Capítulo 8: Ganhar ou perder - parte 2
Já no bar, Gil nos contou que tinha um plano totalmente seguro para conseguir esse dinheiro. Perguntei se envolvia algum assalto a banco ou extorsão de dinheiro. Ele me assegurou que era um meio totalmente legal, mas nos poupou dos detalhes.
Pegamos um táxi e era aquele mesmo motorista de outras tantas vezes, ficou contente ao ver Gil. Ele perguntou para onde íamos, Gil deu o endereço anotado pra fazer mistério. Ele começou a dirigir, dirigiu bastante até que chegamos no aeroporto. Fiquei indignado com aquilo e perguntei:
-É sério isso? Está nos levando em uma viagem Deus sabe a onde e só ele pra saber a finalidade de que vamos.
-Relaxe Gabb. Como disse, não tenho o dinheiro em espécie aqui. Mas vamos buscá-lo. Tenho investimentos em outra cidade e vamos pegar o dinheiro lá.
-Tudo bem. E onde fica?
-A cidade da paz e do amor. A cidade berço da sorte grande.
-Não conheço nenhuma cidade com essa descrição. - Eu disse.
-Vai conhecer.
Gil tinha umas passagens com ele, eram três, a conta certa. Não sabia em que momento as tinham comprado, mas ele as tinham. Pegamos o portão de embarque, subimos no avião e nos momentos finais é que fiquei sabendo pra onde estávamos indo. Cidade da paz e do amor que nada, berço da sorte uma ova, estávamos indo pra cidade do pecado, a famigerada: Las Vegas. Quando recebi a notícia quase dou meia volta e vou embora, sem sequer ver o avião e disse:
-NÃO. AH, NÃO! nem ferrando que você vai nos arrastar pra Las Vegas. Já não basta os problemas que podemos arrumar em Nova York em grande parte por sua culpa, agora quer nos arrastar pra Las Vegas? Você tá louco? não pensa Gil?
-Foi justamente pensando que cheguei nessa decisão. Seu irmão só tem um mês pra pagar essa dívida. Ele não tem o dinheiro, eu não tenho e você menos. Duvido que algum dos nossos amigos tenha essa quantia e a menos que você conheça alguém rico a quem pedir uma grana ou seus pais mandem uma boa mesada, temos que rebolar pra conseguir esse dinheiro. Você tem ideia melhor Gabb? Estou aberto a sugestões.
-Nunca pensei que diria isso, mas você está certo. Não temos muito tempo, nem de onde tirar esse dinheiro. Se você diz que pode, garante que é um meio legal e precisamos ir a Las Vegas pra isso... Tudo bem. Vamos a Las Vegas.
-É assim que se fala, Gabb!
-Irmão, não é tão mal. É Las Vegas. - Disse Bob, tentando me consolar.
A viagem levou em média umas cinco horas.
Enquanto isso, conversei sobre essa história toda com Bob.
-Tá legal, a quanto tempo está metido nessa?
-Isso realmente importa?
-Se eu estou perguntando é porquê alguma relevância tem. Por que está sendo evasivo? Não pode falar com o seu irmão?
-Evasivo? eu não estou sendo evasivo.
-Então por que não fala comigo? Por que das apostas? por que não me contou antes? Não é por nada, mas tenho a ligeira impressão que não perdeu essa grana toda como num passe de mágica e aquela não foi a primeira carta de aviso.
-E que diferença isso faz pra você, por favor, me poupe dessa sua preocupação desnecessária. Onde estava você quando eu precisei, Andrew? Quando os valentão me espancavam na escola, quando papai e mamãe me olhavam com olhar de reprovação e me punham de castigo, quando eu tive problemas com a polícia por supostamente fazer vandalismo...só pra esclarecer, fui acusado injustamente. Saía com uma galera que aprontava, um dia fomos pegos e toda a culpa caiu sobre mim. Onde estava a você irmão, quando bebi minha primeira cerveja sozinho na chuva após ser dispensado no baile? Sabe o quanto eu queria meu irmão ali pra me a ajudar, pra me apoiar nas horas difíceis, pra ser um modelo pra mim ou só pra conversar comigo pra eu não me sentir tão sozinho? Sabe que nossos pais sempre foram um tanto ausentes. Eu tinha esperança em você, Andrew. Que você voltaria e seria o irmão que eu tanto precisei. Na verdade, todos tinham esperanças em você. Nossos pais sempre o admiraram, desde cedo você já mostrava muito potencial, suas notas eram sempre as melhores e muito jovem, conseguiu uma bolsa de estudos em uma das melhores universidades do país. Você era o orgulho deles, ainda é e o que sobrou pra mim? Me diz. Eu sempre fui um tanto faz pra eles. Enquanto você cresceu cercado de amigos e livros nessa sua universidadezinha chique. Eu cresci sozinho, eu aprendi a me virar.
-É, aprendeu a se virar e olha só onde estamos agora.
-Isso é problema meu. Foi idiotice te ligar, quando percebi o erro, decidi que nem iria mais te contar. Essa é minha vida, o problema é meu e eu sei resolver meus próprios problemas. Se fizesse alguma diferença pra você, você teria voltado como prometeu. Você prometeu porra! Eu nem sei porquê ainda me importo.
-Eu... Eu sinto muito Bob.
-É pouco e é tarde pra isso. - Ele disse enquanto se levantava da mesa da lanchonete que estávamos e caminhava para o estacionamento.
