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Capítulo 21: Doce Perdição - Parte I

*ALERTA DE GATILHOS: CAPÍTULO LIVRE DE GATILHOS PESADOS.

*RECOMENDAÇÃO DE MÚSICA DA TRILHA SONORA PARA O CAPÍTULO: 30 purple birds - why mona Reflections - Piano Version - TWO LANES.

*CAPÍTULO SEM REVISÃO MINUCIOSA.

Com o telefone sustentado entre ombro e orelha, enquanto preparava um café para despertar, Dane se comunicava com Kansas a fim de atualizar acerca do encontro com os Dawson, além de indicar que sua família se prestou a auxiliar na investigação caso fosse necessário. Mas estava empenhado em não ceder a mão ao padre da cidade. Insistia em prosseguir por Gaya Demdike.

Até que entre a concentração na xícara e chamada, a campainha tocou insistente e interrompeu seu foco.

O rapaz solicitou que Kansas telefonasse mais tarde e sobrepôs o aparelho na mesa, na intenção de guardar assim que fechasse a porta.

Os passos descalços no chão quente seguiram para abrir, o lado externo carregava a brisa fria da manhã, além do sol a iluminar pedras de seixos manchadas por marcas de pneu.

À medida que perdeu o encanto pela rua, seu olhar decepcionado passeou dos pés revestidos por botas chelsea, tronco ocultado por um sobretudo cinza-escuro de camurça, mãos escondidas por luvas de couro, até a cabeça complementada por um chapéu fedora preto que escondia uma parte do olhar do padre que se portava galante por um propósito. E com o acréscimo do crucifixo no pescoço.

Enquanto isso, ele voltou a atenção na xícara e principiou a misturar o açúcar com a colher. A ranger a porcelana por dentro.

Dane contraiu a mandíbula até lançar um traiçoeiro sorriso repentino entre o semblante desconfiado.

Os olhos de Franco correram para dentro da casa, buscaram pelas bruxas, mas só existia um homem alto, de sorriso dissimulado, sem camisa e não tão estranho barrando a passagem.

Estar sem a peça superior, causou mais incômodo no padre que pensou no indivíduo a dormir daquela maneira ao lado de Gaya.

E de fato era assim.

— Padre Franco, bom dia. Aceita um café? — bebeu um gole quente e se acostumava com o calor nos lábios.

Por um momento, o ruivo o desdenhou.

— Bom dia — observou novamente a casa por dentro e sua expressão enojada para o peitoral do rapaz foi impagável. — As Demdike estão presentes?

Franco notou o piscar constante dos olhos de Dane, além de um leve espasmo num dos ombros. Não queria ser deselegante e voltou a se informar das bruxas.

— Ah, não. Não estão — segurou a xícara com sutileza, analisou o padre mais uma vez e o Gregori caçou por algo em um dos bolsos do sobretudo. Parecia confuso. — Talvez retornem antes do entardecer. Mas se tiver algum recado, recomendo repassar a mim. Assim que chegarem, contarei cada palavra que me disser.

— Não, é que... — ainda buscava por algo nos bolsos, se esforçou para enfiar uma das mãos por dentro e tentou alcançar a camisa escondida na peça superior.

— Deseja entrar? Vejo que procura por algo — bocejou e bebeu mais um gole do café.

— Só um instante... Aqui está — ergueu um folheto vermelho levemente amassado com bordas brancas. — Não sei se visitou o centro de Rye por hoje e viu que estão decorando a cidade, mas nesta noite os habitantes celebrarão uma festividade em comemoração à minha chegada na igreja como o novo padre da localidade. Então, como tive o direito a convidar pessoas de confiança, espero a comparência de... — pensou mais um pouco em acrescentar o nome do rapaz junto às bruxas, sabia que o conhecia desde a visita ao seminário — ... vocês nessa comemoração.

Ofereceu o folheto a Dane, sem o tocar, o investigador analisou cada detalhe do papel e de repente sorriu de novo ao ruivo que retribuiu, desgostoso. Tudo parecia se tratar de uma grande tragédia.

— Pode contar com nossa presença, padre. Assim que chegarem, vou convencê-las a ir.

Franco suspirou aliviado e concordou. Até os ombros cederam relaxados. Suspeitou que o rapaz se esforçaria para afastar Gaya de si.

