E começamos a dançar, mas nemhum de nós era excepcionalmente bom em tango. Dançamos e rodopiamos, errando e improvisando todos os passos. Ao final sentamos e ela disse que teria que entrar. Quando subiu as escadas, a segurei pela mão e perguntei:

-Tem mesmo que ir? Não queria que fosse agora.

Ela respondeu:

-Ah, é? E o que sugere?

-Por que eu e você, não vamos pra minha casa e estendemos essa conversa até mais tarde? Você aproveita e dorme com a gente, lá em casa. Pelo menos, não fico só eu e Bob.

Não sei o quanto ela ouviu, mas Oldris estava ouvindo atrás da porta, colocou a cabeça para fora e disse:

-Não é querendo me meter, mas se vocês querem conversar, seria melhor na casa dele ao invés de ficarem assim, no meio da rua.

-Ô tia! -Exclamou Michelly.

-Você pode vir aqui querida? Andrew, me empresta ela um minuto?

-Sim, claro. - Respondi.

E Michelly foi até sua tia, entrou pra dentro e deixaram a porta semi-aberta. Conversaram um pouco enquanto eu esperava. Vi Michelly voltando e perguntando:

-Tem certeza, tia?

E Oldris respondeu:

-Tenho minha filha, tenho.

Ela desceu as escadas e fomos caminhando para minha casa. Chegamos, bati na porta e meu irmão veio atender, quando abriu a porta estava com uma espátula na mão e usando um avental, tinha massa por todo o seu rosto e o que parecia uma panqueca sobre sua cabeça. Eu e Michelly não seguramos o riso, caímos na gargalhada. Michelly riu tanto que se desequilibrou e quase caiu no chão. Ajudei a segurá-la e entramos. Ao colocar os pés dentro de casa, estava a maior bagunça. Tigelas, pratos, talheres, o garfo ou batedor da batedeira, todos espalhados pela cozinha. A farinha aberta e espalhada, leite e restos de ovo derramados pelo chão. Estava muito bagunçado. Sentei com Michelly no sofá e pedi que ela esperasse ali, pois como tinha se desequilibrado e quase caído, ela podia estar fraca de fome. Ela insistiu que não, mas pedi que ficasse ali e esperasse que eu iria ajudar meu irmão na cozinha. Fui vê-lo tentando dar uma de Sous chef. Era impagável, meu irmão não parecia levar muito jeito na cozinha. Ele estava de costas, coloquei a mão em seu ombro e perguntei o que estava fazendo. Se virou espantado pra mim, pediu desculpas pela bagunça e disse que estava com fome, podia ter pedido alguma coisa por telefone, mas preferiu olhar o que tinha na cozinha e vendo que tinha tudo o que era preciso, resolveu testar seus sites culinários. Olhamos todos os lados, depois olhamos um para o outro e rimos. Chegamos na mesma conclusão: Seus dotes culinários não estavam muito afiados ultimamente. Baixei um pouco o fogo do forno, peguei a receita e olhei o que ele estava preparando. Era um bolo de banana com calda de chocolate. Olhei dentro de uma tigela onde parecia ser a massa, mas estava um pouco esquisita. Estava grossa e fazia una bolos de massa ao mexer, olhei mais de perto e tinha pedaços de casca na massa, muitos pedaços. Experimentei para ver como estava de gosto e bom... tinha um pouco mais de sal que o necessário. Não quis dizer pra ele que sua massa não estava boa, então, resolvi dizer a ele que podia deixar comigo que eu faria todo o resto. Agora seria com que alguém limpasse aquela bagunça. Mal fechei a boca e lá estava Michelly com uma vassoura, varrendo.

-Me dêem licença. Vou deixar essa cozinha um brinco. Nem vai parecer que moram dois rapazes aqui. - Disse ela.

-Michelly. Por favor, vá sentar. Não precisa fazer isso...

-Mas eu quero! - Disse ela.

-Nem sempre querer é poder, coisa linda.

-Sinto muito querido. Sou do signo de áries.

-E o que isso significa.

-Impossível é o cacete! Eu quero, eu posso, eu consigo. Sou áries né.

-Ih, já deu pra ver que ela é teimosa irmão. - Bob disse rindo.

-Essa garota é impossível. Mulheres são fogo. - Respondi.

-Nunca ouviu dizer que o impossível é só questão de opinião? Sou fogo mesmo. Um fogo que arde sem se ver. - Declarou ela.

E eu completei:

-Ferida que doi e não se sente...

-Sheakesper? - Bob indagou.

-Não. Camões irmão, Camões. Um grande poeta.

-Camões? Não é nome de comida isso? - Bob perguntou.

