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Capítulo 37: Jazz em Soho

*ALERTA DE GATILHOS: CAPÍTULO LIVRE DE GATILHOS PESADOS.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: Broken Sleep - Agnes Obel

Ela não conhecia ninguém tão próximo que fizesse uma breve pesquisa acerca da morte misteriosa do padre mencionado no telejornal.

A biblioteca da academia possuía computadores que serviam para esse intuito, contudo, a entrada era apenas permitida com autorização dos docentes.

O nome do sacerdote não lhe parecia estranho se fosse assunto discutido entre a família.

A morte estranhamente comunicada em pouco tempo e tudo naquele domingo, andava bizarro.

Nenhuma banca de jornais encontrava-se aberta para recolher algum folheto que abordasse o falecimento, nenhum meio tecnológico era barato de se usar.

O que a fez abandonar e guardar o infortúnio na cabeça.

Portanto, resolveu desistir de buscar sobre aquele caso tão esquisito que envolvia um padre.

Havia mais preocupações para ocupar sua mente.

Uma morte estranha, embora qualquer, não se mostrava oportuno para arrumar um trabalho.

(...)

Gaya não se comportava tão sociável como costumava ser nos períodos de escola. Estava presa nas práticas de canto e livros recomendados pela professora responsável pelo início do curso.

Recusava fazer amizades sólidas para evitar decepções, ambicionava permanecer solitária e reclusa, embora participasse do plano de União Estudantil da academia e tivera feito alguns novos colegas em breves dias, no qual os calouros recebem instruções de discentes experientes do RAMFAM.

Um programa de amizade útil que concede a cada novo aluno uma "família" no instante em que adentram a instituição.

E assim, ainda no princípio das aulas, ela expressava ser a mais interessada nos estudos.

Na tarde de nove de junho, quatro dias depois do noticiário, após uma breve palestra academicista sobre Musicoterapia¹, Gaya se despediu da sala e apanhou de sua mochila novas cópias de seu currículo, dedicada a insistir urgentemente em um estágio remunerado.

Gastava quase todas as moedas de sua caixinha na biblioteca com as impressões.

— Para onde vai, Gaya? — uma das alunas envolveu o braço sobre a colega. — Esqueceu que vamos respirar ar puro no gramado? — sorriu de orelha a orelha.

Dois altos rapazes se juntaram e abraçaram a Demdike.

Um deles havia se interessado amorosamente por ela quando a viu pela primeira vez na sala. Portanto, sabia que Gaya nunca esteve empenhada a retribuir qualquer investida.

— Venha, Gaya! — o apaixonado insistiu e a guiou para o espaço por trás da academia, onde demais estudantes em massa seguiam para descansar e pôr conversas em ordem. — Comprei tortas de morango para cada um — apontou para a mochila.

— Como sempre, não é? — o amigo brincou.

— Hum... tortinhas de morango com recheio de damasco? O sabor é perfeito!

Intrometida, a outra jovem buscou abrir o zíper da mochila dele, mas fora impedida.

— Tire a mão daí, Susan! Você descobrirá quando comer.

Puxou a bolsa para o lado e afastou dela.

— E se ela for alérgica a um ingrediente que não seja damasco? — o outro colega se preocupou e enlaçou seus braços.

— Azar o dela — fora repreendido com um empurrão da moça que riu. — Mas a Kalitch irá gostar. Disso tenho certeza — piscou para a bruxa.

A Demdike que utilizava seu primeiro sobrenome em Londres, recusou com a cabeça e parou no caminho, exausta pela rotina, enquanto eles a puxaram pelos braços até o gramado esverdeado ladeado por faias² enormes que formavam um círculo em torno do campo e que proporcionavam uma sombra e brisa aprazível.

Impossibilitando que o sol focasse diretamente no relvado.

— Hoje não estou disposta, pessoal. Preciso conferir o mural mais uma vez antes de voltar para casa.

Contou as horas no relógio de pulso guardado no bolso da frente de sua calça.

— Também não posso chegar muito tarde em casa. Preciso regar minhas plantinhas e levar as roupas para a lavanderia — pôs o objeto de volta.

— Mais uma vez? Você sabe que nunca mais atualizaram, não é? Em especial para calouros como nós. E não deveria se estressar com isso — a moça aparentava não ligar. — Precisamos focar nos estudos. Depois pensaremos em trabalhar — riu anasalado.