— Uma coisa... poderia me sanar uma dúvida? — o sacerdote engoliu seco e as pálpebras piscaram nervosas.

"Ótimo, mais um intrometido", pensou.

Várias situações se passaram na consciência de Franco. Desde as mais inocentes, até as piores.

E se Gaya repassou que ambos se relacionaram intimamente? E se ela confessou que o padre omitia a relação?

— Não é por nada, mas é comum um padre convidar amigas de longa data para sua casa e ela voltar tão tarde que mal se lembra do horário além de se derramar em choros por algum motivo que a incomodou? — estreitou o olhar e sorriu venenoso.

Animado em ser o mensageiro do apocalipse que se formava na consciência do sacerdote.

Gaya chorou? — se preocupou até sentir espinhos na garganta, o que amansou seu tom.

— Sim. E são dúvidas genuínas de quem se importa de verdade com ela — se não temesse tocar os demais, sem dúvidas entrariam em conflito físico. — Porque conheço o senhor tão bem que nem pode imaginar e de você, não espero menos que decepções.

Franco se sentiu bastante ameaçado. Sabia como reagia com pessoas tão intrometidas em sua vida. Mas ponderou em segundos sobre as consequências do momento de prazer. Deveria entender que os mais próximos à Demdike iriam desconfiar de primeira e a defenderiam de qualquer coisa.

Já incomodado ao extremo, o Gregori estufou o peito e se encheu de valentia ao conceder um passo intimidador para frente. Assim reparou entre os óculos o olhar inquieto de Dane que o enxergava tal qual um inseto.

Ambos se encararam conforme na última vez que se viram. Uma junção de egos barulhentos.

— O que acha que está fazendo? — quase libertou fumaça por intermédio das narinas. — Hein?! — olhou em volta para certificar que ninguém os assistia. — O que acontece entre mim e Gaya Demdike, não é de interesse para ninguém. Muito menos você. Só viva a sua vida inútil de merda — o rosto avermelhou ao ponto de as bochechas arderem e racharem em erupção.

— Em Londres, Gaya o defendeu ao dizer que não me encararia como uma ameaça, com ciúmes e olha quem se revelou — provocou tão ácido que incendiou a raiva do amaldiçoado. — Não me atinja de forma tão baixa, padre. Deveria se importar com os erros que se revelam sem nem perceber.

Franco ensacou as mãos furiosas nos bolsos e notou os punhos tão cerrados que desejaram socar. Há um tempo andava inconstante, desconfiado, irritado.

E naquele átimo, existiam dois seres com suas devidas questões e sem qualquer paciência para uma conversa decente.

— Não é do meu interesse se envolverem em segredo, o que fazem entre quatro paredes, mas devo aconselhar que a pessoa que sairá mais prejudicada nessa história, será a Gaya. Aliás, ela está sendo. Alguma coisa a fez e já imagino o que seja. É dessa maneira que machuca os outros? Através do emocional?

Eu a amo! — rosnou tomado pelo sentimento mais perigoso e que sequer sabia existir.

Dane não conhecia uma parcela do que ele havia passado. Aquilo o fazia reviver cada processo que digladiavam para esquecer.

Apesar disso, ambos suportavam histórias distintas.

— Então largue de uma vez esse crucifixo e essas roupas de padre para fazer o que faz, Franco Gregori. Tome vergonha e respeito pela mulher que diz amar. Sou ainda sincero em dizer que não a merece.

Dawson estreitou os olhos e comprimiu os lábios para Franco, que se engrandeceu com a reação. Ouvir de outra pessoa sobre não ser digno de merecer o amor de Gaya ou tê-la como companheira, fritava seu cérebro. Soava como sirenes irritantes retumbando nos miolos

— Quem é você para dizer que não a mereço?! — enrugou o nariz, a testa, até as rugas nas extremidades dos olhos sanguíneos surgiram — Anda, solta essa maldita língua, vai!

— Sou alguém que veio te sondar feito um corvo. Alguém que chegou para testemunhar seu fim. Torço todos os dias para que morra, Gregori.

Franco na realidade não temia tantos. Poderia ser um mero medroso de perder as regalias, mas o temor de verdade havia se decepcionado com ele na noite anterior.

