
Capítulo 50: Tormento de Franco
*ALERTA DE GATILHOS: ANSIEDADE, RELIGIÃO, CRISTIANISMO, FIGURAS E ELEMENTOS RELIGIOSOS, CONSUMO DE ÁLCOOL E CIGARRO, PROFANIDADE, CENAS SEXUALMENTE EXPLÍCITAS, DESCRIÇÃO GRÁFICA DE ATOS SEXUAIS E SECREÇÕES.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Lovers to Strangers - Chance Peña, Northern Star - The Amazons e star hopping lover - Chance Peña
"Senhor, salve minha pobre alma".
— Edgar Allan Poe
Edimburgo – 31 de janeiro de 2018
"Novo diácono na localidade".
Cochicharam aos ventos por Edimburgo logo que um fusca preto lustroso estacionou de frente a uma casa paroquial de cinco andares.
Meramente semelhante a um apartamento antigo, próximo do centro e da catedral da cidade nublada.
Do veículo desceu plácido um ruivo e inexperiente diácono transitório¹ bem-vestido ainda não designado padre, que se dispusera a ser denominado pelo bispo.
Do lugar, saiu um representante trajado numa batina comum, na posse de seu crucifixo no pescoço e sua feição receptiva acolheu o novo integrante.
— Diácono Franco Gregori! Que bom lhe receber! Já posso lhe chamar dessa maneira? — um padre de cabelos platinados e com cinquenta anos atendeu o jovem de vinte e cinco. — Lhe esperava chegar para atendê-lo como merece.
Ele entendia que não deveria se aproximar do rapaz e o reverenciou ao curvar a cabeça. Foi o que repassaram ao transferi-lo assim que se formou no seminário.
O Gregori subiu no meio-fio que ligava à habitação e admirou ao redor todas as construções no seu campo de visão.
Era um misto de petricor, asfalto úmido, casas de tijolos, clima nublado e carros lentos a passar entre a alameda.
— Franco Gregori para o senhor, Padre... — cumprimentou e expectou pelo nome.
— Padre Lewis — sorriu aprazível. — Serei um mentor.
O novato apenas concordou silente.
— Bem, já separaram o dormitório? — desamarrou as cordas que seguravam suas coisas acima do fusca.
— Tudo está pronto para lhe acolher. Me acompanhe — gesticulou de modo a adentrarem o ambiente. — Se acostumará com todo o recinto. Confie em mim.
Franco apanhou as bagagens, recusou ajuda por se sentir forte o bastante para carregar e seguiu até o interior da espaçosa residência que acolhia demais sacerdotes que igualmente aguardavam a ordenação do bispo.
Existia uma antiga escada feita por madeira de carvalho gigantesca encostada na parede também do mesmo material e que guiava até cada aposento reservado com banheiros.
Tudo era custeado pela igreja. Desde a alimentação até o transporte.
Porém, qualquer diácono ficava sob responsabilidade do sacerdote até sua designação.
Enquanto conhecia cada ambiência, havia uma sala imensa disposta para qualquer residente descansar ao apreciar livros postos em estantes elevadas, porém, Franco carregava algo numa das bagagens. Trouxe do seminário e em preservação.
Pretendia retornar para casa com uma lembrança em mãos.
Entre as características, uma lareira a lenha de pedras também centralizava no recinto, um tapete rubro fora espalhado em meio aos sofás e poltronas clássicas, e ao lado direito uma cozinha inglesa com mesa retangular retrô longa e várias cadeiras com acabamento de cobre existia para ceias e jantares da noite.
E no jardim vivo ao fundo, habitavam plantas e santos de gesso para diáconos dispostos a rezar seus terços ou ler a bíblia.
Jardins recordavam de Gaya.
E para estudarem a rotina do sacerdócio, todos se encaminhavam até um cômodo espaçoso onde celebravam uma missa diária.
O objetivo resultava em formar padres focados nos caminhos de Deus.
Ambos subiram sobre madeira que rangia até o quinto andar, onde se localizava seu estimado aposento.
