17 | ᴠᴇʀᴅᴀᴅᴇs
M E E R A
Suspirei profundamente.
Era hoje; hoje eu veria os meus tios e, possivelmente, descobriria algumas verdades ocultas e secretas. Espero do fundo de meu coração que dê tudo certo, não desejo ver mais tragédias.
Jordan me preparou durante três dias pra isso; na verdade, passamos os últimos dias juntos. Conversávamos além dos assuntos da guerra, falávamos sobre nossas vidas, o que gostávamos de fazer e nossos maiores sonhos. Confesso que não cogitava algum tipo de laço com ele, mas parece irrespirável quando não estamos perto um do outro. Preciso manter minha cabeça estável para não me perder e o Soberano tem sido um pilar crucial nesses momentos.
Nathyfa e Gregory também conversavam bastante comigo. Debatíamos sobre coisas legais, ideais políticos, livros de séculos passados, sobre questões da vida e muito mais disso. Talvez estivéssemos nos tornando "amigos". É reconfortante saber que apesar de monstros, eles têm sentimentos humanos e profundos. São melhores que muitas pessoas normais que vagueiam por essas terras.
Eu não conseguia distinguir qual sensação tomava posse de meu corpo; me sentia eufórica, onde a ponta de meus dedos latejavam de ansiedade. Sentia um suor frio deslizar sobre o meu pescoço. A todo custo eu combatia contra à ânsia de minha consciência. Não sabia conter; era algo grande demais pra ser digerido.
Mesmo com as pernas trêmulas, me dirigi a cama de meu dormitório, percebendo o algodão macio da cama envolver as minhas nádegas. Inspirei demasiadamente. Tentando me centrar somente no que poderia ocorrer de melhor, por mais que a minha mente gritasse o contrário.
Minha atenção voltou-se para o ruído que a maçaneta fez ao ser girada. A porta de madeira se abriu aos poucos, e ao estar afastada o suficiente, pude ver uma figura masculina, alta e corpulenta. Em outras palavras, o meu porto seguro. Jordan abriu em seus lábios uma pequena curva, o que o deixava ainda mais atraente. Em passos curtos, acompanhei a sua trajetória até que ele estivesse defronte pra mim.
E então ele se aconchegou ao meu lado, e, por mais que fosse um ato natural, aquilo mexeu comigo além do que pensei. O seu perfume másculo se estranhou em minhas narinas de imediato; seu aroma era melhor que qualquer outro.
- Por que estás tão nervosa? Estou a ver os seus dedos oscilarem. - Disse, ele, me fazendo dirigir o olhar até encontrar as suas órbitas. - Seu coração bate em disparada, o que estás a temer?
Apertei às cobertas, mordendo o meu lábio inferior com força, repontando: - Eu... não sei como lidar com isso. Como que irei dizer a eles que Carol está sob controle deles? Como falarei que estou sobre a supervisão de um vampiro com um milênio de idade?
- Meera, iremos apresentar os fatos, por partes e detalhadamente. Não carece que tenha crises em razão disso. Eu sei que se trata de sua irmã, mas precisas ter um maior controle de suas emoções. - Alertou, quase como um sermão, contudo, sou madura o suficiente para entender que ele só almeja me deixar um pouco mais preparada.
Fechei os meus olhos e respirei o mais profundo que pude. Percebia cada mínimo centímetro de mim se arrepiar com a onda de relaxamento que se alastrava. Eu tenho que fazer isso! Eu tenho que fazer isso! Não só por mim, mas por minha irmã! Vagarosamente as minhas pálpebras se desgrudaram.
- Okay, Jordan, vamos fazer isso, juntos. - Aleguei, admirando-o seriamente, me perdendo em cada traço perfeitamente esculpido de seu rosto. Suas írises esverdeadas como uma esmeralda se esbarraram com as minhas. Era extraordinário e inexplicável, algo além de minhas concepções.
- Sim, Meera, faremos. - E então sua mão se estendeu a minha, tocando-a. - Agora nós temos que ir, Joseph já nos aguarda no salão da fortaleza. - Informou, se erguendo, ainda segurando minha mão, e, por mais que não fosse a primeira vez, era estranho sentir a sua mão fria.