— E não se preocupe, padre. Iremos — estava prestes a deixar o investigador falar sozinho. — Se quiserem se afundar em prazeres, façam. Mas sejam bem cuidadosos. Lembra de quando avisei sobre ficar atento? Deveria fazer isso. Gaya é alguém que protejo. Eu te mataria se fracassasse com ela. Faça o mesmo. Não a entregue de bandeja à cidade como se comporta.

O amaldiçoado esperava a morte. Mas sua maior maldição, resultava em viver em constante conflito com a própria mente. A cabeça perdida que amava, odiava e sofria.

O céu estrelado em Rye iluminava na companhia dos pequenos e finos fios de lamparinas amarelas penduradas em fileiras no alto.

Uma roda gigante colorida girava em sentido horário na calçada da Igreja de Santa Maria.

Pequenas barracas enfeitadas com decoração cereja e um palco que sustentava uma banda a tocar canções tradicionais da cidade com gaita, violino, acordeom, violão e outros instrumentos mais populares; fizeram da noite uma ótima recepção ao padre.

Entretanto, se tratava de uma festividade para todos.

Crianças risonhas corriam a brincar e quase derrubaram os adultos que dançavam e seguravam copos meio esvaziados de bebidas. Casais apaixonados admiravam a vista de Rye a partir da roda gigante, adolescentes disputavam "tiro ao alvo" por caixa de chocolate sortidos, pelúcias...

Idosas fofocavam sobre qualquer pessoa que passava na frente, além de jovens solteiras de olho no novo padre que segurava um copo descartável com vinho enquanto conversava amigável com uma das beatas. Reclinado numa das barraquinhas que servia comida gratuita.

Tudo aquilo fora planejado pela localidade que recebeu o Padre Franco na sua primeira missa lotada de curiosos.

Era notável e inovador.

Há tempos que não se conhecia um padre que detinha a cidade como terra-natal e jovens sacerdotes se mostravam tal qual um porco feito troféu num banquete.

— Desde quando um padre pode beber? — Anya assustou a fiel que saltou o olhar e se retirou ligeira da conversa com o sacerdote. Desapareceu entre a multidão, sem se despedir. — Obrigada por nos convidar, Franco. Dante nos avisou da celebração.

— Sejam bem-vindas, Sras. Demdike — apenas cumprimentou as duas bruxas mais velhas até os olhos iluminados deslizarem para a figura divina que surgiu.

Por trás das mães, feito uma revelação dos deuses, Gaya vestia vermelho vivo num vestido que atingia até os joelhos, de mangas medianas e preso por sete botões da mesma cor, contudo, suas coxas estavam expostas pela fenda presente na peça que atraiu a atenção do padre.

Seus lábios rubros como sangue e brincos pequenos e dourados tentaram o sacerdote que se conteve na presença dela, do Dawson vestido em preto por inteiro e as mães dela que usavam dois vestidos: Anya num floral multicolorido e Delphine num azul pastel estampado por borboletas rosas.

A mão de Dante se apoiava na cintura de Gaya próxima dele. Franco, incomodado com a cena, ingeriu mais um gole do vinho na intenção de disfarçar sua inquietação e respondeu à indagação:

— Só não pode ultrapassar os limites, Sra. Anya — brincalhona, Anya revirou os olhos e sorriu.

Ele já havia provado a bebida com alguém. O resultado tornou-se impróprio. Se pudesse, o Gregori derramaria o líquido sobre a pele retinta e rasparia a língua para beber sem sobrar gotas.

— Bom te ver novamente, Franco.

Delphine acenou ao rapaz, Dane cumprimentou e curvou a cabeça na direção dele, que sentiu ser provocado. Ou de fato o Dawson estava sendo educado.

— Minha nossa, Rye está linda! Tudo está tão alegre! — Anya se encantou.

— Amanhã voltará ao normal. É só um momento de alegria. Depois retomam a perseguição — Dawson brincou e levou uma leve cotovelada da amiga na barriga. Mas Gaya concordava. Só não queria que ele fosse desrespeitoso. — E não falei a verdade? — soprou à moça.

Pior que sim.

Gaya não se conteve, o acompanhou na risada e por mais que não tivesse intenções, irritou o ruivo que os observou inquieto. Na percepção confusa dele, soou tal qual uma provocação.