E ao chegarem, o ambiente parecia ser bem limpo, em tons terrosos, uma cama de solteiro clássica, mas a aparência se mostrou um tanto arcaica.
Da forma que o Gregori desejava.
— Obrigado Padre.
Educado, largou suas coisas no chão, próximo da cama e apreciou cada detalhe.
— Disponha, irmão — o reverenciou. — Ao lado, na mesa de cabeceira, há um folheto com todos os horários a cumprir. Tem as quatro e cinco horas matinais na intenção de fazer o que quiser — apontou para a mobília.
— Acho que tirarei algumas horas para correr e caminhar pelas ruas. Conhecer a cidade, por ser muito bela.
Costumava experienciar o mesmo durante os tempos no seminário. Dava voltas nas terras da instituição no intuito de manter seu hábito.
Contemplativo nos sapatos formais, Franco admirou a rua por intermédio de uma janela guilhotina branca com cortina marrom que se posicionava por trás da cama que encarava a porta.
Se tratava de um quarto semelhante ao seu dormitório no seminário.
— Bem, — o homem mais velho uniu as mãos para as costas, ladeou o olhar pelo recinto e arfou — lhe espero na missa das sete horas desta quinta. Será a sua primeira vez a celebrar junto a um padre?
Os olhos interpelaram.
— Nunca tive a oportunidade, mas sei bem como auxiliar — seus lábios se contornaram num sorriso fechado. — Só preciso praticar um p...o.
— Bem... — analisou a situação. — Então mais tarde lhe aguardo no salão. Visto que os demais diáconos estão num retiro em Whitby, na Inglaterra, tomarei todo o tempo ao Reverendo — resultou na precedente vez que lhe tratavam dessa maneira.
— Me farei presente, padre.
O jovem diácono havia aprendido e treinado numa única noite para se fazer presente na missa que lhe apresentaria.
Parecia leve e diferente do rapaz ansioso sustentado em seu passado.
A manhã seguinte de fevereiro, uma quinta-feira nublada como de costume, detinha uma boa quantidade de fiéis e turistas na ampla catedral de Santa Maria. Eles apanharam folhetos litúrgicos e se espalharam nos vastos bancos.
A catedral na Escócia era bela, iluminada e gigante.
Lhe assustava um pouco aquele teto curvado e a identidade gótica por todas as partes. Causava estranheza e admiração.
Trajado numa túnica branca comum, uma corda na altura dos rins utilizada por celibatários, uma estola verde na diagonal do ombro esquerdo que significa "estar pronto para servir", além de sobrepor uma dalmática verde-esmeralda no mesmo tom da estola, Franco ladeou a cadeira comprida do Padre Lewis e se sentou num assento inferior de madeira.
Se tratou da primeira missa e o contato mais direto com a igreja.
A missa principiou em meio aos ritos iniciais, liturgia da palavra, até se aproximar do rito eucarístico.
O Gregori se sentiu um tanto nervoso feito alguém que participava de fato numa hierarquia católica. Sua avó amaria vê-lo ali.
O amaldiçoado já havia se acostumado com a figura demoníaca que o perseguia até pelos cantos do templo católico.
Apesar de se atentar em cada detalhe da celebração, às vezes seus olhos transitavam nos fiéis curiosos por sua presença e na imagem sobrenatural da velha que acenava de longe.
Seu pomo movia tenso, as escleras ardiam, as mãos suavam, o coração palpitava em temor por ser o único a enxergá-la. Mas estando morta, o diácono fingia que sua consciência delirava.
Também após sua chegada, jovens moças se acomodavam à frente na intenção de analisarem-no e serem vistas. Mas o diácono focava em Deus e nos traumas materializados.
Franco sempre estava belo e proibido nas vestes santas.
Pareciam realçar sua beleza triste.
Existia uma curiosidade acerca dos padres e seus segredos. Uma vida fora deixada para trás antes de ingressar no sacerdócio.
