Capitulo 1: Primavera - parte 3
Ele parecia muito empolgado com aquelas duas, era como se na sua cabeça já tivesse a nossa noite toda roteirizada e em seus planos não cabia nada menos que perfeição. Pelo menos, foi essa a impressão que me passou. Então o chamei de canto e falei:
-Tenho que tirar meu chapéu pra você, nós conseguimos. Mas não sei porque, tenho a impressão que seus planos não param por aqui. O que mais pretende essa noite?
-E não é? Conseguimos! O que eu pretendo. Vamos ver... o que eu pretendo? Fique e você vai ver meu amigo. Apenas fique.
Não sabia se corria ou esperava as sirenes da polícia me alcançarem, não tinha um bom pressentimento sobre aquela noite, mas estava curioso pra ver o que ele faria a seguir, até onde toda essa interação nos levaria. Depois dessa breve conversa, voltamos as atenções pras garotas.
Perguntei pra Jersey:
-Então, o que vocês fazem da vida?
-Bom, eu e minha amiga somos atrizes de teatro, mas trabalhamos em outras áreas também. Eu sou uma pediatra e a Angel...
Angel tomou a frente e disse:
-Sou formada e exerço a profissão de psicóloga.
-Atrizes e outras áreas? Uau, que legal -disse, Gil. E eu concordei.
-Sim, realmente muito interessante. Já fizeram muitas peças? - perguntei.
Jersey respondeu:
-Algumas, mas só projetos independentes por enquanto. Mas tenho certeza que um dia ainda participaremos de uma peça das grandes.
-Tenho certeza que sim. -Confirmou Gil. -Mas então moças, o que vocês gostam de fazer pra se divertir?
-Vamos ao Shopping, ao teatro...- disse Jersey.
-Vamos também ao cinema, frenquentamos alguns bares - Complementou Angel.
-E vamos a festas -as duas disseram juntas.
-Inclusive estávamos procurando algumas festas pra ir essa noite, já estamos indo pra uma agora. Mas vocês sabem de alguma outra? - perguntou Jersey.
Gil, respondeu:
-É claro! Eu e meu amigo aqui sabemos sempre com antecedência das melhores festas.
-Sabemos? - Eu perguntei surpreso.
-Claro que sabemos! E digo mais, se festa fosse uma profissão, nós dois seríamos os profissionais da festa.
Elas riram e acenaram com a cabeça enquanto nos puxaram pra fora daquele bar rumo a uma noite de muita festa e delírios coletivos. Eu não era muito de festas, mas Gil me dissuadiu a segui-lo com uma conversa de que, a melhor maneira de conhecer ótimas pessoas é frequentando as melhores festas. Não era o melhor dos argumentos, mas uma coisa era certa, se queria conhecer pessoas novas, precisava sair mais e frequentar outros lugares.
Lugares além do Central Park, um bar modesto e meu local de trabalho, poucas pessoas ainda frequentavam os mesmos. Eu fazia parte dessa pequena porção de novaiorquinos que pecava nas tradições e hábitos de uma pessoa comum e serena. Mas naquela noite, eu ousaria e me arriscaria numa aventura pela cidade com um colega recém adquirido e duas garotas que mal conhecia. Minha mãe sempre dizia; "se está na chuva, deixe molhar", mas tambem me advertia; "o melhor risco é aquele que não precisamos correr".
Eu já estava na chuva e não achei que era tão alto o risco, por isso mesmo fui com eles.
Saímos de passos apressados, quase correndo e ao virar na esquina, esbarrei em uma mulher. Ela vinha carregando uma caixa cheia de objetos, seus pertences pessoais caíram ao chão, eu me abaixei e gentilmente a ajudei a recolher tudo.
A rua estava mal iluminada, tinhamos pressa, nos desculpamos um ao outro e depois de ajudá-la, ambos seguimos caminhos distintos, mas não sem antes ela deixar cair uma folha com algumas palavras e um colar com nome. Eu apanhei, dobrei o papel e junto com o colar pus em meu bolso. Pegamos um táxi na primeira rua a esquerda, subimos e fomos em direção a primeira festa que elas tinham mencionado.
