Capítulo 17: O Estranho nas Sombras
*ALERTA DE GATILHOS: CONSTRANGIMENTO PÚBLICO E INTIMIDAÇÃO.
*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: I Put A Spell On You - Nina Simone e Cocoon - Catfish and the Bottlemen
Gaya estreou sua bicicleta pela primeira vez.
Ela seguiu até a escola, pedalou cantarolando fragmentos de "I Put a Spell on You", da Nina Simone entre os parques floridos de Rye e transportou sua mochila vermelha por cima das costas.
Combinava com o uniforme cinza grafite de colegial britânico.
Apesar dos maus olhares dos habitantes, ela transmitia um encanto que só uma Demdike possuía.
Espalhava paz.
Sua voz suave se manifestava conforme os ventos que batiam em seus cachos crespos soltos e exalavam o perfume adocicado das madeixas.
Às vezes, quando acordava e não alcançava suas mães em casa, a Demdike fazia questão de visitá-las na floricultura, no intuito de apreciar algumas flores, auxiliar nas embalagens a fim de passar o tempo e partia para mais uma rotina de estudos.
Antes de seguir o percurso, também prezava marcar presença na livraria Arabela — prestigiada na cidade — a fim de alugar obras de terror, devorar as páginas em poucas semanas e devolvê-las sem riscos e defeitos.
Fora namorar a vitrine da loja de instrumentos musicais.
Assim que comparecia ao colégio, estacionava a bicicleta aproximada das outras e cumprimentava cada um dos funcionários, sem exceções, em especial as senhoras responsáveis pela limpeza.
Ela se mostrou como a preferida de alguns professores, e gradualmente se revelava popular nas disciplinas artísticas, além de simpática.
O Colégio de Rye detinha uma estrutura equivalente às demais habitações de toda a Inglaterra, erguidas por suas paredes de tijolos avermelhados e contornada por arbustos em formatos de esferas que rompiam a seriedade do espaço.
Desconforme ao internato onde Franco se encontrava, a instituição apresentava-se moderna, diferenciada das sistemáticas e conservadoras.
Os uniformes dos meninos se distinguiam das meninas. Enquanto os garotos se comportavam formais ao se complementarem com "blazers", gravatas verdes, pulôveres¹ escuros e camisa branca social, elas se portavam compostas por meias calças pretas, saias plissadas e as similares peças superiores que as deles.
Famoso pelas agremiações de leitura por meio dos alunos, o ginásio continuamente motivava seus aprendizes acerca dos concursos de pintura, canto, literatura, oficina de teatro...
Abrangia campeonatos de jogos de tabuleiro, natação, futebol, artes marciais, ginástica e dentre outros.
Gaya participava da maioria deles para adquirir pontos avaliativos. Correspondia com frequência a uma das que se classificavam na primeira ou segunda colocação final.
Ela desbancou os garotos de turmas inferiores e da sua classe, principalmente nos torneios de natação, o que lhe motivou a fazer amizades com as garotas de sua idade que a incluíam em grupos de interação para mantê-la na posição de popularidade.
Ao socializar com suas colegas, desencadeavam altas gargalhadas contagiantes nos corredores durante os intervalos de aula, mas a jovem bruxa preferia sua própria companhia.
No colégio nunca fizera amizades sinceras, sólidas e pouco se importava em não se manter em grupos. Alguns ainda a temiam por conhecerem sua linhagem, o que evitava tamanha aproximação.
Conforme maioria da cidade, naquele ambiente se distanciavam de bruxas.
Porém, tudo mudou ao escapar pela primeira vez da monótona aula de Matemática, na intenção de conhecer a oficina de teatro que ocorria no auditório escondido da instituição.
Geralmente eram poucos os que buscavam se interessar por artes dramáticas, que se mantinha ofuscada pelas demais atividades.
Tudo se iniciou na última sala pouco iluminada do primeiro andar, que transmitia uma atmosfera curiosa.