O que entendiam sobre aquele rapaz, transitava entre o passado com bruxas e a obsessão de sua avó.
Ninguém desconfiava que o Gregori consumia um amor e desejo oculto acima da jovem Demdike. Além de sua perversão contida no corpo.
Depois daquela missa, cochichavam o quanto era cheiroso, como os olhos de oceano intensos penetravam a alma, como suas madeixas ruivas reluziam logo que o sol tocava por intermédio dos vitrais, além das luvas de couro que instigavam dúvidas.
Ele parecia ser "o momento" naquela catedral.
Ao aproximar da comunhão e o preparo das oferendas de frente ao altar na mesa com o padre que ministrava, junto às palavras proferidas, os fiéis se ajoelharam em oração, o sino fora tocado, o clérigo estendeu os costumes antes de repartir o pão e se formou duas fileiras de católicos dispostos a consumirem o corpo de Jesus já abençoado.
Franco parecia fazer aquilo há tempos e orgulhou o sacerdote ao lado, concentrado na eucaristia.
Sob controle, o hino de aleluia ecoava pela catedral, a cruz de Cristo no fundo, se evidenciava bela, até o instante que uma jovem negra retinta se aproximou do rapaz perdido que relutava contra a aproximação de sua mão em luvas ao guiar a pequena hóstia até a boca bem desenhada.
Soava esquisito uma fila de jovens dispostas a comungar com o novo diácono. Mas aquela chamou sua atenção, o instigou a comprimir seus pulmões e a prender todo o ar.
Como poderia se parecer tanto com Gaya Demdike?
Resultava numa tortura com o Gregori que não superou a distância de um amor proibido.
Seu coração apertado palpitou de ansiedade e a mão estremeceu ao enxergá-la diante dele.
Se tratava da data do aniversário de sua amada. Ela completava vinte e seis anos no dia um de fevereiro.
Mas na realidade, a visão da bruxa era fruto de um delírio pelo nervosismo. Não existia ninguém.
Uma jovem branca o aguardava lhe entregar o pão e a cena foi em partes constrangedora, pois precisava prosseguir com demais religiosos que esperaram atrás. Aparentou haver um espaço vazio por culpa da alucinação do rapaz.
— Reverendo? — a mulher o trouxe aos sentidos à medida que sorria desconcertada.
O visualizou inerte no tempo.
Franco se sentiu desconcertado.
— Perdão — pareceu suar por baixo do traje e umedeceu os lábios secos. — O corpo de Cristo.
Prosseguiu trêmulo e desviou o olhar da moça que o observou estranho.
— Amém — respondeu.
Muitos notaram a atitude do rapaz, mas relevaram ao considerar estar nervoso por seu primeiro dia celebrando a missa rente ao seu mentor.
Assim que a comunhão terminou, eles se sentaram e os coroinhas recolheram os cálices e mais itens sacros.
Franco jurou pecar ao imaginar Gaya Demdike lhe encarar da mesma forma.
— Se sente bem? — o sacerdote se preocupou ao notá-lo instável.
— Minha primeira vez, padre — soprou ao homem do lado. — Não sou tão bom com novidades.
Nos seus devaneios preenchidos por blasfêmia, a ilusão de uma catedral vazia permitia a presença dele e a bruxa.
Num véu vermelho cereja e vestido longo da similar cor, ajoelhada, Gaya ansiava por Franco no altar, a lhe esperar.
A sentia que o queria dominante nas atitudes. Contudo, o amaldiçoado apenas seguia as fantasias impuras que dividiam.
Logo que ele lançou o véu para trás com os dedos cautelosos e evidenciou a face da moça que implorava pela hóstia com a língua exposta, seu polegar esquerdo sem luvas esfregou com intensidade nos lábios da semelhante cor que o véu e inseriu de modo que o sugasse.
O olhar pedinte e maldoso da bruxa machucava sua fidelidade à igreja.
Franco notava o calor de sua boca e a lubricidade de sua saliva a umedecer a pele. Se encontrava a um passo de confiar seus toques por inteiro com a Demdike.
