12 | sᴇɴsᴀᴄ̧ᴏ̃ᴇs
M E E R A
Sentia uma angústia insólita se apropriar de cada fração da minha alma.
Um sentimento de desespero, euforia, pânico, todos agregados um ao outro. Um suor frio escorria por minha epiderme. Me encontrava frustrada, esgotada, percebendo partes minhas desfalecer em amargor.
Não me restava forças nem mesmo pra me manter de pé. Minhas pernas oscilavam de medo mesclado a aflição. Meus pensamentos permaneciam focados em uma única gravura: minha irmã. Me indagava sobre a situação que ela estava agora; o que de ruim poderia estar acontecendo; o que as bestas estão a fazer com ela. Cem milhões de perguntas sem uma única resposta.
Eu tinha medo; medo que a qualquer momento essas bestas tirassem a minha vida. Fiquei neurótica, achando que a qualquer momento podem me atacar e me machucar. Dobrei os joelhos sobre o piso de pedras, apoiando meus braços sobre as bordas de porcelana do sanitário e tentando respirar para conter a ânsia.
Vi tudo que comi sair por minha boca. Era como centenas de borboletas que vagavam por meu estômago me ocasionando uma tortura imersiva e surreal. Eu notoriamente não estava bem, e não conhecia nenhum modo de evitar que isso ocorra.
Já ultrapassava o horário das 2h da madrugada, e eu não havia conseguido pregar os meus olhos ou relaxar. Só sentia temor e pesadelos, sussurros vindo de vozes do além que só dissipavam mais receio.
Me ergui, pressionando o botão de descarga. Fui até a pia, pegando nas mãos um pouco de água e limpando o meu rosto. Encarei o reflexo de minha face no espelho, comtemplei minhas pálpebras roxas e lábios esbranquiçados. Eu estava péssima, horrível, me sentia como a pior pessoa que habita o universo.
Como eu pude?
Cerrei o punho, inspirando profundamente. Abri a porta do cômodo, saindo.
Por que você fez isso, Meera?
Eu não tinha intenção, não foi minha culpa... me perdoe!
Por que, Meera? Por que fez isso?
Eu não queria! Eu não queria... por favor, faça isso parar.
Você queria, foi sua culpa, Meera, foi tudo sua culpa!
Um grito de desespero escapou por meus lábios, e eu proferia a mim mesma que não era minha culpa. Apoiei o meu corpo em uma das paredes do ambiente, identificando as lágrimas cálidas deslizarem por minha bochecha.
- O que houve? Está tudo bem? - Ouvi uma voz máscula e grave, juntamente a uma figura corpulenta.
Logo em seguida, percebi o toque de mãos frias como o inverno em meus braços. Para não perder a estabilidade, encostei minha cabeça em seu busto, fechando os olhos.
Não tinha potencial para gesticular uma única palavra. Notava um vazio solene me preencher. Não me dei conta de que aquele era Jordan, o homem qual confrontei. Meu corpo necessitava de amparo, o meu coração gritava por isso.
- Perdão se fui inconveniente, mas não estou bem, Jordan. Nada está bem e... estou me perdendo. - Disse, me afastando e orientando o meu olhar para fitá-lo.
- Está tudo bem, Meera. Nenhum mau irá te acontecer enquanto estiver ao meu lado. Eu sinto muito por Carol, não consigo imaginar sua dor. Infelizmente o destino tomou uma decisão cruel. - Exprimiu, com uma expressão serena, limpando minhas lágrimas com seus dedos.
Eu realmente almejava acreditar nas palavras dele, eu desejava crê que ele me salvaria de meus demônios, mas esse era um conflito interno meu.
- Quer que as criadas preparem algum chá pra você? Eu posso pedir. Não está em condições de ficar aqui sozinha. - Falou, mirando em mim. Seu timbre de voz indicava preocupação, porém, como ele poderia se importar comigo? Certamente tem assuntos mais prudentes para resolver.
