CAPÍTULO 8
No dia seguinte, os dois pombinhos foram trabalhar se arrastando. Ricardo estava conseguindo se manter acordado e lúcido devia a altas doses de cafeína que estava ingerindo. Demorara bastante a pegar no sono, pensando no que acontecera em seu carro, e conseguira dormir quando era madrugada alta.
Ele estava se dirigindo à máquina de café que havia perto da sala de Xerox, e viu que já havia dois funcionários lá. A maior parte da empresa era composta por funcionários com idade na casa dos vinte, muitos saíam no fim de semana para se divertir, o que explicava o constante movimento na máquina de café durante as segundas-feiras.
Estava aguardando sua vez quando a moça se virou para o rapaz que a acompanhava e disparou:
— Acho que é verdade mesmo o que falam da filha do seu Humberto. Hoje quando passei por ela dei bom dia e ela nem disse nada.
— Ela se acha melhor do que nós, só porque é filha do chefe. — o rapaz emendou. — Todo mundo fala que ela vive com o nariz empinado. É raro ela cumprimentar alguém.
Ricardo sentiu seu sangue ferver na mesma hora. Era a segunda vez que flagrava alguém falando mal de Amanda. Na primeira vez, achara que ela tinha percebido as intenções de Murilo e por isso se mantinha distante. Mas depois da conversa com Daniel e com a própria Amanda, ele tinha mais do que certeza de que ela estava longe de ser metida ou esnobe. Agora que tinha consciência da deficiência dela, ele sabia que quando ela deixava de cumprimentar alguém era porque simplesmente não ouvira.
— Humildade não faz parte do vocabulário dela, pelo visto. — a garota continuou. — Odeio gente que se acha superior, só por causa da conta bancária.
— Eu também. Mas infelizmente temos que engolir, afinal, é a filha do chefe...
— Para mim, ela só finge que trabalha. Que ser humano precisa trabalhar quando o pai é dono de uma empresa como essa? — a garota disse, revirando os olhos. — Deve trabalhar por diversão, por não ter nada melhor para fazer.
Ele decidiu que a conversa tinha ido longe demais. Amanda podia ser filha do seu Humberto, mas ele sabia que ela não usufruía em nada da fortuna do pai, e que a relação dos dois não era das melhores. Daniel mencionara isso algumas vezes. Sem pensar muito no que fazia, resolveu intervir.
— Vocês sabiam que é feio ficar falando da vida dos outros? — ele se manifestou, sobressaltando os dois. — Ainda mais de uma pessoa que vocês mal conhecem?
— Ah, vai, Ricardo, vai me dizer que você não acha também que ela é uma patricinha? Uma filhinha de papai?
— Não, não acho. Vocês nem conhecem a Amanda, para ficar falando mal dela por aí. Ela está longe de ser essa pessoa que vocês estão pintando.
— E você por acaso a conhece? — o rapaz perguntou com ironia.
— Conheço melhor do que vocês. Esqueceram que o Daniel é irmão dela, e que eu e ele somos grandes amigos?
— Ah, quer dizer que para você ela abre uma exceção? — a garota ergueu uma das sobrancelhas. — Deve estar interessada em você.
Ricardo abriu a boca para falar e a fechou em seguida. A garota tinha acertado, mas não podia revelar isso, pois Amanda preferira manter o que estava acontecendo entre os dois em segredo. Assim como também não podia revelar porquê ela não respondia aos cumprimentos dos colegas. Ela não queria que ninguém soubesse da sua deficiência.
— Não é nada disso. Eu apenas não tenho o hábito de fazer julgamentos precipitados. — ele respondeu. — Me preocupei em conhecê-la melhor, e digo com certeza que ela está longe de ser uma patricinha. Se vocês se preocupassem em conhecê-la melhor também, veriam que ela é uma excelente pessoa. Iriam se surpreender bastante.