Era costume ter seus delírios acordados, não sabia separar o real da imaginação desde o momento que esteve próximo de tê-la e enquanto estava no seminário, logo que se tocou pela precedente vez.
Com seus pensamentos sujos, não seria o correto seguir como um padre.
11 de maio de 2016
Certa vez, com o propósito de se incluir entre os seminaristas, por ser um rapaz recluso, Franco, aos vinte e quatro anos, sempre esbarrava em assuntos comprometedores.
Parecia atrair episódios mais obscenos.
De tanto controle em casa, por culpa da avó, ele reprimia coisas impróprias. Caso externalizasse, resultaria num sujeito sem pudores.
Bem atrás da instituição havia um local remoto onde existia uma estátua acabadiça de um anjo coberto por musgos no centro de um velho chafariz sem fonte.
Onde acreditavam ser ponto de encontro de seminaristas que bebiam e fumavam escondidos dos superiores e ocultavam o que consumiam abaixo da batina.
Enquanto alguns jovens daquela idade se encontravam em cemitérios, os rapazes marcavam presença naquele lugar esquecido pelos outros.
— Tem visto a Bella? — um dos colegas indagou outro que fumava cigarro de tabaco. — Jamais falou dela.
Eram cinco a contar com Franco. Dois se encostaram de pé e fumavam na parede de tijolos da construção, e três sentados nas sobras do chafariz compartilhavam uma garrafa cheia de vinho tinto suave de marca barata.
O ruivo se incluía nisso.
Era frio, cinzento e diziam que naquela época viria uma tempestade de chuva em Rye que afastaria os peixes para a pesca.
— Bella não quis aguardar por mim — respondeu seco, sugou a fumaça e libertou em meio à, até compartilhar com o amigo ao lado. — Prometi que voltaria e me casaria com ela.
Enxugou o nariz e indicou guardar mágoas.
Na oportunidade, Franco tomou a garrafa nas mãos e bebeu um pouco. Não se tratava da única vez que ingeria vinho.
— Nós já dissemos isso um dia — outro, sentado levemente distante do Gregori, retorquiu.
— Eu nunca disse.
— Você não vale, Alexander. Esqueceu que não tem coração? — todos riram.
Pareciam se apoiar nas loucuras, rebeldia e Franco concordou sem perceberem.
— Por essa razão que usa as mãos de tão cansado por esperar em se casar com ela — outro riu e os demais também, exceto Franco.
— Todos usamos — um completou.
— Nem sei do que falam — arfou, chateado. — Portanto, me retiro. Boa conversa para vocês.
O Gregori sempre era o último a saber e se levantou na finalidade de retomar seus estudos. Precisava cumprir a aula de Teologia e aparentou que o assunto não foi feito para ele.
— Esquecemos que és "o virgem" dentre nós, Gregori — riu e caçoou.
Os demais olharam estranho, pois esperavam qualquer resposta do ruivo.
— Se aspiro ser padre, estou no caminho certo, não acha? — replicou, os outros vaiaram e brincaram. — Vocês que não deveriam estar aqui.
O rapaz saudoso pela namorada jogou a bituca na grama fria e se aproximou de Franco, sem encostar um dedo.
Às vezes se colocavam na condição dele.
— Se já pensou na pessoa que ama ausente de roupa, se já guiou a mão até dentro da calça, é sobre isso que falamos.
Lançou uma piscadela e voltou a se escorar na parede.
— Hum... Não devemos. É irmos contra nosso destino
— Destino? Você é o que tem mais certeza que morrerá cedo.
— Pesou a conversa, Ian — um deles alertou.
O clima se tornou sério e o Gregori o fitou raivoso.
— Devo encarar como uma ameaça?
— Não é ameaça, amigo — o Gregori cerrou os olhos. Ultimamente andava na defensiva com tudo. — É apenas um conselho se cogita viver um pouco longe desse hábito de castidade. Ninguém saberá o que fará no quarto. A chave é sua, a cama é sua. Os rapazes e eu, não ficaremos aqui por muito tempo e tenho meu amor lá fora. E você quer ficar, então... — deu de ombros.
