4 | sᴜʙᴍᴇʀsᴀ
M E E R A
Desfazia-me na maré de pensamentos negativos.
E uma lágrima despencava, e não só aquela como várias outras. Os dias foram perversos, encurralaram-me em um labirinto sem saída. Acomodaram-se em mim, expandindo uma angústia sem fim. Sentia-me impotente, não sendo capaz de mudar o que estava acontecendo. Mas sempre é assim, não importa o que eu faça.
Faz alguns poucos dias do atentado, e não tive potencial para me recuperar fisicamente e emocionalmente. Infelizmente, o medo possuía cada centímetro de mim. Por enquanto, não houve manifestação da parte deles, o que me deixa aliviada, mas ainda assim hesitante em qualquer passo que eu der.
Depois de todo o falatório daquele homem misterioso, sobre minha alma ser a segunda, abordando uma guerra vampírica; aquelas palavras grifaram em minha mente, e as únicas reflexões que faço são a respeito delas. Sobre o quão aterrorizante foi passar por tudo aquilo, e o pior, guardar dentro de mim todos esses remorsos.
Durante toda minha infância ouvi contos sobre vampiros, no entanto, em nenhum momento conjecturei que eles fossem reais e, além disso, que convivessem entre nossa sociedade.
- Meera... Você está bem? - Novamente era Carol, dando leves batidas na porta, perguntando como estou. Lamentavelmente, não estou bem.
- Sim, Carol, estou. - Disse, sendo uma péssima mentirosa. Estava nítido em meu timbre de voz que eu não estava bem. - Não precisa se preocupar comigo.
- Mee, não precisa mentir pra mim. Sou sua irmã, pode contar comigo. Sabe muito bem disso. - Insistiu, e eu conseguia perceber como isso também a afetava.
Desde jovens, Carol desenvolveu sobre mim um extinto de proteção. Compartilhamos uma conexão muito forte. Dói profundamente em mim não falar a ela o que realmente aconteceu e como estou aflita. Esfreguei meus olhos, escondendo meu rosto nas palmas de minhas mãos, suspirando fundo.
- Carol, já afirmei, está tudo bem. - Proferi, tentando afastá-la para que eu não trouxesse mais mágoas, e não tornar a situação pior do que já está.
- Se está tudo bem, por que não vamos almoçar fora hoje? Ainda falta muito tempo para você ir ao trabalho. Por favor! - Implorou, e não sou capaz de dizer não.
- Não estou muito empolgada, mas acho que vai ser bom respirar ar puro. - Aleguei, não achando uma proposta aceitável, mas concordei, por se tratar dela.
Pude ouvir os sons abafados de sua risada satisfatória. Deveria me arriscar andando por essas ruas perigosas, onde apresenta-se uma nova surpresa a cada esquina? Demonstrar a ela que está tudo nos trilhos - mesmo que não esteja -, é uma forma de me esgueirar desse assunto.
Carol foi se trocar, assim como. Me vesti somente com um vestido escuro, sob um moletom cinza, para que meu rosto não fique muito visível. Além de deixar os cabelos em meu rosto, para que não me reconheçam. Para que eles não saibam que eu saí, ou não saibam quem sou.
Não sei se essa abstração surtirá efeitos, todavia, já é um começo. Temi até mesmo olhar para fora das fenestras. No expediente, não ia deixar mais o lixo mantinha-me sempre no centro da boate, próxima de pessoas que conheço, e, ao sair, pedia para que Carol me acompanhasse, pois não aguentaria caminhar por essas ruas desertas e sombrias sem companhia.
Esses momentos, fazem com que eu recorde de minha juventude, em minha fase depressiva. Quando queria isolar-me do mundo no intuito de me afogar em mágoas, de estar submersa em uma vida problemática e repleta de decepções. Os desafios da vida esculpiram-me desse jeito, e não detenho o poder de mudar isso. Tristemente não.
