TOP OF THE ROCK
Top of the Rock
Liza
Meu corpo se movia suspenso no ar. Ergui o rosto e vi que algo quente me carregava. Forte e dono de uma fragrância envolvente. Algo que respirava arquejante, de uma maneira tensa. Andávamos em meio a neve caindo em flocos sob nossas cabeças. Reconheci quem era e após alguns instantes me situei dos fatos. Esfreguei os olhos e falei com a voz embargada:
- Pode me botar no chão,Adrian, já acordei. – Dessa vez eu mantinha a recordação do desmaio, não que isso fosse me servir de alguma coisa, mas pelo menos eu vi Nathaniel. Torci para que Ethan não tomasse conhecimento disso.
- Fica quieta. – Ele rosnou.
- Você está com raiva de mim? – o questionei confusa e comecei a me debater para que me soltasse. – Me põe no chão!
- Dá pra parar com isso? - Adrian elevou a voz e me olhou fixamente.
Pela primeira vez, pude sentir a dor que ele carregava quando fitei suas íris púrpura. Pareciam relutavar com as lágrimas.
De repente Adrian parou de se mover e girou o corpo para os dois lados, como se conferisse se havia aguém nos observando. A rua estava deserta.
Vi sua camisa se romper em seu peito enquanto suas asas surgiam em suas costas, abrindo-se na lateral. Se é que era possível, sem camisa ele tinha a temperatura ainda mais quente e eu ainda em seu colo não pude deixar de me abalar com isso.
Suas asas farfalharam ruidosamente com o vento enquanto ele nos elevava do chão suavemente.
Espera, estamos voando?
Arrisquei um olhar para baixo e tive frio na barriga. Muitos metros já nos distanciavam do chão, o voo era tão suave que me fez pensar em uma velocidade mais lenta. Aninhei-me mais em seu pescoço, em uma reação provocada pelo medo.
- Quer que eu te solte agora, Liza? – falou com um sorriso irônico na voz.
- Você escolhe os piores momentos para suas piadas. Aonde estamos indo, posso saber?
- Para o topo do Rockefeller.
Não entendi o motivo desse passeio noturno pós desmaio, mas optei por me manter calada até que meu corpo estivesse em solo fixo, pois Adrian parecia transtornado.
Ainda relutante, ele me colocou no chão e eu me ocupei em retomar o fôlego antes de assimilar a vista.
- Adrian? – o chamei ainda de costas para as grades que me dariam a visão de Nova Iorque. Deduzi que estaria toda iluminada aquela hora da noite e coberta de neve.
- Shhh – ele levou o indicador a boca e me virou suavemente pelos ombros, deixando-me de costas para ele. – Olhe, Liza.
Seu corpo estava totalmente colado ao meu e apesar da neve, sua pele me fez sentir calor. Inspirei com força, esperava que o ar gelado me trouxesse de volta a minha sanidade e observei Nova Iorque, do topo do Rockfeller Center. A cidade cosmopolita, vista assim iluminada pelos prédios gigantes e branca como algodão, tinha um ar diferente, sedutor e ao mesmo tempo quase melancólico. Esqueci por alguns segundos o pesadelo daquela noite e relaxei ao admirar a paisagem.
Adrian me envolveu com suas asas e meu medo se esvaiu por meus poros. Uma calma arrebatadora o subistituiu.
Ficamos alguns minutos em silêncio e passado o efeito terapêutico, me virei de frente e dei um passo atrás para me desvencilhar de suas asas. Mas ele deu um passo a frente e passou as mãos por minha cintura.
- O que você está fazendo?
- Ficando agarradinho com você. – respondeu como se fosse a coisa mais natural do mundo e esfregou a ponta do nariz no meu.
- Eu não quero ficar agarradinha com você, Adrian. – espalmei a mão em seu peito e tentei empurrá-lo, minha pele tocou seu tórax nu e musculoso. Senti-me encurralada e baixei as mãos imediatamente.
- Pode botar a mão onde quiser, Liza. – Sua mão passeava por minhas costas e me provocava arrepios, o olhar dele demonstrava fome.
- Isso não tem graça. Eu quero sair daqui.
- Não me diga que não sente isso. – Adrian encostou a boca na minha e a moveu lentamente, me instigando a beijá-lo, apenas roçou os lábios nos meus. Mantive-me como uma estátua, mas em dois segundos derrubei minhas barreiras, e logo depois o senti se afastar bruscamente.
Fiquei como uma idiota alguns instantes, com a boca semi-aberta, desejando que o beijo se concluísse. E era isso o que ele queria. Deixar-me com a vontade ou pior, me fazer perceber que ela existia.
