01. para sempre, chuva.
Boa Leitura! ♡
NOTA!
muita gente está ficando confusa com a narração desse capítulo, mas ela é narrada pelo JIMIN. todos os capítulos serão narrados por ele, e quando não forem eu deixarei um aviso!!
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Se você dissesse que hoje em dia eu seria bem sucedido na vida, provavelmente eu iria rir até engasgar. Porque como o completo azarado que era, ter um futuro mais que satisfatório pra mim, era completamente impossível.
Naquela época eu possuía cabelos escuros, e uma franja que gritava todas as manhãs um "corte-me". Eu me enxergava no espelho e gostava do meu físico, tampouco algum dia tivera problemas sobre a minha aparência, porém sempre que encarava os meus próprios olhos, eu me sentia feio. Não um feio de corpo e rosto, mas um feio de alma e psicológico. Porque caso fossemos sinceros, eu não era a pessoa mais feliz do mundo.
Sempre me imaginei desempregado, provavelmente tendo uma única manta como forma de sobrevivência. Me imaginava deitado nas ruas íngremes do chão sujo, com algum tipo de placa de cartão pedindo por umas míseras moedas ou um pedaço de pão. Porque eu nunca fui inteligente, nunca fui responsável, e fora chutado de casa pelos meus próprios pais por simplesmente ser atraído pelo mesmo sexo que o meu. Então seguia com o pensamento de que se não conseguia agradar sequer os meus parentes, então não agradaria ninguém.
Porque eu pensava que a coisa mais simples do mundo era ser prestativo para quem lhe criou. E se era inútil até mesmo para eles as chances de ser alguem bom no futuro eram nulas. Prossegui com essa teoria por um ano e meio.
Jihyun era uma mulher perfeita. Ela arrumava o meu quarto todas as manhãs, e me deixava chorar nos seus ombros todas as noites. Não se importava pelos meus resmungos sôfregos, e me dava permissão para encharcar as suas blusas finas. Me alimentava e lia livros até eu conseguir adormecer, para logo depois cuidar de mim pelos pesadelos incessantes que eu possuía, mesmo beirando os meus vinte anos.
Passado um tempo eu resolvi tomar uma atitude adulta, e parei de me lamentar por coisas desnecessárias. A tia Jihyun não me repugnava por gostar de garotos, e sempre me passava segurança quando dizia que amar era válido para todos. Ela tambem conseguiu retirar a minha imagem dormindo na rua, a embacando e a transformando num completo borrão. E foi relaxante.
Porém conheci Sungwoo.
Até hoje, com meus vinte e três anos não encontrei palavras pra descrever esse homem e o bem que ele me faz todos os míseros nasceres do sol. Mas acho que posso afirmar que sou um completo bobo apaixonado.
Ele apareceu como se fosse uma simples partícula de poeira. Daquela que se impregnava nos móveis e então esvoaçava no ar até parar no chão da sua sala. Contudo, descobri que Sung era muito mais que isso.
Porque ele era um pedaço de estrela que tivera a luxuria de cair sobre mim.
Woo conseguiu embalar todas as minhas insegurancas e receios, para então seguirem rumo ao infinito, mas um infinito bem longínquo. Conseguiu pegar nas minhas qualidades e imperfeições para então beijar cada uma delas e dizer que era normal ser composto também por erros. E felizmente, ele permanecia comigo por três longos anos.
E não poderia me sentir mais orgulhoso e sortudo por ter o último pedaço de corda da esperança, aqui do meu lado.
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A sacola branca por entre os meus dedos balançava conforme eu me movia apressado nas ruas movimentadas de Busan.
Será que ele iria gostar?
Era tudo o que eu questionava desde que tinha saído daquela loja de tecnologia, com o rosto composto por determinação e nervosismo.
Talvez tenha sido precipitado demais.
Os fios (agora loiros) dos meus cabelos, faziam o favor de cobrir os meus olhos brilhantes, porém não foi por isso que deixei a minha aura feliz de lado. Era um dia especial.
Hoje, exatamente hoje, completava três anos de namoro com Sungwoo, e não poderia me sentir mais orgulhoso. Maioria das relações que encontrava por ai não se passavam de duas semanas. E quando não era algum tipo de namoro, era uma curtida de leve em corredores estreitos, ou em cantos escuros e fáceis de encontrar.