Carol exalava boa virtude, vestida com um vestido florido e um blazer alongado de cor bege, como tradicional. Seus traços alegres encaixam-se perfeitamente em si, em seu corpo e em sua personalidade. Em todo o tempo com um sorriso esbelto entre seus lábios; tão oposta a mim, uma mulher magoada e fechada, reclusa em um círculo delimitado por si mesma.
- Não sabe o quão feliz eu fiquei por aceitar sair. - Falou, com uma curva entre seus lábios, achegando
-se.
Não consegui responder. Devolvi o sorriso e assenti. Saímos juntas do condomínio, e quando toquei aquele chão, senti uma descarga elétrica de medo, de pavor invadindo o meu subconsciente. Mesmo assim, prossegui ao lado dela. O clima úmido do ar provocava-me arrepios por ter uma baixa intolerância ao frio.
Não ultrapassavam as 13h da tarde, horário certo para o almoço. Então, eles não estariam a vagar por essas estradas em um horário desses, ao menos eu espero. Não resistiria a um encontro com eles novamente, minha saúde mental beira um colapso neural.
Pensei por diversas vezes em fugir da cidade; esconder-me do mundo, ir para à Inglaterra, Itália ou qualquer lugar. Mas não é somente eu, tenho Carol, e seriam duas pessoas para manter e se adaptar em um país desconhecido, onde uma crise financeira assola o mundo inteiro. Em Detroit, usufruto de um emprego - que não é um dos melhores -, e um bom plano de saúde. Se migrasse para um continente novo, o que iria decorrer?
As avenidas não apresentavam aglomerações, em suma, poderia chamá-las de desertas; nesses dois anos que resido em Detroit, essas calçadas nunca estiveram vazias a esse ponto. O que está ocorrendo? Desligue-me do mundo após aquele dia traumático, e as coisas parecem não ser mais as mesmas. Limitei-me a não perguntar à Carol. Então, prosseguimos até um dos restaurantes das localidades, escolhido por ela.
Adentramos no ambiente, que é bem alojado e em um estilo retrô, bem típico da cidade. Acomodei meu coração ao ver as câmeras de segurança presas ao teto. Assentamos próximo da TV, ao lado de uma janela, que me dava abertura à esquina. Os carros que passavam com frequência na estrada, transpareciam terem evaporado, dado que poucos veículos se deslocavam. Isso não tem um bom aroma...
O garçom nos atendeu. Ele era um pouco atrapalhado, contudo, sua aparência jovem indicava que ele era iniciante nessa área. Pedi um Nhoque de Ricota com Espinafre, culinária tradicional da Itália, e junto a um suco natural de laranja. E, Carol solicitou um Fettuccine com Molho Marzano, também acompanhado de um suco de laranja.
O espaço não comportava muitas pessoas. Somente nós e mais algumas poucas outras. As janelas de vidro espalhadas pelas paredes permitiam que o sol o iluminasse naturalmente, por mais que hoje não fosse um dia de verão. Observava todos os cantos, os minuciosos detalhes do estabelecimento; desconfiada, como estive por todo esse período de tempo.
Não irá acontecer nada, você está segura...
Essa era a frase que reproduzia em minha mente e, de algum modo, concedia uma tranquilidade.
- Hoje, os registros de mortes ultrapassaram 100. - Articulou, a repórter que apresentava o jornal na TV. - A começar de semana passada, o número de mortos por essa gangue de assassinos disparou subitamente. As autoridades estão atrás deles, e o recomendado é que não saíam de casa, pois eles executam qualquer que seja a pessoa.
Então essa é a razão por trás do deserto que se situa nessa cidade? É possível que sejam os vampiros...
- E, além disso, um deles foi apreendido pela polícia. Ele tentava fugir, no entanto não foi capaz. Após uma luta intensa, onde vários agentes foram mortos, conseguiram o capturar. - O programa foi para o intervalo, mas logo retomaria.