Bem ao lado da entrada, existiam enormes estantes de madeira preenchidas por livros de todas as formas, espessuras e cores, cortinas de veludo colorida em vinho que escondiam a encantadora paisagem externa, além das carteiras envernizadas, sempre posicionadas em fileiras verticais, de frente à mesa do impaciente Sr. Urias.
Contudo, aquele ambiente cansava e incomodava mais ainda a Demdike que o associava com a residência dos Gregori. Talvez registrasse uma lembrança ao seu melhor amigo.
E naquela manhã ensolarada, como de costume, o professor escrevia incansável com giz amarelo no quadro verde algumas fórmulas matemáticas embaraçosas para a mente dispersa de todos os alunos presentes.
Seu olhar ríspido correu atento na turma, buscou por faltas nas carteiras e regressou aos sinais e números organizados horizontalmente na lousa.
Amigável com uma das alunas acomodadas em sua frente, apreensiva, Gaya cutucou o ombro da garota e implorou por uma pequena folha colorida emprestada, na intenção de se comunicar através de suas palavras.
Logo que tampou a caneta e pôs de volta no estojo, ela dobrou o papel e entregou para a colega, além de notar uma carteira vazia no final da sala, a fim de reparar a ausência de um dos alunos. Como de costume durante aquelas específicas aulas:
"Olivia, poderia me ajudar em algo rápido? Preciso escapar da aula e em troca posso lhe ajudar para que o Dawson se aproxime de você. Não prometo que funcionará, porém, tentarei. Combinado? Coloque sua resposta abaixo. Ligeiro."
A garota acatou o pedido sem hesitação, torceu para trocar palavras urgentes com sua notável paixão de escola, mas Gaya não mexia com feitiços ou algo semelhante que auxiliasse.
Apenas intermediaria na aproximação com o garoto sempre ausente na disciplina.
Olivia declarou sua resposta na extremidade do papel, rente à ponta e repassou por cima de seu ombro para Gaya que se animou por instantes e em seguida empilhou suas coisas na mochila, aguardando o cumprimento do plano.
Olivia era perita em fingir situações em sala e facilmente convencia os professores a enxergar o que buscava mostrar, mesmo que tudo passasse de produtos da sua incrível imaginação.
A garota se levantou educada da carteira, recolheu e amassou uma folha do caderno na mão.
Esbarrou num dos alunos, se aproximou do educador e cutucou impaciente suas costas:
— Sr. Urias... — o chateou por instantes — Sr. Urias, acho que estou me sentindo mal. Quero dizer, péssima! Creio que necessito de ajuda imediata — o docente interrompeu a escrita e voltou sua atenção para a jovem que se manteve isolando um dos olhos com a mão.
Enquanto ela o distraía, Gaya caminhou cautelosa até a porta, acolhida por risadas contidas dos demais alunos que se divertiam com toda aquela situação arquitetada e torceu para evaporar em segundos daquele ambiente.
— O que houve, Srta. Lermann? Precisa seguir até a enfermaria? — mostrou-se preocupado e lançou o giz esfarelado na mesa. — Diga-me, pelo amor de Deus!
— Ai, Cristo! Acho que está caindo em minhas mãos, professor! — havia amassado uma das folhas do seu caderno e feito uma pequena bolinha de papel sustentada na mão.
Gaya já se encontrava bem próximo da porta quando o professor se manteve de costas.
Logo que ele exigiu conferir o olho de Olivia, a Demdike depositou toda energia nas pernas, seguiu veloz com a mochila nas costas entre o corredor vazio em horário de aula, até descer algumas escadas de madeira que encaravam uma enorme porta de entrada a esbanjar dois corrimões de cobre e atraí-la para o interior.
Enquanto isso, Olivia lançara a bolinha sobre o educador que gritou apavorado e arrancou gargalhadas incansáveis da classe.
A jovem retornara para seu assento, satisfeita com o plano e ainda alegou ter passado por falsas dores.
