08. inspirações e mantos escuros.
#primaveracorna
Existiam três coisas que eu realmente amava do fundo do meu coração: meus amigos, a minha tia e suco de laranja. Eu já perdi um desses elementos, o camuflando em mentiras desgastadas somente pelo o que eu diria ser a minha saúde mental, logo, se perdesse mais um deles, iria ser definitivamente o meu fim.
Namjoon, ou RM, mesmo sem perceber, acabou entrando nessa lista. Não só pelas suas músicas acolhedoras, que me abraçaram em momentos de tristeza e colapsos de dores temporárias. Não só pelas suas letras que gritavam a descrição de mim mesmo, tampouco somente pela sua voz, onde fazia crer que o artista estivesse do seu lado. Salvando a sua pele, sem nem mesmo perceber.
Mono era uma das coisas mais importantes que eu possuía, porque fora com ele que eu aprendi a ser Park Jimin. Porque essas sete faixas que eram escutadas em diferentes melodias, me fizeram entender que as cicatrizes iriam permanecer na sua pele para sempre, mas você poderia colocar um desenho significativo por cima, e fazer delas, algo bonito.
Então, eu enxergava a minha figura no espelho que cheirava a mofo e possuía poeira, e procurava encontrar a tristeza que sempre possuía nos meus olhos, mesmo antes de ser traído injustamente. E pude sorrir um pouco ao constatar que pelo menos por um minuto desde que me sentira um fracasso completo, eu estava bem. Só era visível o brilho nas amêndoas das minhas iris, e os apertos constantes do meu coração que dessa vez, batiam por entusiasmo.
Mono também era sinônimo de paz.
Depois de ler a mensagem que mudara as minhas expressões faciais em questão de segundos, eu respondi meio trémulo a Jungkook, porque sim, eu sabia que era ele. Digitei um montão de letras desconexas, declarando o meu mini surto perante uma notícia tão importante. Ele respondeu passado uns minutos, dizendo que me iria buscar perto da cafetaria da última vez, e para não me preocupar tanto com a minha roupa, pois era algo que Namjoon não se importava. Aparências.
Por isso, eu e Taehyung saímos do seu apartamento, onde fiz um breve resumo sobre quem era o homem que iria conhecer daqui a algumas horas, e agora nos encontrávamos no meu quarto, procurando uma roupa que ficasse legal em mim.
Eu sabia que Joon só julgaria uma pessoa através do seu caráter e índole. No entanto, a minha cama já estava numa bagunça cheia de roupas coloridas e outras neutras; calças rasgadas e calças de treino; cintos e acessórios, que mesmo tentando encaixa-los num visual elegante, não conseguia. Tae também bufava a todo momento, dizendo que deveria ir às compras, porém até ter um emprego, iria parar de deixar que ele me oferecesse algum tipo de coisa. Estava na hora de aprender a ser grande, quando passara maior parte da minha vida, sendo pequeno.
- O que acha dessa camisa? - perguntei arqueando uma sobrancelha, e levando a peça de roupa até ao meu peito, notando em como ficava esquisito em mim mesmo com o corte enorme no meio do espelho, que distorcia o meu reflexo.
- Muito hippie.
Suspirei, a jogando no colchão assim como tinha feito mais de trezentas vezes.
Peguei numa camisa vermelha de mangas longas, com alguns retalhos brilhantes.
- E essa?
- Vai passar frio se usá-la.
- Eu tenho um casaco.
Kim pareceu me analisar por uns momentos, até se levantar e enfiar -literalmente- a sua cabeça no meu armário. Até que ele tirou uma camisa de gola alta preta, e um sobretudo azul escuro, juntamente de uma touca da mesma cor, umas calças escuras justas e meus óculos redondos.
- Tenta esses.
Então eu me despi por inteiro, ficando somente com uma única peça cobrindo as minhas partes íntimas. Possuía confiança o suficiente em Taehyung, e não é como se eu e ele já não tivéssemos visto mais além.
Coloquei tudo no meu corpo, meio receoso quando fora a vez dos meus óculos estupidamente grandes. Pareciam os do Harry Potter, porém as lentes eram ainda maiores.
Me coloquei na frente do espelho quebrado mais uma vez, e me perguntei qual era o estilo de Park Jimin. Se ele estava perdido no meio do amontoado de tecidos do meu quarto, ou se eram nos manequins que observava através do vidro.