Escutei sua risada baixa quando abri os olhos e pedi irritada:
- Desculpe interromper sua diversão, mas gostaria de ir embora daqui.
- Ficou irritada, Liza? Por que? Sente o desejo de ter o ato concluído? – me interrogou com deboche.
- O que você quer de mim? A cada hora me deparo com uma de suas personalidades. Tem momentos que chego a crer em nossa amizade, em vários instantes você parece realmente se preocupar comigo e de repente aparece essa outra pessoa. Alguém cheio de joguinhos de sedução e sem qualquer respeito a minha vontade. Eu desisto de entender você. Chega, Adrian! Não vê que já tenho problemas demais?
- Desculpe, Liza. – ele abandonou a postura de dono do mundo – Trouxe você aqui por que queria te distrair do acontecimento de hoje na Broadway. E estraguei tudo me deixando levar pelo calor do momento.
- O calor só existiu porque você se aproximou, Adrian. Então não repita isso, não teste sua resistência.
- Seja honesta, Liza. Acredita mesmo ser apenas a minha resistência sendo testada quando isso acontece? – E o ar presunçoso voltou.
- Não adianta tentar conversar com você. Há dez minutos atrás você quase chorava e agora me vem com esse turbilhão de emoções devastadoras.
- Então vamos falar sobre hoje, Liza. Eu sei que é isso o que você quer. Você adora um drama não é? Quer saber mesmo o motivo de eu estar assim? – ele pausou sua fala, parecia desiludido com si mesmo, mas percebi que havia alguma outra emoção oculta ali. - Se ele não tivesse libertado você daquela alma, eu não sei o que teria acontecido! E toda vez que isso acontece, só ele chega até você, eu não consigo! Sou eu quem deveria salvar você, eu!
Percebi sua sinceridade na maneira que a frustração transpareceu em seu rosto, mas aquilo aparentava puro ciúme.
- Adrian – amaciei a voz – Isso não faz sentido. Se você está aqui para me ajudar, não deveria ficar feliz de existir alguém que o faz, quando não consegue?
- Não! – Ele rosnou, totalmente irracional.
- Então por que você faz isso? Por que você me ajuda?
Adrian ignorou o que eu disse, me ergueu bruscamente do chão e pulou do alto do prédio. Não tive tempo de gritar, porque o ar não entrava em meus pulmões. Centenas de luzes passaram por meus olhos sem que eu absorvesse suas formas, o frio no estômago havia se espalhado por todo o corpo e me dava choques de medo enquanto caíamos.
A dois palmos do chão, Adrian freou de súbito e me soltou. O alívio veio junto dos meus pés tocando em terreno firme.
Arquejei enquanto a adrenalina deixava meu corpo e o ar voltava a me preencher, ardia quando eu respirava.
- Idiota! – Dei as costas e andei na frente sem me importar de estar em uma rua desconhecida, e não saber o caminho de volta.
Meu corpo fumegou, dominado pela raiva. Somente com o ódio, o poder do fogo se manifestava. Precisava me lembrar disso na próxima vez que ele forçasse uma aproximação feito essa.
Era doloroso sentir o sangue fervendo por baixo da pele. Olhei ao redor e ao ver que não havia ninguém ali, estiquei as duas mãos a frente e deixei a raiva me dominar. Só assim aquilo sairia de mim. Fechei os olhos e liberei as chamas. Libertá-las me trazia uma calma avassaladora, chegava a ser prazeroso.
Senti o calor me alcançar de fora e abri os olhos. As chamas dançavam no asfalto em uma espécie de sintonia inexistente. Cobriam toda a extensão das duas calçadas antes cobertas de gelo a cada lado meu. Labaredas de fogo e vapor subiam a minha volta e somente ali constatei tal fato: As chamas, não queimavam minha pele, faziam leves cócegas.
Eram mais altas do que Adrian, olhei para trás e o vi me observando em olhar de desaprovação, presunçoso. Que como sempre insinuava saber de tudo mas não me contava nada.
Lancei uma onda de calor em sua direção e o fogo disparou rápido como um foguete. Eu sabia que ele desviaria, queria apenas lhe mostrar que agora eu controlava esse poder e seria melhor abandonar suas brincadeiras de mal gosto comigo.
Talvez o poder fosse útil agora. Porque bastou que eu chegasse em casa, para o terror fazer sua visita. Uma contagem regressiva começava.
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Gennnnnte, vocês viram isso que a Liza fez? =O
Beijossss e até amanhã!
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