13 | ᴅᴇᴄɪsᴏ̃ᴇs
J O R D A N
As percepções de poder se estendem até onde a imagem humana pode compreender.
Eu sentia medo; temor. Meu pai empunhava uma adaga e brincava com ela entre os dedos. A lâmina de metal refletia com a face maquiavélica do meu genitor. Sua fisionomia era distinta de tudo que eu já tinha visto, algo nele era sombrio e sem vida, vazio e totalmente sinuoso.
Titubeante, recuei passos pra trás, engolindo em seco. Aquela cena me causava fobia, algo que a vida inteira, me acostumei a não sentir.
- Jordan, meu primogênito e herdeiro, por que estás a se afastar? - Indagou, ele, lançando-me um olhar amedrontador. Percebi que aquelas órbitas não eram de meu pai, ao menos, não eram iguais ao homem que ele demonstrou ser.
- Pai, eu... - Busquei me explicar, mas logo fui interrompido.
- Não há explicação, já é quase um homem, tens 16 anos de idade, em hipótese alguma deve hesitar. Lembra o lema da nossa família, não lembra? - Perguntou, caminhando lentamente até mim.
Sua postura ereta e incorrigível exalava o que todos temiam: soberania. Todos o respeitavam por emanar submissão em todos os seus atos e gestos, ele se impunha como o leão liderando a savana e como o sol fazendo os planetas girarem ao seu redor.
- Família e legado, dever e honra. - Respondi firmemente, desviando os olhos para não ter que vê-lo.
Ele então agachou-se enquanto soltava um suspiro, ficando pontualmente de minha altura. Suas mãos grossas guiaram-se ao meu queixo, dirigindo com os seus polegares o meu rosto, até nossas faces se alinharem. Suas írises esverdeadas se assemelhavam com a esmeralda que se destacava no cordão que enfeitava o seu pescoço. Características dele que foram preservadas em mim.
Admito que tenho receio ao estar do lado de meu pai. Não me considero digno suficiente ao ser comparado com alguém tão forte e corajoso como ele, não ainda.
- É meu herdeiro, sua obrigação é aprender as tarefas de um líder. Céus e terras pertencerão a você. O mundo curvarar-se perante vossa presença, Jordan, enxergo um futuro onde você é o mais forte e temido entre os homens. No entanto, para atingir esse feito, deve ter o controle de tudo na palma de sua mão e, o único caminho para isso é o...
- Medo.
Seu semblante aparentava satisfação, seguido por um minucioso sorriso no canto de seus lábios.
- Isso mesmo, Jordan, não almeje ser amado ou glorificado, seja temido! Faça arrepios serem corridos somente com a pronuncia de seu nome. Seja aquele-que-todos-temem! Seja à minha semelhança! - Disse, em um timbre estarrecedor, surgindo um eco graças à zona estreita da masmorra.
- Eu serei, papai, serei tão grandioso quanto o senhor. - Afirmei, um pouco exaltado pela euforia do momento. Me surpreendi ao ver um "não" movimentada pela cabeça de meu progenitor.
- Jordan, palavras são fúteis quando seus atos não condizem com o que você fala. Vocábulos são inexistentes quando se tem conta de seu poder; frases não definem uma pessoa, o que a define são as suas ações. O que ela faz pra permanecer no topo. - Proferiu sentenças cruéis o suficiente para ferir o meu ego.
Ele então se distanciou, achegando-se a uma cortina de pano velho e empoeirado. Em um puxão rígido e brusco, ele rasgou o véu, fazendo com que uma pequena nuvem de sujeira pairasse sobre o ambiente.
O que enxerguei foi um corpo masculino sentado sobre uma cadeira de madeira, amarrado pelo pulso e preso ao objeto. Sua boca amordaçada ocasionava um rangido desesperador, como se lutasse para sair dali.
Após isso, meu pai se aproximou do homem sorrateiramente. Podia ver, não muito perto, o corpo do indivíduo tremer de modo irregular. O papai ficou atrás dele, segurando-o pelos ombros e imobilizando-o mais.
O que ele está tramando?
- O mundo é cruel, Jordan, nunca confie integralmente em uma pessoa, expectativas são facilmente quebradas. Qualquer um faria as piores atrocidades para portar o poder que nós detemos. - Articulou, calmamente, como se aquele fosse um diálogo normal. - Filho, nós devemos ser a chama de um fogo que queima, não apenas fumaça.