Naquele momento, eu gostei da minha aparência, como jamais tivera gostado antes.
- Você ficou lindo...- o sorriso de minecraft se abriu, e sem pensar muito acabei fazendo o mesmo.
Estava feliz.
E nervoso também, porque sem reparar, aquelas duas horas que possuía tinham desaparecido, dando lugar ao tic tac do relógio, indicando que já estava levemente atrasado até à cafeteria.
Beijei Taehyung na bochecha, sentindo aquela dor de barriga familiar se apossando no meu corpo, e o tremelicar dos meus dedos sob a minha coxa. Ele pareceu notar, já que me abraçou fortemente.
- Espero que se divirta muito hoje, Chim.
É. Eu também.
.
Jungkook estava lindo.
Bom, ele era um homem bonito por natureza, já que de todas as vezes que o vira, ele parecia um príncipe em todas elas, porém hoje, possuía um charme a mais. Não sei se era pela minha ansiedade, a minha excitação, ou o fato dos seus cabelos parecerem mais enroladinhos que o normal, mas eu tampouco queria pensar sobre isso. Somente tinha a certeza de que aproveitaria aquela tarde do melhor jeito possível.
Ele estava ao lado de uma bicicleta vermelha desbotada, examinando o celular com uma sobrancelha arqueada, e a boca formada em um bico, mostrando estar entediado. E caramba, eu não consegui evitar sorrir, porque ele era muito fofo, e eu estava feliz. Acho que fora esse o incentivo que precisava até me aproximar totalmente de si, e cutucar levemente o seu ombro, o assustando.
- Meu deus, você me assustou! - as suas bochechas ficaram vermelhas, mostrando estar constrangido. Porém, isso pareceu durar pouco tempo, pois a forma como ele pareceu examinar cada pedaço da minha pele coberta me fizeram arrepiar de uma forma que nunca tinha arrepiado antes. Um arrepio que não era os que eu sentia quando tinha frio, tampouco aqueles que subiam pela minha coluna, me gelando. Um arrepio de verdade, que me fez entrar em estado de alerta.
E eu o senti denovo e denovo, mas nada se comparou à explosão de emoções alternadas que dançaram sob a minha pele, quando os seus olhos escuros se chocaram com os meus.
Então, eu era quem corava.
- Eu disse que poderia ir da forma que quisesse, mas uau, você está incrívelmente bonito hoje... - não sabia se era possível eu ficar ainda mais vermelho, mas fiquei. Ele pareceu notar o que tinha dito, porque o seu sangue esquentou mais uma vez somente em poucos minutos de conversa, e logo, desviou as suas Íris das minhas.
- Você também, Jungkook.
E mesmo que estivesse claramente ainda afetado, nós coramos, porém coramos juntos.
Um silêncio constrangedor reinou no local, fazendo com que o som das chávenas de café batendo nas mesas de vidro fosse o único a ser escutado. Eu sabia que Jeon queria muito dizer alguma coisa, mas a vergonha que possuía era mais forte do que qualquer coisa, e consegui entender isso com pouco tempo de amizade.
Porque sim, sem nem mesmo precisar pensar muito, eu cheguei a conclusão de que Jungkook era meu amigo. E sendo sincero, eu não poderia negar o quão confortável me sentia chegando a esse ponto, porque talvez no fundo eu quisesse conhecê-lo muito mais que usá-lo para curar ambas as feridas que tínhamos. Sem notar, eu e ele iríamos por pouco, curar as nossas cicatrizes com band-aid, esquecendo que elas só esconderiam as feridas de uma forma temporária.
- Onde está o seu carro? - perguntei, quebrando a tensão que ficara entre nós. Jeon pareceu ficar ainda mais tímido se possível, e eu franzi a sobrancelha, desconfiado.
- Ah...eu não queria te falar isso, porque achei que iria recusar se eu dissesse mais cedo...- começou receoso. - Nós não vamos de carro, e sim de bicicleta.
Então eu reparei melhor no veículo vermelho desbotado que estava do seu lado, e me culpei por ser tão bobo ao ponto de não notar os quatro pedais e os dois bancos nela. Inevitavelmente isso me lembrou a minha infância.
- Eu amo bicicletas. Não lembro direito como se usa uma porque já faz muito tempo desde a última vez...- murmurei, constrangido. E se eu caísse?
Jungkook sorriu.
- Não se preocupe, você pode se segurar na minha cintura se precisar de proteção.