Os dois se entreolharam e decidiram não dizer mais nada. Pegaram suas bebidas e se retiraram dali. Ricardo deu um longo suspiro ao vê-los se afastar. Não podia dizer ao certo se eles perceberam seu interesse por Amanda. Mas não podia simplesmente ficar parado ouvindo tanta besteira. Precisava defendê-la e fazê-los entender que ela estava longe de ser esnobe. Ela era uma das pessoas mais humildes que ele conhecia. E odiava ouvir aqueles tipos de comentários sobre ela. Precisava alertá-la para prestar mais atenção e evitar aquele tipo de fofoca. Até porque se ele continuasse defendendo-a, como fizera há pouco, todos iriam começar a suspeitar e achar que seu conhecimento sobre Amanda ia além do campo profissional....
— Daniel, há quanto tempo você conhece o Ricardo? — Amanda perguntou, de uma maneira despretensiosa. Passara pela sala do irmão para devolver-lhe alguns papéis que precisaram da assinatura do pai.
Daniel encarou a irmã e a analisou, tentando decifrar se havia algo por trás da pergunta. Amanda tentara soar casual, mas Daniel a conhecia muito bem.
— Nos conhecemos desde o primeiro ano da faculdade. Por quê?
— E o que você acha dele? Digo, como ele é, como... como pessoa?
— Ele é um grande cara. Honesto, trabalhador... Tem caráter e é muito leal. Por isso somos grandes amigos até hoje. Mas posso saber por que a senhorita está tão curiosa?
Amanda mordeu os lábios, incerta sobre o que dizer.
— Bem, é que ontem, quando ele me levou em casa, nós ficamos conversando. Ele me disse que você o chamou para uma conversa séria e contou do meu problema. Ele... Ele disse que isso não fazia diferença para ele e... disse que gostaria de namorar comigo.
Daniel cruzou os braços e se recostou na cadeira.
— E você aceitou?
— Bem, não. Ainda não. Na verdade eu não sei o que fazer, Daniel. Você sabe o que aconteceu no meu passado, e eu tenho medo que a história se repita.
Daniel se levantou e deu a volta na mesa. Pegou a mão da irmã e a fez se sentar com ele em uma poltrona que havia na sala.
— Amanda, eu o chamei para uma conversa justamente por isso. Percebi o interesse dele por você e queria saber como ele reagiria quando soubesse do seu problema. Se eu duvidasse do caráter dele, ou achasse que ele poderia magoá-la, o mandaria ficar bem longe de você. Nem que para isso tivesse que pedir ao nosso pai para demiti-lo.
— Você seria capaz disso, Daniel? — Amanda perguntou, arregalando os olhos.
— Para proteger minha única irmã, eu seria capaz de qualquer coisa. — Daniel replicou sério. — Mas voltando ao assunto, eu não creio que o que aconteceu no seu passado vá se repetir. Como eu disse, o Ricardo é um bom sujeito e parece estar interessado de verdade em você. Ele não vai brincar com seus sentimentos, Amanda, como o idiota do seu ex fez.
— Você acha então que devo dar uma chance a ele?
— Sim, acho. Mas não adianta eu te dizer isso e seu coração continuar com dúvidas. Você mesma que tem que perceber se pode ou não confiar no Ricardo. Para ouvir o amor precisamos escutar com o coração, Amanda.
— Ei, você tirou essa frase da ONG onde trabalho, é? — Amanda comentou com um sorriso, se referindo a Ouvindo com o Coração.
— Bem, eu diria que a fundadora dessa ONG estava certa ao dar esse nome a ela... — Daniel comentou sorrindo também. — Você precisa parar e ouvir seu coração. Só você pode decidir se quer correr ou não o risco. Só você sabe até que ponto vão os seus sentimentos pelo Ricardo.
— Confesso que ele mexeu muito comigo. Principalmente quando disse que a minha deficiência não muda nada para ele.
— Por que você não vai com calma e tenta conhecê-lo melhor? Acho que assim você se sentiria mais segura para tomar uma decisão, seja ela qual for.
— Bem, foi mais ou menos isso que sugeri a ele. Contei por alto o que houve no meu passado e disse que poderíamos deixar rolar e ver o que acontece.
— Até que você é bem esperta, Amanda. — Daniel disse, com um sorriso. — E ele, o que disse?