— É Gregori. Só restará poucos. Se eu fosse você, aproveitaria a vida e os prazeres da carne.
— Não preciso dessas coisas. Estou tranquilo.
O rapaz saiu irritado e revoltado ao se sentir sem apoio para o celibato.
Na consciência dele, sabia ser um hipócrita ao tentar manter relações íntimas com uma bruxa acima da bancada da pia de uma cozinha.
15 de maio de 2016
— Acho que necessito dormir, padre — listava numa folha os livros que seriam divididos por gêneros. — Preciso acordar cedo para irrigar as flores.
Levantou-se da cadeira e entregou ao padre de frente a uma das estantes. Contava a quantidade de obras numa fileira.
— Não parece sonolento — Kansas brincou.
— Acha que mentir é algo da minha índole? — sorriu e se direcionou à porta.
— Sua índole é exemplar, Sr. Gregori — o avistou acenar, fechar a porta, e lhe deixar solitário na imensidão de livros.
Com a chave de seu quarto na mão, caminhou pelos corredores meramente iluminados por luminárias de parede que eram fracas, até alcançar o dormitório.
Parecia que os demais seminaristas de fato tinham um sono denso.
Não era costume da maioria, mas Franco sempre sentia a necessidade de tomar pelo menos mais um banho antes de descansar.
Aprendera com seu pai antes de falecer a ter mais higiene que os restantes e reforçou o hábito com as Demdike, no período que viveu na ausência do pai em prol da avó.
Por isso o consideravam cheiroso.
Do banheiro inundado em vapor, entre os cabelos levemente enxugados, ele saiu enrolado numa toalha seca presa na cintura, sua pele ainda detinha gotas a escorregar e um pouco sonolento, apreciou a janela aberta de encontro com a lua.
Mas considerou necessário fechar somente as cortinas e ligar o abajur a fim de dormir no claro.
Cada fragmento de seu corpo fora enxuto, apanhou a calça moletom no apoio da cama e vestiu seu íntimo exposto.
Próximo de deitar-se ao bater os travesseiros e espalhar seu lençol, ele colocava o crucifixo de volta no pescoço ao retirar no banho e cumpria suas orações no intuito de descansar em paz.
Resultava num compromisso frequente.
Em partes gostava de conversar com Deus no propósito de tranquilizar a cabeça cheia de traumas.
Mas em todas as vezes que repousava no colchão, se cobria e encarava o teto sem desenhos, recordava dos tempos deitado ao lado de Gaya Demdike.
Adorava experienciar o calor de sua presença sem encostar.
Era inacreditável entender que depois de tanto tempo, prevalecia louco e apaixonado feito na primeira vez que sentiu seus pelos se arrepiarem perto dela.
Parecia obcecado ao imaginar como ela vivia no exato momento.
Não sabia se um dia a viria, precisava sonhar com sua silhueta mais uma vez e assim recordou do sermão que seu amigo seminarista concedeu.
— Será que devo? — conversava com Deus ou talvez sozinho. — Não deve ser nada de mais.
Não fazia tanta ideia de que maneira deveria principiar seu prazer.
Apenas usava as mãos para higiene, seus hábitos comuns, mas nunca ponderou utilizá-las na intenção de se estimular sexualmente.
Insinuou ser uma proposta absurda.
Contudo, seu período como seminarista se aproximava de concluir.
Ele se tornaria padre e jamais sentiria a mesma sensação daquele dia ao se despedir da bruxa.
E então, feito um sopro, a imagem dela em todos os sentidos o instigou a guiar a mão esquerda do rapaz deslizar para baixo do umbigo, dentro da peça quente, onde ocultava algo com a calça moletom.
Sua respiração tornou-se arquejante, a língua umedeceu os lábios secos e o pomo se moveu na garganta, ansioso para o que estava prestes a ocorrer.