Sorri brevemente em resposta. Ele me conduziu até a saída, em minha frente. Andávamos por o chão de concreto do casarão. Aquele local ainda me passava uma impressão de casas abandonadas em filmes de terror. O diferencial é que o monstro que habita aqui é mais belo que o normal.
Em questão de minutos já nos encontrávamos no salão. Nathyfa, Gregory, Idália, Stefano, Ídris e Mina todos eles estavam lá, inclusive um homem desconhecido, que eu deduzo ser o tal bruxo qual Jordan tem me falado. Todos os olhares de voltaram pra nós, o que me fez ruborescer um pouco, dado que a mão dele permanecia atada a minha. Me fazendo soltar o seu punho quase de imediato. Droga! Me assustei de relance ao perceber a gravura do sujeito, até o momento, misterioso.
- Meu Deus, é incrível como você é idêntica à Ginevra. A genética da Família Peletier realmente é muito boa! - Elogiou-me, com um sorriso singelo. - Desculpe o incômodo, sou Joseph Armstrong. - Me cumprimentou formalmente.
- Eu sou Meera, é um prazer conhecê-lo. - Devolvi o gesto. - Diz que sou parecida com minha mãe por nunca ter visto minha irmã, são muito parecidas, até mais que eu e ela.
- Bem, deve ser tão lindamente quanto você! - Me bajulou. Entretanto, o incomum mesmo foi o breve tossido escapado por Jordan, que interrompeu nossa conversa. Ele estaria com pressa com... ciúmes? - Agora, vamos todos nos reunir no centro. - Ditou, fugindo totalmente do assunto. Segui as suas instruções. - Iremos usar o método de aparatar. Pode ser um pouco ruim, pois dá um pouco de náuseas, todavia, garanto que é por poucos segundos. Agora, deem as mãos. - Ordenou, e todos acompanhamos as suas orientações.
Ele é da mesma espécie que a minha, será que eu também sei aparatar? Certamente que sim. Não toquei nesse assunto por não ser apropriado ao momento. Idália segurou a minha palma esquerda e Ídris a minha palma direita. Vedei a minha visão, me permitindo deslumbrar somente a escuridão. E em um átimo, foi como se meu corpo tivesse se dobrado e desdobrado por inteiro, minha cabeça pareceu remexer e tudo dentro de mim se esganiçou.
O meu corpo prosseguia instável. Desgrudei os olhos, coçando-os sem parar. Até que enfim eu pude enxergar a folhagem seca cobrir os meus pés. Parei um pouco para assimilar as minhas ideias, e me dei conta de que eu estava no interior da Geórgia, exatamente onde os meus tios moram. E, aqui, era onde eu e Carol costumávamos brincar quando mais jovens. Fazia parte dos terrenos da propriedade deles; é por aqui!
Inconscientemente meus pés se moveram, era como se minhas estivessem retornando como um raio. Eu corria por aquilo como se o vento me carregasse, como uma pena de tão leve. Era incrível como eu ainda me lembrava corretamente o caminho, pois mesmo a metros de distância eu avistava a casa deles. É quase certo que eles devem estar me achando uma louca, mas isso não importava.
Não contive o sorriso; toda a insegurança e medo aparentavam ter evaporado de meu corpo. A casa deles era a mesma, com os mesmos detalhes de antes, o que me ocasionava uma nostalgia agregada a felicidade. Ao me achegar, expirei, retomando a coragem. O restante do pessoal ao meu lado, de certeza pensando "ela é louca", mas valia a pena. Os arredores estavam vazios, e então subi os degraus da pequena escadaria, que dava encontro a porta da frente. Com o pulso trêmulo, dei três leves batidas. Engoli em seco ao ouvir o sonido da fechadura, e logo uma abertura ser feita.
Mesmo nervosa, no mesmo instante que vi o meu tio George, me atirei em seus braços, o envolvendo em um enlace. Era perceptível ver que os meus olhos já marejavam, entretanto, contive as lágrimas. Nos afastamos, e ele pôde se recompor.
- Meera... eu estava com saudades. - Exprimiu, sorridente. - Mas, quem são esses com você? - Indagou, espantado com a quantidade de pessoas.