Não era fácil manter um relacionamento. E mesmo o meu não sendo totalmente perfeito, eu sabia que aquela era a única coisa que me mantia sã e nos eixos.
Mas estava tudo bem, porque Sungwoo nunca me trairia. Afinal, se isso acontecesse eu perceberia, certo?
Além disso ele não tinha rosto de quem fizesse algo comigo, pelo menos algo desse jeito. Confiança era a base de um relacionamento, e eu confiava em Sung. Tinha de confiar.
Não sei quanto tempo passou, porém eu caí no chão juntamente da minha sacola, quando subitamente o meu corpo se chocou contra um ainda maior. Bufei desacreditado.
Oraria pra não ter quebrado nada.
― Puta merda.― escutei um resmungo do que pareceu ser do garoto à minha frente. ― Me desculpe, eu estou com muita pressa e acabei me distraindo. ― murmurou, pegando na minha sacola branca, coincidentemente igual à dele.
Suspirei sorrindo.
― Não tem problema, eu tambem estava distraído. ― respondi.
Na hora que fui entregar o seu mediano pedaço de cartão, um choque interno percorreu por toda a extensão do meu corpo, assim como todo o meu sangue pareceu fluir mais quente. Senti uma adrenalina, e estranhamente o meu coração pareceu ter errado três batidas, assim que botei os meus olhos amêndoa nos seus escuros, que tambem pareciam sentir o mesmo que eu.
Estava delirando?
A sua boca era fina e rósea, fazendo uma ótima parceria com o seu nariz avantajado e proporcional. Os seus cabelos eram escuros e se assemelhavam a algo macio, e eu desejei por milésimos de segundos os poder sentir. A sua melanina era esbelta, e mesmo estando com um moletom bem largo, junto de umas calças de treino, eu sabia que o seu corpo era digno de bom porte. Parecia uma espécie de anjo, adornando uma forma normal.
Era ruim apreciar algum homem mesmo namorando?
O meu consciente dizia que não, mas o resto da minha alma também negava esse fato. Afinal, Sungwoo de vez em quando encarava outros garotos e os elogiava na minha frente, era até meio frequente por entre esses meses pra cá. A única coisa estranha era elogiar mais eles do que eu, seu namorado.
Mas eu seguiria com o áspero aperto no peito, e ignoraria qualquer tipo de receio que porventura pudesse ter. Porque Sungwoo era tudo pra mim, e ele jamais faria algo que me machucasse. Ainda mais sabendo de tudo o que passei.
O garoto tossiu meio nervoso, e por momentos tinha me esquecido da sua presença, e que ambos nos encontravamos (ainda) agachados no meio da rua monótona.
― Eeerr...acho que vou indo. Me desculpe por ter esbarrado em você novamente. ― murmurou, antes de pegar na minha mão e me ajudar a levantar com um curto sorriso de coelhinho.
Ele era demasiado bonito pra ser real.
Não notei quando minhas bochechas coraram violentamente.
― Tudo bem! Eu vou indo tambem, hoje é um dia muito especial pra mim. ― respondi, agradecendo com um aceno pela ajuda.
Foi quando seguimos direções opostas.
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― Taehyung, ja falei que não sei porra! ― esbravejei pro meu celular, totalmente de saco cheio do meu melhor amigo. Como que eu iria saber da sua cueca Calvin Klein? ― Aliás porque precisa dessa especifica? Você tem outras. ― questionei intrigado.
Ele bufou pelo aparelho eletrônico e eu sabia que ele estava revirando os olhos.
― Porque eu vou sair com o Yoongi, duh? Não é óbvio? Quando alguem usa uma cueca bonita é porque vai usar ela pra alguma ocasião importante.
Dessa vez fui eu quem revirara os olhos.
― O que importa essa peça de roupa se você só vai precisar dela por tipo...cinco segundos?! Você vai estar pelado de qualquer jeito.
Ele riu soprado.
― Existe um monte de gente que gosta de usar cueca bonita entende? Não você não entende, porque não transa, fazem o quê? Onze meses? Ou um ano? ― perguntou claramente zombando de mim.
Corei envergonhado e suspirei irritado.
― Sungwoo não esteve no clima nesse tempo, e eu entendo e vou respeitar o espaço dele. Tenho as minhas necessidades mas não irei forçar sexo se ele não estiver disposto a ele. Minhas mãos me satisfazem muito bem, obrigado.