No exato momento, inteiramente irritado, o Sr. Urias percebera faltar mais um aluno naquela sala. Todavia, evitou mais frustrações.
Assim que ultrapassou a entrada, ela cerrou os olhos, enxergou o interior do local e se preencheu de coragem. Referia-se a um anfiteatro espaçoso e ao mesmo instante sucinto.
Dava-se para notar a dimensão por intermédio da única iluminação amarela presente no palco que focou em três alunas nervosas sustentando folhetos nas mãos e na presença de um professor que as guiava acomodado no assento.
Ao esbarrar comedida nas poltronas estofadas de coloração vinho, Gaya contemplou o palco, as cortinas da mesma cor, o perfume de madeira antiga e as vozes das estudantes que treinavam uma provável peça teatral para aquele período.
Silenciosa, fechou a porta por trás e no escuro que abraçava os assentos superiores, adentrou-se entre as cadeiras e removeu calmamente a mochila dos ombros.
Crendo achar o lugar ideal, bem escondido da visão de quem se situava no palco.
Passou despercebida por todos ali, em especial o professor responsável.
Caso ele a descobrisse, relataria ao professor de Matemática e a Demdike seria forçada a retornar para a aula, fora a perda de benefícios nas avaliações finais.
Não desejava perder sua reputação de boa aluna.
A paixão pelo teatro emergiu e se preservou cultivada através da literatura. Para a bruxa, o teatro simbolizava a materialização da magia na escrita. Considerada um lar para sua alma que respirava arte.
Tranquila, Gaya se acomodou em silêncio no acolchoado da poltrona, temeu o ranger do suporte, arrumou sua mochila no chão frio, confinou entre os sapatos e suspirou aliviada, apreciando o ensaio com atenção.
Porém...
— Escapando dos cálculos, Demdike? — uma voz branda arrepiou todos os pelos e fios de cabelo da jovem.
Era um espírito?
A pobre garota conteve o grito assustado entre as mãos trêmulas e suadas ao notar um sussurro que ladeou sua poltrona.
Mal notara que havia alguém tão próximo, contudo, não se tratava de uma pessoa qualquer.
— Dawson?!
Cochicharam entre as falas decoradas de uma das candidatas no ensaio e as insuportáveis reclamações do professor que se recusava a aceitar mínimos erros.
— Mas que diabos está fazendo aqui?! — as escleras escapuliram para fora e suas pupilas afinaram entre a escuridão de seus olhos.
Mostrou-se furiosa, prestes a libertar fumaças das narinas.
Percebera também que Dawson havia saído muito cedo da aula para frequentar o auditório.
— Eu pergunto. Deveria se atentar nas aulas. Não és uma aluna exemplar? — sorriu astucioso entre os fios escuros ondulados que tocavam seus ombros e cruzaram seu olhar acinzentado que piscava rápido, feito raios.
Ele não costumava deixar explícito a principiar do dia que iniciou seus estudos, acerca dos notáveis espasmos musculares repentinos e olhos que pestanejavam incansáveis.
Nem sequer os docentes sustentavam coragem para perguntar, pois seria um tanto inconveniente.
Ambos não se lidavam tão bem, contudo, o incômodo partia dele.
Ela o detestava por roubar suas antigas canetas coloridas e perfumadas que suas mães compraram para o início do colegial. Porém, como já se encontravam no fim, próximo de concluírem o último ano, Gaya não se importava mais com a situação das canetas. Apenas o considerava impertinente demais no seu caminho.
Dane com frequência se expunha empenhado a disputar contra a Demdike nos campeonatos. O divertia testemunhá-la entortar os lábios em aversão ao esbarrá-lo entre os concorrentes e disputar uma tensa partida mensal de palavras-cruzadas, competindo por pontos que somavam nas avaliações finais.
E em seu âmago, evitando-a que o reparasse, o jovem se deleitava ao encarar a colega de classe entre as partidas, disposto a apreciar sua face competitiva. Admirava assisti-la junto ao temporário semblante severo e intimidador.