— Susan, diz isso porque não precisam trabalhar, visto que ao terminarem nossos estudos, sua família custeará qualquer desejo seu como corre pelo vento — se calaram, pois, todos não eram como a Gaya. — Deveriam ampliar seus olhos para outras realidades.

Olharam para ela, se constrangeram e se mostraram receosos em responder.

— Se estão tão focados nos estudos, deveriam sair do gramado e passar esse tempo inteiro na biblioteca para devorar livros sobre estruturas vocais.

— Foi brincadeira, Gaya — Susan replicou, mas ainda ignorava o desabafo da bruxa.

Nenhum deles era negro ou vieram do interior. Apesar de Gaya jamais ter passado por situações preocupantes, ainda fazia parte de uma pequena parcela de estudantes não pertencentes a posições elevadas.

Não havia mais ninguém em Londres que a ajudasse financeiramente. Gaya precisava buscar sozinha.

— Se eu não conseguir trabalho, não poderei custear gastos na academia, o aluguel da casa onde estou, minha estadia em Londres. Sou apenas eu e...

— E...? — Susan estava curiosa. — Você e seus fantasmas? Acha que ninguém percebe quantas vezes lhe apanhamos conversando sozinha? — debochou da Demdike.

— Todos lhe apanharam faltando aulas, gastando em pub',s enquanto seu pai banca sua frequência na academia e você finge que ninguém nota, não é Susan?

Àquela altura, Gaya percebeu que a jovem colega não se tratava de uma amiga.

Aliás, ambas se aproximaram devido aos projetos acadêmicos. Assim como os dois rapazes. Melhor amigo para se considerar em toda a sua vida, continuou sendo o Gregori.

— A deixe em paz, Susan. Vamos — o outro homem a levou junto para longe da bruxa e do amigo que visualizava tudo aquilo em confusão.

Até lá os três não sabiam que Gaya era uma bruxa e para onde iria, existia um grande espírito ao seu lado.

Não estava tão solitária.

— Espero que tudo se acerte, Gaya. Diferente deles, sinto empatia e torço que consiga o trabalho — entregou dois tapinhas leves nas costas dela ao se aproximar. — Se eu soubesse que necessitava tanto, auxiliaria na entrega dos currículos.

— Obrigada, Daniel. Precisava desse apoio, mas não é necessário fazer isso por mim. Sinto que de tantas negações, algum lugar me aceitará.

— Confie — sorriu murcho. — Preciso ir. Fazer companhia àqueles dois é um castigo.

— Se permanecer próximo deles, será puxado para baixo. Você é uma pessoa legal, Dan. Não precisa deles.

Ele seguiu trajeto, ela acenou, se despediu e os deixou sentados na grama quente e perfumada onde aproveitavam o sol junto aos outros estudantes que enchiam o ambiente de barulho.

E ansiosa, Gaya seguiu com destino ao mural de avisos na entrada.

Havia poucas pessoas por perto que concediam mera importância aos folhetos coloridos e presos por tachinhas. Ela pensou que não existiam mais empregos disponíveis como no início do ano, logo que a maioria dos alunos se aglomeravam em frente daquele quadro de avisos que a bruxa cruzou os dedos antes de encarar.

Ao correr seus olhos brilhantes e esperançosos à medida que enlaçou os dedos e torceu para sanar aquele medo, estava mais preenchido por uma lista gigantesca com o nome de alunos que assinaram para concorrer a cinco vagas de monitoria no Departamento de Academia Júnior.

Programa para educar crianças e adolescentes a ingressarem na música a partir de projetos educativos e comunitários.

Fora um enorme edital de exibições do mês — manifestado por intermédio dos alunos de Teatro Musical — com atrações musicais como "Mary Poppins", "O Mágico de Oz", "A Noviça Rebelde" e "Cantando na Chuva".

Além de atividades afora dos docentes.

Mas a vista de Gaya, já exausta, percorreu inquieta e encontrou escondido por trás do folheto azulado da palestra de "Conscientização humana e musical" um determinado e pequeno anúncio quase esquecido: um panfleto magenta com desenhos vetorizados dourados de uma banda e um letreiro por baixo, que ressaltava a busca por um vocalista em formação que desejasse integrar num grupo de "soul" fixa no Vaughan Jazz Club.

Com direito a um salário não tão inferior que incorporava alimentação, locomoção e gorjeta consideravelmente aceitável por cada apresentação.

