Capítulo 2
Imortalidade.
Este era um termo que Haoyi nunca tinha entendido bem até entrar em reclusão e conhecer um espírito peculiar, que se tornaria seu mestre pelos próximos doze anos. Fang Dang, como ele dizia se chamar, falava que a imortalidade era apenas uma forma dos seres humanos se acharem superiores e terem mais poder, mas, para Haoyi, a imortalidade acabou se tornando um caminho que a permitiria ajudar outras pessoas por centenas de milhares de anos. Fang Dang parecia ser o tipo relaxado e que não se importava com nada, apesar de ser um mestre rígido, mas com o tempo se tornou companheiro e o melhor amigo de Haoyi, ensinando-a os caminhos da mente e do coração e lapidando seu núcleo espiritual como uma pedra bruta, o refinando ao ponto de ser tão brilhante quanto o ouro.
Com seu mestre, Haoyi aprendeu toda a história de sua seita e como o grande ancestral Gu Jin Xin-Zushi conseguiu construir seu legado, sendo um dos mais jovens fundadores de seita de sua geração e subindo a ponto de tornar Huoxue (1) uma das cinco maiores seitas da nação.
Quando seu confinamento chegou ao fim e Haoyi abriu o último selo da câmara secreta, Fang Dang a presenteou com Chongseng (2), uma arma única cujo nenhum cultivador foi capaz de ver sua verdadeira forma. Para cada usuário, ela era uma coisa diferente. Seu formato padrão era o de uma espada, mas conforme o desejo e necessidade de seu mestre, ela poderia se transformar em tudo. Isso só era possível graças a Fang Dang, que armazenou todo o seu poder na arma e se fundiu a ela, tornando-a quase um ser consciente.
Não que as outras armas e artefatos não pudessem criar vínculos com seus mestres e terem suas próprias emoções, mas nada se comparava à Chongseng, por isso tantos buscavam a famosa espada de Gu Jin Xin. Dos cultivadores que passaram pelos treinamentos de fogo, a maioria só estava ali por causa das histórias sobre a arma lendária que matou Huodou e que liderou Huoxue à glória, mas eles possuiam falhas morais gravíssimas e pensavam em utilizar a espada para ter dominância e passarem por cima de todos. Fang Dang jamais permitiria que seu poder fosse utilizado para o mal.
A seita Huoxue valorizava a justiça acima de tudo, e todos aqueles relacionados a ela deveriam seguir o mesmo princípio, sem distinguir ninguém por suas condições de vida, gênero e função na sociedade.
Quando saiu do olho do vulcão, Gu Haoyi esperava encontrar seus pais, seus irmãos e juniores ali, mas a cidadela estava em ruínas. Não era pela lava que percorria para todos os lados, pois aquelas paredes conseguiam suportar coisas piores, e sim como se tudo ali estivesse assim há muito tempo. Era como se uma guerra tivesse acontecido ali e muito poder espiritual fosse utilizado. Aqueles pilares eram quase indestrutíveis, e ainda assim um deles estava em pedaços no chão.
— Ma... Pa... - ela sussurrou, sentindo a angústia e o desespero tomarem conta de seu coração.
Ela correu em direção aos aposentos de seus pais, apenas para encontrar o chão batido e destroços. Do salão principal, onde o líder da seita realizava suas conferências e comemorações, restavam apenas a cadeira de pedra carvada, faltando um dos braços. Até mesmo os jardins de lótus, que sua mãe tanto amava e preservava, haviam desaparecido.
Não tinha mais nada naquele lugar, nem mesmo um sinal de vida havia restado.
Por estar em reclusão, ela não sabia sobre a Grande Guerra e nem mesmo imaginava que estava sozinha nas câmaras subterrâneas. Os inimigos até invadiram as salas de armas e câmaras de treinamento em busca dos tesouros e da valiosa Chongseng, mas graças às barreiras de Fang Dang, não descobriram a sala secreta e assim a sobrevivência de Haoyi permaneceu desconhecida por todos.
A garota, sem ter um rumo, cambaleou com suas pernas fracas em direção à entrada da cidadela, passando pelos grandes três arcos que se mantinham de pé, mesmo após toda a devastação do lugar. A lava que corria para fora dificultava seus passos, mas ela não ligava, continuava a andar. A cada arco, as lágrimas que percorriam por suas bochechas diminuíam e um ódio nunca antes sentido começava a preencher seu peito.
Ao chegar no primeiro degrau da longa escadaria que levava ao pé do Velho Montenegro, Haoyi olhou para trás, encarando a estátua de touro que continuava a cuspir magma ardente sem parar.
— Olho por olho... Dente por dente... Alma por alma. - ela recitou o lema escrito nos arcos que havia acabado de passar, finalmente entendendo aquele conjunto de frases que, até hoje, eram sem sentido para ela.
A justiça deveria ser feita e tudo deveria ser pago, um por um.
Gu Haoyi havia decidido. Como sua primeira missão para a limpeza deste mundo, traria Huoxue de volta à vida, mesmo que aquilo custasse sua própria sanidade e poder.
A corrente brilhante, antes enrolada em sua mão, se transformou em uma pequena flauta de bolso, chamando a atenção da garota.
— Hum? - ela observou o objeto, pensando que talvez fosse algum tipo de flauta que encantaria pessoas ou animais.
Era a primeira vez que via Chongseng se transformar sem intenção direta dela. Não sabia para quê precisaria de uma flauta, mas entendeu que não deveria subestimar o poder daquela arma, confiando na criação de Fang Dang e continuando a caminhar.
***
1. Huoxue (火血): Sangue de Fogo. Gu Jin Xin escolheu este nome pela habilidade que ele e seus descendentes receberam de serem imunes ao fogo e altas temperaturas.
2. Chongseng (重生): Renascimento. Fang Dang deu este nome porque sua fusão com a arma espiritual foi como um renascimento para ele, um novo rumo e o desvio do caminho que ele estava destinado a ter.
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