Preenchido por um passado familiar que a Demdike tomara conhecimento — porém sequer lembrava —, Dawson conservou um determinado apreço pela bruxa, todavia, Gaya jamais concedeu abertura para aproximações.
Principalmente consciente que Olivia, sua colega de classe, consumia um interesse amoroso e secreto por ele.
— Por que está aqui? As inscrições se encerraram no mês passado, hein? Não possui nenhuma chance — seu tom de voz era desafiador, o que distanciava a garota de seu conforto.
A questionou à medida que enlaçou os braços e suas sobrancelhas céticas acompanharam seu olhar investigativo.
Dane era mestre em tornar qualquer um num ser impaciente.
— Fique sossegado, pois não estou aqui para entrar no elenco. Apenas desejo espairecer a cabeça — retrucou, aprumou o nariz e copiou os braços do rapaz.
— Espairecer? Conte-me uma novidade. Com esse ensaio entediante de "Nossa Senhora de Paris"? Gaya...
Suas escleras reviraram e regressaram a focar no ensaio. Ela não compreendia os motivos dele permanecer naquele ambiente.
— Óbvio?! Não suportava mais as aulas de Matemática, aquela confusão de elementos, a poeira do giz pairando no ar...
Encostou o cotovelo no braço da poltrona, sentiu o couro gélido quase tocar o joelho do garoto que se preservou de pernas cruzadas.
— Mas me diga, o que é isso? Uma obra católica?
— Achava que conhecia por ser tão inteligente — debochou. — "O Corcunda de Notre Dame", de 1831, do escritor Victor Hugo, o mesmo de "Les Misérables" — seu francês se exibia incrível, porém a fez rir baixinho como nas aulas de literatura francesa — Quase ninguém conhece o real nome da obra. E sabe o que é mais hilário? Estão analisando até agora quem ficará com o papel da Esmeralda.
— Logo duas das três meninas que não são como a personagem?
— Compreende como essa escola é inteiramente errada? Nem tem como discutirmos com os professores. Notei haver mínimas falas da personagem e esse professor vai transformar a obra num desgosto de adaptações teatrais.
Apontou para um homem de cabelos brancos, óculos redondos, aparentemente com seus cinquenta anos, que se portava grosseiro com as alunas e identificaram a presença de outros candidatos próximos dele.
Prevaleciam calados para não serem expulsos da peça.
À medida que suportavam os sermões do homem à distância, de repente afundaram-se nos assentos assim que as três alunas atingiram seus olhares para cima do auditório, se afastando das reclamações daquele educador.
— Não me indicou o motivo para estar aqui — os olhos acinzentados fixaram nos lábios da jovem.
Quase deitados na poltrona, Gaya rotacionou seu rosto para Dane que experienciou a respiração da garota chocar contra as suas bochechas coradas, fazendo-lhe cócegas.
— É segredo — focou no teto do anfiteatro e se imergiu admirado nos desenhos que reproduzia o telhado do Museu do Louvre.
Contudo, já frequentava o local como ninguém.
— Prometo que se me contar, deixarei que ganhe a competição de palavras-cruzadas — concedeu a mão esquerda para que ele a apertasse.
— São apenas trinta pontos em palavras-cruzadas...
Pensou um pouco mais por receio, pendeu a cabeça para próximo dela e permitiu que notasse com tamanha evidência os movimentos involuntários quase imperceptíveis.
— Natação. Preciso de cinquenta pontos para Química.
— Feito! — firmaram as mãos e selaram o acordo.
Dane inclinou-se para próximo do ouvido de Gaya e cochichou seu segredo. Porém, respirou profundo com antecedência e caçou palavras em sua consciência a fim de estruturar a revelação:
— Ao finalizar os ensaios da peça e os alunos retornam para as salas, o Professor Cameron aguarda pela diretora por trás da cortina e daquele lugar são emitidos alguns barulhos constrangedores que eu não recomendo escutar. Atualmente guardo comigo uma filmagem de ambos conversando a sós — o pavor aflorou no semblante de Gaya. — "Ainda carrego saudades do nosso passado", isso me enojou.