Era tudo o que ela desejava naquele momento.

Apesar do seu sonho tocar os palcos mais célebres do mundo, necessitava dar passos lentos e cautelosos até alcançar.

Além do visual não ser estético, o folheto evidenciava o endereço em Soho — bem distante de onde ela residia em Ladbroke Grove — e seu horário de funcionamento para o recebimento de novos currículos que incluía a exata hora que ela lia.

Em breves minutos, Gaya refletiu se apanharia a chance ou seguiria o caminho de volta para casa, disposta a aguardar a reposição de novos panfletos com lugares mais próximos de sua residência.

Mas esperar demais resultava em tempo gasto sem trabalhar e a Demdike carecia de dinheiro imediato.

Em especial, trabalhar com algo que amava fazer: cantar.

Portanto, sem hesitar, seus dedos descruzaram, ela olhou para os lados, se certificou que não seria apanhada por qualquer reclamação, tomou ligeiro o impresso do mural — temeu rasgar — e levou consigo no bolso traseiro do jeans.

A Demdike desceu do ônibus e parecia que o trajeto de longos minutos se tornara uma viagem. Caso fosse contratada, tal percurso faria parte de sua rotina.

As ruas de cimento queimado, ladeadas por lojas, cafeterias, eram longas demais para as pernas apressadas que temiam tropeçar em qualquer falha do piso.

Contudo, logo que se sentiu cansada pelo percurso, parou para respirar, apoiou suas mãos nos dois joelhos e encarou o chão, notou o zumbido queimado e defeituoso de um letreiro neon acima de sua cabeça.

Seu corpo ergueu lento e seu rosto o acompanhou até focar no alto, onde além daquela placa existia outra com o mesmo nome do clube de jazz.

Ela finalmente o encontrou.

De fachada escura e letreiros acesos logo naquele horário da tarde, na entrada do clube, dois totens digitais ladeavam e listavam as atrações daquela semana.

Não eram tão conhecidas para a Demdike.

Para adentrar o local, escadas de três degraus se posicionaram evidentes da calçada para dentro, fora mais três portas, na qual uma delas servia como saída de emergência para a rua.

Um clube de jazz aclamado no país como seu local de trabalho, seria motivo de orgulho até para sua família. Logo pensava em receber bem pelo nível de frequentadores e o conforto de estar num palco, o mais próximo de sua paz.

Entre tantas pessoas que passavam naquela calçada, Gaya mal notou a presença de uma mulher encostada na parede da saída de emergência.

Aparentava descansar do trabalho ou algo semelhante quando se atentou na jovem em busca de algum vulto passando pela porta principal e desceu as escadas enquanto coçava o couro cabeludo em confusão.

— Continua fechado.

Apanhou um cigarro e isqueiro metálico do bolso, pôs entre os lábios manchados de vermelho, acendeu com mera dificuldade por culpa da brisa repentina, se afastou da parede do clube, andou até o meio-fio à medida que fumava e analisou Gaya.

Naquele instante, olhou para os lados e voltou a repousar as costas e um dos pés na parede.

A mulher de cabelos platinados, quase brancos, roupas escuras e olhos borrados de sombra escura a olhou dos pés à cabeça.

— Não é isso. É que... é... — tornou-se nervosa e sentiu algum julgamento.

Na mesma hora, Gaya apanhou trêmula as cópias de seu currículo da mochila e o entregou para a mulher, sem saber como reagir.

Sua expectativa mostrava segurança. Porém, a realidade lhe certificava o quanto se evidenciava nervosa.

— Ah, agora entendi — analisou cada tópico escrito enquanto baforava. — No momento não aceitamos novos funcionários.

Devolveu os papéis para a Demdike que os recolheu e se lamentou, mas ainda queria insistir.

As sobrancelhas da bruxa despencaram para talvez convencê-la do contrário.

— Por favor, eu imploro por um trabalho desde o momento que cheguei por aqui, senhora.

Se aproximou da estranha que cheirava a nicotina e entendia que Gaya Demdike não era cidadã londrina.

Seu sotaque de Sussex, um inglês padrão, também entregava a jovem à procura de trabalho.

— Posso limpar os chãos até brilharem, balcões serão perfumados, entregarei petiscos e bebidas com equilíbrio, faço tudo o que me ordenar.