Peripécias e planos infalíveis. Riquezas, terras e tudo que a riqueza pode deter. Essas são as palavras que descrevem a minha linhagem; e eu as honrarei.
- Um bom líder não só deve sentar no trono e ditar regras, ele tem que impor sua magnitude. Reis ditam sentenças e elas serão executadas. Por isso, Jordan, deve pensar com cautela antes de tomar decisões. Elas podem ser o seu prestígio, como também podem ser sua ruína.
Por mais que eu desejasse me atentar as falas de meu pai, minha concentração perseverava sobre o sujeito. Seus olhos marejados gritavam por misericórdia.
- Sabe quem é esse porco? - Neguei com a cabeça. - É um estuprador, ladrão, assassino. Matou mulheres da corte, roubou riquezas de nossa propriedade; a punição para esses crimes são catastróficas. Nós brincamos de ser Deus, jogamos com a vida das pessoas porque elas simplesmente não têm valor algum. A alma dele estava em minhas mãos desde o instante que ousou pisar em minhas terras.
Percebi que o homem se exacerbou de maneira intensa. Escutava os sonidos que escapavam dele, mesmo que emaranhados, um som parecido com "me perdoe".
- Mate-o. - Ordenou, friamente. - É isso mesmo, Jordan. Pegue essa adaga e mate-o. Dê facadas no peito dele. Arranque a alma, o despedace por inteiro até não sobrar nada.
- Papai, eu...
- Agora, Jordan, é uma ordem. Líderes fazem o que deve ser feito, e o seu dever é matar esse homem. Ele nos furtou, é o que ele merece. Não fraqueje! Haja! - Inspirei profundamente antes de dar à primeira passada.
Mesmo que bradando em minha índole que eu não poderia, minha consciência declamava que eu não decepcionaria o meu pai. Eu tinha de fazer! Ele me entregou o objeto pontiagudo. Era mais pesado do que imaginei, todavia, não era difícil manuseá-la.
O olhar apavorado do malandro me propiciou uma sensação de embrulho no estômago, entretanto, meu pai contava comigo. Eu não posso! Não posso bambear! Tenho de fazer o que deve ser feito!
Encostei o utensílio cortante em seu pescoço, pressionando-o contra aquela pele suja.
Morte...
Observava discretamente a garota Peletier que dormia serenamente em meus aposentos. Seu corpo estava um pouco encolhido, com um edredom azul escuro agasalhando sua pele.
Não sendo um pervertido, mas em todos esses séculos de vida, jamais avistei alguma mulher, seja ela mortal ou do submundo, com uma beleza que se equiparasse à dela. Tudo nela é único e encantador, cativando minha atenção em questão de segundos.
Desviei meu olhar, lançando-o à fenestra de meu quarto, que possibilitava visão a uma lua prateada e que enfatizava o céu. O posicionamento dela me indicava que já era horário pra partir. Isso, se eu quisesse chegar a cidade de Flint antes que o sol despertasse.
Vesti o meu terno preto, qual geralmente uso quando trato de assuntos importantes. E quando citamos a lineagem Peletier, abordamos uma vasta história com pouquíssimas informações, todavia, nada que o meu poder não possa dar algum jeito. Sairei por cima, como sempre ocorreu.
De certo, Joseph Armstrong, trará pra mim informações que tento conquistar. Ele e eu mantemos uma rede de comunicação há séculos, e sei que ele não irá falhar comigo. Ele desfruta de uma pequena parcela de confiança minha.
Me encaminhei à sacada de meu castelo, que me dava uma ampla visão da floresta negra, o meu hábitat natural. E também, um dos melhores locais para encontrar as minhas presas. Identifiquei os ventos gelidos, frios como minha epiderme, se cruzarem comigo. Era um bom envolvimento; um sentimento que há um milênio eu não constatava. Eram palpites inexplicáveis para descrições rasas.
Até que em um átimo, meu torso foi inclinado pra frente, me fazendo cair no ar. Me identificava como uma ave, uma criatura que no tardar doma os céus. E é isso que eu sou.