Imitou a voz aguda da diretora, seus trejeitos e sustentou óculos invisíveis com os dedos indicador e polegar.
— E já notou que ele possui um carinho extremo pela filha da Diretora Margot, pondo-a em destaque nas peças teatrais? Este ensaio é armado do princípio ao fim, em especial da Esmeralda.
— Não posso crer! — exclamou baixo.
— Gaya, o papel foi definido desde o início. Não duvido que seja filha dele.
— Por isso que você sempre se livra das aulas de Matemática! Se conserva escondido por aqui! NOSSA MÃE TERRA! — exclamou alto e atraiu a atenção do professor.
— Shhh... — com as próprias mãos, isolou os lábios da jovem e fingiu invisibilidade.
Ele estremeceu mais que seu habitual, suou frio e seus olhos piscaram machucando em instantes. Se encontrava ansioso, o que agravou sua situação.
Ela desacreditava no que ouvira e havia descoberto um esquema inaceitável no colégio. Mal sabia que aquilo ocorrera também no ínterim das maiores peças teatrais.
— Quem está aí? — a cabeça do Professor Cameron emergiu distante e Dane o notou se levantar e subir cauteloso os degraus até apanhá-los. — O que fazem aqui? — os demais alunos presentes esforçaram-se para testemunhar a confusão no topo do auditório.
— Não é da sua... — Gaya beliscou levemente o braço do jovem. — Ai! — resmungou e acariciou a pele.
— Viemos acompanhar o andamento da peça teatral, Professor Cameron — falou entre os dentes cerrados num sorriso dissimulado. Em seguida, seus olhos o pressionaram a seguir o plano.
— Turma de Matemática? — desconfiado, inclinou-se para os dois. Conhecia as disciplinas daquele dia com sapiência.
— Dos otários como você... — Dane não sustentava a língua por trás dos dentes.
Se detinha irritado com o docente após desvendar seus segredos, mas daquela vez recebera um pisão no dedão do pé.
— Mas que mer... — sustentou a dor, murmurou e acariciou o dedo.
— Sim, Professor — forçou um sorriso, todavia, encontrava-se disposta a derrubá-lo da escada.
— Levantem-se e me acompanhem para cima do palco — insípido, o homem não estava disposto a dialogar.
Gaya apanhou a mochila, chateada com toda a situação e Dane a seguiu entre cochichos por trás, em seu ouvido, enquanto desciam os degraus de modo a alcançar o palco e se exibirem aos demais estudantes presentes.
— Gaya, ele vai nos humilhar e estou sem cartas nas mangas. Pense em alguma coisa, lance um feitiço, faça-o vomitar sapos... — murmurou medroso.
— Deixe de ser estúpido e ignorante, Dane — sussurrou entre os ventos e sustentou um tom ínfimo que só ele possuía a capacidade de escutar.
Não suportava mortais que desconheciam o que é ser uma bruxa.
Assim que subiram os mínimos degraus de madeira para se colocarem na plataforma de apresentação, sendo iluminados pelos holofotes que atingiram suas faces confusas por toda aquela situação, o professor regressou a se estabelecer no seu assento e principiou a conceder escolhas:
— O nome. Me deem seus nomes, imediatamente — sustentava uma prancheta com folhas brancas e linhas azuis, enquanto aguardava por respostas.
— Gaya Demdike — deu um passo à frente, Dane se colocou por trás dela e temeu o professor. Naquele instante a jovem se exibia mais corajosa.
— Gaya... — apreensivo, cochichou entre o ombro e segurou cuidadoso o braço da Demdike para se sentir seguro. — Ele irá nos devorar vivos.
— O seu nome, rapaz — exigiu impaciente e sacudiu um dos pés correspondentes à perna cruzada. — Não possuo o dia inteiro e necessito concluir o ensaio.