Essa gangue teria alguma ligação com os vampiros que me aterrorizaram? O homem misterioso que me atacou e executou aquela mulher, com o intuito de me proporcionar medo. Matar pessoas a sangue frio é um ato desumano, como alguém teria potencial para viver sabendo que tirou a vida de outra pessoa? Eu não conseguiria.
Fui interrompida de meus devaneios com à chegada de nossos pratos. Agradeci e os peguei. O aroma estava excelente, remete bastante a culinária italiana. Peguei os talheres na mesa e cortei pequenos pedaços para mastigar e degustar.
- Está um dia frio né? - Indagou, Carol, puxando um assunto.
Concordei com um "sim", e tomei um gole do suco. Prestando atenção na TV, para quando o noticiário voltasse.
- Sei que é chato Meera. E, como sua irmã, gostaria de saber o que está passando com você. - Murmurou, largando seu garfo e focando sua atenção em mim.
Antes de responder, inspirei demasiadamente, preparando-me psicologicamente para arranjar uma desculpa esfarrapada: - Carol, é só um momento ruim meu, precisava de espaço para ficar um pouco sozinha e repensar meus atos. Momentos passam, Carol, a vida continua. - Refutei, um pouco ríspida e vi ela suspirar fundo, se preparando para falar em seguida.
- Lembra de quando éramos crianças? E você contava histórias sobre as estrelas pra mim antes de dormir? Você disse que seríamos nós duas contra o mundo e eu me sentia tão sortuda de te ter em minha vida. - Suas palavras me atingiram de modo desproporcional, foi impossível não sentir meu interior embrulhar.
- Ainda somos nós duas contra o mundo, para sempre, independente da tempestade que cruzar nosso caminho. - Respondi, com a voz trêmula enquanto acariciava a mão de minha irmã.
- Eu nunca conheci nossa mãe, desconheço o significado do amor materno, mas eu tive você para me abraçar e me aconselhar durante todos esses anos. Sei que a vida te frustrou e te magoou muito, mas jamais se esqueça da sua força, eu ainda lembro da jovem imbatível e indomável que me deu muito amor e proteção. Eu te amo, Meera, te amo tanto que transborda. - Sua última fala fez as lágrimas descerem por minha bochecha.
Ela sorriu, e aquele simples gesto resgatou o meu dia. Ela não merece isso, espero que passe em breve.
- Apesar de todos esses esforços, ele fugiu da cadeia. Arrombou a porta de uma das selas e escapou. Nem mesmo as máquinas fotográficas gravaram sua fuga, o que é compulsivamente contraditório. - A fala da jornalista reviu, puxando minha atenção.
Parei de ingerir os alimentos, para prestar toda minha dedicação ao telejornal.
- Os detetives tentam desvendar esse caso, que segue com poucos indícios. O homem não quis dar nenhuma entrevista e muito menos relatou qualquer que fosse os dados sobre o paradeiro de sua gangue. - Discorreu, a moça.
- Isso é muito esquisito, não é, Meera? Será que aquela mulher foi morta por algum membro dessa gangue? - Inquiriu, Carol, observando-me.
- Não sei. - Afastei esse assunto que me destruiu durante dias. O que o meu coração mais almeja é esquecer isso e seguir frente.
- Se você ver esse homem nas ruas, disque o número da polícia, não perca nenhum segundo. Pode custar sua vida. - A mulher falou, e em seguida, a imagem de um homem surgiu no visor da televisão.
Os fios de cabelos caídos e inconsistentes escondiam aquela face maldosa, que emanava uma aura vazia e melancólica. Os olhos negros, desguarnecidos de vitalidade indicavam que ele era um vampiro, eu reconheceria aqueles olhos sem vida em qualquer lugar.
Minha respiração falhava agudamente, como espinhos perfurando minha traqueia seguindo trajeto aos pulmões. Ele estaria atrás de mim? Ele foi apanhado, e mesmo assim escapou sem ocasionar rastros. Não estou segura... Afoguei-me em águas desconhecidas, estando submersa em um mundo paranorma, onde criaturas infernais reinam o mundo. Quem sou eu no interior dele?
Droga!
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