— Franco, isso tudo foi feito para você? — Anya quis sanar uma dúvida enquanto seus dedos enlaçaram nos de Delphine que se derramou em deslumbre com a quantidade de pessoas presentes na festividade. — E sendo um padre estreante, me surpreende como cativou a cidade.

— E isso é coisa que se diga, querida? — Delphine resmungou num sorriso desajustado entre lábios cerrados.

— Sra. Anya, confesso que me questiono sobre isso todos os dias — riu anasalado e escapou bem incomodado.

Era mais aceitável um Gregori se tornar líder religioso na cidade, ao contrário de bruxas trabalharem quietas numa floricultura do centro.

— É porque me recordo como se fosse hoje. Você e a Gaya eram tão pequenos, se divertiam como inocentes por Rye. E hoje, olha como estão! Ainda nem acredito que se tornou padre — apontou aos dois que se entreolharam tão nervosos, ao ponto de faíscas saltarem das escleras.

Gaya abraçou mais o braço do Dawson e rejeitou alinhar os olhares com o Gregori por muito tempo.

Chegariam ao estágio de se embaterem naquele lugar, sem omitir sentimentos.

— De fato não é comum padres tão jovens liderarem uma igreja com tanto respeito — a desconfiança saltou na fala de Deangelo. — Precisam sustentar nome, não é? Com o nome se alcança a relevância. Sem isso, enxergam os restantes como inúteis.

Franco enterrou os olhos sombrios na bruxa no momento que o copo tocou seus lábios, o vinho molhou e adocicou a língua. Recordava dos momentos em sua casa. Cada particularidade aproveitada naquela noite.

Era evidente seu sofrimento cruel por não assumir a relação e desmedido amor por Gaya.

O ruivo a tirou do eixo, toda a estabilidade na jovem evaporou-se pelo modo que o notava se divertir com a provocação cheia de segundas intenções.

— Estão adultos, Anya. As crianças cresceram até demais.

— E ela realmente cresceu, se percebe o quão se torna mais incrível. Olhem essa bela e alta mulher — Dane entregou um beijo demorado na bochecha de Gaya que envolveu a mão esquerda na cintura do rapaz, tal qual dois apaixonados dispostos a proclamar amor eterno. Era ainda o objetivo: fingirem o relacionamento. — Minha futura esposa.

— Meu amor, não me envergonhe na frente das pessoas — a bruxa completou e fingiu timidez.

Uma sensação abrasiva percorreu cada milímetro da pele do amaldiçoado. Sua garganta fechou, seus dedos formigaram os globos oculares secaram de tanto que o ciúmes lhe envenenou.

"Meu amor? Amor?!" a consciência de Franco gritou.

— Então pensaram bem — Delphine inteirou.

Franco sorriu amargo, mediante um olhar estreito, bastante perigoso. A cena se tornava mais hilária que o habitual. Ou trágica. Seu corpo tremeu num sentimento estranho. Queria fugir dali, vedar os ouvidos e nunca mais ouvir qualquer coisa.

"Ela sabe o que está fazendo. Ela sabe... ou estou louco, corrompido. Por Deus! Que ódio!"

Franco engoliu raspando a situação secamente. Queria beber mais só para esquecer que a amava, mas não ultrapassaria limites e havia decepcionado mais uma vez.

— Ah! Falei ao Franco que ele um dia casará esses dois?

— Não?! — o sacerdote interrompeu e maneou a cabeça em direção a uma das bruxas, com uma expressão tão confusa que se misturava entre um sorriso falso e pupilas tão grandes, prestes a engolir quem dissesse mais coisas semelhantes. — Com certeza não falou, Sra. Delphine — enrugou o centro das sobrancelhas em inteira confusão.

— Claro, se ambos quiserem — Anya complementou e cedeu à ideia da esposa.

O ruivo arranhou a garganta num pigarro tão cortante, que todos ali na conversa disfarçaram o incômodo visível.

— Mas confesso que seria lindo preparar o casório no jardim. Imagine querida, da forma que nos casamos — prestes a cair de costas, rígido no chão, o rapaz quase infartou. Foi ainda mais constrangedor olhar e vê-lo ficar inteiramente vermelho. As pupilas dilatadas afinaram logo que surgiu a ideia proveniente de Hawthorne.