E novamente, ele arregalou os olhos, e eu fiz cosplay de tomate.
- Quer dizer...se você quiser!
Acenei com a cabeça, tentando esquecer aquelas falas repentinas, e observei o movimento das suas mãos puxando as suas ondinhas para trás, como se estivesse stressado. Essa fora uma, das outras coisas que reparei que eram suas manias.
- Me pergunto se ele reparou nas minhas também...- sussurrei sem nem mesmo perceber a baboseira que tinha dito, e então rezei a todos os deus mais poderosos para que ele não tivesse escutado. Felizmente, não.
Quando tive tempo para processar, Jungkook já se encontrava sentado na bicicleta, me encarando com uma sobrancelha arqueada numa visível desconfiança. Me senti um bobo, e ignorei qualquer pensamento -tambem bobo- que pudesse ter, e subi.
Já conseguia calcular a sensação da minha queda naquele chão de pedra, pois bem na hora que coloquei a bunda no assento, eu senti o desiquilíbrio dominar as minhas pernas, e eu nem sequer tinha colocado os meus pés nos pedais.
- Ei, calma. - gargalhou, percebendo o receio evidente na minha expressão e ações. - Coloque as mãos no ferro bem atrás das minhas costas, e depois os pés nos pedais, um para cima, e outro para baixo.
Concordei, ainda que assustado e fiz o que ele pediu, me sentindo um pouco mais seguro por ter algum tipo de apoio. Jungkook pareceu orgulhoso, e se posicionou do mesmo jeito que eu também, porém uma das suas pernas ainda tocava no chão, para a bicicleta não cair.
- Agora, você vai rodar os pedais ao mesmo tempo que os meus, tudo bem? No sentido do ponteiro do relógio. - assenti, esperando mais alguma indicação sua. - Um, dois, três!
Então, quando eu percebi, nós já estávamos andando por entre as árvores, numa espécie de jardim, onde pouca gente ficava à tarde.
- Foi ruim?
- Não.
O vento refrescava o meu rosto, e os pequenos fios de cabelo que se desprendiam da minha touca azul escura, esvoaçavam juntamente com os seus. De qualquer lado, eu notava as árvores balançando, e escutava a gargalhada das crianças brincando em algum canto. O sol (não tão forte) contrastava com o frio da minha pele, fazendo uma sensação morna e gostosa apossar de ambos os nossos corpos.
E a sensação não era ruim, jamais seria. Porque naquele momento... eu consegui crescer mais um pouco.
Crescer, com Jungkook.
No entanto, mesmo com as emoções à flor da minha pele, eu não respondi à sua pergunta, mas sorri, como nunca tivera sorrido antes. Ele pareceu entender, pois também tivera sorrido, e eu conseguia enxergar isso mesmo estando de costas, pois Jeon possuía ruguinhas tentandoras nos olhos.
Logo, o restante do caminho fora esse. Somente Park Jimin, Jeon Jungkook, e a natureza de dois corações, que por alguns momentos em suas vidas, ficaram em paz.
.
Não demorou muito até que saíssemos da bicicleta de cor velha, onde tanto eu, como Jungkook, sentimos a textura das pedras minúsculas embatendo nos nossos pés. Não tinha ideia de onde nos encontrávamos, porém confiava bastante em Jeon para saber que nada de mal aconteceria comigo, e que era um lugar seguro. A presença de um lago cristalino, juntamente de alguns cisnes e peixes coloridos, outrora inundariam a minha cabeça com pensamentos do tipo "se jogue", "se liberte", tal e qual ao dia em que encontrara Sungwoo quase transando publicamente com outro. No entanto, hoje, eu só conseguia refletir no quão a imagem do meu próprio reflexo juntamente do de Jungkook era bonita, pois ambos sorriamos na direção da água com um brilho genuíno saindo de ambos os nossos corpos.
Era real.
- Namjoon chegou. - o moreno sussurrou, e então o meu coração pareceu ter errado quatro batidas, pois eu jamais imaginaria que esse momento chegasse tão cedo. Mas aconteceu.
Aconteceu com um sorriso compartilhado por duas covinhas esbeltas na melanina incrível que possuía. Aconteceu, com cabelos platinados num cinza quase invisível, e lábios grossos. Aconteceu com sobrancelhas bem delineadas e uma testa desprovida de ondas, demonstrando o quão relaxado o homem se encontrava. E juntamente do seu rosto encantador, no seu corpo bem moldado, um casaco longo e cinza cobria qualquer coisa que estivesse vestindo por baixo, me dando um único vislumbre da sua calça escura e de suas botas marrom.
