
✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶
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