Quando os meus pés atingiram o solo vigoroso, percebi uma onda de adrenalina perfazer por meus vasos sanguíneos. Era uma longa jornada, no entanto, nada que eu já não tivesse me habituado. Fazia parte de minha missão como um líder vampiro.
Na brisa tenebrosa do bosque enegrecido, a única coisa audível era o som de meus pés em contato com as minúsculas rochas e plantas da superfície. E eu sabia milimetricamente o trajeto que deveria seguir, um movimento errado e eu poderia ir numa direção totalmente contrária.
Nenhum pensamento se firmava em meu subconsciente; várias fantasias se estendiam por minha mente, uma mais perversa que à outra. Me imaginava arrancando a cabeça de cada um daqueles infelizes. Idealizar o sofrimento deles é o meu entretenimento. Quero vingar à Meera, fazer com que eles paguem por todo o sofrimento que proporcionaram a ela, que não merece um terço da melancolia que vem passando.
No momento, não só é minha prioridade, como as dos Guardiões de Sangue, encontrar Carol Peletier. Aguardo que eles não tenham tocado suas mãos imundas nela, pois sei que isso afetará Meera, e tudo que eu menos quero presenciar é à angústia dela.
Me dei conta que já haviam se passado horas quando reconheci raios solares em contato comigo. O sol já começava a nascer no Oeste. Eu literalmente havia perdido a noção do tempo.
E enfim, eu havia finalmente chegado ao meu destino. Antes de ingressar, limpei de minhas vestes uma pequena porção de poeira que havia se acumulado. É obrigação minha estar com uma aparência impecável.
A pouquíssimos metros de distância, à figura masculina de Joseph se fazia presente. Sempre com sua personalidade meiga, a qual não me agrada muito, exclusivamente por ser um pouco invasivo. Fora isso, é um bruxo extremamente talentoso e perspicaz.
- Meu Deus, Jordan! Parece até que você fica mais bonito com o passar dos anos. - Me elogiou, o que me fez revirar os olhos.
- Sem enrolação, Armstrong, não pervaguei a cidade inteira para vir receber seus elogios. Quero as informações que você me disse que teria! - Bradei, ríspido, cortando-o logo no começo.
- Você é um vampiro muito insensível, só não fico bravo com você por saber que pode me matar a qualquer instante. - Pronunciou, sorrindo logo em seguida. - Vamos entrar no cassino, conheces bem o lugar para onde iremos.
Caminhei na frente dele, me conduzindo a entrada da casa noturna, que é uma das mais famosas do Estado de Michigan. Seria um local feito com o intuito de diversão e prazer, porém, logo ultrapassou isso, tornando-se uma disfunção.
Pessoas de todas as etnias vinham aqui, até mesmo membros do submundo. Todos têm dentro de si a vontade de se divertir em algum momento, até mesmo bestas infernais como eu. Adentramos em um cômodo consideravelmente aconchegante.
- Olhe só, essa é Ginevra Peletier. - Ele me jogou uma gravura. - E essa é a mãe dela, anfitriãs da família.
Era surpreendente a maneira como todos eles se assemelhavam. Em particular, Ginevra e Meera, praticamente idênticas.
- Parece que eles fugiram para a Europa quando a guerra entre os puros e os mistos tomaram conta dos Estados Unidos. Só que... Algo nessa história é muito estranho e não bate com as outras peças.
- E o que seria?
- A família Peletier estava do lado da raça pura, ou seja, eles não abandonariam o país, posto que a raça pura almejava a América do Norte como centro da magia. Eles se refugiaram por um motivo além desse.
- Eles só podem ter fugido porque... Etgar estava atrás deles. Sim, é à única resposta plausível. Meera me contou que viu ele e os seus subordinados cercarem ela.
- Então, Jordan, eles fugiram pra manter o espírito de feiticeira longe das mãos de indignos. Esse é um poder genuíno e puro, algo que um vampiro não deve carregar. A linhagem deles carrega esse poder por séculos, talvez milênios. Nós devemos saber se a família inteira está realmente morta, é o primeiro passo para a vitória.
- Meera me falou que ainda tem tios, mas esses são humanos, apesar de que ela desconhecia o submundo até semanas atrás.
- Olhe Jordan, de algo eles devem saber, e essas informações nós iremos extorquir.
Tudo estava a tomar um rumo, bastava saber qual ele iria seguir. E, claramente, será para o meu lado.
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