As músicas não eram a única coisa inspiradora em RM. Ele, por si só, já era admiravél.
- Então você é Park Jimin? - a sua voz era grossa, mas não num nível absurdo. Ela embatia nos meus ouvidos de maneira suave, me fazendo imaginar que eram os meus fones ali, e não o verdadeiro artista. Mas ele estava ali. Estava ali, esticando a mão na minha direção numa gentileza fascinante. O dono de Mono, em carne e osso.
Logo, quando demos o primeiro aperto, eu não saberia dizer se ele era quem estava quente, ou se era da adrenalina que corroía as minhas veias me fazendo ficar assim. Ou o nervosismo.
Caralho.
— Sim. — tentei mostrar profissionalismo, mesmo sabendo que não era necessário. — É uma honra conhecê-lo, de verdade. Fiquei muito animado quando Jungkook me mandou essa mensagem.
Namjoon sorriu genuíno.
— Ouvi dizer que fora ele quem me recomendou para você. — o examinou de soslaio. — Ele sempre faz questão de apoiar a minha arte. Sou grato por tê-lo comigo. — gargalhou, as suas covinhas aparecendo. — Como se conheceram?
Destino.
Eventualmente, acabei por acreditar nessa palavra. Almas gêmeas ou akai ito's, geralmente não me despertavam interesse. Na minha vida, a conexão de duas pessoas eram apenas lendas na qual os outros acreditavam de forma a preencher de algum modo, o seu ser. Afinal, era isso, certo? Histórias de romance, clichês previsíveis, gestos bregas, lendas e tsurus. Nós nos prendemos a essas coisas, porque no fundo, as desejamos severamente. Esperamos que, algum dia, o momento certo chegue e então tudo estaria nos eixos novamente porque a sua hora de fantasia definitivamente tinha chegado.
Mas então, acabava me perguntando...essa era a minha hora?
— Diria que... — talvez. — ... simplesmente aconteceu.
— Isso é bom. — assentiu levemente, sorrindo gracioso. — Os acontecimentos inesperados, claramente são os melhores.
Então porque eu fui traído?
Se o inesperado é bom, porque eu perdi os meus pais?
Parecendo entender o meu transe, Namjoon se aproximou mais um pouco de mim, de forma a que repousou ambas as mãos nos meus ombros, os apertando num conforto singelo.
— Rapaz, eu não sei o que aconteceu com você, tampouco irei lhe pressionar ou abrir uma brecha para se lembrar. — suspirou. — Mas todo o mal que apareceu no seu caminho, não foi inesperado, e talvez, esse tempo todo você soubesse o que aconteceria. — continuou. — As pessoas tendem a afundar os sinais, simplesmente por não quererem acreditar que eles são verdadeiros.
E então, se afastou, limpando levemente o casaco que cobria o seu corpo da brisa tênue.
— Pense nisso, certo? O Jungkook conversou muito comigo antes de vir até aqui. Não sei que tipo de jovem você é, não sei a sua história, não sei quem és. Porém, não se prenda tanto no passado quando tem algo melhor no presente. O que tinha de acontecer, aconteceu.
Aconteceu.
Então esse tempo todo, eu sabia. Sabia que iria ter uma reação ruim dos meus pais quanto à minha sexualidade, porque na primeira tentativa, afirmaram ser ilusão. Sabia que estava sendo traído por Sungwoo, porque eu notava a distância que nos separava gradativamente a cada nova manhã. Eu sabia, e fora fraco demais para admitir a mim mesmo essas coisas, porque tinha medo do abandono, rejeição.
No fundo era um garoto com má sorte, ou apenas com medo?
.
Jungkook, Namjoon e eu, no momento estávamos caminhando sobre o trilho de pedra que nos levaria a alguma montanha rochosa. O músico afirmava que ali, a vista era incrível, e o grande motivo para ter marcado um encontro naquele lugar silencioso.
— Céus, falta muito? Estamos subindo à quase vinte minutos. — resmunguei sentindo os meus pés coçarem sob a sola dos sapatos. O moreno gargalhou me encarando em seguida.
— Pézinhos de princesa. — se referiu a quando dançamos juntos. — Pare de reclamar, estamos no fim.