— O clube está completo, querida. Para lhe incluir precisarei conversar com o novo administrador do local, pois sou apenas uma das funcionárias.

— Mas...

— Terei que conversar, tudo bem?

Nesse momento, a bruxa recordou do folheto carregado com ela, sacou com rapidez e o exibiu para a moça.

Quase obrigou a engolir.

Suas mãos estremecidas e semblante esperançoso fizeram a funcionária repensar.

— Vim por isso, pois eu canto e pensei haver disponibilidade — a voz embargou.

Os lábios tremeram nervosos e seria capaz de agarrar as pernas da desconhecida por desespero.

— Então, como posso lhe explicar... — retirou o cigarro dos lábios e com a outra mão coçou o couro cabeludo. — Hoje mais cedo recebemos uma cantora para integrar a banda. Por isso não precisamos mais de ninguém — a desanimou. — Entretanto — o indicador direito foi ao ar e apontou para o céu —, posso conversar com o administrador para buscarmos um espaço entre garçons e limpeza.

— Jura? — comemorou ao unir as mãos e as levou ao rosto. — Muito obrigada, mesmo. Não imagina o quanto me conforta ouvir isso.

— Mas não confie tanto — queria mantê-la no chão, em realidade. — Se ele estiver de bom humor, é bem capaz de lhe incluir.

Ao repassar seu nome e telefone de contato, a jovem agradeceu, cantarolou esperançosa de volta para casa e saltitou no ar, diferente dos dias na qual sempre recebera um "Não".

A partir dali aguardava pela ligação.

Intimamente contava com aquilo.

À noite, Gaya tirou um espaço do seu tempo para relaxar um pouco e fez chá de canela com algumas preservadas numa vasilha de vidro.

Não lhe restavam mais livros ou fichas de canto para estudar. Seu cuidado com o jardim fora feito como uma missão de alma. Mas seu corpo necessitava de um descanso.

A chaleira chiou alto no fogão à medida que ela mantinha a ligação telefônica com sua família, disposta a sanar todas as saudades reprimidas pela ausência dela.

A jovem levantou preguiçosa do sofá macio, andou descalça até a cozinha, se espreguiçou, desligou o fogo e esperou o recipiente esfriar um pouco mais para despejar na xícara de porcelana.

O telefone preto sem fio entre seu ombro e orelha direita, quase escorregou prestes a se chocar no chão quando ela se abaixou para conferir as torradas de alho e salsa que preparava para mastigar e enganar seu estômago.

— E como andam as coisas por aí, mãe?

Fechou a porta do forno, pois os pães precisavam dourar mais.

Estavam esbranquiçados e crus.

— Não muito bem, acredita?

Delphine, deitada de barriga para cima na cama, esperava Anya sair do banheiro para jantarem juntas.

Até aquele momento, a Demdike cantava no chuveiro e esposa não entendia a razão de tanta demora, visto que ela raspava o cabelo e não duraria tanto tempo lavando.

Anya zelava por sua cabeça sem fios para evitar gastos de shampoo, cremes... Seu intuito era economizar.

Já Anika adormeceu na poltrona com um livro erótico aberto sobre as pernas.

Provavelmente a leitura ficou cansativa no capítulo onde o casal se separa.

A obra foi um presente de uma amiga bruxa de Gloucester.

A idosa estava na melhor idade e ainda precisava se animar enquanto se deliciava com o romance ardente e proibido entre uma pintora famosa traída e seu atraente jardineiro.

Anika concedia ótimas e contidas risadas quando sua filha ou nora se aproximavam para descobrir o motivo da matriarca se deliciar com as páginas.

Não largava o livro por nada.

— Por quê? — a jovem retornou para a sala e deu uma conferida na rua quieta e fria através da janela.

Exceto pelo latido dos cachorros na vizinhança e os carros nas outras alamedas próximas.

— Há boatos que irão demolir alguns estabelecimentos no centro para construírem uma galeria. Nada a ver com Rye — faltou ar na jovem bruxa. — Ouvi dizer que são projetos envolvendo a igreja católica. Querem transformar a cidade num covil cristão.

— Não posso acreditar — estava em choque. — E as lojas incluem... — torcia que sua família não fosse prejudicada.

— Sim. É isso o que está pensando. Nossa única renda agora se tornou alvo — torcer não foi o suficiente.