-Não. Aí já é outra coisa. - Respondi e voltamos a cozinhar.

Coloquei todos os ingredientes em uma tigela, bati tudo, untei a forma com manteiga, passei a massa já misturada para ela, levei ao forno e esperamos assar. Enquanto esperávamos, ligamos a TV e estava passando The Tonight Show com Jimmy Fallon, já estava no finalzinho. Vimos um pouco e o bolo assou. Peguei as luvas térmicas e tirei o bolo do forno. Estava quentinho e cheiro tomou conta do apartamento. Michelly e Bob vieram correndo, eu lhes disse:

-Tomem cuidado, está quente. Acabei de tirar do forno.

Colocamos a calda por cima e eles cortaram grandes pedaços de bolo. Bob disse:

-Bem, vejamos. É noite, estamos nós aqui e um bolo de banana.

A cada palavra que ele terminava de dizer, dizíamos:

-Certo.

Então ele perguntou:

-Sabem o que caíria bem agora?

-O quê? - Perguntamos.

-Musica!

Ele foi no som que ficava na sala, começou a mexer e colocou uma música: "Pass the Dutchie". Ele aumentou o volume e disse:

-Venham! Vou mostrar um passo pra vocês.

Ele começou a dançar ao som de Reggae e ia para frente e para trás, de um lado para o outro e voltava a ficar no mesmo lugar. De repente, alguém bate a porta, logo pensei: "Devem ser os vizinhos que vieram reclamar do barulho". Bati com a meu na testa e disse: "ai ai, meu Deus". Fui até a porta, abri e era Noah e Hellen. Noah e Hellen estavam com tocas dreadlocks, na cor tradicional; Vermelha, verde, amarela e preta. Tocas com aquelas trancinhas pendurados, aqueles dreads falsos, e com óculos escuros e um cachimbo. Eles entraram e perguntaram porquê tínhamos baixado o som, ele ouviram que estavam fazendo uma festinha estilo "Made in Jamaica" e quiseram participar. Perguntei a Noah o que tinha no cachimbo, ele respondeu que tinha só fumo e essência de baunilha. Não que eu estivesse desconfiando dele, mas perguntei a Hellen também e ela disse que no cachimbo tinha sim, fumo bom e essência de baunilha, mas ela também tinha colocado um pouco de camomila em pó e outros temperos. Outros temperos... tinha que ter não é? Quando achei que já tinha gente e possíveis problemas o suficiente, Gil sem mais o que fazer, me liga. Pergunta onde eu estava, respondi que em casa e ele disse que a essa hora, ele estava no bar e tinha começado uma briga de garotas que eu não podia perder. Logo ele parou o que dizia e perguntou:

-Ei, espera. Eu estou ouvindo vozes? Você não está sozinho em casa? Você não está sozinho em casa. Meu garoto! Ei, espere. Não tem só vozes de garotas aí, também acho que estou ouvindo a voz de Noah e Bob. E as garotas parecem ser Michelly e Hellen. Vocês estão dando uma festinha e não me chamaram? Gabb! Eu tô indo pra aí.

-Não Gil, não precisa... vir.

Em quinze minutos ele estava lá. Com nós seis reunidos, sentamos, comemos bolo, ouvimos reggae, compartilhamos o cachimbo da paz e dividimos histórias. Como a história de como Noah e Hellen se conheceram e seu primeiro encontro.

-Era o último ano da Faculdade... - Dizia Hellen.

-Ei, espera. Vocês não se conheceram no colegial? - Gil perguntou.

-Não brow. Nos conhecemos no último ano da faculdade.

-Hellen também fez faculdade de direito? - Perguntei.

-Na verdade não, eu fiz de administração. - Respondeu Hellen.

-E foi na faculdade de administração que nos conhecemos. - Noah disse.

-Ele era muito atencioso comigo, ainda é, até hoje. Sempre conversávamos, éramos bons amigos. Então, uma vez eu tinha saído de casa e não tinha comido direito, quando terminamos as aulas, falei com uma amiga que iria pra casa, estava morrendo de fome. Quando me virei, esbarrei justamente nele e meus livros caíram todos no chão. Ele me ajudou a apanhar meus livros, e tinha me ouvido dizer que estava com fome e disse que conhecia um lugar que tinha uma comida da boa. Me convidou pra comermos em uma lanchonete, não muito longe dali. Me fez comentários fofos e perguntou ao final se queria sair assim uma próxima vez. Eu disse: "Claro. Por que não?". Saímos mais algumas vezes depois disso e com uns dois ou três meses, estávamos namorando. Esse foi nosso primeiro encontro. -Contou Hellen.