Capítulo 1
Quando Gu Haoyi finalmente emergiu no centro do lago borbulhante, sua visão demorou para se acostumar com a claridade do céu acima. O sol estava se pondo, mas a luz que o astro emitia irradiava como se fosse o início da manhã. Ao seu redor, o magma se descontrolava e transbordava com raiva, tornando difícil o ato de se manter com a cabeça para fora do fogo. Em sua mão, uma longa corrente se enrolava, quente como a brasa de uma fogueira, mas incapaz de queimar sua pele, assim como a lava em que flutuava. Usando o objeto como apoio, Haoyi jogou a corrente em direção a um dos pilares de mármore que rodeava o lago em que estava, puxando seu corpo para fora da lava com toda a força que tinha, desabando nas pedras solidificadas que se acumularam por milhares de anos no topo daquela montanha agitada. Graças ao imenso poder espiritual que a rodeava, os anos em meditação não atrofiaram seus músculos, mas não impediram que ficassem fracos e instáveis, transformando qualquer esforço físico em uma grande dificuldade.
Enquanto respirava pesadamente, ela parou para pensar em quanto tempo havia se passado desde o dia em que se separou de seus pais para avançar em sua cultivação. Haoyi tinha apenas quatro anos de idade e não entendia o motivo de ter que passar por um desafio que apenas seus irmãos e irmãs de seita acima dos 13 anos podiam realizar. Aquela decisão tomada por seu pai foi duramente criticada pelos mestres, mas ninguém ousava criticar em voz alta o líder da seita, então apenas se calaram e deixaram que sua ordem fosse cumprida.
Haoyi ainda tinha muitos questionamentos em seu coração, estava extremamente ansiosa para se encontrar com seus pais e descobrir os motivos de sua reclusão forçada. Em sua cabeça, não fazia o menor sentido mandar uma criança que sequer possuia consciência plena de seus atos para dentro daquele caldeirão fervente debaixo da terra. Ela estava grata por todo o aprendizado que obteve e pelo poder que circulava em seus meridianos, mas a falta que sentiu de sua família e de tudo o que deveria ter vivido era ainda maior que sua gratidão.
Na época, quando entrou em reclusão, Gu Haoyi foi recepcionada por uma vasta claridade. Havia magma por todos os lados e, no centro da câmara, um homem estava de costas, escrevendo algo em uma folha de pergaminho. Mesmo sendo tão jovem, Haoyi já tinha ouvido falar daquela pessoa, mas nunca pensou que ela realmente poderia existir.
— Imortal-gege...
As costas daquela pessoa se endireitaram subitamente e ele parou por alguns segundos, como se estivesse pensando se havia escutado corretamente ou se estava louco, e então, o homem virou a cabeça lentamente, olhando com surpresa para o pequeno ser que não media mais que um metro e que o observava com curiosidade e receio.
— Quem...?
— Imortal-gege, eu quero a minha mãe... - Os olhos da criança se encheram de lágrimas, e o homem não teve outra opção a não ser se levantar e se aproximar, observando-a ainda mais.
— Você não deveria estar aqui. Quem o enviou, menininho?
— O meu pai quer que eu seja como meus irmãos... Eu não quero!! Eu quero voltar! - Com o pensamento de que nunca mais os veria, Haoyi chorou ainda mais.
— Não chore, está tudo bem! Você verá sua família em breve! Seja um bom garoto e pare de chorar, hum? - Fang Dang não era acostumado a lidar com crianças e estava começando a se desesperar internamente, quase amaldiçoando as pessoas que enviaram um ser humano tão minúsculo para aquele lugar.
— Eu não sou um menino! Haaaahhh!!! - O choro se intensificou.
— Tudo bem, garotinha, me desculpe. Este tio está há tanto tempo aqui que mal posso diferenciar meninos e meninas. Qual é o seu nome?
— Gu Ha-aoyi... - Sua voz era trêmula e ela tentava com esforço parar de chorar.
— Que nome bonito! Tenho certeza que combina com uma garotinha gentil como você.
— O senhor não me conhece, como sabe se sou gentil ou não? - O choro finalmente estava se acalmando e agora a criança o olhava, seu rosto inchado e vermelho, molhado pelas lágrimas que ainda escorriam livremente de seus olhos.
— Se você tem o sobrenome Gu, tenho certeza que veio de pessoas justas e gentis. Seu ancestral era este tipo de pessoa.
— O senhor conheceu o meu avô?
— Este tio conheceu seu ancestral mais velho que o pai do seu avô.
— O senhor é tão velho assim?
— Ei, eu sou imortal, não velho! Não tenho sequer uma ruga!
Haoyi o olhou com confusão, sua pequena mente imatura não conseguia entender o que ele estava dizendo e preferiu simplesmente ignorar, desviando seu olhar para observar a câmara em que estavam. Seu irmão mais velho sempre a importunava e ameaçava jogá-la na boca do vulcão toda vez que estava irritado, o que fez com que a criança agora sentisse o maior medo de sua vida ao ver as ondas de lava rondando a câmara, feita da mais pura energia espiritual do ser imortal que ali morava.
— Não tenha medo, estou protegendo este lugar há séculos. Não há o menor risco, você está segura.
— Mas...
— Este tio promete que irá te proteger e que nada vai acontecer, hum?
— Tá...
— Deixe-me dar uma olhada em você... - Fang Dang examinou rapidamente os pontos vitais da criança, notando um ligeiro conflito entre sua fraca energia espiritual e uma força desconhecida. Ele franziu a testa, olhando para a criança claramente saudável na sua frente. - Você é estranha... Talvez isso seja o motivo de você ter entrado sem eu notar... Mas porque as barreiras protetivas não foram ativadas?
Era um mistério como aquela criança boba havia conseguido entrar na câmara secreta. Normalmente, aquele era um desafio onde apenas os jovens mais excepcionais e aptos a encarar os testes de Fang Dang conseguiam alcançar, após passarem seus anos em treinamento e meditação. O imortal não via um cultivador ali há anos, então foi surpreendente ver um ser humaninho chegar com tanta facilidade e confusão.
Gu Haoyi não tinha nenhum poder advindo da cultivação, então não poderia desvendar os selos que escondiam a entrada daquela câmara, muito menos parecia saber manusear uma arma ou lutar, então como?
Aquela incógnita, ao mesmo tempo que assustava Fang Dang, também o fascinava e o deixava curioso. A criança não conseguia sair e não sabe como entrou, então provavelmente ficaria ali até ter força suficiente pra abrir o portal de saída ou encarar a expulsão da derrota. Até o momento, ninguém foi capaz de sair daquela sala pelo portal, apenas expulso após tentar ganhar a honra de receber o presente de Fang Dang.
Talvez... Se aquela criança fosse digna, pudesse desembainhar a espada e tirá-lo dali.
Fang Dang estava há tantos séculos preso naquela câmara, que não se recordava mais de como era o mundo lá fora. Só poderia sair se o verdadeiro merecedor da espada lendária fosse aceito como seu portador.
Em todos estes anos, não houve ninguém tão digno quanto Gu Jin Xin.
Será que aquela criança, de sangue Gu, poderia encarar esta responsabilidade?
Fang Dang descobriria aquilo doze anos após aceitar Haoyi como discípula.
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