Capítulo 6: Como um mês só nosso - parte 4
Não era por nada, mas com aquele tratamento, eu me sentia mesmo como se tivesse doze anos outra vez. Ela tinha preparado um café da manhã delicioso. Agora sabia de onde Michelly tinha herdado o talento para a cozinha. Com algumas horas passadas, Henry disse que iria no centro da cidade, comprar algumas coisas e perguntou se queríamos ir. Michelly disse que ficaria em casa, ajudando a mãe e cuidando da Mia, mas seria bom que eu fosse. "É bom um tempinho só para os rapazes", ela disse. Fui com Henry até o centro da cidade. Compramos algumas frutas, uns iogurtes, pães e biscoitos recheados, compramos também alguns vestidos, umas roupas. Eu não sou de me gabar, mas tinha um bom gosto que foi adquirido com o tempo. Henry me perguntava: "Este está bom? O que você acha?". Quando gostava das peças de roupa eu confirmava para ele que aquelas estavam boas, quando não, dizia que seria melhor vermos outras opções. Compramos alguns lindos vestidos para Vivian e Michelly. Após fazermos as compras, demos um passeio pela cidade e Henry teve uma conversa comigo.
-Olha, Andrew. Eu fico muito feliz que você esteja com Michelly. Você parece um cara muito legal, um cara direito, e Michelly é uma garota muito esforçada, muito batalhadora, eu diria uma verdadeira guerreira Amazona. Ela passou por muitas dificuldades com a separação dos pais, a mãe querendo impor suas vontades sobre ela, os ex-namorados e ter que se virar sozinha no meio do mundo. Os jovens hoje em dia caminham numa corda bamba, pode pender a qualquer momento para qualquer lado. Michelly caminhava todos os dias nessa corda bamba, como muitos jovens, ela podia ter pendido para o lado errado. Mas graças a Deus, ela continuou no caminho certo. Não estou falando mal da Vivian. Eu amo Vivian, ela é uma boa companheira, mas é uma mulher difícil. Ela não apresentou muito apoio ou segurança pra Michelly quando jovem. Michelly a culpava um muitas coisas. Até me admira que hoje ela não seja ressentida com a mãe. Vivian não concorre ao prêmio de melhor mãe do mundo para quem a conhece. Eu acho que Michelly precisa só de um suporte, de alguém que a apoie e esteja ao seu lado. Acho que você pode ser essa pessoa, garoto. Vê se cuidada bem dela, tá? Ela não é minha filha, nem nada, mas é como se fosse. Ela é uma filha pra mim, espero que talvez, quem sabe, eu possa ser um pai pra ela também. Cuide bem dela.
-Sim, senhor. Eu darei meu melhor. Amo Michelly, a cada dia ela consegue me apaixonar mais ainda. Eu também tive meus casos de relacionamentos fracassados. Não queria me envolver em nenhum relacionamento tão cedo, mas ela apareceu e quando me dei conta... já estava apaixonado por ela. É difícil não se apaixonar por essa garota.
-Eh, as Steinfeld não são fáceis. Elas são fogo mesmo. Mas quem tem uma dessas, é um cara de sorte. Já conheceu a irmã de Vivian, Oldris?
-Sim, conheço bem. Inclusive, trabalho pra ela.
-Aquela é uma boa mulher. Tive o prazer de conhecê-la. Conheci quando ainda era uma cantora no início de carreira, chamava Elibelly, se bem me lembro.
-Isso. Ela nos contou essa história uma vez. Até se apresentou recentemente em uma casa noturna.
-É mesmo? Se apresentou mais uma vez pelos velhos tempos? Essa eu gostaria de ter visto.
-Quem sabe se vier nos visitar algum dia em Nova York, não a veja em cena.
-Quem sabe, não é mesmo.
Rimos e dirigimos até chegar em casa. Logo que chegamos, Henry guardou o carro na garagem e entramos. Michelly nos recebeu, mas parecia um pouco desconsolada, seu nariz estava escorrendo e seus olhos estavam meio irritados. Imaginei que pudesse estar chorando antes de chegarmos, a abracei, puxei um lenço do meu bolso e disse pra ela assoar o nariz. Vivian veio até nos e estava do mesmo jeito, nariz escorrendo um pouco e olhos irritados. Henry perguntou o que estava acontecendo ali, o que tinhamos perdido. Vivian deu uma justificativa de que a gravidez a tinha deixado sentimental e ela se emocionou lembrando algumas coisa do passado junto com Michelly, e as duas ainda estavam um tanto emocionadas. Pelo menos eu, não cai nessa desculpa e acho que Henry também não. Todos fomos para a cozinha, tomar um café e conversamos, guardamos as compras e mostramos a Vivian e Michelly, as roupas que tinhamos comprado para elas. Elas ficaram muito contentes, nos agradeceram com um longo abraço. Estavamos todos nós à mesa, quando a senhora Steinfeld perguntou:
-Mas e então? Quais os planos de vocês crianças? Por que não nos contam um pouco?
Henry disse:
-Ah, pare com isso querida. Eles ainda são jovens e estão juntos a tão pouco tempo, não é de se esperar que já estejam fazendo planos.