Agoniado, o Gregori se negava a aceitar. Pensou até que ela mentiu sobre o suposto relacionamento com Dane.

A ausência do anel não importava. Para Franco, pareciam se conhecer recentemente. No entanto, ponderar compactuar com uma possível traição, perturbava o sacerdote.

Contudo, não poderia acreditar que Gaya mentia.

Só estariam armando em conjunto contra ele, que estremeceu de nervosismo ao arrastar copiosamente os fios ruivos para trás. Até ajustou a roupa por notar tudo se comprimir e os pulmões estourarem.

Querida, não vamos colocar mais fogo — Anya notou Franco desconfortável com o assunto e ciciou no ouvido da esposa.

— Não mãe. Penso numa pessoa melhor para celebrar e me casar com o Dante. Aliás — puxou Dane mais perto e em meio a um sorriso malicioso, compactuou com o que ela falava —, nos casaremos assim que partirmos daqui. São tantos planos conversados de noite. Talvez alguns filhos, não é amor?

Os globos oculares do sacerdote quase se expulsaram das órbitas e seus dentes morderam machucando as mucosas das bochechas. Chamar o outro de "amor" não digeriu bem.

— Uns seis — Dane lançou mais um combustível ao clérigo, o instigando a explodir na frente de todos. Estava por um fio de acontecer. — É bom praticar bastante por estarmos bem empolgados — Franco sentiu chegar ao limite da paciência. Nem as mães de Gaya ocultaram o desconforto.

"Praticar?! Bastante?!"

De imediato, surpreendendo o ciumento, Gaya cedeu um selinho no queixo do corvo que por dentro gargalhava. Pareciam trocar o mesmo neurônio.

Franco suspirou tão forte que custou a comprimir todos os ossos. Não satisfeito por machucar as bochechas, também mordeu os lábios superiores, irritado, e ainda assim, sorriu conturbado. Pensava merecer aquilo por culpa das atitudes anteriores.

— Interessante — revidou. — E também fará o batizado de cada uma das crianças? — debochado, atraiu a atenção das mães e cravou o olhar furioso na amada.

— Não confiaria meus filhos serem batizados pelo senhor, padre — o corvo alfinetou. — Creio que nunca.

— Em qual momento lhe dirigi a pergunta? — um clima tenso se formava. — Gaya, não sabia que escolheria um parceiro tão decadente para ser o pai delas. Se eu fosse você, acharia um melhor.

— Duvida da minha capacidade, padre?

— Óbvio. Sempre pensei que a Srta. Demdike merecesse mais. E ela merece — suas palavras serpentearam venenosas pelos lábios.

— Franco... — a bruxa desacreditava na situação formada. — Te suplico — sibilou a ele.

— Suplique ao seu "futuro marido" que te expõe dessa forma egoísta e ridícula — o olhar da moça persistiu em cessar a discussão. — Já que outros enxergam apenas o corpo, não é? — lançou uma nítida indireta, sequer temeu ser descoberto.

Irado, caiu na armadilha dos dois.

— Que interessante aquela barraca de pelúcias. Olha só, querida. Vamos! Agora! — pressionou com o olhar. — Depois iremos para a roda gigante — a interrompeu, puxou para longe do padre, o detetive, a bruxa e deixaram os três sozinhos. — Mais tarde nos encontraremos entre a multidão ou aqui mesmo.

— Mais tarde teremos mais músicas no palco, Sra. Delphine — Franco respondeu com a voz embargada. — Aguardaremos as senhoras.

— Então nos encontrem perto do palco — Anya sorriu conforme uma criança, foi puxada pela esposa, cortou caminho entre as pessoas e desapareceu.

Buscarei algo para comermos e deixá-los conversar. O provoquei bastante, da forma que eu queria — sussurrou sorridente e empolgado no ouvido dela. — Talvez eu demore um pouco em busca por comidas veganas. Acho que aqui não têm muitas opções — percebeu variedade de carnes sendo viradas na brasa.

Não quero ficar por aqui — apreensão emanava dos poros e da voz. — Tomarei um ar afastada das pessoas em qualquer lugar ideal. Nem quero vê-lo perto de mim, Dane.

Por favor, sei que o quer — a bruxa engoliu seco. — Pense bem. Seu carrapato não desistirá.