— Dane Dawson — se colocou ao lado dela e o testemunhou anotar os nomes na folha.
— Certo... certo... — murmurou sozinho e concluiu suas anotações. — Preferem voltar para a aula e terem os pontos descontados ou se incluírem nos bastidores da peça teatral?
— Ah, nem pensar! — o jovem relutou e desviou o olhar do rapaz. — O que recebemos em troca com isso? Nada? — gesticulou impaciente e principiaram a rir de seus tiques, o humilhando.
Gaya tomou a frente, pôs o colega para trás, o acalmou e transmitiu apoio.
— Deixe-me que eu resolvo.
Se portava menor que o jovem considerado alto, contudo, dominava as palavras com maestria, fazendo-o concordar.
— Participaremos dos bastidores, mas com um acréscimo: oitenta pontos para quem estiver por trás das cortinas.
— Oitenta pontos?!
O professor sobressaltou da cadeira, esbravejou indignado e caminhou apressado em direção à borda do palco.
— Sabe com quem fala, Srta. Demdike? — apontou o dedo indicador na direção dela, assustou os alunos e irritou o garoto.
Se empenhou em intimidá-la e fracassou.
Em posição soberana, Gaya se aproximou destruidora de Cameron, sussurrou próximo dele, desequilibrou sua mente e pressionou-o a cumprir sua ideia. Uma garota de dezessete anos o intimidou e causou um caos:
— Acate minha ideia, ou a escola inteira saberá de sua relação com a Diretora Margot e da frequente participação de sua suposta filha nas peças teatrais.
O homem engoliu seco, atemorizado com a persuasão da garota.
— Justo para todos — ela completou.
— O que...
— Porque só agora percebeu estarmos escondidos no auditório, Professor Cameron? Estamos em 2009, com acesso a tantas informações... E veja bem, a diretora poderá lhe defender, mas aposto com cartas e dados, que o colégio inteiro tomará consciência de tudo e o receberá de braços abertos. Digo isso para amenizar seu psicológico. Porém, entende do que os alunos são capazes caso souberem haver preferidos sendo privilegiados.
Cameron se afastou ausente de ar, perdido em seus pensamentos, tropeçou nos pés enfraquecidos, caiu de volta na poltrona e foi questionado pelos demais alunos sobre o que ouvira.
Confuso, apreensivo, ele coçou os cabelos brancos e já possuía a resposta na ponta da língua:
— Oitenta pontos para os bastidores. Quero os dois presentes nas oficinas de cenário, mas ficarão encarregados de controlarem as cortinas — não conseguia manter contato visual com ambos. — E sumam logo da minha frente. Não quero vê-los hoje. Ensaio encerrado. Vão para suas casas, aulas, o que for. Apenas saiam desse auditório agora! TODOS!
Esbravejou trêmulo, próximo de morder a língua, temendo perder o cargo na escola por beneficiar familiares e outros segredos comprometedores que Gaya Demdike e seu colega deveriam manter distância.
Enquanto eles subiam a escadaria para fora do anfiteatro, Dane apanhou de imediato a mão da garota, que gargalhou como criança após enfrentar o docente. Dawson se deparava animado, contudo, desconhecia o que ela dissera tão baixo ao professor.
Logo que estavam fora, fecharam a entrada do ambiente e deixaram o professor para trás, Dane fez questão de interrompê-la antes de seguirem no corredor.
Ele se pôs em frente a ela entre o barulho do sinal que tocava irritante e os estudantes que corriam distantes das salas, desesperados para largarem.
— O que você falou e o fez mudar tão rápido de opinião? — apoiou as mãos sobre os ombros de Gaya e manteve aproximação.
Seu sorriso encantador se direcionou a ela e empolgado, Dane almejou abraçá-la forte a fim de agradecê-la.
— As cartas que sumiram das suas mangas, se pregaram na ponta da minha língua — o notou entreabrir os lábios, desacreditado.