— Senhor Deus, me perdoe — gemeu fraco. — Mas preciso sentir, caso não poderei tê-la.
O sussurro dançou pelo quarto e ele, nas tentações.
Sua expressão medrosa, insegura, se transformou em curiosidade extrema e ele necessitou enxergar seus atos obscenos com nitidez após remover apressado o lençol de cima, apanhar os óculos da mesinha e se desvencilhar do cós pelos quadris firmes ao ser auxiliado pela luz amarelada do quarto.
Por um momento, sem explicações, temeu ao extremo por imaginar a porta abrir e o apanharem no ato, mas estava bem trancada.
Suas ações transpiravam adrenalina e fervor.
Frenético, às vezes se desconcertava ao pensar nas coxas afastadas de Gaya, porém, resolveu selar as pálpebras, umidificar novamente os lábios e construir a mesma cena testemunhada naquele dia, em meio ao seu perfume pós-banho.
Focaria ou não atingiria seu ápice, o primeiro orgasmo.
Os lábios presos indicaram que, o que acariciava crescia gradualmente. Era estranho notar a ereção se formar com o auxílio da mão aquecida e preenchida que o envolvia. Antes, apenas ao vê-la, ocorria de modo natural, inesperado e manchava suas calças.
No exato instante, situava-se solitário.
E isso o fez voltar a desatar os olhos para contemplar a fricção e sua mandíbula contraiu em êxtase. Pulsava arrebatado.
O corpo disposto e relaxado no colchão se remexeu um pouco ao sentir o deleitoso arrepio quando os dedos aquecidos principiaram a massagear, deslizar copiosos para cima e para baixo, circularam as veias, tatearam a pele fina e o topo macio em formato de pêssego.
Parecia algo do inconsciente saber como agir.
Sua boca rosada retornou a secar, ele arfou pesado, eufórico, imprudente, riu nervoso e frouxo ao repetir os movimentos com uma leve rapidez.
Indicava que, quanto mais acelerava, o calor aumentava e as cócegas abaixo emergiam.
Os pelos ruivos que cresciam contrastaram entre sua pele branca corada com vasos sanguíneos evidentes e as feições excitadas do rapaz entravam conforme o suor que tomava sua carne.
Suas sobrancelhas caíram piedosas e os dentes cerraram ao testemunhar um ínfimo líquido transparente surgir na ponta da segunda cabeça, a fim de facilitar o atrito da palma com a base.
As paredes quentes do dormitório preservavam seus gemidos contentes que ao pé de qualquer ouvido, era prazeroso de se escutar.
Se expôs obcecado.
Não era comum os rapazes gemerem ou expressarem prazer por receios. Mas Franco Gregori considerava a ação, uma exposição de como se sentia. Ouvira em ocasiões distintas, segredos de amigos, sobre o benefício de um gemido durante uma relação íntima.
Se prendia demais naquele corpo.
"Como eu a queria aqui...", libertou ofegante.
Ao passo que se viciava em experienciar o prazer excessivo, sua mão direita se apoiou na testa úmida, afastou as madeixas ruivas suadas e desacreditou no que fazia.
Os pelos se arrepiaram na transpiração e tudo se expunha perigoso de se testemunhar. Franco Gregori era depravado por inteiro e conservava tentação ao se divertir despido.
"Como não consigo parar? É viciante", pensou ao lubrificar, escorregar entre os dedos longos e apertar com uma leve intensidade. A pressão estabelecia autocontrole.
Aparentou se orgulhar de suas práticas mundanas ao tocar a língua nos dentes superiores.
Também seus testículos pareciam pesar e ele se sentia bobo, porém, agitado.
Enérgico.
Os mamilos endurecidos reagiam do mesmo jeito que embaixo e as bochechas estavam vermelhas, mas todo o sangue se direcionava ao sexo, onde firmava os movimentos molhados por culpa da própria lubrificação.
Até esqueceu de imediato que se tornaria padre e orientaria uma capela.