Eu determino se devo conversar ou não.

Referiu-se ao Franco que fingia não os ver, mas sondava o diálogo por perto.

Tudo bem. Só não se afaste muito. Essa é uma oportunidade para um deles surgir por aqui.

Estavam à procura dos assassinos infiltrados na festividade. Qualquer rastro que os denunciasse.

Sim, eu sei.

Logo que o investigador a deixou em paz, Franco quase a seguiu, porém, foi interrompido pela voz de Dane a soprar em seus ouvidos. Para distraí-lo.

Sinto de longe quando alguém me teme, Franco. Seus segredos estão mantidos. Pode confiar — receoso, o sacerdote percebeu ter perdido Gaya entre a multidão e o desespero dominou seus sentidos. — Ela não o quer por perto. Deixe-a respirar um pouco.

— Não me importo com o que diz. Pode querer mentir para me afastar. O que mais faço é desobedecer qualquer pedido.

— Como eu mentiria? Se desejasse conversar contigo, não fugiria.

— Não sei. Só me deixe em paz. Se Gaya preferir não falar comigo, quero escutar dela.

Deu as costas ao Dawson que riu anasalado e ficou solitário com estranhos.

Tolo — o corvo resmungou ao negar com a cabeça.

Nem ao menos insistiu em interrompê-lo e agiu da forma que prometeu à Gaya.

Logo que Dane sumiu entre a aglomeração, o barulho, a música e as luzes, Franco ainda buscava por Gaya. Seus lábios tocavam o copo de vinho com frequência, sem ultrapassar limites e por segundos abandonou a bebida numa das barracas para encontrá-la, visto que ela recusou esbarrar com o próprio.

À medida que a procurava e contornava o olhar entre os frequentadores, em paralelo, Gaya se situava reclusa numa viela escura entre a floricultura das mães e um antiquário de vitrines apagadas. Um pouco distante do calor humano e olhos intrometidos.

Existia uma lâmpada suspensa ao fundo que piscava em tempos diferentes, fora uma caçamba de lixo que fedia suportável a chorume, um forte odor de papelão velho e mofo no ar.

Escondida e sem se importar com o fedor, ela observava a aglomeração com uma garrafa de vinho a sustentar a bebida em quantidade de dois dedos. Havia pegado de uma das barracas sem ninguém perceber.

Observava o quanto a tal cidade era um pandemônio.

Celebravam a vinda de um novo padre e odiavam a existência de bruxas que nunca sequer fizeram mal.

— Se eu tivesse a oportunidade de queimar cada um de vocês, eu faria — a revolta nos olhos combinaram com o vinho a tocar os lábios e o fundo do vidro a apontar para a aglomeração. — Mas por honra à minha avó e às que vieram antes de mim, não tenho tal poder.

No mesmo instante que estudava cada pessoa a passar na frente da viela, um vulto em específico parou por instantes e sem rodeios, adentrou.

À procura da jovem, a companhia se aproximou alucinado e cada passo apressado se propagava no beco. Até o perfume de canela tomar a noção do olfato incomodado com o fedor.

Resultava exatamente nele vestido numa camisa preta com colarinho branco, um sobretudo por cima complementado pelo crucifixo no pescoço e guardava algo volumoso num dos bolsos.

Nem pôde vê-la revirar os olhos, mas a escutou engolir uma quantidade de vinho que restava.

— O que faz aqui, padre? Sei que é você. Comemore a noite com seus cristãos! — exclamou ao assisti-lo vir na sua direção, como se a tivesse perdido por uma eternidade. — Volte para seu templo e deixe meus seis futuros filhos distantes.

— Não fale tal desgraça. Não terá nenhum filho com aquele homem — quis tomá-la nos braços. — Me prometa.

Gaya se deparava totalmente lúcida e desviou para que não a encostasse. Seus pés recuados o impediram.

— Me deixe um pouco sozinha, Franco. Já nos aproximamos demais.

— Precisamos conversar. Sobre a noite anterior. Agora — insistente, Franco a blindou e evitou que cruzasse para fora da viela, impossibilitou que pessoas enxergassem os dois. — Quer parar com isso? — ela sobressaltou os olhos ao testemunhá-lo irritado.

— Não! Não mande em mim!