Gaya tomou o silêncio consigo e sentiu a necessidade de chorar. Era inadmissível aquilo ocorrer numa localidade que cresceu com o comércio local, plural e idealizado pelos próprios residentes que sabiam tomar conta daquele lugar com preciosidade.

— Não! Isso não pode acontecer, mãe. Não pode! — se desesperou e perdeu toda a fome pelos pães, além da sede pelo chá. — O que faremos?

— Sabemos disso, querida. Por incrível que pareça, todos na cidade discordam. Isso inclui a demolição do carvalho onde eu e sua mãe nos beijamos quando você ainda estava na barriga. O centro guarda nossas histórias e não há mais ninguém que tome nossa luta.

Delphine se sentou na ponta da cama e no mesmo momento Anya saiu do banheiro, enxugando a cabeça e o corpo.

Se evidenciou curiosa com a esposa no telefone.

— Estou falando com a Gaya — cochichou e apontou para o aparelho na orelha quando notou Anya se aproximar para se sentar ao seu lado.

Anya abraçou seu amor que segurava o aparelho e lhe entregou um beijo carinhoso na bochecha direita, fazendo com que ambas se direcionassem para frente da janela e mirarem as casas iluminadas pela lua, o céu escuro e estrelado, sem limite.

— Olhe mãe, se nada der certo por aqui, voltarei para estar com vocês nesse instante. Posso interromper meus estudos, devolver as chaves da casa, encerrar o contrato com a proprietária, o que for necessário para manter a floricultura intacta. Precisamos reagir.

— Não — se impôs. — Você não precisa vir — Anya concordou com a esposa. — Você necessita cuidar de si por aí. Pedimos ajuda para a Mãe Terra decidir o que fazer.

— Mãe, você sabe que não podemos depender sempre da Mãe Terra. É indispensável agir. Eu poderia enchê-los de gasolina e atear fogo — de fato falava com seriedade.

— Nada de violência, Gaya. Não lhe educamos para isso.

Anya expandiu as escleras, preocupada e interessada acerca do que Gaya dissera.

— E então? Ficaremos paradas? Esperando por milagres?

— Tudo vai ficar bem.

Não era novidade que ao estar impaciente, em determinadas ocasiões, Gaya Demdike optava por agir fisicamente.

Em muitas oportunidades se mostrava sábia e cautelosa. Contudo, uma pequena parcela de sua consciência se deixava consumir pelo emocional.

— Mas às vezes nem todas as pessoas aprendem na conversa, mãe. Somos bruxas bondosas. Entretanto, não somos bobas.

— Depois resolvemos isso, tudo bem? Mude um pouco de assunto, pelo menos para não me desanimar. Entende que não quero ser contrariada.

— Está bem, está bem, mãe — resmungou.

Enquanto a chamada prosseguia, Gaya fora conferir as torradas e já estavam ótimas para consumir. Não deixaria passar mais tempo no forno.

Anya levantou-se para trocar de roupa e deixou Delphine conversar com a filha.

Errr... — estava tímida para fazer uma pergunta. — Alguma notícia de um determinado alguém? — Gaya estava curiosa.

Da última vez, Franco a havia marcado intimamente. Mas ela bem desejava que ele ultrapassasse qualquer limite.

Estava a um passo de vê-lo despido abaixo por inteiro, tocá-lo para entender como o rapaz sentia prazer e se encaixar por dentro com o seminarista que era diabólico em questões sexuais.

O Gregori era um anjo. Mas na ausência de outras pessoas, a sós, o homem se mostrava perigoso.

Naquele momento, o imaginava da mesma maneira. Talvez bem menor que ela, diferente da decisiva oportunidade que se viram e possuíam alturas equivalentes.

Também o visualizou de cabelos bem aparados e penteados para um lado, quase vestido como um padre de idade sem seus trajes, com a camisa branca de mangas curtas ensacada na calça, crucifixo no pescoço e sapatos pretos encerados.

Um típico senhor religioso no corpo de um jovem.

— Se refere ao Franco? — Delphine questionou num tom brincalhão. — Caso seja, saiba que ele permanece no seminário. Creio que o processo para se tornar um padre demore bastante — abriu a janela para ouvir as corujas piarem e a brisa noturna adentrar o quarto. — Certo dia nos encontramos na feira de Rye e nem o reconheci. Você acredita?

— Como assim? — Franco Gregori era assunto delicado para seus ouvidos.

