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| ᴘʀᴏ́ʟᴏɢᴏ

          Os pés céleres e frenéticos tocavam o solo úmido e vigoroso, tão vertiginoso como um raio antes do trovão.

          As gotas de chuva despenhavam das nuvens cinzentas, caindo sobre o corpo rígido da besta. A estatura do ser trabalha em um ritmo incompatível, não pausando por nenhum segundo. A adrenalina dispersa-se em seu corpo como uma fonte inesgotável de furor; os olhos vermelhos aproximavam-se e isso tinha somente um propósito: arrancar o mal pela raiz. Ninguém é mais forte ou temido que ele, O Soberano. A pronuncia de seu nome é temerosa; seu olhar é de causar arrepios até mesmo no mais corajoso dos homens. Sanguinário e frio; sem vida e sem compaixão; cruel e habilidoso. Ninguém atreveria-se a desrespeitá-lo, pois sabe que esse é um precipício de encontro com a morte.

          Os ventos álgidos sopravam sob o luar de safiras. A noite densa repleta de nuvens e estrelas, refletia sobre a floresta negra, com uma aura tão obscura quanto os seres que lá habitam. A brisa tenebrosa propagava-se no local. Nem mesmo o ruir de corujas ouvia-se.

          As vozes e sussurros calaram-se instantaneamente com a chegada dele; joelhos dobraram-se e cabeças curvaram-se diante de sua presença. Todos o temiam, todos o respeitavam. Seus passos anteriormente velozes, tornaram-se calmos e compassados; seu corpo exalava poder e soberania. As íris avermelhadas observavam o local atentamente, não permitindo escapar nenhum minucioso detalhe. Após poucos segundos analisando, pronunciou-se:

          — Tragam até mim o infeliz que me fez vir até aqui. — Proferiu, em um tom amargo e arrogante, erguendo seu queixo.

          O silêncio ainda fazia-se presente. As criaturas que ali estavam acataram a ordem de seu líder sem hesitar. Ao retornarem, traziam consigo um indivíduo amordaçado e ferido, com hematomas em diversas parte de seu corpo. Empurraram-no aos seus pés, e retiraram apenas a amarra que bloqueava sua boca. Afastaram-se e o deixaram nas mãos do Soberano. Ele sabe o que fazer.

          — Não resta-me tempo, imundo. Diga de uma vez, onde encontra-se o seu clã? — Indagou, arqueando suas sobrancelhas, emanando domínio, em uma curta frase.

          O questionamento transparecia não ter tido efeitos, dado que ele prosseguiu em silêncio. Os murmúrios expandiram-se sorrateiramente, até serem interrompidos por uma risada. Um pequeno sorriso que tornou-se uma gargalhada medonha e disforme. O sujeito buscou levantar-se, mas não foi capaz. Em seguida, gesticulou sua fala:

          — Vocês! Todos vocês irão morrer! Não importa o que façam, o destino está selado. Nesse mesmo momento, meu clã está há quilômetros de distância. — Alegou, com uma curva imensa nos lábios, sentindo dentro de si uma sensação de dever cumprido. — Independente do que façam, o trono será nosso. Nem mesmo as garras do Soberano poderá mudar isso. 

          Era possível ver a face de espanto em cada um daqueles seres. Mas não no Soberano, sua expressão é séria. Sua experiência o moldou dessa forma. Rebeliões como essa estão em seus 10 séculos de vida; e ele está onde está por nunca ter perdido nenhuma delas. Somente uma minúsculo sorriso formou-se em sua face, tudo o que ele sentia desses insubordinados era pena.

          — Não irei falar novamente! Onde está o seu clã? — Inquiriu, agachando-se para encarar o homem que afrontava-o.

          Seus olhos penetraram os deles, rápido e sorrateiro. Uma expressão fria e que indicava notoriamente que não estava para brincadeiras. O homem no chão o encarou, mas não tendo potencial para olhá-lo no fundo de seus olhos; e mesmo que tentasse ele não conseguiria, perderia-se na maré de enigmas que eles são. Olhando para terra molhada e coberta por pequenas plantas, disse:

          — Jordan... O sobrenome Ekirev foi famoso na Europa por séculos, onde estão seus antepassados? — Fez uma pergunta retórica. — São conhecidos, ao menos eram, por sua força, obscuridade e cautela. No entanto, todo o seu patriarcado teve um ponto final. Vocês deixaram de existir, converteram-se em cinzas de um passado que não existe. O Clã Vecilius é o verdadeiro e único clã que os vampiros seguirão, nós somos a chama, nós somos o fogo. Você cairá... Assim como o seu clã. — Ameaçou, quase igualando-se à uma verdade, porém apenas palavras não são cabíveis para ser uma intimidação ao Soberano.

          — És uma pessoa de coragem, admiro isso. Mas responda-me, ou arrancarei sua cabeça de seu corpo da maneira mais cruel que existir. — Rebateu, em um tom pavoroso e verídico. Aquela sim era uma cominação que seria cumprida.

          — A lua está conspirando a nosso favor e a bruxa e seu espírito nos guiarão pelo caminho do triunfo e ordem. Nós não somos mais parte de você. — Articulou, e logo calou-se.

          O Soberano cerrou o punho, erguendo-se. Averiguou por alguns segundos a situação, e chegou à conclusão: morte. O movimento foi ligeiro e brusco, sem tempo para nem mesmo uma reação. Aconteceu o que todos esperavam; o que acostumaram-se a ver e fazer. A cabeça fora de seu corpo rolou pelo chão, enquanto o corpo jazia. Estava encerrado, não existia mais destinação em estar ali. O mau foi arrancado pela raíz. Entretanto, outras mudas crescem, e esse será o seu trabalho, dizimá-las.

          Os vampiros deixavam essa missão nas mãos de seu líder. Retiraram-se lepidamente, questionando à última fala do homem agora morto. Restaram apenas os soldados da elite, aqueles que ocupam o topo de seu clã, os Guardiões de Sangue. Receberiam as ordens e as desempenhariam, essa é a sua função.

          — Soberano, essa é uma ameaça? — Interpelou, Stefano, um grande vampiro de um grande clã.

          — Não, Stefano, não existem ameaças para mim. Essa é uma disputa por poder, como várias outras anteriormente. Eles não passam de míseras pulgas tentando assumir o controle da penugem de um leão. — Gesticulou, firme em suas palavras.

          — Esse clã... São perigosos. Eles mataram uma dezena de vampiros do Clã Leestorm há um tempo, talvez tenham iniciado seus planos nessa época. Teremos que ter muito cuidado. — Exprimiu, Ídris, A Rainha de Diamantes, do Clã Qingge, aproximando-se para mediar à situação.

          — Eles são tenebrosos, o que falaram sobre feitiçaria e a bruxa,  não fui capaz de compreender em que trilho eles almejam chegar. — Disse, Idália, O Anjo, do Clã Karsten.

          — Nada do que ele falou tem relevância. Temos algumas informações sobre eles, o suficiente para saber que devem ser exterminados. Conhecem o que fazer, façam! — Ordenou, em seu timbre mais reinante, similar ao de um lobo governando sua alcatéia.

          Restava somente ele no campo, sozinho e refletindo sobre as previsões desse embae. Sua mente calculava o quebra-cabeças dita. Ele está mergulhado inteiramente nessa rebelião, e está disposto a ganhar, como sempre fez.

          Temam e fujam, pois O Soberano está à solta. Nada e ninguém poderá pará-lo!

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