Qualquer um que passasse, mesmo que a contragosto, avistaria dois vultos contra a luz fraca do fundo. Mas ambos se assemelhavam a gato e rato num jogo de pique-esconde.

— Conversa comigo, Gaya.

— Conversar sobre o quê, Franco? — pressionou, ambos tocaram os peitorais ao se igualarem, assim que ele tomou a garrafa da mão dela com cuidado e pôs no chão em canto seguro. — Deixou explícito que não abandonaria o sacerdócio. E estou aqui fazendo a minha parte. Te deixarei prosseguir com essa promessa que só faz sentido para você.

As escleras cruzavam nervosas pela imensidão do que ambos alimentavam. No mesmo fragmento de tempo, os dois ansiavam se comer vivos.

— Me-me perdoe — enfraqueceu o tom da voz ao gaguejar. — Me perdoe pelo que mostrei, Gaya. Não sabe o quanto estou machucado em ter lhe decepcionado — tentou tocá-la até ela desviar mais uma vez.

— Decepcionar? Não estou decepcionada. Já imaginava até onde chegaríamos.

Se recusava a permanecer perto dele, mas era quase impossível. Seu perfume arruinava toda sua revolta.

Seus olhos fundos, azuis e pedintes, que se humilhavam por ela. Os lábios estreitos, bem desenhados e molhados em vinho. O rosto corado, padecido e os fios ruivos bagunçados entregaram a certeza do quanto Franco Gregori se enraizou em seu corpo até manipular seus sentimentos em amor.

— Não deveria estar aqui. Aquelas pessoas precisam de você e... — apontou com o queixo.

Eu preciso de você... — a interrompeu num sussurro fraco e anestesiado de paixão.

— Se formos falar sobre um dia deixar o sacerdócio, seria mais aceitável para a cidade que ficasse com qualquer pessoa daqui que não seja como eu.

Os olhos do rapaz entre os óculos, dispararam nervosos no olhar dela. À procura do brilho que sempre surgia. Entretanto, estavam opacos.

— O Sr. Callahan nunca quis isso para você. Se o seguisse de fato, seria um excelente pintor. Não passaríamos por discussões feito essa. Mas a sua avó sempre desejou esse futuro. Ela impôs constantemente um afastamento entre nós desde os nossos sete anos. Eu lembro, Franco. Eu lembro. Mas agora Moniese está morta e continua nisso?! E me trata como se eu fosse uma amante entre seu sério compromisso com Deus.

— O que quer dizer?

— Deseja mesmo saber? — ele consentiu afirmando com a cabeça. — Olhe para eles. São como você — apontou e o ruivo sequer virou para enxergar. Parecia sério e focado. Precisava entendê-la, apreciar cada detalhe triste. — A maioria são como você. Não me quer de verdade porque já encontrou sua razão. Nem precisa estar aqui, porque o que almeja, é o corpo. Nada mais que isso.

O pomo dele se moveu aflito e a mandíbula travou. Além de suas bochechas que esquentaram por repelir cada palavra dela.

— Não sei se é pesado escutar a verdade, mas depois de muito tempo acho que perdi o Franco que eu conhecia antes. Podemos nos marcar na pele, no sexo, nos beijos. Mas não é você aqui — uma lufada de ar frio escapou da boca estremecida. — Será que seria da mesma maneira se fosse com uma das jovens que lhe cobiçam? Elas são como você.

— Fale de imediato — sua voz rasgou rouca, dolorida.

— Imagine como Rye amaria vê-lo ao lado de uma delas. As moças recatadas de porcelana, tão alvas que as bochechas coram logo que te enxergam — o deboche brincou entre cada coisa dita. — Você se casaria em segundos, formaria uma família com seus próprios seis filhos e contaria uma história sobre como a mãe deles era a mais bela de todas. Quando antes de conhecê-la, omitia uma relação proibida com quem a sociedade não aceita e não enxerga beleza — ele a olhava horrorizado, sem ao menos piscar. — Franco, para indivíduos como você, não existe casamento comigo. Sou apenas um segredo que se troca a qualquer momento.

— Não creio nisso. Acho melhor escutar bem o que diz — negou insistente com a cabeça. — Não é possível.