Ficava à algumas muitas quadras de casa, mas em fim chegamos na primeira festa, acho que se tratava de uma casa de eventos, lá tinha bastante espaço, mas também havia muita gente, ainda assim dava para transitar sem muitas dificuldades.
Entramos, nos esgueiramos pela multidão e chegamos até o balcão de bebidas, Gil pediu dois wiskeys e dois Martinez, os wiskeys pra nós dois e os Martinez para as moças. Sem nenhuma demora o barman colocou nossas bebidas e nos serviu, bebemos um pouco, conversamos e estava tudo muito ótimo. Essa primeira festa tocava uma musicas alta, mas não agridia os ouvidos, não era daquelas de estourar os tímpano, o som estava bom, as bebidas também estavam otimas e o movimento, o fluxo de pessoas estava perfeito.
Tinha gente suficiente pra encher a casa, mas sem que ficassem todos espremidos. O número certo de pessoas naquele lugar e diria que as pessoas "certas" também, pessoas leves, tranquilas de bem com a vida.
Conversei com uns cinco caras e três outras garotas naquela festa e todos me pareciam ser ótimas pessoas. Lembrei de pegar o contato de alguns para marcar uma programação a qualquer dia.
Depois das bebidas e tantas conversas, Jersey disse:
-Ei, o que vocês acham de dançarmos?
-Eu acho uma boa ideia. - disse Angel.
-Eu digo mais, é uma excelente ideia, queridas! Uma boa oportunidade de eu e meu amigo mostrarmos nossos novos passos.
-Novos passos? - perguntei espantado.
Eu não sabia como dizer, não era nenhum segredo que eu não dançava nada bem. Se haviam aulas de dança no colégio, faltei todas elas, pois não sabia um passo se quer. Mas não queria estragar a diversão de todos contando este fato, estavam muito empolgados para que eu jogasse um balde de água fria em seus planos. Bom, a aquela altura do campeonato, já estava tudo molhado mesmo, porque me preocupar? Afinal, não era algo tão incomum ser um mal dançarino.
Angel me puxou pra pista de dança, o DJ trocou a música pra algo mais animado e enérgico, então começamos a nos mexer, ela dançava e jogava o cabelo, enquanto eu tentava não travar no meio da pista. Ela sorriu de canto, me chamou pra perto e sussurrou em meu ouvido:
-Você não sabe dançar, não é mesmo?
-Como assim? Está tão evidente? - perguntei.
-Que fofo. E você não quis dizer nada pra não acabar com nossa festa, certo?
-Vocês estavam tão empolgados, não queria matar suas expectativas por não saber dançar.
-Bobagem! Isso não é nada demais.
-É mesmo?
-Sim, claro. E olha, vem cá que eu te ensino alguma coisa.
Ela subitamente me beijou, um selinho, pegou minhas mãos, colocou na sua cintura e seus braços em volta do meu pescoço. Outra vez o DJ troca a faixa e começa a tocar uma música mais lenta, nessas condições, se fazia perfeito para o que tentávamos, Angel passou algum tempo tentando me ensinar uns passos. Iamos pra lá e pra cá, de um lado para o outro, acho que quase aprendi algo naquela noite.
Enquanto isso, Gil explicava pra Jersey de modo quase Sheakespereano, como era a produção de uma boa tequila. Não sabia até então, mas descobri ao longo da conversa que Gil era um fino apreciador de bebidas pra não chamá-lo de um perfeito alcoólatra, mas além de bebidas ele também mexia com investimentos, era um homem de negócios para a minha surpresa. Ele fez um grande monólogo a respeito do seu trabalho e seus novos investimentos, mas eu estava muito entretido com Angel para me aperceber aos detalhes do que ele falava. Só percebia que ele adorava um bom monólogo, passou boa parte da noite falando, ele era incansável, imparável, simplesmente Gil.
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