— Bem, não ficou muito satisfeito quando eu disse que poderíamos ser amigos... Disse que não conseguiria ser só meu amigo, que seria difícil ficar perto de mim e não poder me abraçar e me beijar. Mas acabou aceitando quando sugeri uma amizade meio... colorida.
Dessa vez Daniel deu uma sonora risada.
— Amizade colorida? Nunca pensei que ouviria você dizer que sugeriu isso a alguém, Amanda. — Daniel pensou em algo e de repente ficou sério. — Colorida como? Não é o que estou pensando, é?
— Como você tem a mente suja, hein? — Amanda disse, revirando os olhos. — Não chegaremos a... a isso. Só vamos trocar alguns beijos enquanto não me sinto segura para assumir um compromisso com ele. Seremos mais do que amigos, mas ainda não estaremos namorando. Por isso disse amizade colorida.
— Ah, bom. — Daniel disse, suspirando de alívio. — Bem, você é esperta, como eu disse. É uma forma de você conhecê-lo melhor, com certeza. — Daniel respirou fundo e segurou as mãos da irmã. — Olha, Amanda, se eu pudesse escolher alguém para namorar com você, certamente escolheria o Ricardo. Sei que você estaria em boas mãos e seria muito feliz com ele. E não digo isso só porque ele é meu amigo. Digo porque o conheço há anos e sei bem o tipo de homem que ele é. Mas essa decisão só cabe a você.
— Eu sei. — Amanda disse com um suspiro. — Mas essa nossa conversa me ajudou bastante. É importante saber que você o aprova. Sei que você seria o primeiro a ser contra se percebesse que havia uma chance mínima de ele me magoar. Obrigada por me ouvir, Daniel. — ela disse, abraçando-o.
— Não foi nada. Sabe que eu faria qualquer coisa por você. — ele disse, retribuindo o abraço. — Agora acho melhor voltar para sua mesa, antes que papai tenha um ataque.
— Você tem razão. — ela disse, levantando-se. — Eu pedi ao Ricardo para que isso ficasse só entre a gente. Combinamos que só você e a Cris saberiam, por enquanto. Posso contar com sua discrição?
— Precisava perguntar? — Daniel devolveu, fingindo-se ofendido. — Claro que pode, maninha. Agora vá. Nos vemos no almoço.
Durante a tarde, Amanda escutou seu celular apitar, avisando sobre o recebimento de uma mensagem. Pegou o aparelho e não pode conter um sorriso ao ver que era uma mensagem de Ricardo.
Ricardo:
"Oi, doçura. Quais são seus planos para hoje à noite?"
Sorrindo, Amanda começou a digitar uma resposta.
Amanda:
"Tenho um encontro inadiável com minha cama."
Nem dois minutos tinham se passado quando o celular acusou o recebimento de outra mensagem.
Ricardo:
"Que pena. Gostaria de ver você. Estou com saudades."
Amanda:
" Saudades? Bobo. Você me viu hoje o dia todo..."
Ricardo:
"Engraçadinha... Sabe que não é a mesma coisa. Que tal sairmos para comermos algo? Prometo te deixar em casa a tempo para seu encontro inadiável com sua cama."
Ao ler essa última mensagem, Amanda teve que se controlar para não rir alto. Podia ver que Ricardo tinha um ótimo senso de humor. Mordeu o lábio inferior e respondeu, sentindo o coração disparar:
Amanda:
"Está bem. Mas é melhor você me buscar em casa. Não quero que nos vejam saindo juntos daqui. Pode me buscar as sete?"
Ricardo:
"Com certeza, doçura. Contarei os minutos. Um grande beijo... Na boca. Pode me chamar de atrevido."
Ao ler essa última mensagem, Amanda tapou a boca com a mão, tentando segurar o riso. Ah, ela também contaria os minutos...
****************
— O que você disse? — Amanda perguntou a Ricardo. Eles estavam a caminho de uma famosa rede de fast-food. Ele preferira levá-la para jantar em um restaurante decente, porém Amanda dissera que não estava com muita fome e que um lanche estava mais do que ótimo.
Ele estava concentrado no trânsito, que ainda estava bastante intenso, repleto de pessoas ansiosas para voltarem para casa.