- Mee? - A voz de minha tia Beatrice me fez estremecer, e em um movimento rápido nossos corpos estavam colados. Eu estava imensamente feliz. Até que ela se afastou, recuperando o fôlego. - Soberano? O que faz aqui? Meera, por que está com vampiros?
- Você sabe quem somos? - Questionou, Idália, avizinhando-se.
- Conheço cada um de vocês. Me responda, Mee, por qual razão está com eles? E, onde está Carol? - Meu coração errou uma batida.
Suspirei antes de responder: - É por causa dela que estamos aqui. - Iniciei. - Nós não sabemos onde Carol está, ela foi capturada pelo clã...
- Vecilius! - Refutou, antes de mim. Como ela sabe deles? - Eu insisto para que entrem, podemos conversar melhor. É arriscado ficarem aí fora, alguém pode vê-los. - Alertou, me deixando boquiaberta.
Não questionamos, somente seguimos o que ela disse. E, era incrível como a casa não havia mudado absolutamente nada. Até mesmo a fotografia minha e de Carol juntas, quando éramos crianças, continuava na parede azulada da sala mesmo após tantos anos. Me sentei numa das cadeiras da mesa, e minha tia ao meu lado. O pessoal ficou de pé, apenas a escutar.
- Eu temia que isso viesse a suceder. - Proferiu, massageando as têmporas como se estivesse decepcionada. - Ginevra me assegurou que não havia perigo, mas olha onde estamos agora.
- Pode nos explicar de uma forma mais clara? - Interpelou, Jordan, sério.
- Eu e Ginevra nos conhecemos há décadas, antes mesmo de Meera nascer. Minha família tem ancestralidade bruxa, mas infelizmente eu não desenvolvi magia. Minha família sempre foi próxima a dos Peletier, então cresci cercada por eles.
Isso quer dizer que...
- Meera, eu e sua mãe não temos nenhum laço sanguíneo, éramos grandes companheiras e amigas. - Pressionei os lábios para concentrar a tensão que se estendia por meu corpo. - Não pense que te amo menos por isso, você e Carol são as filhas que nunca pude conceber.
Eu já estava a ficar exasperada com tamanhas revelações.
- Vou começar do início, quando sua mãe ficou grávida de você e quase foi deserdada. A matriarca da família, sua avó, Astra, ficou enfurecida quando soube da notícia que sua primogênita aguardava uma criança de um humano. Mesmo assim, Ginevra passou por cima de Astra e seguiu com a gestação. Alguns anos depois, sua mãe se casou com um bruxo e ficou grávida de sua segunda criança, Carol. Até hoje acredito que Etgar matou o pai de Carol para se aproximar dela. - Sua voz saia como cacos de vidro que estilhaçavam o meu coração.
Minha mente estava disposta a ouvir tudo, custasse o que custasse.
- A Família Peletier tem seu berço na Polônia, mas veio para os Estados Unidos ajudar na guerra sangrenta dos mistos contra os puro sangue. Um dia, misteriosamente, todos eles fizeram suas malas e retornaram para a Europa. Nessa época eu já residia na América há algum tempo.
Era esquisito como o silêncio instaurado me fazia ter arrepios.
- Até que meses mais tarde, numa noite chuvosa, Ginevra bateu em minha porta com você e sua irmã. Ela estava muito nervosa, amedrontada, não conseguia falar direito. Estava com muito medo, medo deles, do Clã Vecilius. Nesse mesmo dia, ela me pediu para ficar com vocês, que ela daria um ponto final em tudo. Também me disse que não teriam problemas, pois os poderes de ambas estão selados. E então ela se foi, e nunca mais voltou.
- Não sabes de mais nada? - Inquiriu, novamente, Jordan.
- Não, apenas isso. E a presença de vocês aqui e o sumiço de Carol simboliza que não foi dado um ponto final. Mas talvez isso possa ajudar vocês...
- Do quê estás falando?
- A residência da Família Peletier é em Varsóvia, lá na Polônia, em um campo bem distante do centro. Talvez lá vocês possam encontrar mais algo, quem sabe até algum membro da família. - Articulou, indo até uma escrivaninha, vasculhando uma das gavetas, saindo de lá com um mapa, retornando até nós. - É exatamente aqui! - Apontou com o dedo.
- E o que faremos, Jordan? - Questionei, fixando o meu olhar nele.
- Iremos à Polônia!
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