― Jimin, isso é estranho sabe? Vocês são namorados e so transaram umas seis vezes em dois anos. Isso é trágico. Tem bota furada nisso aí, seu pau está com teia de aranha.
Não era mentira.
Sungwoo não se excitava mais comigo, não dormia tão apertadinho a mim, não me dava mais beijinhos na testa, e sempre que comecavamos beijos fogosos ele parava. E não era novidade nenhuma que eu me frustrava constantemente com isso, afinal eu tinha as minhas necessidades e precisava de um pouco de calor a mais. Mas não o forçaria a nada, muito menos se não tivesse nenhum clima adequado pra isso.
Contudo, estavamos bem. Ele continua sendo um namorado excelente, não perfeito, porém o melhor que poderia me oferecer. Até porque fora com ele que perdi a minha própria virgindade, e fora meu primeiro namorado e amigo após confessar a minha sexualidade pros meus pais e tia.
Logo após encontrei Kim Taehyung. Não sei bem como tudo começou a se desenrolar entre a gente, porém numa noite eu estava saindo pra beber após alguma briga futil com meu namorado, e Tae acabou por entornar whisky na minha blusa. Ele riu da minha cara, e eu fiquei puto, mas em questão de segundos a gente estava no jardim rindo de piadas de pai. Foi legal.
― Jimin? ― Tae me chamou. Por momentos tinha me esquecido que ainda estávamos em chamada.
― Eu depois converso com ele sobre isso, não precisa se preocupar com a minha vida sexual. ― sorri, mesmo que ele não me estivesse vendo. ― Sobre suas cuecas procure debaixo da cama, você sempre deixa alguma escorregar pelo chão.
― Porra, é mesmo! Se achar te mando mensagem ok? ― perguntou, com um tom animado. ― Hm, aliás o que comprou pra ele?
Demorou cerca de segundos pra eu sorrir energético. Eu tinha feito uma pequena vaquinha somente pra comprar aquilo.
― Uma câmera.
― Woah, aquela nova que todo o mundo ta ralando joelho pra ter?!― sorri denovo com a lembrança. Talvez a vaquinha não tenha sido tão pequena assim. Realmente trabalhei duro pra juntar todo aquele dinheiro.
Mas por ele, valia a pena.
― Essa mesmo.
― Você é incrivel, Jimin! Quando ele chega aí inclusive?
― Eu marquei um encontro no jardim daqui perto, ás quatro da tarde. Provavelmente deve estar chegando, mas irei caminhar um pouco enquanto ele ainda não ta vindo. ― disse sereno. As minhas mãos ainda suavam de nervosismo, e tinha um leve pressentimento de que alguma coisa iria dar errado nos minutos seguintes.
Ignorei.
― OK. Bom,eu to indo pro cinema assistir Vingadores com o Yoongi, ele ta meio doidaço pra assistir o Thor. Até mais Chim, te amo. ― e com uma última lufada de ar, a chamada foi encerrada.
Coloquei o aparelho dentro da minha mochila amarela, e me levantei do pequeno banco de madeira daquele parquinho. Alguns pombos voaram pra longe com o meu movimento repentino, porém outros permaneceram bicando os restos de pão que estavam naquele piso sujo.
15:52
Conhecendo Sungwoo como deveria, ele chegaria no mínimo dez minutos atrasado, logo, não teria problema algum caso eu caminhasse um pouco por ali. Aliás, a brisa estava fresca e o sol não queimava tanto como as previsões do tempo tinham dito para hoje. Isso aumentou a minha aura boa, eu não gostava de jeito nenhum de muito sol no meu rosto.
Era um começo de Primavera.
Diria que era a minha estação favorita. Gostava de climas amenos, eles me traziam paz, algo que eu tenho necessitado por um bom tempo. De vez em quando, sozinho, eu me fechava em algum lugar recluso, maioritariamente na grama do quintal de Jihyun, e me permitia pensar. Isso, todas as tardes e noites. Seja pra observar as inúmeras formas figurativas das nuvens ou dos caminhos invisíveis que completavam as estrelas e luas.
Definitivamente me relaxava.
Fui caminhando em passos lentos por entre o jardim em que me encontraria com Sung. A cada dia que passava, os tons verdes e azulados preenchiam as plantas, e o vasto misto de cores primaveris faziam questão de se expantir por todo o misero canto; tornando ainda mais se possível, aquele lugar esbelto.