— Desculpe, doçura. — ele disse, tirando rapidamente a atenção do trânsito e virando-se para ela. — Esqueci que preciso olhar para você para você poder me ouvir.
— Não tem problema. Sei que vai demorar um pouco até você se acostumar comigo.
— Você sabe fazer a linguagem dos sinais?
— Sim, sei. Eu não nasci assim, então consegui aprender a falar e não era tão importante eu aprender. Mas uma vez vi outros deficientes conversando e achei bastante interessante. Então decidi fazer um curso e aprendi.
— Como começou sua deficiência? Se não quiser falar sobre isso vou entender.
— Não, tudo bem. Respondi a essa pergunta tantas vezes na escola que não me importo mais. — ela respirou fundo. — Quando eu tinha dois anos de idade, tive uma infecção muito séria na garganta, e precisei tomar um antibiótico chamado garamicina. É um antibiótico fortíssimo, e sou alérgica a ele. A surdez é uns dos efeitos colaterais de quem tem alergia a esse medicamento.
— Nossa! — Ricardo exclamou. — Então você perdeu sua audição aos dois anos?
— Não, mas começou aí. Precisei tomar esse remédio outras vezes e até descobrirem que eu era alérgica era tarde demais.
— Seus pais não processaram seu pediatra? Ele devia saber que esse remédio era perigoso para você.
— Ricardo, hoje em dia a Medicina está bastante avançada, e existem testes que podemos fazer que indicam se somos alérgicos a algo. Mas há vinte anos atrás não tinha toda essa tecnologia. E não havia casos de intolerância a esse remédio na minha família. Meu pediatra não tinha como adivinhar.
— Entendo. E sua surdez não é reversível?
— Até o momento, não. Mas do jeito que a Medicina está avançando, pode ser que um dia encontrem uma solução para o meu caso.
Ricardo ficou calado alguns minutos, pois haviam chegado à lanchonete e ele procurava uma vaga para estacionar. Ajudou Amanda a sair do carro e os dois entraram de mãos dadas no estabelecimento. Depois de escolherem e Ricardo pagar pelos pedidos, se acomodaram em uma mesa e começaram a comer em um confortável silêncio.
— E o implante coclear, Amanda? — Ricardo retomou o assunto, quebrando o silêncio. — Não te ajudaria a ouvir melhor?
Amanda o olhou curiosa.
— Como você sabe do implante? Conheceu outro deficiente auditivo?
— Não. Confesso que depois que conversei com seu irmão eu dei uma boa pesquisada no Google. — ele disse, dando um sorriso maroto, fazendo aparecer aquelas lindas covinhas.
Agora ela estava bastante impressionada, e parou o ato de levar uma porção de batatas fritas à boca e o encarou boquiaberta.
— Você pesquisou no Google sobre deficiência auditiva? Sério?
— Sim, pesquisei. — ele disse, fitando-a com ar divertido. — Por que o espanto? Eu estava muito interessado em uma certa deficiente e não sabia nada sobre o assunto. Então decidi que precisava me informar e foi o que fiz.
— Você poderia ter me perguntado tudo o que queria saber. — ela replicou, cada vez mais surpresa.
— Você não sabia ainda que eu estava ciente do seu problema. Decidi me precaver para não dar nenhuma mancada. E feche essa boquinha, senão entra mosquito... — ele completou, ainda rindo da reação dela.
— Você realmente me surpreendeu. — ela disse, dando um meio sorriso.
— Que bom. Espero poder fazer isso mais vezes. — ele disse piscando um olho para ela. Ele fez uma pausa, e depois a fitou sério. Precisava falar com Amanda sobre algo que o incomodara o dia todo. — Eu queria alertar você sobre uma coisa. Uma coisa meio chata, mas é preciso que você saiba...
— Hum, você ficou sério de repente... O que foi?
— Bem, é que andam circulando alguns rumores sobre você na empresa...
— Que tipo de rumores? — ela perguntou, franzindo o cenho.
— Estão dizendo que você é esnobe e metida, porque muitas vezes você não cumprimenta os funcionários que passam por você. — Ricardo contou, com visível desconforto. — Eu sei que você não cumprimenta porque você não ouve direito, mas eles não sabem, Amanda. Entendo que você queira que ninguém saiba da sua deficiência, mas você precisa prestar mais atenção, para que essas fofocas não aconteçam.
