22 | ʟᴜᴛᴏ
J O R D A N
Há uma semana Carol foi assassinada.
Seus restos mortais foram enterrados na Polônia, no cemitério de sua família. Foi uma perda abaladora, até para mim, que sequer à conhecia. A cerimônia de sepultamento foi realizada por Joseph. Aquele dia foi enegrecido, melancólico.
Meera chorou o dia inteiro. Me senti culpado e reprimido por ocasionar esse sofrimento e angústia nela. Percebi sem meneios o luto que ela estava a sentir. Quando retornamos a fortaleza ela se fechou completamente, não me direcionou e se encolheu em seu canto. Respeitei o seu espaço. Ela perdeu a irmã.
Pela primeira vez em séculos, a tristeza preencheu o meu peito. Vê-la naquele estado era pior que a morte. Aos poucos ela voltou a se comunicar comigo, voltou a comer normalmente e vem levando um dia de cada vez.
A imagem de Carol morta ainda me atormenta, seus olhos ainda estavam abertos e expressavam dor e sofrimento. Meus olhos marejaram ao ver aquela cena e lágrimas escorreram por minha face. A hipótese de transformá-la em vampira possuiu minha mente, no entanto, já era tarde demais. Sua alma já havia deixado o seu corpo.
Os desgraçados haviam fugido, no caminho, nos deparamos com alguns poucos. Abandonaram o local, assim como abandonaram a garota. Decerto não tinham potencial para fugirem e levarem a jovem consigo, então fizeram a escolha que em circunstância alguma idealizei: a mataram. Uma marca de mordida rígida se destacava na lateral de seu pescoço, onde o seu sangue escorria vagarosamente.
Sendo franco, eu havia perdido essa jogada. Não existiam palavras que pudessem especificar o que se passava em meu subconsciente naquele momento. Uma onda de furor cruzou toda minha cabeça, tive de me concentrar para não perder o controle de minha sanidade. Seria demais para minha amada presenciar a morte de sua irmã e ver uma máquina de matar diante de si.
Mesmo que com um aperto no coração, recolhi a garota em meus braços. Sua pele já começava à esfriar e só conseguia pensar em como Meera reagiria. Sinceramente, sua ação foi de quebrar o meu coração. Quando o seu grito desafinado escapou foi como mil flechadas penetrando minha pele. Foi horrível. Seu choro embargado com a aflição, enquanto o seu corpo se debatia no chão partiram meu coração.
Eu podia sentir o seu desespero interior. O quanto os seus gestos me causavam dor. Ela desmaiou em questão de segundos, o seu consciente não absorveu todo o impacto.
Nesse exato momentos estamos deitados. O algodão macio de minha cama me proporciona uma boa sensação. Ao meu lado estava Meera, com o lençol cobrindo uma parte de seu corpo. Faz três noites que estamos dormindo juntos, abraçados e reconfortando um ao outro.
Ela me fez o convite, me falou que não sentia-se segura o suficiente para dormir sozinha. Desde então, compartilhamos minha cama. Estou sendo o mais delicado possível, pra que não torne o ruim ainda pior. Às vezes, no meio da noite, posso ouvi-la chorar enquanto tem pesadelos.
Orientei o meu corpo sutilmente para que eu pudesse vislumbrar o seu rosto. Ao virar, topei com sua cabeça cabisbaixa, mas não estava dormindo, no máximo relaxando. Gostaria de saber o que perambulava por os neurônios de seu subconsciente. Talvez, suas lembranças com Carol dominassem os seus pensamentos. Ou esteja procurando maneiras de conseguir enfrentar o luto.
O luto é um dos piores sentimentos a serem sentidos, ele te deixa vulnerável, impotente. Te faz perder a capacidade de raciocinar com clareza e tomar decisões. O medo é o seu pior inimigo. Nascemos para morrer, mas a morte não é uma aliada, é sempre inimiga.
- No que você está pensando, Meera? - Indaguei, curioso, observando o seu olhar vagarosamente. A mesma se aproximou de mim, ficando a pouquíssimos de distância. Ouvia até mesmo os sonidos abafados e quentes que sua respiração ocasionava.
Suas írises passearam por cada traço de meu rosto, e logo ela repontou:
- Não sei, sendo franca, nos últimos dias tenho somente sobrevivido. No fim, acredito que nada mais tem importância se não estamos ao lado de quem amamos. Carol partiu, e consigo, levou uma parte de meu coração. Sabe quando nada mais importa? Quando sem aquela pessoa sua vida não tem sentido algum. Eu me sinto assim, inútil, imprestável. Um peso morto que carrega consigo somente amargor e angústias. Nada além de memórias aflitas. No fim, não existia um tesouro no meu arco-íris além de tristeza. - Sua voz era embargada de desesperança, e não existia algo em meu alcance. Algo que eu fizesse que pudesse mudar suas convicções.