— Estava mais forte que antes e usava uma camisa formal preta com colarinho branco de seminarista, os cabelos dele foram cortados e sua feição era bem séria.

Gaya o imaginou fisicamente e estava errada por completo sobre a atual aparência do Franco.

— Apesar de nos receber com um imenso sorriso, ele não quis apertar nossas mãos e isso ainda entendo. Mas Franco se revelou bem insólito, foi ligeiro ao conversar conosco, justificou que estava de folga no seminário, comprou alguns morangos frescos e seguiu apressado entrando no fusca. Aparentava recusar a comunicação.

— Estranho. Ele era bem receptivo com vocês.

— Nem nos incomodamos com isso.

— E o que ele conversou? — visou ter qualquer informação dele.

— Ah, bem. Disse que a comida de lá não é aquelas coisas, mencionou ter saudade das nossas refeições em conjunto, que estando com tempo livre nos visitará em casa e se concluir o seminário, passará um tempo distante de Rye para se aperfeiçoar.

— Distante? Onde e por quanto tempo, mãe? — possivelmente não dormiria bem na mesma noite.

— Ficou em dúvida sobre Edimburgo porque enviam os seminaristas formados para serem ordenados padre e lá passam um tempo em treinamento. Segundo as palavras dele. O resto, Franco manteve em segredo. Considero que de fato ele quer ser um sacerdote. Mas você nem deveria se importar. Não há mais chances entre os dois. Não é?

"Escócia? Estará longe de mim", as sobrancelhas despencaram desanimadas.

Gaya se silenciou. Porém, Delphine sabia que aquele silêncio significava muitas coisas.

— E ele... ele nem perguntou por mim? — precisava elucidar.

— Acho que gostaria de perguntar, mas evitou se informar ou teve medo. Sinto que não pode lhe procurar porque já escolheu o caminho que está, não é? Ele aceitou ser padre, filha. Lembre-se disso.

Conhecia sua filha muito bem. Gaya era insistente.

— Mas confesso que senti que ele amaria que falássemos sobre você. Estava muito calado e observador conosco. Entende como o Franco é bem expressivo com os olhos.

— Franco quem decidiu que isso ocorresse, mãe. Creio que saber disso, depois de aguardar tanto por uma mísera ligação dele, me faz ter certeza de que não posso alimentar nenhum tipo de sentimento — a voz embargou. — Não merece o amor que tenho por ele.

— Fruto das escolhas, não é? O que fazer?

No exato momento outra ligação surgiu entre a chamada.

O número desconhecido insistiu para ser atendido, Gaya explicou para sua mãe sobre a urgência em atender o contato misterioso, Delphine compreendeu e encerrou a comunicação.

— Gaya Kalitch? — soou estranho usar seu outro nome.

Uma voz feminina pronunciou alto no meio do barulho. Aparentava estar num pub ou qualquer ambiente preenchido por muitas pessoas.

Havia música tocando ao fundo, sons de copos a brindar e gargalhadas.

— Fala com ela. Porém, não consigo lhe escutar bem! — elevou o tom.

A mulher se locomoveu para um espaço mais abafado, bem melhor para escutar.

— Consegue me ouvir?

— Está perfeito! — sorriu. — Sou eu, sim, o que deseja? — a bruxa já estava um pouco sonolenta.

— Poderia comparecer ao Clube Vaughan para fazermos um breve teste? A vocalista escolhida recusou a vaga e precisamos de alguém para substituí-la nesta madrugada. Está disposta?

O coração acelerou. Provavelmente havia encontrado trabalho.

— Apenas preciso me arrumar e apanhar um táxi. Em minutos chegarei por aí.

— Então venha preparada para uma apresentação de jazz. Não precisa se preocupar com o repertório, pois todas as músicas são conhecidas. Lhe esperaremos — a moça se animou, assim como Gaya.

Naquela noite, antes de sair, ela pediu proteção para a Mãe Terra lhe guiar, pois acreditava seguir de coração como uma bruxa.

Não se achava merecedora, mas desejou recorrer, pois não sabia o que aconteceria após o ensaio. Tudo estava sob o controle da divindade.

¹Musicoterapia: É uma forma de tratar os pacientes através da música. É uma técnica que trabalha com a saúde ao utilizar formas diversas de aprendizado, expressões e arte. Trazendo prevenção e promoção de saúde para todos.

²Faias: Árvore que cresce em florestas tanto na América do Norte quanto na Europa.

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