- Estou mal, isso é o que acontece quando as coisas fogem do controle. Queria entender o momento que as coisas começaram a dar errado, mas quando penso no passado, vejo que tudo foi um compilado de decisões erradas. Preciso ficar sozinha e refletir, sobre absolutamente tudo. - Repliquei, coçando as pálpebras e me afastando alguns centímetros.
- Infelizmente vivemos em um mundo cruel, não há compaixão ou empatia no sobrenatural. Todas as criaturas são movidas por poder e ganancia, não sentem remorso caso precisem destruir alguém para alcançar seus objetivos. Etgar e seus subordinados agiram assim, eles não se importaram em transformar sua vida em um inferno. Mas saiba que eu me importo com você e não quero vê-la infeliz, apesar das circunstâncias, ainda há esperança. - Explicou, carregando sabedoria nas palavras, tocando o ponto frágil em meu peito. Além de sua arrogância e prepotência, O Soberano é gentil quando quer.
Direcionei meu campo de visão ao vampiro de cabeleira dourada e íris esverdeadas, apreciando cada minucioso detalhe de sua face e analisando-o. O que mais ganhava destaque naquela fisionomia obscura e ignorante, eram as covinhas em suas bochechas que afundavam sempre que seus lábios sorriam, mesmo que fosse raríssimo ver uma curva em sua boca.
- Por quanto tempo pensou nesse discurso? - Perguntei, desafiando-o. Levantei a sobrancelha e o encarei, vendo Jordan pigarrear e parecer levemente ofendido.
- À essa altura do campeonato cogitei que já tivéssemos dado trégua, aparentemente me enganei quanto a você, Meera, é mais teimosa do que idealizei. Quanto a suas desconfianças, saiba que não quebro promessas, fui totalmente sincero quando afirmei que sua segurança é prioridade, juntamente as investigações do paradeiro de sua irmã. - Recitou em um timbre protetor, algo que misteriosamente me confortava.
Agora estou me achando a pessoa mais tonta desse mundo por tê-lo tratado de maneira tão ríspida, no entanto, ainda acho que ele merecia ouvir algumas verdades. Me dei conta que estava envergonhada quando constatei minhas bochechas ardendo.
- Me siga, okay? - Pronunciou, antes de caminhar até a porta de saída do quarto e deixa-la aberta para que eu passasse.
Assenti com a cabeça, guiando-me por ele. Eu não havia explorado o castelo, não sabia de nada, poderia facilmente me perder. A fortaleza assemelha-se com construções do passado, como se tivesse saído diretamente dos livros de história. Os candelabros em chamas traziam uma iluminação quente e aconchegante para o ambiente, diferente das paredes ásperas de pedra, que transmitiam dureza e frieza.
Me indagava sobre onde Jordan estaria a me levar. Subíamos escadas longas, como se estivéssemos acessando uma torre. Sentia uma emoção estranha, completamente incomum e indescritível. Apesar de nada andar pelos trilhos ultimamente. Um vampiro belíssimo e cruel me conduzia a um local que eu não fazia a mínima ideia de onde era.
Paramos os passos quando estávamos defronte para uma porta de madeira, que apesar de ter um aspecto enrijecido, era composta por detalhes. O que vi facilmente foi a maçaneta de ouro. Em segundos ele abriu a passagem que nos dava acesso a um ambiente extenso e arejado.
Dei passadas titubeantes, adentrando ao espaço devagarinho. Me impressionei gradualmente ao comtemplar cada cantinho. Era um quarto grande, muito grande. Com uma janela imensa que propiciava visão ao lado de fora. Era lindo e tinha um tom medieval e obscuro, com pinturas na parede e uma enorme cama.
- É muito bonito, Jordan, contudo, você é um vampiro e pelo meu conhecimento, vampiros não dormem. Então, por que você tem uma cama em seu quarto, se não precisa dormir? - Questionei, realmente curiosa.
- Bem, são inúmeras opções do que se pode fazer numa cama. - Repontou, me lançando um olhar enigmático. - Mas para sua informação, é totalmente um mito essa coisa de vampiros não dormirem. Pode se deitar nela. Aguarda somente alguns minutinhos, estou indo falar com as criadas para prepararem algo pra você. - Foi a última frase dita por ele antes de sair pela porta.
