THE GRAND BALLROOM
The Grand Ballroom
Liza
Eu deveria fugir. Porque me arrumar para ir à festa de noivado me provocava calafrios. Mesmo que Ben não estivesse ali e anulasse a previsão da Casa do Mago, eu sabia que algo terrível aconteceria.
Amanda parecia muito empolgada com a festa black tie no Plaza. E eu infelizmente não podia lhe dizer que precisava de um plano para impedir o casamento de minha irmã, com um assassino manipulador, dono de uma alma negra.
Para mim seria uma noite de terror.
Abri o armário e admirei novamente os vestidos.
O dono dos olhos esmeraldas era aquele por quem meu coração batia mesmo sem lembranças, não acreditei que ele fosse se chatear com minha escolha.
Optei pelo presente de Adrian, com a esperança que isso concretizasse sua oferta de paz.
Arrumei o cabelo em um penteado de lado, os fios caiam em ondas pelo ombro esquerdo, e deixavam o decote nas costas evidente.
Escolhi brincos e pulseiras de pedras vermelhas combinando com a parte de cima vinho e rendada do vestido. A sandália de tiras estava coberta pelas camadas de organza da saia longa indo até meus pés.
Quando a campainha tocou, Raquel e Ethan já haviam saído. O olhar que ela me deu ao sair do quarto, me fez suspeitar que se pudesse desfaria o convite.
Desci as escadas ciente de quem estaria do outro lado da porta, ele só agia como um ser humano normal para não levantar suspeitas durante a visita de Amanda.
Adrian amoleceu meus joelhos com o sorriso que iluminou seu rosto. Os olhos âmbar faiscaram para mim. Sem dizer nada, ele deu um passo e entrou no apartamento. Depois segurou minha mão no alto e me fez rodar. Timidamente girei 360 graus para ele.
- Você está estonteante. Acho que essa festa tem alguma chance de ser boa, afinal.
- Obrigada pelo presente. Você também está bonito.
Escolhi uma palavra pequena para descrevê-lo, mas teríamos a noite inteira pela frente e ele não precisava de elogios para despertar o lado presunçoso. A verdade é que Adrian causaria inveja em uma estrela de hollywood.
Seu cabelo caramelo normalmente solto pelos ombros com os cachos enrolados nas pontas, estava perfeitamente arrumado para trás. Fazendo uma curva charmosa por trás de suas orelhas. Ele usava um smoking preto de um botão, com colete de seda cinza por baixo, na mesma cor da gravata borboleta e havia ainda um lenço dobrado no bolso. Mesmo com toda aquela produção, por baixo eram nítidos os músculos de seu corpo forte.
- Bonito? Vindo de você, me sinto até especial. - disse me dando um beijo colante na bochecha.
Arqueei as sobrancelhas para ele e fui salva por Amanda:
- Vamos? Estou curiosa.- Olhei para ela incrédula. - Desculpa Liza, sei que você não queria nada disso, mas é impossível ignorar uma festa no Plaza.
Ela havia se produzido como uma estrela de cinema. Adrian a olhou de boca aberta antes de perceber que eu o observava. Seu vestido era todo brilhoso e tinha as alças debruadas nos ombros. O contraste do preto realçava seus cabelos loiros e descia colado no seu corpo exibindo uma grande fenda nas pernas.
Descemos e entramos no carro que nos aguardava na portaria. De repente me dei conta de outro perigo dessa noite, e falei da maneira que somente Adrian poderia ouvir:
" Você vai deixar que Ethan lhe veja?"
" Não se preocupe. Estou disfarçado de humano."
" Quer dizer então, que você é o que exatamente?"
" Não comece, Liza" - bufou
" Se você consegue fazer isso, porque não se "disfarçou" antes?"
" Não tenho o poder para fazer isso sempre. Somente em ocasiões extremas."
Me mantive em silêncio. Adrian considerava me fazer companhia em uma festa, uma ocasião extrema? Mas não perguntei, estava decidida a selar nosso acordo de paz.
Chegamos ao Plaza e um recepcionista nos encaminhou até o salão onde acontecia a festa. Meu queixo caiu quando entramos no The Grand Ballroom.
- Liza, você está babando. - Amanda riu ao meu lado.