Suas coxas grossas se afastaram, os óculos escorregavam do nariz transpirado, o crucifixo de prata brilhava por consequência do suor e os pés se contorciam ao se sentir hipnotizado. Passaria horas repetindo o frenesi.
Estalos viscosos afloraram no recinto ao friccionar com força e rapidez do topo até a base com veias azuladas, e os olhos azuis oceano reviraram pela sensação jamais sentida. Adentrava a zona do clímax.
A rigidez no ato e seu respiro pesaram de uma maneira que julgou deixar de respirar. O fluxo se intensificava.
"Deus... Eu faria isso todos os dias", suspirou faminto.
Talvez a experiência ultrapassasse todas as expectativas. Até alcançar a glória.
De repente, no centro dos toques úmidos, as mãos sem luva comprimiram cuidadosas, seus quadris se emergiram tensionados, as nádegas ruborizadas se contraíram firmes, distantes do colchão suado e em segundos, um gemido bem obsceno, rouco, estimulante tomou conta de sua voz.
Parecia retrair lascívia por muito tempo logo que sua respiração estourou no silêncio.
Estava ansioso ao extremo.
A boca enfraquecida permitiu escapar o nome daquela que habitava em seus pensamentos:
— Gaya... — a queria naquele instante no intuito de alimentar sua devassidão. Detinha fome em adentrá-la intimamente com fervor em razão da saudade que carregava. — Merda... — gemeu mais contido e soluçou — Acho que irei...
Franco Gregori e seu semblante excitado, choroso, em conjunto com os lábios boquiabertos que formaram um fascinante "O", entregaram o ápice de um futuro padre.
Diferente das ocasiões que o seu íntimo agia de modo involuntário, suas ações foram propositais na determinada oportunidade.
Ele vacilou em controlar, elevou a cabeça a fim de enxergar um pouco mais junto à expressão inebriante, a lançou de encontro com o travesseiro no esforço de se conter e um líquido turvo e espesso fora expelido por duas vezes com espasmos.
Aquilo transbordou em sua mão esquerda, um tanto em direção ao umbigo e os pelos que contornavam a genital.
Seu corpo tremia pelo excesso.
À medida que os baixos gemidos contidos se desvaneciam, o rapaz se contorcia nu, sua barriga se contraía e cauteloso, se ergueu da cama após acalmar seus sentidos desorientados.
Em meio aos leves choques que sumiam, Franco Gregori precisava se limpar e decerto repensar mais vezes acerca de suas escolhas para a igreja.
Não deveria se manter assim, trancado no quarto enquanto se sacia sexualmente por reprimir seus desejos.
Mas não foi o que ocorreu quando a enxergou de novo, em sequência dos anos afastados.
Franco Gregori utilizava sua função de clérigo no propósito de ocultar o amor eterno, a paixão desmedida e consumida por Gaya Demdike.
Gaya,
Tudo em volta parecia tão bem, calmo, até o momento que você voltou. Retornar não foi o problema. Apenas senti que, o que reprimi por anos, se expôs de feitio descomunal.
Resultava num dia qualquer de confissão, tudo era cansativo no confessionário de madeira e esperei novamente pelas senhoras de idade que me confidenciavam sobre o que visualizavam como pecado.
Na minha rotina, só vejo santos, altar, Jesus na cruz e minha hipocrisia ao encarar fiéis no extremo daquela trama de mogno e furos que permitem a luz externa entrar.
Sou sincero em admitir que fofocas não guiam ao inferno. Digo no fim: "Te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo". Contudo, falho comigo ao sufocar esta benção até me engasgar. É inútil mentir. Sou um dissimulado.
Na infância, acho que de tanto ser ouvido, tomei uma parcela do papel que meu antigo psicólogo prestava a mim. Houve uma inversão e me formei num padre. Para sua melancolia.
Em partes, não me arrependo dessa transformação brusca.