— Não estou reclamando, touca suja. — cruzou os braços parando abruptamente no caminho. — Somente cansado. Não frequento a academia que nem você.
O moreno arqueou uma sobrancelha, curvando os seus lábios num sorriso mínimo ladino.
— E quem disse que eu malho? Não vou a uma academia tem uns anos.
Jimin sentiu as bochechas esquentarem e uma súbita vergonha se apossou do seu rosto.
— Ah...
— Está insinuando que o meu corpo é gostoso, certo? — a pergunta fez o outro quase engasgar por completo.
Caralhoooo.
— Me admira não se conhecerem à mais tempo. — Namjoon que por momentos tinha sido esquecido, disse dando uma leve risada. — Parecem ter intimidade o suficiente.
— O Jungkook é atrevido demais, só isso. — o loirinho resmungou, atraindo gargalhadas dos outros dois homens presentes.
— Eu? Oras, não falei nada demais. — revirou os olhos.
Jimin ignorou, e se apressou a subir aquele monte. Não aguentava mais as pedras machucando os seus pés sensíveis, fora que apesar do sol estar se pondo, continuava um calor desgraçado.
Fala sério, como eles não estavam morrendo? A minha pele parecia estar queimando e não negava que eu realmente era um sedentário e por isso, com apenas cinco minutos subindo aquilo, já sentia a minha alma sendo arrancada do corpo fora. Na verdade não sabia como estava vivo!
— É aqui. — Namjoon murmurou, andando somente mais um pouco até parar no topo. Colocou ambas as mãos dentro dos bolsos do seu casaco e fechou os olhos sentindo a brisa levemente fresca contrastando com a fervura do sol no seu rosto. Jungkook também parou, não admirando a paisagem que eu ainda não tivera tempo de enxergar -contando que ainda estava morrendo-, mas sim RM. Apesar de não conhecer Jeon há muito tempo, sabia que ele tinha uma admiração pelo homem de cabelos platinados, e eu também.
— Venha Jimin. — murmurou, abrindo levemente um olho e encarando a minha figura estática. — Para a frente.
Assim o fiz.
O céu era uma mescla de laranja com vermelho escuro, e era possível notar os altos prédios parecendo agora minúsculos. Alguns pássaros pareciam voar em direção à metade restante do sol, dando uma sensação de liberdade genuína e conforto. Poderia passar o restante das suas horas somente admirando a vista que na verdade era comum, mas da janela da sua casa, parecia chata demais.
— Quando preciso de inspiração, fico aqui durante muito tempo. — começou, os olhos ainda fechados e um leve sorriso adornando o seu rosto. — As pessoas se esquecem de como coisas simples podem ser tão raras ao mesmo tempo. — sussurrou. — Observar o céu através de um vidro não se compara à emoção de enxergar um sem nada. Apenas você, a brisa, o calor, os sons.
Jungkook balançou a cabeça positivamente, os olhinhos brilhando ao intercalar a sua visão entre mim, Nam, e o céu.
— Porque nos trouxe até aqui? — questionei baixinho, não querendo parecer que era ingrato.
— Queria que sentissem inspiração também. — fiquei surpreso.
— Mas nenhum de nós escreve música ou livros. — Jeon se intrometeu, parecendo também curioso.
Namjoon concordou, retirando as palmas de dentro da sua vestimenta, e os friccionando de forma a obter calor, enquanto eu só queria ficar gelado.
— A inspiração provém das pequenas coisas, Jungkook, você deveria saber. — o sorriso dele era reconfortante ao proferir as palavras. — Quando seu momento chegar, uma hora ou outra, você irá entender o que estou dizendo. O seu coração fica calmo, tão calmo que nem parece que está batendo; a sua mente petrifica com o simples vazio, o corpo relaxa e você consegue respirar como se fosse a primeira vez. E então, descobre que não é necessário ser ou fazer algo para sentir isso. Às vezes só precisa. — prendeu uma gargalhada ao observar a careta que o outro fazia.
— Porque você é tão...sabe?
— Como?
— Filósofo, sei lá. Qualquer coisa besta ou trivial se torna bonita quando é você quem as fala. — concordei, mesmo não participando realmente da conversa.
Namjoon deu de ombros.
— É o meu jeito.
