c a p í t u l o - 🇻 🇮 🇮 🇮
Senti a alma sair do meu corpo.
Quando Samantha pulou em cima daquele soldado e o tocou com seus dedos macios, vi sombras e escuridão, muito mais intensas do que antes. Seus olhos se tornaram totalmente negros e seus cabelos esvoaçaram enquanto a névoa escura os rodeava com intensidade. Vi os olhos do atirador revirarem, como em um momento de pavor completo e então, eles despencaram no chão.
Quando ela caiu, me olhando nos olhos, senti o meu mundo cair por um segundo.
— SAM! — gritei, pegando ela em meus braços.
Coloquei meu ouvido em seu peito e fiquei aliviado ao sentir seu coração pulsando. Mas eu sabia que ela estava ferida. A forma como o seu tronco estava distorcido e a quantidade de sangue à nossa volta me mostravam isso. Ela poderia estar não só com muitos ossos quebrados, como com uma hemorragia. Não podia deixá-la. Não podia deixar que mais nada acontecesse.
O alarme do complexo tocava e eu pude ouvir as batidas na porta da escadaria, soldados prontos para descer. Então, ouvi um gemido. O soldado vestido de vermelho havia acordado e agora me olhava. Não da mesma forma que antes e sim, como se estivesse totalmente perdido. Peguei a arma de Samantha que estava caída ao nosso lado e apontei para ele.
— Por favor! Onde estou? Quem é você? O que estou fazendo aqui, sargento? — perguntava ele sem parar, com as mãos levantadas, os olhos firmes, como se doessem.
— Você me conhece? — perguntei, me levantando, com os olhos fixos nele, enquanto pensava na melhor forma de levar Samantha.
— Sim, senhor. Servimos juntos — disse ele, olhando para o chão, levantando lentamente. — Ah, por Deus. Fui eu quem fez isso? O que aconteceu?
— Você, vem com a gente — praticamente cuspi, entredentes. — e pode ser que eu não o mate.
Ele levantou as mãos, rendido.
— Sim, senhor — respondeu ele, assustado, confuso.
Ouvimos mais um estrondo. Seja lá quem estivesse em cima, havia conseguido arrombar a porta. Seriam apenas alguns minutos para que chegassem ali.
— Agora, vamos, você na frente, eu mostro por onde — falei, enquanto pegava Samantha do chão com todo o cuidado, a deixei em uma posição mais ou menos confortável em meu colo na qual eu pudesse segurar a pistola com a mão biônica, caso precisasse usá-la de verdade. Apertei um botão de aviso e mostrei com a arma por onde ir, tentando adivinhar. Então um homem apareceu.
— Estão indo pelo lado errado. Venham por aqui, senhores — um senhor de idade, zelador, nos avisou. Ele vestia um pequeno pingente em colar e apontava pelo lado certo. Apenas assenti com a cabeça e cutuquei o soldado para que ele seguisse por onde o homem havia ordenado.
O soldado vermelho caminhou pelo caminho que eu lhe mandei em silêncio e saímos por uma das portas dos funcionários da limpeza, pelo subsolo até um túnel que ia para a rua. Imagino que quando os soldados chegaram na sala, não havia nada além de sangue e muita coisa quebrada dentro daquele museu.
Samuel surgiu com um furgão preto brilhante e Jo abriu a porta de correr para nós.
— Entra — disse ela.
— Vamos logo — falei para o soldado, apontando a arma para ele.
Coloquei Samantha de uma forma confortável, esticada, no espaço da van enquanto ela saía silenciosamente em direção ao nosso complexo. Jo me ajudou com o soldado, apontando uma pistola para ele durante o trajeto enquanto eu observava os ferimentos de Samantha. Por toda a experiência que tive e ao tocá-la, percebi que haviam muitos ossos fraturados e muito sangue perdido.
68 horas.
Passei sessenta e oito horas perto daquela garota esperando que seus olhos abrissem. Ela estava tão ferida quando imaginei e mesmo oferecendo o soro de cura que tínhamos para acelerar o processo, as coisas ainda assim, demoraram bastante. O trauma havia sido muito grande e não sabíamos quanto poderia demorar para ela acordar.
Muita gente a via como uma inimiga ali dentro. Por isso, não pude simplesmente deixá-la largada enquanto fazia outras coisas. Apesar de que, com a ajuda de Samuel, consegui separar informações que questionaria ao soldado vermelho assim que estivesse disposto. Neste momento, ele estava em uma das celas, preso com uma montanha de arquivos sobre si mesmo.
Ele havia lembrado de seu nome. Philip. Philip Soldried.
Sim, aquele Philip Soldried.
O soldado que havia desaparecido há décadas, provavelmente congelado e descongelado como eu para prolongar a vida. Não se lembrava de quem era, muito menos como havia chegado até aquela sala, mas nós poderíamos fazê-lo lembrar. E eu sei como aquilo pode ser doloroso.
Samantha estava deitada na cama hospitalar cheia de fios e tubos. Mas ela estava viva. Respirando. Era alguma coisa.
— Ela é realmente muito bonita — disse Samuel, sério, apoiado no batente da porta com os braços cruzados sobre o peito. Eu fiquei em silêncio. — Não se preocupe Bucky, ela vai acordar.
— E se não? — perguntei, tocando a mão dela, esperando que ela pudesse ler o que eu sentia para não precisar falar.
— Ela vai — disse ele. — Se não, teremos muito trabalho para fazer.
— Você sabe o que vamos precisar fazer, não sabe?
— Encontrar aquele cara, não é?
— É. Ele e depois aqueles documentos.
— Esses papéis devem ter desaparecido do museu agora. Claramente quem estava por trás deles fez isso. Trouxe aquele soldado vermelho.
— Pode ser que sim. Pode ser que não — falei, franzindo os lábios, olhando os bipes do coração de Samantha.
— Precisamos de todos aqueles nomes para saber quem estaremos enfrentando, Bucky — Samuel refletiu, em um tom de voz mais baixo.
— Eu sei. Só não será hoje — retruquei, olhando para ele.
Samuel assentiu. Desde que Samantha chegou ali, naquele estado, ele não havia feito nenhuma piada cruel ou sarcástica. Eu o admirava por isso. Naquele momento, ele apenas ficou ao meu lado e me apoiou. Seja essa uma decisão boa ou ruim, ele ficou ao meu lado e se ofereceu para cuidar dela enquanto eu dormia.
Sabíamos que não era possível perdê-la de vista. Havia muita gente interessada e ela era forte. Importante. E eu devia isso a ela por tudo o que já a fiz passar, não só agora, mas em seu passado. Só de lembrar dos acontecimentos que li naqueles documentos, meu rosto ardia novamente, sem saber como agir. Eu precisava contar aquilo, mas precisava ser no momento certo, ou ela me odiaria para sempre.
Eu não sabia se suportaria o olhar de decepção de mais alguém.
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