Uma pequena orquestra tocava ao fundo do salão todo ornamentado por cerejeiras cheias de suas folhagens rosadas. Na penumbra, uma luz rosa arroxeada casava perfeitamente com os nuances de dourado projetados pelos enormes candelabros dependurados. Esses refletiam os detalhes dourados incrustados nos arcos e nas pilastras todas trabalhadas em torno do salão. Senti-me levada para uma festa de um século anterior, dentro de um elegante castelo. Foi difícil não sentir a expectativa de uma noite memorável.
Observávamos o salão da pequena escada que precisaríamos descer até as mesas. Haviam pelo menos umas duzentas pessoas lotando o espaço das mesas e da pista de dança.
Aposto que Ethan não conhecia nenhuma delas, de Raquel eu tinha certeza.
Perguntei-me mais uma vez, porque ele se dava a esse trabalho. Talvez fosse por puro ego ou pelo simples prazer de esbanjar o que não lhe pertencia.
Voltei a Terra com um cutucão de Amanda:
- Vamos entrar gente, vocês vão ficar plantados na porta?
Andamos até a mesa onde nossos lugares estavam marcados, ao lado do noivo e da noiva. Minha fome se esvaiu ao ouvir as palavras em minha mente.
" Fique calma." - Adrian sussurrou em meus pensamentos e colocou a mão sobre a minha.
Suspirei e vasculhei o salão com o olhar à procura de Raquel e a encontrei de braços dados com Ethan, cumprindo o papel de primeira dama do milionário assassino.
Ela estava deslumbrante, seus cabelos pretos desciam lisos e brilhantes até a cintura, por cima do vestido prateado todo de seda com flores e pedras bordadas do busto até barra cheia que lhe dava o formato de uma roupa de princesa. Apesar do sorriso estampado no rosto, vi a tristeza nos olhos sem brilho de Raquel e senti os meus arderem em resposta.
- Vamos dançar, Liza? - Adrian perguntou no início de uma nova valsa, já de pé, insinuando que não aceitaria não como resposta.
- E deixar Amanda aqui?
Eu sabia que ela não se importaria, mas não desejava dançar. Primeiro porque ele transbordava outras intenções e segundo porque mesmo sem memória, tive certeza que não saberia como.
Ela me respondeu balançando a cabeça dizendo que não se importava e ergueu o copo de champanhe na mão, como se esse lhe fizesse companhia.
Adrian me puxou até o centro da pista e me agarrou possessivamente pela cintura. Depois colou seu tronco ao meu e ergueu a minha mão direita no alto em posição de valsa. Congelei pela proximidade.
- Passe o outro braço no meu pescoço, Liza.
- Tem certeza que é assim a posição de valsa?
- É assim que vou dançar com você. - me abriu um sorriso dominador para encerrar a discussão.
Esforcei-me para relaxar e deixar que Adrian me conduzisse. Inconscientemente me vi inspirar o ar com força, seu cheiro era uma mistura floral e amadeirada e seu corpo me deixava segura. Finalmente fiz a pergunta que andava me martelando.
- Adrian? - chamei quando ele deu uma volta na dança comigo – Não existe nada que possamos fazer para libertar o verdadeiro Ethan?
- Agora não, Liza.
- Agora sim! Não vou esperar que algo pior aconteça.
Ele virou os olhos irritado e abriu a boca para me responder quando fomos interrompidos:
- Não vi vocês chegando, Liza! - Ethan me puxou em um abraço que me provocou náuseas.
- Oi Ethan, desculpe não ter ido cumprimentá-los, haviam tantas pessoas em volta de vocês que não quisemos interromper.
Adrian tossiu atrás de mim, Raquel que me olhava com desprezo até o momento, arregalou os olhos ao ver meu acompanhante.
- Ethan, este é Adrian. Ele trabalha comigo no orfanato – me apressei em mentir – Adrian, esta é Raquel. A noiva, minha irmã.
Para minha surpresa ela sorriu para ele ao ser beijada na bochecha, logo após Ethan e ele apertaram as mãos. Pedras de gelo tilintaram no meu estômago. O sorriso de Ethan que antes eu considerava charmoso, percebi naquele momento, era macabro.
- Me daria a honra dessa dança, Liza?
Adrian ouviu a pergunta dele, e interveio em meus pensamentos:
" Mantenha as aparências Liza."
" Sinto vontade de vomitar quando ele me toca."
" Vou dançar com Raquel e resgato você em dois minutos."