O assunto se encerrou por ali, e tanto eu quanto Jungkook, esperamos a bendita inspiração aparecer na nossa frente. Claro, tensionei o cérebro num pedido mudo para que sentisse todas aquelas coisas que o meu ídolo tinha proferido, mas apenas gostava da paisagem e da companhia daqueles dois comigo. Nada de especial que me faria sentir conforto como se nada mais importasse do que aquele momento.
.
Foi assim o resto da tarde.
Com o passar do tempo, o céu escureceu e todo aquele brilho e sorrisos que tivera no dia, tinham sumido, pois Namjoon fora embora.
Eu lhe agradeci por pelo menos dez minutos seguidos, escutando bufares por parte do moreno que queria atenção do mais velho para si também e eu não deixava. Oras, eles eram amigos, eu merecia isso.
Pedi para autografar a minha mão porque não era bobo e queria algo que me fizesse recordar da sua presença, muito mais que uma memória que com o tempo se dissiparia. Porém, descobri que era mais tonto ainda pois eu tomava banho e facilmente removeria a caneta da minha pele com água e sabonete.
Jungkook riu muito da minha cara quando soltei alguns resmungos e facetas tristes enquanto examinava o meu punho, querendo mais que tudo uma bala na minha testa. Me despedi de Kim com um abraço apertado e claro, o elogiei mais vezes do que poderia contar.
E agora? Estava sentado no monte enxergando as estrelas tomarem conta do manto escuro sob os meus olhos cansados pelo dia longo, juntamente de Jeon.
— Ei...— murmurei, envergonhado quando o seu olhar focou na minha direção.
— O quê? — arqueou as sobrancelhas.
— Obrigado.
Sorriu gentil.
— Não precisa pedir, Jimin. Acho que tanto você quanto eu precisávamos desse momento, depois de tudo.
Era mais que isso.
— Quero agradecer por tudo, Jungkook. Agradecer por ter se preocupado comigo quando estava quebrado, agradecer por procurar a felicidade quando você mesmo estava no escuro. Agradecer por me apoiar, mesmo não me conhecendo por inteiro. — suspirei me deitando e observando apenas a aglomeração de cores escuras acima de mim. — Você é um bom homem.
Por alguns minutos, ele nada respondeu mas conseguia sentir o seu olhar sob mim, como se estivesse me estudando ou talvez procurando algo onde eu era ponto de referência.
Jungkook tambem se deitou, a touca preta sendo deixada de lado e os cabelos escuros esvoaçando de forma a que sua testa aparecesse. Então, ele finalmente formulou alguma coisa e me respondeu:
— Sabe, Jimin...eu não acredito muito nessas coisas de destino. Não acredito em almas gêmeas, apenas sinto que você vive, se torna preso a algo, se decepciona e tenta superar. — a expressão estava séria, o olhar vazio enquanto virava o rosto na minha direção. — Mas talvez agora eu esteja acreditando.
Então enquanto o céu fechava os olhos, eu tive a certeza.
Escutar tokyo ou moonchild, eram tão reconfortantes quanto os sorrisos que costumava distribuir com a minha antiga família. Aquela onde o som de um rádio podre de velho era tudo o que precisávamos para possuir as melhores noites das nossas vidas.
Encarando o céu estrelado, e a cidade iluminada prestes a adormecer, eu realmente percebi o que Namjoon dissera antes de ir embora com a sua bicicleta azul marinho. Porque ali, enxergando o olhar brilhante de Jungkook sob os astros e sonhos distantes, eu tive a certeza de que aquele era o meu momento de inspiração.
Apenas por algumas horas, consegui ser verdadeiramente Park Jimin. A criança que gostava das estrelas e da textura da grama; que amava suco de laranja e biscoitos de frutinha. Mas agora, apenas iria adicionar pequenas diferenças com a sua evolução: também gostava de mono e consequentemente da companhia de um moreno audacioso tão perdido quanto eu.
— Você já superou, Jeon?
— Não. Você já?
— Não.
— Vamos conseguir, eu acredito que sim.
— Juntos?
— Juntos.
★★
nossa, eu escrevi esse capítulo tem TANTO tempo, não consegui fazer as alterações necessárias mas depois eu reviso :/ saudades de vocês em!
agora se inicia a construção do relacionamento dos jikook. recebi algumas críticas sobre exagerar nos sentimentos do jimin e que não precisava sofrer tanto assim, mas para alguem que só tinha o namorado como porto seguro, perder assim...! mas enfim.
espero que se cuidem com a pandemia e desejo a maior saúde a todos vocês. até a próxima!
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