Gil voltou com os pedidos e disse:
-Beleza gente, voltei com os pedidos. Cês curtem natchos e molho? provem o molho, tá uma delícia. Se fosse uma loira bem desenhada e esculpida na flor do desejo e na cor do pegado eu a levava pra casa.
-Gil... -chamei sua atenção pra que percebesse que não era uma boa hora pros seus comentários.
-Cadê o Bob? Veio um brinde junto com os lanches. Achei um Pikachu, acho que ele vai gostar. Mas vou logo avisando, o Pikachu é meu, mas ele pode ficar com um charmander. Ele tem cara que gosta de um foguinho, haha.
-Gil, uma vez na vida você pode agir como uma pessoa normal? Suas piadas são uma droga, seus planos são uma droga, você nunca pergunta, sempre age por impulso e faz a gente fazer coisas que não tá afim, tipo isso agora. As vezes eu me pergunto, porque ainda sigo você.
-Eu tenho sentimentos sabia? Coisa que você parece não ter, porque ignora o de todos os outros. Seu irmão também tem e quer saber? Você não está chateado comigo, está com raiva de você mesmo por ter sido um cuzão, filha da puta e egoísta com seu irmão. Eu pude ouvir um pouco da conversa de onde estava. Você nunca ligou de volta, cara! Que espécie de irmão é você? Você se julga o imaculado Andrew Gabriél, mas é tão imperfeito e tolo quanto todos nós. Eu não sou o vilão da história Gabb. Quer saber, pode ficar com o Pikachu, ele tem a sua cara: um rato amarelo idiota.
Gil saiu pela porta e foi atrás de Bob, eu curvei a cabeça sobre a mesa, respirei fundo, peguei aquele bonequinho estúpido de um Pokémon e fiquei pensando em tudo que disseram. Eles tinham razão, eu pisei na bola com meu irmão, é capaz de eu ter estragado a vida dele. Crescer a sombra de uma figura que você admirava, mas que de repente se torna apenas um lugar vazio, não deve ser fácil. E Gil, mas uma vez estava certo. Acho que isso já tá virando um costume. Eu não estava com raiva dele, estava com raiva do fato do meu irmão não ter me contado antes, de mesmo sabendo, não poder fazer muito e raiva por ele ter razão.
Nossos pais, embora ausentes tinham muitas expectativas quanto a mim, era sutil, mas cada olhar transparecia suas cobranças sobre mim. Eles queriam que eu fosse do jeito deles e eu só queria ser eu mesmo, queria poder escolher o que fazer, o que ser sem que sempre ficassem me censurando e tentando me dissuadir de minhas ideias. Eu mal podia esperar pra ser independente e tocar minha vida sozinho, era um sonho de liberdade. Quando a oportunidade chegou, sequer olhei pra trás e esse foi meu erro. Meu irmãozinho precisava de mim e eu falhei.
Enquanto refletia isso, algumas lágrimas rolavam pelo meu rosto e encharcavam meus natchos.
Levantei, enxuguei as lágrimas e me dirigi ao estacionamento, lá estavam Gil e Bob, sentados no chão, dividindo um pacote de salgadinhos e chorando.
Eu me aproximei deles, meio cabisbaixo e envergonhado. Olhei bem pra eles e disse:
-Gil, Bob, sinto muito por tudo que disse e fiz. Olha, eu sei que as vezes tento fazer tudo certinho, tento fazer as coisas serem perfeitas mesmo quando não dá e sei o quanto isso pode ser chato as vezes. Também sei que falhei com vocês. Eu fui meio insensível, fui egoísta e burro. Eu sinto muito. Só quero que saibam que independente de tudo... Eu amo vocês caras.
-Isso foi tão boiola, Gabb... {choro}. Mas foi o comentário boiola mais doce que eu já ouvi... {choro}. Vem cá, chora aqui com a gente. Hoje a noite é de conchinha. Gente eu tô me sentindo tão... tão... esquece, eu deixo a boiolagem pra vocês mesmo.
-Cala a boca que você tá adorando. Boiolagem é com você mesmo, vide o Rick {risos} - Eu disse.
-Esse cara não Gabb. - Disse Gil, fazendo uma cara de quem ia vomitar. O que teria acontecido entre esses dois?
Bom, não importa. Gil pegou o telefone e ligou para um amigo que estava na cidade, ele disse pra encontrá-lo em um local específico e usasse o porsche.
O local eu até entendi, mas por que a exigência do Porsche? Isso era algo que teríamos que descobrir.
Gil disse:
-Otimo, próxima parada: Cassinos.
-Cassinos? Seu grande plano são cassinos?
-Não se preocupe. Vou encontrar alguém lá e depois vamos pegar o dinheiro.
-Não tenho nada contra cassinos, apesar de nunca ter colocado os pés em um.
-Não se preocupe, você vai adorar é tipo uma casa de tavolagem. - Gil disse.
-E o que é isso? - perguntei.
-Ah, é um cassino.
-Olha, acho que o que você vai fazer é o de menos, só me diga que tem um plano.
-Eu tenho um plano, Gabb.
-E qual o plano?
-Ter um plano melhor e seguir o plano.
Era uma resposta bastante insatisfatória e me preocupava. Não tinha certeza do que faríamos, como faríamos ou se voltariamos vivos pra casa. Era las Vegas, não conhecemos nada ali e ao que sabemos rola de tudo em Vegas. Mas quando em Vegas...
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