- Claro, Ethan. - Assim que ele me segurou na cintura, a náusea gélida me percorreu e o cordão em meu pescoço esquentou sob minha pele. - Parabéns, a festa está linda!
- Obrigado, Liza. Quis apenas deixar tudo à altura de Raquel.
- Aposto que ela adorou. - Olhei para trás de Ethan e ela e Adrian pareciam ter se entrosado. Ela sorriu como eu não via há muito tempo com algo que ele lhe disse.
- E você, Liza? Nenhum pretendente?
Pensei em dois olhos verdes me fitando mas corri para afastar essa visão. Afinal eu dançava com a mesma pessoa que o ameaçou e me prendeu por três dias naquela cela.
- Não, nenhum. - Dei de ombros, Ethan olhou incisivo para Adrian dançando com Raquel.
Ah, era disso que ele estava falando.
- Liza! Pensei que era só uma dança. Vai me deixar sozinha a noite inteira?
Amanda veio em meu resgate sem que eu necessitasse pedir. Minha salvadora.
- Desculpe Amanda, tem razão. Vou até a mesa com você.
Ela sorriu e apertou a mão de Ethan que a olhava quase furiosamente.
- Parabéns Ethan, a festa está maravilhosa.
- Obrigado, Amanda. Se me dão licença, irei cumprimentar os recém-chegados.
Dizendo isso, saiu em direção a porta.
Passamos por Adrian e Raquel ainda entretidos na dança, pareciam ter esquecido o resto do mundo ao redor.
" Muito obrigada Adrian, por nada." – rosnei mentalmente para que me ouvisse.
Ele não respondeu, mas vi a insinuação de um sorriso no canto de seus lábios.
Eu e Amanda conversávamos entre taças de vinho quando Adrian voltou a se sentar conosco, após dançar mais duas músicas com Raquel. Eu estava furiosa com o seu comportamento.
" Está com ciúme, linda?"
"Não sinto isso por você, e não me chame de linda."
Amanda observava nossa troca de olhares.
- Já lhe disse hoje o quanto você é linda? - ele segurou meu rosto com a mão em concha. Amanda riu e engasgou com o vinho.
- Vou ao banheiro. - Ignorei o elogio e me levantei segurando o copo na mão dando o último gole.
Cuspi a bebida na mesa quando vi quem havia acabado de chegar na festa. A mulher estava parada na porta com os olhos púrpura colados em mim. O longo vestido vermelho que usava em conjunto da trança negra caindo até seus pés, a deixavam ainda mais assustadora.
Passei quase um minuto tossindo enquanto Amanda me dava tapinhas nas costas. Não pude acreditar no que via.
Era ela, a mulher que quase me sufocou na neve, a mulher do lago onde eu teria me afogado na noite anterior se não fosse Nathaniel. Eu queria correr, queria desaparecer.
- Que foi Liza? Viu um fantasma? – Amanda perguntou.
Quase isso, mas muito, muito pior.
Não encontrei a voz para respondê-la. Adrian olhava para a porta e sua feição estava dominada pelo pânico. Ele conhecia aquela mulher?
" Liza, não posso ficar. Estarei por perto, não tenha medo." - foi o que me disse antes de desaparecer pelo salão.
" Adrian, não me deixe sozinha. Foi ela. Ela é a mulher da neve. Ela quase me afogou ontem no lago em um pesadelo, eu não lhe contei sobre isso." - Pedi desesperada, mas quando procurei em volta, ele já havia sumido.
Puxei o ar com força e enxuguei o suor da testa. Precisava desaparecer. Rápido.
- Amanda, vou até o banheiro. Já volto.
Corri pelo lado oposto do salão e me enfiei no primeiro corredor que vi. Agachei-me para retomar o fôlego na expectativa de estar oculta atrás de uma pilastra.
Isso é inútil, Liza. Se não é capaz de se esconder enquanto dorme, acredita mesmo que aqui estará segura?
Talvez eu devesse encarar, já que não podia me esconder. Ainda não conseguia crer no abandono de Adrian, logo no momento em que mais precisei.
Mas não importava, eu não deixaria a festa sabendo de Raquel e Amanda sozinhas e indefesas.
Munida de uma coragem súbita, me recompus e iniciei o caminho de volta até o salão.
