MALDIÇÕES
MALDIÇÕES
Inspetor Mathews
Atordoado, ele se irritou com o apito acima de sua cabeça.
Moveu o braço e sentiu a pele da mão repuxar, havia um tubo ali, ligando sua veia a uma bolsa de plástico.
Onde estaria?
Que praga era aquela?
Virou a cabeça mas não conseguiu manter os olhos abertos, sua têmpora latejou e girou. Tudo ficou turvo e precisou se deitar novamente. Só então sentiu as pernas, duras feito pedra.
Puxou o lençol e viu a massa grossa do gesso branco nas duas. Subiam até suas coxas.
Concluiu que aquilo era um hospital.
- Enfermeira! – gritou. - Alguém aí?
- Que barulheira é essa? - ouviu uma voz impaciente e em seguida o som de uma cortina sendo puxada - O senhor acordou! - o tom da voz mudou e assumiu uma nota mais alegre.
- Venha doutor Ethan, ele acordou!
A mulher era espalhafatosa. Seus pés se arrastaram no piso frio do hospital e sua voz aguda bateu como um martelo na sua enxaqueca.
Mais passos ressoaram no silêncio em meio aos apitos ritmados e constantes da máquina ao lado e dessa vez ouviu uma voz masculina.
- Olá inspetor Mathews. Bem vindo de volta!
Se forçou a abrir os olhos e assim atribuir um rosto à falsa simpatia daquela fala. O homem parecia disforme a sua frente, como um desenho se desfazendo com a chuva.
Ainda assim, o sorriso presunçoso do médico lhe pareceu muito familiar.
- O que aconteceu?
Perguntou para obter mais informações, pois aos poucos lembrava-se das últimas coisas que viu.
O cara com asas, a garota caindo do telhado, um beijo, uma discussão e a explosão. Em, seguida o freio do carro, o farol forte em seus olhos e a dor lancinante, profunda.
- O senhor está há cinco dias no CTI. Fraturou a cabeça do fêmur na perna direita e sofreu um deslocamento na bacia. Por sorte não precisou de cirurgia. Como continuou desacordado após a estabilização, o mantivemos aqui para observá-lo. A tumografia cerebral não detectou nenhuma lesão, mas as vezes a sequela de uma pancada forte na cabeça pode se manifestar com outros sintomas. O gesso é necessário para garantir a calcificação correta da bacia e do fêmur.
- Quanto tempo até eu receber alta?
- Mais alguns dias em observação e teremos dados mais precisos.
- Ótimo, preciso voltar ao trabalho.
- Senhor, ao receber alta, se deseja voltar a andar, deverá se manter sem pisar no chão por no mínimo, noventa dias. – O médico parecia gostar desse diagnóstico. Sua fala ecalma e mecânica não escondia o sorriso em sua voz. - E ainda precisará de muita fisioterapia. Tire licença no trabalho, garanto que seu chefe compreenderá.
Inspetor Mathews via os médicos como reis. Pelo menos eles agiam assim, como se suas palavras fossem absolutas. Na sua opinião, não passavam de uma máfia vestida de branco. Anjos da morte diplomados com seringas e luvas.
- Agradeço a preocupação doutor. Estou certo de que não será necessário tanto tempo.
Três meses e mais quantas garotas morreriam?
Não que estivesse de fato fazendo um bom trabalho em suas investigações.
- Como faço para telefonar doutor? Preciso falar com uma pessoa e é urgente.
Decidiu que havia chegado a hora de falar com ela. Ligaria para o Orfanato Santos Anjos. O número de seu telefone teria queimado na calça, se estivesse vestindo alguma. O número que guardava desde pequeno. Para quando surgisse uma emergência ou simplesmente criasse coragem. Nove dígitos e uma frase. Capazes de mudar para sempre a sua vida e a dela.
Divagou por um tempo, talvez estivesse embriagado dos medicamentos, deduziu. Talvez ela guardasse alguma explicação ou pudesse trazer alguma luz para seus pensamentos e alucinações nas últimas semanas.
O atropelamento veio em boa hora afinal. Uma justificativa física para uma pausa e quem sabe, recompor as pernas e o raciocínio.
A voz do médico, agora desprovida do tom profissional e carregada de raiva, trouxe de volta sua atenção.
- Acho que o acidente afetou sua audição, inspetor. – Era uma agulha aquilo que o homem tinha na mão? - Você vai repousar e seguir minhas recomendações. Seu corpo precisa estar inteiro para mim.
Protestou no início, mas qualquer que fosse a substância daquela seringa, foi forte o bastante para derrubar inspetor Mathews num enevoado escuro e turvo de imagens desconexas.
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Quem mais quer ver o Olaf sofrer? Levanta a mão! \o/
Beijosss e até amanhã!
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