Constantemente gostei da capela simples da maneira que Cristo veio a fim de nos salvar. Do silêncio mediante as estruturas, o cheiro de incenso, do traje limpo para a missa... Porém, indicava que a casa do meu Pai se tornou um acessório diante da magnitude que és, Gaya Demdike.
Todo um conjunto não se iguala ao meu amor por ti.
Jamais imaginei que um morto igual a mim, se sentiria tão vivo em qualquer oportunidade que surgisse. A cada segundo entregas um certo efeito em mim e não sinta culpa nisso.
Sempre fui imperfeito, nasci errado, cresci errôneo. Sou um erro. Nunca quis que me consertasse ou algo parecido. Unicamente preciso ser bom. Com você, conosco e quem sabe, com nossos filhos.
Tolerar ser consertado por alguém, é egoísta, fútil e imaturo. Não precisamos de reparos. Somos de carne e tristemente escolhi minha função.
Havia tempos que não comungava, desde que íamos na igreja, bem pequenos e logo que se dirigiu até mim e me desestabilizou, considerei ser mais um conselho de amigos. Uma conversa na areia.
Fui moldado para isso. Ser um bom ouvinte e aconselhar em nome de Deus. Mas quem precisava confidenciar coisas, fui eu.
Naquele dia tão triste, do seu retorno, me enxerguei irado por visualizar um estranho e conhecido ao seu lado. É, não digeri a situação. Você compreende. Sou hipócrita, feito minha avó. Mas consigo fingir tão bem, que me revirei por dentro.
Compreendo que se encontrava por lá na intenção de lhe apoiar e eu queria o mesmo. Te abraçar da forma que ele te abraçou. Mas fui ciumento em excesso por pensar ser minha e soa problemático demais.
Meu amor, tenho meus defeitos.
Pensei em me castigar fisicamente, errar um pouco por me permitir consumir um sentimento tão imenso que nunca e ninguém cessará. Fiquei entre o medo de te perder e a paixão colossal.
Me comprovou ser ainda a razão da minha existência. Parece que a saudade e o pavor quando se unem, formam uma besta.
Um monstro.
E ao lhe deparar amadurecida, seus cabelos não eram os mesmos, além dos traços em seu rosto, me notei ser o similar homem iludido. Estávamos diferentes de como nos deixamos naquele dia. E depois da confissão... Deus. Sua face me engoliu e cuspiu toda impureza dos nossos atos.
Não perdi o temor ao toque por completo, mas me permiti compreender como era seu corpo. Sentir o que sentimos e sou um imundo por desejos. Estava preparado para aquele instante. Mal percebi que algo nos observava. Não me importei porque eu te mantinha em mim, em meu suor, em meus lábios, em meu respirar. Suas mãos em minha pele me marcaram e me perdoe. Sou propriedade sua.
Sim, sou seu, Gaya.
Confesso que tudo partiu de mim. Falei com Deus. Não sei se Ele compreendeu. Qualquer ato já se consumou em minhas intenções. Queríamos.
Portanto, admito em plenitude que, se em alguma ocasião eu morrer, que seja após testemunhar nossos filhos se parecerem contigo.
Te quero ao meu lado, minha esposa, meu amor. És tão linda que, eu gritaria na cidade o quanto sou perdido por ti. Visto que sou obcecado, bobo, o que eles mal desconfiam num padre.
Se dizem que sou amaldiçoado, me sinto abençoado por alimentar emoções verídicas por uma bruxa.
Gaya, não fomos feitos um para o outro. Mas despertei destinado a te amar. Por infelicidade, sou pequeno perante a ti e até minha morte, a almejada morte, creio que se desejar, nos casaremos. Não me importo de trocarmos alianças e celebrar a cerimônia ao mesmo tempo.
Nos casaremos.
Sou seu por inteiro. E se eu não for, este é o meu tormento.
Padre Franco Gregori.
https://youtu.be/1FG-AebTAwY
¹Diácono Transitório: É aquele que recebe o sacramento da ordem, como diácono, para depois receber o grau de presbítero, ou seja, padre.
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