-Na verdade, temos sim algumas coisas em mente. - Eu disse.
-Ah, é? Então por favor, nos contem. - eles disseram.
Michelly tomou a palavra e disse:
-Bom, eu e Andrew já temos um trabalho que paga bem, até... ele vai seguir carreira de escritor e será um grande autor. Eu por outro lado, bom, não tenho certeza. Mas os meninos estavam me encorajando a correr atrás de um antigo sonho de criança, que era ser repórter. Vamos correr atrás de nossos sonhos, vamos continuar juntos e com tempo e sorte, vamos achar um lugarzinho só pra nós e vamos levando a vida devagar.
-Mais pra frente, vamos comprar um bom lugar e começaremos uma vida juntos. Vai ser perfeito ou pelo menos, o mais próximo disso. - Eu disse.
-Olha, se vocês estiverem interessados... tem boas casas aqui em Union Square. Vocês ficariam bem próximos da gente. Caso não queiram aqui, tem outros bairros. São Francisco é uma boa cidade pra se morar. - Disse Henry.
Respondi:
-Não tenho dúvidas, mas nosso trabalho, casa e amigos estão em Nova York. Mesmos assim, quem sabe um dia a gente não venha morar em São Francisco, pertinho de vocês.
Tomamos nosso café e fomos para o quarto. Perguntei a Michelly o que realmente tinha acontecido que estavam chorando quando chegamos. Ela sorriu e disse que não era nada. Vi seu sorriso se desfazendo lentamente e se transformando num choro que tentou engolir, tentou esconder cobrindo com a mão, a boca. Ela veio em direção a mim e a abracei. Passei a mão em seus cabelos e disse:
-Está tudo bem. Eu estou bem aqui. Só ponha pra fora.
Ela respondeu dizendo:
-Agradeço o que está fazendo, mas não. Não está tudo bem.
-Você quer me contar o que houve? - Perguntei.
-É que... é que... minha mãe... Ela está doente.
-Você já tinha dito isso antes. O que foi? Ela te contou alguma coisa?
-Sim. {Choro}.
-O que ela disse? É algo muito grave?
-Minha mãe... Minha mãe... Ela está com Leucemia, Andrew.
-Meu Deus. - Falei colocando uma das mão na testa, depois a abracei forte.
-Sabe o que isso significa, Andrew? Que eu posso perder minha mãe {Choro}. E não é só isso... Mia e a bebê que está para nascer, cresceram sem ela e isso não é justo. Oh, Deus! Meu Deus, por que?!
-Eu não sei o que dizer... tem algo que possamos fazer?
-Não precisa dizer nada. Não diga nada. Só fique comigo, continue me abraçando e não me solte.
-Tudo bem.
Continuei a abraçando. Deitamos na cama abraçados e começamos a conversar. Ela disse:
-Ainda tenho minhas diferenças com minha mãe, mas não queria ter que perdê-la agora. Sempre achei que os teria, meus pais, aqui por bastante tempo, até a minha meia idade e eles estarem bem velhinhos.
-Sabe, eu também pensava isso. Meu pai costumava dizer que eu o teria pra sempre. Enquanto ele estivesse comigo, jamais morreria. Eu era muito criança pra entender, achava que enquanto estivesse com ele, olhando pra ele, meu pai seria imortal. A verdade é que ele estava dizendo, que enquanto eu mantivesse sua memoria viva, mesmo que ele não estivesse mais presente entre nós, ainda sim, ele estaria conosco. Vivo em nossos corações. Só vim entender isso, depois de grande.
-É uma boa mensagem. Uma forma de consolo. Mas e se eu não conseguir manter sua memória viva? E se me esquecer dela? Se não a tiver mais comigo de modo algum? Se em seus últimos momentos, não conseguir ser a filha que ela queria que eu fosse? {Choro}.
-Lembrar é o princípio de nunca esquecer. Lembre-se disso. Não é garantia que você esteja com o pensamento nela, vinte e quatro horas por dia, mas você lembrará. Sempre damos um jeito de lembrar do que é importante. Quando achar que está se esquecendo de algo, escreva um bilhete num pedacinho de papel. Escreva assim: "Para algo que acho ter esquecido: Sei que é importante e te esquecer deveria ser impossível, mas não posso evitar, esquecer o que devia ser inesquecível. Sinto muito, sinto tanto, sentindo assim, sentirei e quando o coração apertar, te lembrarei mais uma vez. Com amor ao que custei a lembrar." Aconteça o que acontecer, sua mãe sempre estará bem aqui... - disse colocando o dedo indicador em seu peito. - No seu coração. E sobre você ser a filha que ela gostaria que fosse... Sua mãe tem orgulho de você. Dá pra ver nos olhos dela. Você com certeza é a filha que ela um dia sonhou, na verdade, é a filha que qualquer um teria sonhado em ter. Quero eu, um dia ter uma filha incrível como você. Seus pais tiveram muita sorte em tê-la. Você é única, Michelly.
-Obrigado, você sempre sabe as palavras certas a dizer. É como se soubesse o jeito certo de me conquistar.
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