— Estou ciente das minhas palavras — prendeu os lábios e reprimiu o choro em formação. — Agora pode deixar o sacerdócio para estar com qualquer pessoa. Talvez sirvam ao mesmo Deus. Não somos parecidos. Nunca fomos. Sequer completamos — as sobrancelhas quase tocaram o princípio dos cabelos do tanto que esticou.

Por instantes, o abandonou estático num aperto de alma, mas de imediato, ao temer perdê-la, ele a trouxe de volta num abraço e a agarrou sem a permitir fugir. De colar os corpos e se fundirem. Com algo preso no peito e em cada órgão, o padre suspirava agoniado, em desespero, fora de sua consciência. Sofria por ela. A dor de jamais ver Gaya Demdike ultrapassava a morte.

Quero somente você, Gaya. Só você... — motivou todas as lágrimas no rapaz em pânico, os lábios e nariz esfregaram contra o rosto da amada e capturaram todos os cheiros. — Sou fiel a ti. Não entende a merda que fala ao incitar esses pensamentos imundos de que eu olharia para outra pessoa. NUNCA! — rosnou contra ela que quase perdeu as forças nas pernas que formigaram por culpa dos sentimentos.

— Você só quer nossas lembranças, Franco — selou as pálpebras tão forte e o deixou solitário ao admirá-la. — Não está disposto a sustentar uma vida comigo — se controlava para não beijá-lo.

Beijar Franco era irresistível. Ele a tomava em tantas sensações. Das mais íntimas até as mais superficiais. Seus lábios ardentes e molhados cresciam para devorar os seus. A maneira que enroscava as línguas, cada fio de saliva compartilhado, as lufadas ansiosas na intenção de recuperar todo o fôlego. Um misto de pecado e salvação.

— Gaya, olhe para mim. Eu não quero mais ninguém, em toda a minha vida nunca quis ninguém além de ti — a forçou olhar quando segurou a mandíbula e arrastou os dedos até a nuca, no intuito de prendê-la consigo, em seu inferno. — Não enxerga o quanto eu seguro seu mundo nas costas? Não há ninguém como você, minha vida, minha existência, minha dona.

Existiu timidez ao sentir a umidade surgir entre suas coxas. Não queria notar o desejo se formar no corpo com o que ele admitia.

— Gaya, desde pequeno que te enxergo feito a pessoa mais bela de todas. Lembra? — arrastou mais uma vez os lábios nas bochechas dela que sofria por baixo. — Morro por ti, Gaya. Por qual motivo me trata como se eu nunca te guardasse em meu coração, em minha alma? Que merda está pensando e fazendo?

Afundou os olhos céleres na amada. Em súplicas eternas e silentes. Contudo, recebeu amargamente um olhar orgulhoso, frio.

— Não acredita em mim?! — tornou-se fraco e feito um vampiro fugindo do sol, se afastou e andou no espaço de um lado para o outro, enfurecido enquanto seus dedos afundaram entre os cabelos. — Meu Deus, porque não acredita em mim! — o tom choroso o preparava para o sofrimento. — Olhe aqui!

O amaldiçoado sacou do sobretudo um papel dobrado com textura semelhante à do seu diário. Bem amassado por sinal e entregou nas mãos dela que fitou curiosa, além de desestabilizada.

Ele precisava que a Demdike acreditasse em seu amor.

— Se não crê em mim, leia isso! Leia! Leia, Gaya! — apontou copioso, ao ponto de estremecer com as lágrimas que jorraram pelas bochechas vermelhas.

Por mais que estivesse irritada e decepcionada, não queria assisti-lo daquela maneira.

— O que é isso?

Com alguns pequenos rabiscos, ela se afastou para próximo da luz que piscava ao fundo, sem se importar com o fedor e estava ao ponto de ler. Enquanto o rapaz distante, imóvel, enxugou as lágrimas com as costas das mãos nas luvas. A fungar o nariz. Deprimido.

— Gastei boa parte das folhas para permitir as palavras se alinharem — os ombros caíram em rendição. — Lembra do diário que sua mãe me deu de Natal quando éramos pequenos? Me arrependo de não a ter desde o dia que parti.

— O que é isso, Franco? — os olhos escuros lhe afundavam e ela insistia em meio aos dedos estremecidos.

— Só... — respirou imersivo na intenção de filtrar qualquer parte limpa do ar — ... só leia.

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