O máximo que fiz foi afogar seus cabelos em minhas mãos, fazendo um leve carinho, como um simples gesto de consolo. Nesse estado, é inútil que eu possa dizer algo para ajudar. Só iria atrapalhar mais o processo de recuperação.
Eu já sabia disso, sabia que qualquer coisa que afetasse ela me afetaria. Meera é o meu ponto fraco, um ponto fraco que não estou disposto a abrir mão. A não ser que ela deseje me deixar, para isso, ela é livre. Fora isso, almejo no topo de minhas ambições, sua felicidade.
Não passava das 1h da tarde, e eu sequer havia me levantado. Não me recordava o quão bom era ficar deitado. Assim, além de fazer companhia pra ela, arquitetava em minha mente como iria prosseguir todo o desenrolar dessa guerra, o quanto de sangue seria derramado para que eu saísse vitorioso. Isso já estava a se tornar uma bola de neve.
Etgar é um homem um tanto esperto. Além de confrontar o meu legado e dinastia, guia uma guerra por poder e soberania contra mim. Falta um triz para que o embate aconteça. Ele certamente evitará isso ao máximo, tem ciência que frente a frente, sua força não é capaz de suportar a minha. Eu o estraçalharia em questão de segundos, sem remorso algum.
Me ergui da cama, me espreguiçando brevemente. Já estava no horário do almoço, ela precisa se alimentar, especialmente nessa fase. A julgar pelo horário as criadas já devem ter feito o solicitado. Falei brevemente para ela que iria rapidamente buscar o seu alimento e retornaria em questão de minutos.
Girei a maçaneta de ferro do quarto, abrindo a porta de madeira. A fechei em seguida, calmamente. Me desloquei as escadas, descendo vagarosamente os degraus constituídos de pedra. Não posso mentir afirmando que não me preocupo em deixa-la sozinha, no calor do momento temos potencial para fazer coisas imagináveis, principalmente algo muito grave.
Escutei passos se aproximarem de mim, alguns pequenos metros de distância. O vampiro chegou até onde eu estava em questão de segundos, segurando em mãos uma carta. Decerto, tinha algo de importante pra me falar.
- Como Meera está? - Stefano perguntou, parando frente a mim.
- Ainda está se curando, não será uma trajetória fácil. Perder alguém que amamos é a pior coisa do mundo. - Respondi, lembrando da dor que passei ao enterrar todos os meus parentes, um milênio atrás.
- Compreendo. Ver aquela jovem morta me despedaçou, para ela deve ter sido mil vezes pior.
- Stefano, você é leal e verdadeiro, então me responda com sinceridade: acha que sou culpado por esse sofrimento na vida dessas garotas? - Questionei, com um nó na garganta. Apesar de toda à frieza, ainda há resquícios de humanidade em mim.
- Soberano, em uma guerra pessoas inocentes sempre são afetadas. Etgar quer ver o seu fim, então usou das artimanhas mais desprezíveis. No fim, todos temos nossa parcela de culpa, não fomos capazes de deter o inimigo. Todavia, Etgar dizimar a família Peletier foi escolha dele, não sua. - Revelou, apertando meu ombro, me reconfortando.
Após alguns segundos em silêncio, Stefano retornou para o assunto da conversa.
- Faz alguns dias que eu estava querendo falar sobre isso. Não queria atrapalhar a recuperação de Meera, dessa maneira, optei por esperar o momento correto para que pudesse te contar o que o líder do Clã Karsten solicitou. - Falou, me entregando a carta.
Continuei andando a cozinha, com a carta em mãos. Parei por um tempo, para ler de uma vez o que ele estava a dizer. Ligeiramente absorvi totalmente o conteúdo do papel, encaixando em minha mente todas as palavras e frases.
- O que tem dizendo no papel? - Questionou, o homem. Fechei a carta, lançando-a em cima da mesa.
- O líder do clã procura saber se o festival do Luar de Rubis ainda está de pé. - Refutei, fitando-o.
- E qual a sua resposta?
- Que sim! O Luar de Rubis é uma tradição e deve ser seguida, se ele não ocorrer será somente uma brecha para que Etgar pense que demos o braço a torcer e estamos nos incomodando com a presença dele. É só mais um estopim para que ele se sinta mais orgulhoso e prepotente. Não estamos no momento para comemorar, mas o Luar de Rubis servirá para honrar a memória daqueles que já se foram.
- O que você quer que eu faça, Soberano?
- Enviei uma carta para todos os clãs, dentro de um mês o Luar de Rubis acontecerá. - Proferi, seriamente, um pouco sem paciência e até mesmo ríspido.
O Luar de Rubis celebra a ascendência vampírica e é um ritual a ser seguido. Não será Etgar e os Insurretos que farão esse evento ter um fim! Há mais de séculos ele vem sendo seguido e não é uma simples questão de festejo, ultrapassa isso, é algo de nossa cultura e de quem somos.
E ele não é um de nós.
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