Eu andava por um corredor deserto quando ouvi vozes falando em tom baixo ao passar por uma porta entreaberta. Uma delas me pareceu familiar e tomada pela curiosidade, me aproximei sorrateiramente para escutar:
- Então agora se chama, Ethan? - disse uma voz feminina e suave mas desprovida de qualquer delicadeza. - Muito suspeito isso Olaf, toda essa festa, esse glamour. Por que perde tanto tempo se comportando como humano? Você gosta? Tornou-se pior do que todos eles?
- Não me recordo de ter lhe enviado um convite, Ivanka.- a resposta de Ethan se aproximava a um suspiro, transparecia medo.
- Não se preocupe benzinho. Não vim estragar sua festinha. Soube que anda se vangloriando por ai, de vidas colhidas por mim. Me envergonho de ter alguma vez considerado você um discípulo.
- Tudo o que conquistei, foi sozinho.Você me quis apenas como servo.
- Você acha mesmo, que chegou aqui hoje solitário? Que gracinha! - gargalhou a voz feminina emitindo um som agudo que ecoou no espaço vazio.- Pois saiba que nunca deixou de me server, Olaf.
- Eu sou o anjo negro. Você é apenas o Vazio buscando vingança. Patética.
- Por que acha que continua existindo meu bem? Apenas porque eu permito. Eu sabia que você iria possuir um de meus filhos. Pensa que esse corpo que está usando é o único? Ao todo tive três filhos, Olaf e se não me engano conheceu um deles recentemente, enquanto se embriagava em um pub sujo e empoeirado.
Olaf, esse era o nome do assassino possuindo o corpo de Ethan.
O restante da conversa não fazia sentido. Anjo negro? Ele poderia ser qualquer coisa, menos isso. Lutei para entender onde minha vida se encaixava no meio dessa história. A mulher se chamava Ivanka e pela forma que Adrian fugiu, eles possuíam alguma ligação. Não tinha lógica. E Olaf havia sido servo dela? E por que ela queria me matar? E se essa fosse minha última noite viva? Cobri a boca com as mãos para abafar a respiração ofegante.
- Considere minha visita o último aviso, Olaf. A morte sempre cobra sua dívidas.
- Não lhe devo mais nada! Já lhe servi e agora sou livre!
- Você fugiu, esqueceu? Tem se visto no espelho ultimamente? Recorda da cor de seus próprios olhos? Sabe, eu sempre gostei da cor púrpura. Ela fica bem nos olhos humanos, nas roupas, mas principalmente em jóias. Foi você mesmo quem escolheu o anel de Raquel?
Ao ouvir o nome de minha irmã, enfiei o rosto pela fresta da porta. Eles estavam de pé diante um do outro. Ivanka portava um sorriso desprovido de emoções e Ethan a encarava parecendo dividido entre o medo e o ódio.
Ele pulou em cima dela, que evaporou entre suas mãos enquanto sua voz reverberava no espaço vazio:
- A alma dourada é minha. E todos vocês me servirão quando eu fizer o chamado.
Antecipei que Ethan sairia pela porta a qualquer momento, e corri para ganhar distância daquele salão. Fui obrigada a freiar bruscamente, ao ver Ivanka no final do corredor, esperando por mim.
- Gostou do mergulho no lago, Liza?
- O que quer de mim? - Perguntei sem ar e não soube dizer se era por medo ou pela corrida. Fiquei surpresa da minha voz funcionar.
- Nada que já não seja meu. É uma pena que seu amiguinho não tenha vindo. Ben o nome dele, não é mesmo?
- Deixa ele em paz!
A luz baixa a minha frente desapareceu e de repente não havia nada além do escuro. Tateei cegamente pelo breu e não consegui tocar em nada.
- Você tem medo do escuro, Lizzie? Não era assim que sua mamãe lhe chamava? - ela riu perto de mim, o hálito frio de sua voz arrepiou minha pele. Cambaleei para o lado em busca de uma saída, mas caí sentada.
- Se soubesse o que se esconde no breu querida. Você nunca mais apagaria a luz. Deixe-me lhe mostrar.
A cegueira cobrindo minha vista se dissipou. O salão desapareceu e foi substituído por um horizonte de areia a minha frente, onde o céu era vermelho.
A uma pequena distância, avistei dezenas de corpos amontoados. Eles não se moviam, suas peles tinham o aspecto macilento do desuso e jaziam um sobre o outro de uma maneira perturbadoramente torta. Braços, pernas, rostos e mãos se misturavam na pilha. O fedor de cadáver queimou minhas narinas e me deixou tonta. Cobri o nariz com as mãos e fechei os olhos, eu não queria ficar olhando aquilo.