Escutei sussurros leves perto de um lago cristalino. Não me lembrava de conhecer esse pedaço do jardim, e isso me fez questionar se eu estaria indo longe demais, para futuramente perder o meu tão aclamado aniversário de namoro. Não que fosse novidade alguma festejar tal data, afinal eu e Sung comemoramos dois deles do melhor jeito possível.
Mas dessa vez seria difrente.
Os sussurros de certa forma pararam, dando lugar a outros sons um pouco mais contraditórios, diria até mesmo obscenos. Isso so me deu vontade de voltar pro meu pequeno banco de madeira do lado dos pombos, porque de jeito nenhum queria enxergar alguma cena explícita, ainda mais no dia de hoje.
Porém por alguma razão, os meus pés continuaram se mexendo, sem ter controle nenhum sobre isso. Parecia que as minhas pernas esbranquiçadas estavam desligadas do restante do meu corpo, mas ao mesmo tempo tomando o seu próprio rumo, como se ignorassem todos os comandos da minha cabeça. E quando notei eu ja estava caminhando na direção do provável casal ou amigos com benefícios.
Com passos lentos fui chegando cada vez mais perto.
Um passo.
Dois passos.
Três passos.
― S-sung...hm! S-sungwoo!
E parei.
A sacola caiu do meu braço.
A minha mente desligou.
E lágrimas escorreram, sem que eu mesmo percebesse.
Não, não poderia ser.
Na mais escura das sombras se encontrava o que eu dizia ser até hoje meu namorado, com outra pessoa. Beijando uma boca que não era a minha. Tocando num corpo que não me pertencia.
Amando um coração que não era o meu.
E o aperto que se fez presente no meu peito foi mil vezes pior do qualquer outro tipo de coisa. Foi mais doloroso que qualquer outro sentimento. Doeu e ardeu, mais que os socos que levei dos meus próprios pais.
Porque eu podia apanhar quantas vezes fossem precisas, se isso fizesse com que esse aperto cesasse de uma vez por todas. Que essa merda fosse somente mais um dos meus muitos pesadelos, porém em escalas bem maiores e menos tensas.
Se fosse, eu realmente desejava acordar.
Sungwoo segurava com certa pressão a cintura do outro garoto, que só então pude estudar minusiosamente. Fios laranjas, pele morena. Lábios sendo devorados pelos vermelhos que eu beijava sempre antes de dormir. Nariz se roçando naquele em que sempre admirava de pertinho. E um corpo curvilineo encima de um órgão que me tirou a virgindade.
E por alguma razão eu quis me mover para mais perto. Gritar o quão irritado e triste estava naquele momento tão horrível. Contudo não fui capaz. Perdera a voz e agora tinha controle sob o meu corpo inteiro, porém ele não obedecia nada. Estava mole, mole de desgosto. Capaz de cair de joelhos no trilho de pedras, ou me jogar no lago enforcado de peixes coloridos. A dor certamente pararia assim.
Mas antes que pudesse pensar em alguma outra ideia ruim pros outros mas certa pra mim, eu escutei um berro bem ao meu lado. Um garoto com furia estampada nas cordas vocais.
O garoto da rua.
― Mas que merda é essa porra?!
Definitivamente era ele. O cabelo castanho escuro esvoaçando para trás, a melanina brilhando com os finos raios de sol, os olhos negros reluzindo por algo que não era natural. O seu corpo estava vidrado nas duas almas agora assustadas, à nossa frente; e em sintonia com suas expressões, o homem mais alto que eu, deixara a sua sacola cair do meu lado. Transtornado e machucado.
Foi quando eu percebi que não era Primavera. Não poderia ser.
Porque mesmo com o sol expelindo calor lá fora, mesmo com a vermelhidão do meu rosto e fervencia do meu sangue, eu sabia.
A chuva cairia sobre mim, não importava a intensidade. Ela sempre, mas sempre estaria la, me encharcando de azar e podridão de rostos que amei, sumindo. Era eterna.
Choviria para sempre em Park Jimin.
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me desculpem pela demora e escrita meio merda :( não to acostumada escrevendo na primeira pessoa, por isso, peguem leve.
obrigada por ler até aqui! ♡
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