— Ah, mas eu não ligo muito para o que os outros falam e...
— Mas eu ligo. Não gostei nem um pouco quando ouvi falarem mal de você. Porque eu sei que nada do que eles disseram é verdade. E tenho certeza de que você também não ia gostar, se ouvisse o que andam falando lá na empresa.
— Você está certo. — Amanda disse com um suspiro. — Vou passar a prestar mais atenção. Obrigada pelo aviso, Ricardo.
— Não foi nada, doçura. — ele murmurou, tocando levemente o queixo dela. — Fiz isso por mim também. Acha que é fácil ouvir falarem mal da sua garota e não poder fazer nada, porque ninguém sabe que você está com ela?
A risada de Amanda quebrou a tensão gerada pela conversa, e eles terminaram o lanche conversando sobre amenidades, em um clima bastante agradável. Na saída, encontraram um amigo de Ricardo, e para surpresa de Amanda, ele a apresentou como sua namorada. Sentiu vontade de corrigi-lo, mas achou melhor não dizer nada. Se ele queria que os outros pensassem que estavam namorando, que mal havia nisso? Talvez ele tivesse intenção de realmente levá-la a sério.
— Enfim, chegou a parte que eu mais ansiava. A melhor parte. — Ricardo disse, depois de estacionar o carro diante do prédio dela. Puxou-a para si e lhe deu um beijo demorado. — Estava louco para ficar sozinho com você.
— Confesso que eu também. Ainda mais que você me provocou dia inteiro...
— Não pude resistir. — ele confessou, passando o polegar pelo lábio inferior dela. — Você estava linda no trabalho. Comportada, mas linda. E agora à noite... Acho que Você queria me enlouquecer se produzindo e ficando toda sexy. Pelo menos enlouqueceu de ciúmes. Não tinha um único homem que não olhou para você lá no Mc Donald's.
— Verdade? Nem reparei nisso. Essa produção toda foi para você. Para mais ninguém.
— Fico feliz de saber disso. Posso até perdoar quem teve a audácia de olhar para você. Será que ninguém percebeu que você estava acompanhada?
— Bobo. — ela disse rindo. — O que me faz lembrar... Por que você me apresentou para seu amigo como sua namorada?
— Porque para mim você é, doçura. — ele respondeu, e com um movimento ágil ele a puxou para seu colo. — Só concordei em ir devagar e ter uma amizade colorida porque você se sente mais confortável assim. Mas para mim, você é oficialmente minha namorada.
Amanda sentiu seu coração se aquecer ao ouvir o que ele acabara de dizer.
— Não sei o que dizer. — ela murmurou, e o fitou, e os olhos dela lembravam uma piscina límpida, convidando a um mergulho em uma tarde de verão. Ricardo pensou que um homem podia se perder naquele olhar. — Isso é... é muito novo para mim. Você sabe que faz tempo desde a última vez que namorei.
— Não precisa dizer nada. — ele sussurrou. — Eu avisei que iria investir pesado, não avisei? — ele emendou, sorrindo. — Isso é só o começo... E eu sei que você sente o mesmo, só está com medo. Vamos deixar rolar e curtir. Um passo de cada vez.
Sem querer, ele tentou colocar o cabelo dela atrás da orelha esquerda. Havia se esquecido em qual ouvido ela usava o aparelho. O objeto fez um ruído quando ele aproximou a mão.
— Que barulho é esse?
— Se chama microfonia. Acontece quando o aparelho sai do lugar e o ar entra. O Daniel costumava chamar de "alarme de castidade", porque toda vez que ele me abraçava o aparelho apitava.
— Ah, entendi, por isso ele apitou agora. Dá para o seu pai ouvir da casa dele? — ele perguntou brincando, e os dois riram. — Por falar nisso, qual modelo você usa? Digital ou analógico?
Ela o fitou admirada.
— Você realmente fez seu dever de casa, hein? — ela comentou, pensando que Ricardo não parava de surpreendê-la.