Meus poros se arrepiaram dolorosamente, quando escutei uma voz familiar:
- Liza, me ajude! Me tire daqui!
Hesitei alguns segundos e reuni forças para a visão que eu sabia que estaria a minha espera quando abrisse os olhos.
Ben era o primeiro corpo da fileira de cadáveres, deitado com a barriga para baixo. Tinha os braços estendidos para a frente, lutava para conseguir um espaço e respirar. Aquela altura, metade dos ossos de seu corpo deveriam estar quebrados devido ao peso por cima dele.
Corri em sua direção e segurei suas mãos. Lágrimas desceram por meu rosto, eu não teria forças para tirá-lo dali.
- Fique calmo, Ben. Vou ajudar você. - Duvidei de minha própria afirmação.
Toquei nos corpos frios que o cobriam, lutei para ignorar a repugnância pelo que estava prestes a fazer.
Para libertar Ben, eu teria que derrubá-los um a um. Inspirei todo o ar que podia e subi no monte de corpos, Ben gemeu ao sentir meu peso.
Estiquei o braço e empurrei um corpo do topo. O homem caiu em um baque seco no chão, o som fez o vômito subir por minha garganta, me desequilibrei e caí de costas.
- Eu não vou conseguir fazer isso. Desculpa, Ben. Não tenho forças. - arquejei soluçando com o choro.
- Ele irá morrer e a culpa será sua, Liza. - Ivanka.
- Ben! Ben! - gritei segurando suas mãos, ele não me respondeu. Sua cabeça pendeu para o lado, mole.
O calor por baixo de minha pele se manifestou no desespero. Eu poderia carbonizar os cadáveres e libertar Ben. Seria a única saída.
Não, não posso!
Lutei para afastar a ideia macabra, quanto mais eu hesitava maior se tornava a necessidade de destruir alguma coisa. E finalmente entendi. Ivanka estava me manipulando. Queria que eu matasse um inocente.
- Eles já estão mortos, Liza. - me incentivou sua voz gélida.
Meu braço tremia quando o elevei à frente e a calmaria me dominou ao expelir as chamas que me consumiam por dentro. Mirei para longe dos corpos mas o vento me traiu, e o fogo lambeu o primeiro cadáver da pilha.
Caí de joelhos na areia e cobri o rosto com as mãos. O crepitar das chamas estalava ruidosamente e o odor de queimado tomava conta do ar o deixando sufocante.
Pensei que era mais uma alucinação quando senti uma presença ao meu lado. Reconheci de imediato o morno confortável que ele me causava. Eu não o via, mas suas mãos e braços me envolvendo por trás pareciam reais, e seu toque macio me trazia calma no meio do caos.
- Isso não é real. - o ouvi dizer.
Eu queria acreditar mas seria bom demais se fosse um pesadelo, por isso duvidei e balançei a cabeça para os lados. Chorei convulsivamente.
- Olhe pra mim, Liz. - pediu.
Um par de esmeraldas me fitava de muito perto, ele sorriu e sorri de volta recuperando o fôlego. Olhei em volta e não havia mais nada ali.
Somente o corredor vazio, mas o cheiro de queimado persistia. Procurei ao redor e avistei uma cortina de veludo pegando fogo no extremo oposto de onde estávamos. As chamas se espalhavam pelas portas lado a lado, tornavam-se uma labareda gigante.
Eu havia causado aquilo? Não houve tempo para respostas.
- Ah, o amor. O maior responsável pela morte. - Tremi ao escutar a voz de Ivanka. Ela nos encarava com os olhos púrpura queimando na escuridão. - Isso não acaba por aqui.
O fogo estalou alto no fundo do corredor, olhei assustada para trás e pela extensão do incêncio, calculei que teríamos segundos para sair dali.
- Dê um recado a seu amiguinho,Liza. Aquele que fugiu ao me ver. Diga a ele que já é hora de nos retirarmos, eu, para morrer, e vocês para viverem. Entre vocês e eu, quem está melhor? Isso é o que ninguém sabe...
Ivanka desapareceu e o som de um estouro seguiu o de sua voz. Nathaniel me cobriu com o corpo. Ouvi por último uma explosão e meu grito.
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Reação pós capítulo explosivo: =o = o=o
Comentem! Como se sentem agora??
Beijosss e até sábado!
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