Mesmo ansiosa, me deitei sobre aquela cama macia, a sensação era de navegar em nuvens. Por mais que a ânsia ainda estivesse em meu interior, tinha ciência que estava minha preocupação estava deixando de ser sólida e tornando-se mais líquida. Ainda que me esforçasse para não pensar tanto em Carol, minha mente insistia em imaginá-la e meus olhos marejavam.
- Retornou a pensar em sua irmã? - Inquiriu, Jordan, chegando de forma tão sorrateira que me causou até um susto.
- S-sim. - Orientei minha postura, observando-o melhor.
- Nesse momento os meus sentinelas estão nos subúrbios de Detroit procurando por ela, caçando qualquer que seja o rastro que aqueles malditos deixaram para trás. - Buscou alguma maneira de me consolar com suas palavras, mas isso não bastava.
O vampiro se sentou em uma das poltronas, proporcionando uma visão completa de seu corpo. Seus músculos marcavam em seu terno.
- Estamos vivendo uma guerra, agora posso oficialmente confirmar que estamos em crise. Te devo desculpas, querendo ou não, sou um dos motivos que colocaram sua família no meio disso tudo. - Articulou, quebrando o silêncio que havia se estabelecido.
Suspirei demasiadamente antes de refutar: - Isso não é só culpa sua, eu só estava triste e irritada por tudo que houve. É só que... estou com ódio de mim mesma. Era meu dever protegê-la, cuidar como a mãe que nunca tivemos e falhei, falhei miseravelmente. - Escondi meu rosto em minhas mãos, impedindo que ele avisasse ao lágrimas que despencavam.
- Erros são cometidos todos os dias, se culpar não trará resultados. Peço para que confie em mim, sou O Soberano, não possuo esse título à toa. Sou o líder dos vampiros e já passei por cima de muito mais que isso, os Insurretos pagarão pelo sofrimento que estão a causar. - Recitou, com uma confiança inigualável.
Jordan... o que te leva a emanar tamanha determinação? Não o conheço, tenho pouquíssimas informações. Todavia, ele não me parece ser como nenhum outro. Ele é diferente, um diferente bom.
- Antes do sol nascer estarei partindo, irei me encontrar com Joseph Armstrong. Ele saberá te dar respostas sobre o mundo bruxo, como funciona o seu poder e um pouco mais. Além de, ao meu ver, nos orientar quanto a sua família. - Eram tantas informações a serem processadas, capazes de me dar um colapso neural.
- Isso é tão sinistro, em nenhum momento cogitei que minha família seria tão complicada assim. É algo além do que meus olhos podem enxergar. Essa realidade é perturbadora, diferente de tudo.
- Sim, ele é. Porém, está aqui agora, está na minha fortaleza, meus guardiões te protegeram até que não haja mais perigo, Meera. Você é uma mulher forte, bonita, dona de si mesma. Sei que terá potencial pra chegar até o fim dessa encruzilhada. - Falou, penetrando o seu olhar ao meu.
Jamais ruminei que algum deles poderia captar o que me envolve. Jordan é um homem arrogante, constatei isso desde o dia que o vi pela primeira vez. Mas só em ouvir que ele está ao meu lado, já é o necessário pra não me fazer desistir.
O mesmo se levantou do assento e caminhou até o outro lado do repartimento. Abriu um guarda-roupa antigo, e de lá tirou uma jaqueta negrume. Era refinado, luxuoso, como tudo que esbanjava daquele lugar. Ele então retirou à blusa branca que estava em seu quarto, deixando todo o seu peitoral visível. Harmônico e definido.
Uau, isso é atraente.
Desloquei o meu olhar daquela cena constrangedora, retomando o meu campo de visão para o teto. Eu não era à mesma, e jamais retornaria a ser. Porém, isso já não tem mais importância. O que minha concentração grifa é nela, em Carol. Pensar nela já me deixa deprimida.
Acabei por pegar no sono por cima do edredom almofadado de Jordan, com os olhos marejados. Bradando interiormente que eu irei me encontrar com minha irmã.
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