— Sim, posso dizer que sou quase um especialista nesse assunto. — ele disse, dando outro sorriso maroto.
— Estou vendo. —ela respondeu, passando a língua pelos lábios. — Respondendo sua pergunta, uso um modelo analógico.
— Por quê? — ele franziu o cenho. — Pelo que eu li nos sites que entrei, os modelos digitais são bem mais potentes e permitem uma audição de excelente qualidade.
— Sim, isso é verdade. Mas são bem mais caros também. Minha mãe nunca teve condições de comprar um desses para mim. E com o salário que eu ganho no momento, não tenho condições de comprar algo tão caro.
— E seu pai? Ele certamente tem condições de comprar um aparelho desses para você.
— Sim, ele tem. Mas desde que ele e minha mãe se separaram temos uma relação difícil. Nunca pedi nada a ele. A pensão e a ajuda de custos para meus estudos foram as únicas coisas que recebi dele. E não pretendo começar a pedir agora. — ela fez uma pausa tensa. — Será que podemos mudar de assunto?
Ricardo se lembrava que Daniel sempre comentara que ele e a irmã tinham um relacionamento difícil com o pai. Recordava-se que o amigo lhe contara que ele e Amanda ficaram contra o pai quando ele arrumara uma amante e largara a mãe deles por causa dela. Bem, definitivamente aquele era um assunto perigoso. Nada apropriado para um provável começo de namoro.
— Como quiser, doçura. Que tal falar sobre nós dois? — ele murmurou insinuante. — Já falei que estava morrendo de saudade de você?
— Exagerado... — ela disse com uma risada. — E sim, você disse na mensagem que me enviou de tarde. E eu disse que você tinha me visto o dia todo.
— Eu lembro que respondi que não era a mesma coisa. — ele disse baixinho. — Não podia fazer isso... — ele deu um abraço apertado nela, enterrando o rosto em seus cabelos, sentindo o aroma adocicado que se desprendia deles. — E nem isso... — ele completou, encostando seus lábios nos dela. Amanda se deixou envolver e se entregou ao beijo. Tinha que admitir que também fora difícil para ela vê-lo e não poder tocá-lo.
Algum tempo e vários beijos depois, Amanda verificou as horas e mal conseguiu reprimir um bocejo, que não passou despercebido a Ricardo.
— Hum, acho que está hora daquele seu encontro inadiável...
— Desculpe, Ricardo, adoraria ficar mais tempo aqui com você, mas estou muito cansada...
— Eu sei, ontem fomos dormir muito tarde e quase não descansamos. — ele disse, acariciando de leve seu rosto. — E meu dever é cuidar de você. Por isso, vou cumprir com minha palavra e liberar você para seu encontro com sua cama.
Depois de trocarem mais um beijo demorado, ela saiu do colo dele e pegou a bolsa, se preparando para sair do carro.
— Apesar de estar cansada, adorei encerrar a noite com você. — Amanda murmurou com uma certa timidez.
— Eu também, doçura. Podemos repetir a dose amanhã...
— Ricardo... — Amanda começou, lançando -lhe um olhar de advertência.
— Eu sei, eu sei. Você quer ir devagar. — ele comentou com um suspiro. — Mas não se esqueça que você permitiu que eu investisse pesado no que mais desejo... Então esteja preparada.
Ela balançou a cabeça para os lados, rindo e depois de um selinho rápido, abriu a porta e saiu do carro. Entrou no prédio, e só saiu da portaria quando o carro de Ricardo sumiu de vista. Dando um longo suspiro, se dirigiu ao elevador, pensando que Ricardo a surpreendera de várias maneiras naquele dia. Talvez não fosse uma má ideia ouvir seu coração, como Daniel aconselhara, e dar uma chance a ele...
Aí está meus queridos... Mais um pedacinho dessa história... Bem, eu diria que Ricardo está se esforçando bastante para ganhar a confiança de Amanda... E parece estar conseguindo. Vamos continuar acompanhando... Não se esqueçam de comentar, dou pulinhos aqui quando vejo comentários. E votem e indiquem, se estiverem gostando... Um beijo no coração de cada um, e um ótimo final de semana para vocês!!!
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