Em seguida, de repente a abraçou forte entre os demais alunos que os ladeavam e andavam ligeiros. Num único momento, se aproximaram melhor. Não havia como recusar tal ato.
— Você foi... — estava encantado por ser poupado de punições no colegial que nem lembrou de completar a frase.
Faltou complementar com "brilhantemente ágil".
Dane agarrou as bochechas de Gaya com as duas mãos, sorriu, quase as espremeu enquanto ela deu leves tapinhas nas costas das mãos e implorou para ser solta.
— Ei! Está me apertando — reclamou e fez bico à medida que ele agarrava as bochechas até soltá-las. — Nunca mais serei sua cúmplice de uma situação como essa.
— Nem para ganhar pontos avaliativos? — piscou um dos olhos. — Lembre-se que estamos na mira de alguns professores.
— Não.
— Não mesmo? — persistiu e fez beiço.
— Nem pensar — deu meia volta e seguiu com ele atrás, esbarrando nos outros estudantes. — E não me siga. Já estou cansada até da minha própria sombra.
Ao ultrapassarem o portão para o lado externo da instituição, Dane ainda seguia atrás da Demdike que apanhou a bicicleta e subiu motivada a pedalar de volta para casa. Queria chegar a tempo para relaxar na banheira.
— Apesar de ser um chato, você é amigável, diferente do que dizem e pensam — aguçou a curiosidade dele.
— E o que dizem sobre mim? — se colocou de frente, a impediu de prosseguir quando se apoiou nos guidões e notou as bochechas dela inflarem de irritação. — Espere aí! Preciso saber antes que me atropele.
Logo que afastou as mãos com medo de serem cortadas, Dane amarrou o cabelo com um elástico preto e organizou a mochila sobre as costas.
— O que dizem, é, é... — estava receoso — ... é algo bom? Não é sobre minha... — ansioso, os olhos voltaram a piscar, lhe machucando.
— Não tão próximo disso. Aliás, não é nada sobre sua condição.
Dane arfou e entendeu. Em sequência, libertou um suspiro, aliviado.
— Eu não moro com assassinos — se aproximou de Gaya que abaixou a cabeça, envergonhada pelas fofocas que escutara. — Meus pais são pessoas boas, Gaya. Diferente de algumas aqui e nesta cidade que muitos cultuam.
— Não duvido de você, porém, é o que geralmente falam. Nunca esconderia coisas como: "eles mataram e saquearam quase a cidade inteira", "fazem pacto com o Diabo", "ele possui uma marca do mal no corpo", blá, blá, blá... Você sabe. Incontáveis besteiras que também pensam sobre a minha — Dane engoliu seco ao saber o que discutiam quando o viam.
— Foi por isso que você nunca quis se aproximar de mim? — as sobrancelhas caíram.
— Está falando com uma bruxa — riu e revirou as escleras. — Na realidade, é porque sempre lhe considerei intrometido. Jamais evitaria contato pelo que pensam dos outros. Mas me sinto obrigada a afastar quando alguém prefere competir toda vez comigo, como se fosse diversão.
— Me desculpe. Não foi de fato por mal — queria se redimir.
— Eu sei.
Gaya se mostrou ansiosa para chegar em casa, descansou um dos pés no pedal e direcionou a bicicleta para a estrada de paralelepípedos, macieiras, arbustos floridos e casas brancas.
— A gente se encontra por aí e no auditório — acenou para ele, enquanto o vento soprava suas madeixas crespas.
— Até, Demdike! — correspondeu ao aceno.
Dane a viu partir entre os colegas da instituição. Sorriu ao vê-la pedalar e tornou-se inexpressivo logo que tocou sua nuca vazia por baixo dos cabelos.
Em pouco tempo, aceitar perfurar uma marca em sua pele se tratava de um selo familiar, como sua promessa.
Então, nem todos os boatos estavam inteiramente errados.
¹Pulôveres: Um pulôver é uma peça de roupa de lã que cobre a parte superior do corpo e os braços. Nome da peça é mais popular no inglês britânico.
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